segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma Sociedade de um Assassino

O autor de Assassin's Creed - Renascença parecia apressado em terminar o livro para receber o lucro, é tudo que posso dizer


Embora nunca tenha jogado nenhum outro jogo da franquia Assassin's Creed além do primeiro (que ainda estou tentando zerar), me senti tentadíssimo a comprar este livro assim que soube ser baseado na história do segundo volume do jogo. E me decepcionei. Vamos lá: a história gira em torno de Ezio Auditore, um rapaz inconsequente e briguento que pode se dar ao luxo de fazer alguns serviços eventuais para seu pai, um banqueiro "novo rico" de Florença, mas nada além disso. Passa os dias brigando por aí e se pegando com uma moça da cidade. É assim que começa a história de Assassin's Creed - Renascença. Nota-se desde o princípio da história que o autor (que usa o pseudônimo de Oliver Bowden) escreve se baseando no roteiro do jogo e não o contrário. Isso é notável pelo simples fato de que a história é muito rápida, partindo de uma coisa para a outra sem explicações como se aquelas situações já tivessem ocorrido àqueles personagens inúmeras vezes, tornando tudo muito inverossímil.
Outra coisa que me incomodou muito é a falta de detalhamento da história. Isso só ressalta que a história é baseada no jogo o que pressupõe que o leitor conheça o visual do game, coisa que enfraquece o título, na minha opinião. Nada é descrito na história: nem os personagens ou seus vestuários, nem os cenários, nada. Eu que só conheço o primeiro jogo fiquei realmente perdido embora tivesse uma ideia geral. Ponto bastante negativo, a meu ver.
Como já comentei antes, a história é rápida demais, isso irrita (pra vocês terem uma idéia, em pouco mais de 300 páginas de livro se passam mais de 20 anos. Com o perdão da palavra, mas PORRA!). Nada incomoda os personagens, que parecem habituados à violência, como se fosse a coisa mais comum do mundo. Ezio de repente descobre que não é apenas o filho de um banqueiro, mas o herdeiro de uma família que pertence a um grupo chamado de Assassinos, que têm de impedir a ascensão de um grupo denominado Templários para que não dominem o mundo. Quando seu pai e irmãos são executados em praça pública, Ezio jura vingança contra aqueles homens (membros dos Templários) que os incriminaram e começa a caçá-los e matá-los. Fácil assim. Aparentemente aceitar que você vem de uma linhagem de assassinos e que faz isso por "uma boa causa" impede que você questione o certo e errado e que tenha problemas de consciência. Maravilha. Não há profundidade psicológica no personagem principal. Ele é raso e vago e mesmo que o livro seja em primeira pessoa, ele quase nunca expressa os pensamentos de Ezio. Sem falar que nos 20 anos que a historia dura, a mentalidade do personagem não muda nem um pouco. Fraco, fraco, fraco.
Mas nenhum dos pontos negativos já citados foi aquela gota-d'água que me fez desgostar quase completamente do livro. Um dos maiores problemas, na minha opinião é que não há dificuldade. De repente ele vai pra uma cidade chamada de impenetrável e não sei o que mais e na meia hora em que ele vai até um lugar a porra da cidade é invadida. Novamente com o perdão da palavra, mas PORRA! É impenetrável ou não é?
Algumas missões dele são simplesmente despropositadas, não há dificuldade, ele simplesmente vai lá, entra no lugar, mata o cara, acha uma página do Códex, sai, volta pra casa e pronto. Cacete! Qual a graça? mas o que mais me revoltou, mais do que tudo isso, é que os Assassinos são uma sociedade. Eles sobreviveram centenas ou milhares de anos na luta contra os templários, então supõe-se que eles saibam se virar, certo? NÃO! Eles simplesmente deixam um moleque de 20 anos que mal matou o primeiro cara assumir todas, deixa eu repetir, TODAS as missões. Em um dia Ezio nunca ouviu falar dos Assassinos, no outro dia, ele é quem mata todos os malditos templários que aparecem no livro. Mas que merda é essa? Não é uma sociedade de Assassinos? Uma Irmandade cheia de gente? Então me digam porque só ele mata todo mundo? E o resto do povo fica de braços cruzados, pernas pra cima, tomando um vinho, é isso? É revoltante! O autor subestima demais a inteligência do leitor, é brutal. *respira fundo*
Para finalizar, algo que me incomodou bastante também foi o fato de durante todo o livro, estarmos centrados em uma história quase totalmente física, praticamente nada de paranormal acontece (tirando o fato de Ezio ter "herdado" as habilidade de um Assassino, por isso tudo é tão natural e fácil para ele) até o final. O final da história é totalmente metafísico. Maquemerda! Do nada o desfecho envolve deuses antigos e poder divino e vida eterna e sei lá o que mais. Francamente, depois de tudo que já escrevi acima, nem vou perder meu tempo aconselhando você a não ler este livro. Se depois de ler este texto, você quiser se arriscar, boa sorte. Talvez seja um pouco minha culpa por esperar demais de uma adaptação de um jogo, mas a história tinha tudo para ser boa, e não um dos piores livros que li no ano, quiçá, na década.

sábado, 22 de outubro de 2011

Perguntas sem Respostas



Gigantes de Aço se mostrou uma das grandes surpresas desse ano, onde simpatia e sólidas atuações compensam um roteiro manjado e cheio de clichês.

À luz dos acontecimentos do domingo passado, Gigantes de Aço (Real Steel, EUA, 2011) do diretor Shawn Levy, trouxe à tona, uma série de questões importantes sobre o rumo do esporte atual. No dia 16 de Outubro de 2011, semana passada, o piloto de corridas Dan Wheldon, da Inglaterra, morreu em um catastrófico acidente na última etapa da atual temporada da Fórmula Indy, em Las Vegas, Nevada.
Envolvido em um engavetamento que destruiu quinze carros, Wheldon que foi campeão da categoria em 2005 não resistiu aos ferimentos e morreu. Wheldon também foi bi-campeão da corrida de maior prestígio do automobilismo mundial, as 500 Milhas de Indianápolis em 2005 e neste ano, onde recebeu a bandeira quadriculada em primeiro lugar, após um dramático final, quando J.R. Hildebrand bateu na última curva da última volta, dando a vitória ao inglês.
Wheldon de 33 anos, deixou dois filhos pequenos, os pais e a esposa. Sua morte comoveu uma série de personalidades do esporte mundial, desde jogadores de futebol como o atacante do Manchester United, Wayne Rooney, aos colegas e companheiros mais próximos como o brasileiro Tony Kanaan e o atual campeão, Dario Franchitti. Seu funeral reuniu 1200 pessoas na Flórida este sábado.
Por ironia do destino, na noite anterior à tragédia, o atual pentacampeão da NASCAR, Jimmie Johnson, quase perdeu a vida em um grave acidente na corrida de Charlotte, válida pela 31ª corrida da temporada 2011. Por sorte, todos os mecanismos de segurança em seu carro e nos muros do traçado funcionaram, e Johnson saiu andando do veículo.
Tais acontecimentos colocaram em perspectiva, um dos esportes mais perigosos do mundo. Em Gigantes de Aço, no ano de 2020, o pugilismo já não existe mais, e os boxeadores foram substituídos por robôs de 450 kg, e 3 metros de altura. Charlie Kenton (Hugh Jackman) é um ex-boxeador que nunca foi lá grande coisa, que o advento das super-máquinas, tornou-se o mais próximo possível de um viciado em jogo, capengando e repleto de dívidas e agiotas em seu encalço.
Ao saber da morte de sua ex-esposa, Charlie se vê com um filho de onze anos chamado Max, para cuidar, pelo menos durante dois meses, até que seus tios assumam a custódia. O garoto é alucinado por Gigantes de Aço, e não demora para que ambos tenham algo em comum para compartilhar.
Depois de uma luta fracassada, Charlie e Max arrombam um ferro velho de robôs jogados fora e numa sequência inusitada, se deparam com 'Atom', um robô criado para apanhar dos robôs mais fortes em treinamento. Max decide ficar com o robô, e logo ambos descobrem que existe algo nele além do que eles poderiam prever.
O roteiro é uma cópia mais ou menos exata dos filmes Rocky, com alguma coisa de O Campeão com John Voight e A Luta pela Esperança de Ron Howard, estrelando Russel Crowe. Isso significa, simplesmente, que o filme é uma série de clichês rasoavelmente bem construídos, com uma estética parecida com a de Transformers e pouca originalidade.
Entretanto, o que não se previa, era o dueto Hugh Jackman e Dakota Goyo que interpreta Max. Muito se falou, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, dos treinamentos que Jackman teve com o lendário Sugar Ray Leonard, para realizar as sequências de luta do filme, mas pouco se falou do extraordinário talento de Goyo que dá um show em cena, mostrando-se como - quem sabe no futuro - um dos maiores atores mirins da atualidade.
Quanto a Jackman, é bom vê-lo mais magro e bonito que nos filmes do Wolverine, mas principalmente livre, leve e solto. Seu relacionamento e intereção com Goyo é algo raro no cinema atual, e tal relação constrói-se na base de uma ternura um tanto capengada também, como o próprio Charlie Keaton.
No geral, Gigantes de Aço é uma verdadeira farra. Uma montanha russa de emoções e entretenimentos que são propulsionados por um elenco afiado, uma direção segura e engraçada e ótimos efeitos especiais que fazem os robôs parecerem reais. E não somente agrada aos fãs do pugilismo, como os da Ficção Científica também. 'Atom', é uma jóia rara que lembra os robôs clássicos de Isaac Asimov, O Exterminador do Futuro e até mesmo O Gigante de Ferro. E o diretor, Levy, conseguiu com considerável mestria, dar-lhe personalidade, sem que os atores ao seu redor se perdessem em montanhas de metal retorcido.
Entretanto, deixando a diversão de lado um momento, Gigantes de Aço levante questões importantes não só sobre o pugilismo, mas sobre qualquer esporte. Se por um lado perdeu-se o componente humano que é essencial em qualquer modalidade esportiva, por outro, perdeu-se também as lesões causadas pelos socos na cabeça, os esteróides e outras coisas, mas não o agressivo mercantilismo que muitas vezes pode se tornar fatal.
O filme dá a entender que, apesar de tudo isso, o ser humano ainda é insuperável frente à máquina. Entretanto, vale lembrar que perdendo-se uma luta, perde-se apenas uma máquina. E máquina alguma é capaz de substituir uma vida, seja lá qual ela seja. Com os últimos acontecimentos da semana passada no mundo do automobilismo, o futuro do esporte é uma incógnita que deve ser analisada cuidadosamente. É mais seguro que esse tipo de esporte seja dominado por máquinas robóticas, ou, apesar do risco nada substitui um ser humano? Esse tipo de pergunta deve ser analisada com cuidado, caro leitor. E quando você terminar de lê-la, peço que olhe para a foto abaixo e demore um bom tempo antes de responder.

O acidente em Las Vegas, ocorreu na décima volta. 34 carros disputavam um prêmio de cinco milhões de dólares que seria dado ao vencedor da edição, enquanto os pilotos Dario Franchitti e Will Power disputariam o título entre si. No momento em que Sebastian Saavedra rodou na frente de um pelotão de carros a mais de 320 km/h, quinze carros envolveram-se em uma das maiores batidas da história da categoria. O carro de Will Power pode ser visto de lado no centro da foto, quando ele chocou-se contra o muro depois de decolar por cerca de 200 metros. Já o carro do inglês Dan Wheldon que faleceu no acidente, pode ser visto no canto superior esquerdo da foto, de lado e em chamas. Wheldon que chegou a ser resgatado de helicóptero não resistiu e morreu duas horas depois. Dario Franchitti sagrou-se campeão, já que a corrida foi cancelada. Como homenagem a Wheldon, os piltos da Fórmula Indy deram cinco voltas no circutio.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Círculo Fechado



Only Yesterday do diretor Isao Takahata é mais uma das muitas constatações do porquê do estúdio Ghibli se destacar como o melhor estúdio de animação do mundo.


Ao contrário de seu parceiro e sócio Hayao Myiazaki, Isao Takahata não possui a mesma projeção internacional, nunca ganhou um OSCAR, seus filmes não tratam de heroismo e fantasia, e ele não filma nada desde 2003. Aliás, de seus poucos trabalhos, a maioria fala das relações familiares e conflitos internos de personagens que vivem no Japão.
Apesar de ser impossível comparar os estilos dos dois diretores, é inegável que Takahata é um dos mais talentosos diretores de animação (e qualquer outro gênero ou vertente cinematográfica) a colocar os pés no Japão. Em 1986, ele e Myiazaki fundaram o estúdio Ghibli, cujo primeiro lançamento foi a animação Laputa, Castle in the Sky. Desde então, 'Ghibli' tornou-se sinônimo de qualidade em produções cinematográficas de qualquer gênero, fazendo frente às animações norte-americanas da Disney e Pixar. A consagração veio em 2003, quando A Viagem de Chihiro, dirigida por Myiazaki, recebeu o OSCAR de Melhor Animação.
Quanto a Takahata, seu trabalho mais conhecido é - ainda - Túmulo dos Vagalumes, uma brutal e magnífica narrativa de um casal de irmãos pequenos que vagueiam por um Japão devastado pela Segunda Guerra. Ainda que maravilhoso, Túmulo dos Vagalumes é uma das mais tristes animações de todos os tempos. Seu estilo realista e melancólico o caracterizou em seus trabalhos subsequentes, ainda que ele tenha voltado-se mais para o lado da comédia nos anos seguintes, do que para o drama pesadíssimo de sua primeira obra.
É o caso de Only Yesterday (Omohide poro poro, JAP, 1991). Completando agora vinte anos desde seu lançamento, Only Yesterday é a história incrivelmente simples de Taeko, uma moça de 27 anos que vive em Tóquio e trabalha num escritório, até no ano de 1982 (quando a história se passa) Taeko é invadida pelas lembranças da época em que tinha 10 anos.
Entretanto, de simples esta história não tem nada. Acompanhamos duas narrativas paralelas. Uma se passa em 1966 e vai narrando a trajetória da Taeko quando criança, e a segunda quando adulta.
Desde criança, ela sempre foi uma garota decidida, extrovertida, imaginativa e de forte personalidade. Ou seja, tudo o que a sociedade NÃO quer que ela seja. Isso se mostrava claramente evidente em seu relacionamento com seus pais. A figura materna ganha destaque, assumindo a forma de um pai severo e irredutível. Takahata mostra com todas as letras, as dificuldades de se viver em uma sociedade patriarcal, ainda mais nos anos 60.
Durante o decorrer dos acontecimentos, 17 anos depois, Taeko vai se lembrando dos eventos marcantes daquele ano específico. Como o primeiro amor, a primeira menstruação, a primeira briga com o pai, as dificuldades em matemática e todas as situações que marcam a vida de qualquer criança.
É disso que faz Only Yesterday uma animação diferente de tudo o que já se viu. Ainda que com muito humor, Takahata que também assinou o roteiro, apresenta com implacável realismo, as atitudes de uma criança de dez anos, e como sua perspectiva mudou quando ela se tornou mais velha.
Talvez esse seja o ponto principal que o difere do companheiro Myiazaki. Enquanto as personagens femininas do outro são extremamente heróicas e obrigadas a amadurecer numa velocidade alarmante diante das circunstâncias, no contexto em que são apresentadas, as personagens de Takahata fecham o círculo, comportando-se EXATAMENTE como uma criança. Não necessariamente sobrando espaço para finais felizes.
Agora mais velha, Taeko viaja para o campo - local predileto dela - para passar curtas férias do trabalho. Lá, ela conhece um rapaz relativamente bobo, mas de bom coração chamado Toshio que gradualmente se mostra a pessoa ideal para ela, ainda que ela não veja. E embora ela se depare de um portão que a leve para dentro de si mesma (um local assustador, no qual é preciso coragem para entrar), ela não estará sozinha em sua jornada.
Para um anime de vinte anos, a qualidade da animação é impecável. E não apenas isso, como há uma clara distinção entre os dois períodos narrativos. Quando no passado, os traços são finos, como uma aqualera, representação dos efeitos do tempo sobre as lembranças. Já no tempo presente, os traços são nítidos e cheios de detalhes.
Não se deve subestimar, Only Yesterday. Takahata lida com tudo com tanto humor e delicadeza, que até o momento do veredicto final, não temos ideia de quão sérios são os assuntos que estão sendo tratados na tela. Pois eles são muito sérios. E ao final das quase duas horas do filme, somos abalados em nossas bases, e tal impacto perdura durante muito tempo após a sessão.
Muitas crianças, em qualquer época e em qualquer lugar do mundo, passaram pelo que Taeko passou. Quando são muito imaginativas, hiperativas e possuém uma visão distinta do mundo são tratadas como 'estranhas', 'problemáticas', 'anormais'. As escolas não sabem lidar com elas, e muitas vezes os pais também não. Em casos mais extremos, dão remédios aos filhos para que fiquem mais comportados, limpando assim, os traços de genialidade e imaginação que essas crianças possuíam.
A representação mais clara disso, é quando Taeko tira 2,5 em Matemática (o que já deve ter acontecido com MUITA gente). Sua irmã começa a explicar os exercícios que ela errou, mas Taeko não opera baseada em fórmulas precisas, mas sim através da dedução lógica. Mas, obviamente, isso está errado e fora dos padrões. Então não pode. E numa conversa que ela ouve escondida, Taeko é chamada de 'anormal' pela própria mãe, por que ela simplesmente não se encaixa no perfil.
Essas mágoas foram levadas pelo restante da vida de Taeko, até o momento em que ela precisa confrontá-las. E nesse momento, todas as lembranças serão evocadas, e a acompanharão aonde ela deve ir. Dessa forma, Only Yesterday se mostra um anime singular. Simples, divertido e delicado, mas que irá arrancar seu coração pela raíz se você não tomar cuidado. Uma história sobre as dificuldades do amadurecimento, sobre a perda da inocência e das mágoas que são carregadas pela solidão do fato de ser o único diferente em um mundo tão igual.

domingo, 9 de outubro de 2011

A Humanidade Acima de Tudo

Depois de algum tempo sem nenhum post, cá estou eu em meu retorno triunfal (oi?). Antes de tudo quero avisar que o meu amigo Roberto - outro autor deste blog - está escrevendo resenhas para uma outro site além do Cinéfilos e Etc, o que quer dizer que as resenhas dele por aqui vão diminuir um pouco. Quando souber direitinho o site, aviso vocês aqui.


Devo dizer que tenho o maior respeito por aqueles que exercem a inteligência militar, seja no tempo da guerra, seja no tempo da "paz". Os chamadas agente de campo que trabalham na área da inteligência, conhecidos popularmente como espiões, são heróis para seus países, que sacrificam sua própria identidade em prol de beneficios táticos e estratégicos para seus respectivos países. Eu sou um grande fã dos espiões e de suas histórias e é disso que quero falar hoje.


Embora nunca tenha lido nenhuma história da série de espionagem mais famosa de todos os tempos - me refiro aqui, é claro, à história escrita pelo jornalista e ex-espião britânico, Ian Fleming, que criou os famosos agentes double zero da série 007. Sim, gosto de espiões e nunca li nada de Bond, James Bond (estou tomando providências para mudar isso). Mas nem só de Bond vive a espionagem. Já li os dois primeiros livros da série escrita por Robert Ludlum, que se tornaram bem famosos ao se tranformar em filmes: me refiro, é claro, à série Bourne. Mas nem só de ficção vive a espionagem. A inteligência militar é um ramo que existe desde que as guerras existem. O simples fato de alguém tentar descobrir o que seu inimigo está tramando pode ser considerado espionagem e, por isso, hoje irei falar de uma história real.


Baseado em extensas pesquisas históricas, inúmeras visitas aos arquivos militares da antiga Tcheco-Eslováquia e pesquisas sem fim com os sobreviventes, Rudolf Ströbinger publicou em 1967 o romance A-54 - O Espião das Três Faces (Stopa Vede K Renému, no original em tcheco) que conta a história de Paul Thuemmel, o espião conhecido como A-54, que durante toda a Segunda Guerra Mundial passou incessantemente informações sobre da alta cúpula nazista aos serviço de inteligência tcheco e, posteriormente, ao britânico.


Alemão, filho de um padeiro de um vilarejo e amigo pessoal de Himmler - um dos principais líderes da cúpula de Hitler e chefe da polícia militar alemã, a SS - Thuemmel assumiu vários nomes, tais como Dr. Steinberg, Dr. Holm, Baer, Rabe e, posteriormente, "traidor X" quando se descobriu o vazamento de informações da elite nazista. Alemão orgulhoso e possuidor da honorária Insígnia de Ouro do Partido Nazista, não se sabe o que levou A-54 a passar informações para o serviço de inteligência tcheco. Ele simplesmente se ofereceu para fornecer informações em troca de dinheiro antes do início da guerra (mais precisamente em 1937) e continuou a fazê-lo até ser capturado e preso pela Gestapo - a polícia secreta alemã.


Thuemmel foi denominado A-54 pela liderança do serviço de inteligência tcheco, e posteriormente recebeu codinomes como René e Eva, entre muitos outros. Por meio de seu contato com o Coronel Moravec - em exílio em Londres depois da captura da Tcheco-Eslováquia pelos nazistas - passou informações cruciais à Inglaterra e à União Soviética. Inclusive, um dos líderes do MI6 (Serviço Britânico de Inteligência) afirmou que: "A-54 é um agente sob cujas palavras os exércitos marcham", devido à exatidão de suas informações, quase sempre ultra-secretas e de imenso valor estratégico.


Paul Thuemmel, o agente A-54, foi preso pela Gestapo em 1942. A Gestapo tentou utilizá-lo para prender outros inimigos do regime, sem sucesso. Especula-se que foi graças a informações de A-54 que a Gestapo conseguiu se aproximar do Capitão Václav Morávek, membro de um grupo de resistência à ocupação nazista na Tcheco-Eslováquia, mas seu envolvimento nunca foi provado. Em 1943, Thuemmel foi enviado ao presídio da polícia em Theresienstadt, sob o nome de Peter Toman. Ao que parece, ainda tinha amigos poderosos que tentavam protegê-lo de ser executado como traidor. Misteriosamente, em 1944, os documentos sobre o caso de A-54 foram retirados dos arquivos nazistas para serem queimados mais tarde. Thuemmel ficou preso sob nome de Peter Toman até 1945, quando foi executado por fuzilamento.


Ao final do livro, Ströbinger se pergunta o motivo que levou Thuemmel a trair seu país.Ao entrar para o Partido nazista era uma fiel colaborador e parecia acreditar piamente nas diretrizes que foram sendo impostas pro Hitler. E, além disso, subiu muito na hierarquia militar, apesar de ser civil. Ele cobrava pelas informações que passava? Sim, mas deve-se considerar os gastos para exercer a atividade de espião duplo (subornos, presentes, etc), além, é claro, de ter que manter uma certa imagem que era esperada de um respeitável membro da cúpula alemã.


Mas o que realmente levou Paul Thuemmel, respeitável membro do Partido Nazista, portador da Insígnia de Ouro do Partido, amigo pessoal de Heinrich Himmler - um dos homens mais poderoso do Reich -, membro da cúpula alemã, a trair seu país e os ideais que defendia? Era conhecido pelos que conviviam com ele que tinha um profundo e inexplicado ódio da SS. Parecia acreditar também que Hitler perderia a guerra. Ou será que ele previra os rumos que o Nazismo estava tomando e optou por tentar minimizar os danos, sabotando sua própria nação? Ele valorizara mais a humanidade do que sua lealdade à Alemanha? Seria esse o motivo? Não se sabe. Muitas perguntas permanecem sem resposta com a morte de A-54. Mas é fato que, sem a ajuda de Thuemmel, talvez a guerra de Hitler tivesse terminado de forma diferente. No que se refere a isso, tudo o que podemos fazer é agradecer.

domingo, 4 de setembro de 2011

Império dos Macacos



Planeta dos Macacos, A Origem,
é o reflexo de uma geração tecnológica e cujos maiores temores, vêm da natureza ao seu redor.

Quando o primeiro Planeta dos Macacos, estrelando Charlton Heston e Roddy McDowall foi lançado em 1968, ele refletia - assim como todo filme de sua época - as preocupações de uma geração filha do átomo, aquela que dormia a noite sob o manto negro de um holocausto nuclear, ou da possibilidade de um. Nele, o coronel George Taylor, após vaguear durante centenas de anos no espaço, aterrissa em um planeta habitado por símios inteligentes, que escravizaram a raça humana, menos desenvolvida.
Contemplando os destroços da antiga Estátua da Liberdade, Taylor descobre que o planeta se trata da própria Terra, dizimada por uma guerra atômica, onde a maior parte da raça humana foi destruída, e o mundo foi habitado pelos predecessores mais desenvolvidos: os macacos. Tais preocupações proeminentes da Guerra Fria (que gerou grandes clássicos da ficção científica como Vampiros de Almas e O Dia em Que a Terra Parou) foram substitúidas por temas mais modernos, como a manipulação genética e a iminência de uma praga mundial, consequencia da superpoluação que o nosso planeta enfrenta, em O Planeta dos Macacos, A Origem (Rise of the Planet of the Apes, EUA, 2011).
Na nova produção - que procura esquecer a vergonha dirigida por Tim Burton em 2001 - novamente vê-se um retrato de uma geração tencológica e inovadora: a maquiagem que antes cobria o rosto dos atores na produção original (e na de 2001 também), foi substitúida pela técnica da captura de movimentos, extensivamente usada em Avatar, e pioneirizada em O Senhor dos Anéis.
Na nova narrativa, Caesar é um chimpanze cuja mãe foi usada em experimentos genéticos na tentativa da descoberta de uma cura para o alzheimer, outra das doenças que afetam o mundo moderno. A ideia era criar um vírus capaz de regenerar as células cerebrais. Mas o que os cientistas e principalmente Will Rodman (James Franco), encarregado da pesquisa não esperavam, era que o vírus não apenas regeneravam as células cerebrais, como aprimoravam as funções cognitivas. E que tais mudanças podiam ser carregadas geneticamente, de mãe para filho.
Logo Will descobre que Caesar não apenas é mais inteligente do que os outros símios, mas como também aprende numa taxa mais rapida do que o próprio ser humano. O cientista então adota o macaco ainda bebê e o cria como filho: uma relação perigosa que terá consequências catastróficas.
A relação entre humano/macaco, na obra original maravilhosamente apresentada por Heston e Kim Hunter, foi substituída pela não menos impressionante interação entre James Franco e Andy Serkins, que aqui, interpreta o chimpanzé que será o catalizador do próximo estágio evolutivo. Com a técnica que o próprio Serkins consolidou, neste filme concretiza um feito extraordinário: transformar um personagem computadorizado no eixo que sustenta todo o filme.
Sem Serkins, A Origem não seria metade do filme que foi. A cada mudança da trama, são acrescentadas mais camadas de complexidade emocional no personagem de Caesar: após um momento de fúria num pequeno subúrbio de São Francisco, Caesar é confinado num tipo de campo de concentração disfarçado de zoológico. Lá ele aprende a se comunicar com os outros macacos, e junto deles começa a orquestrar um plano de fuga.
Fora a sequência de ação final, que é bem orquestrada pelo diretor Rupert Wyatt, o filme não tem consistência suficiente sequer para se mostrar plausível, muito menos para prender o espectador em sua trama. Daí que entra Serkins, absolutamente soberbo, cujo mérito transcende a habilidade do diretor ou dos roteiristas encarregados, e se torna algo unicamente do ator. E com olhos e feições assustadoramente humanas, ele consegue criar um personagem complexo e profundo, que embora não seja humano, é carregado com uma humanidade e - principalmente - intelecto para se tornar o Caesar dos tempos romanos: aquele que dará o próximo salto na civilização.

domingo, 21 de agosto de 2011

É Grande, Feio e Vem Vindo na Nossa Direção




Super 8 marca a primeira parceria do diretor J.J. Abrams e do produtor Steven Spielberg. Com um pouco de sorte, essa parceria se extenderá por muitos outros anos.



Crescer é um processo difícil na vida de qualquer criança. Os hormônios, as mudanças físicas, as garotas, a sensação de estar perdido em um universo muito maior do que você mesmo. Isso tudo se torna muito mais complicado com o desaparecimento da figura materna. Figura inexistente em Super 8 (Super 8, EUA, 2011), nova produção cinematográfica dirigida por J.J. Abrams e produzida pelo seu mentor, Steven Spielberg.


Joe Lamb (Joel Courtney) é um garoto de uns doze anos que acabou de perder sua mãe em um acidente numa indústria química da pequena cidade de Líllian. Quatro meses depois, o verão chega anunciando as férias e Joe prepara-se para ajudar seu melhor amigo Charles (Riley Griffiths) a terminar um filme de zumbis.


Durante uma das filmagens, Charles convida a jovem e bela Alice Dainard, (Elle Fanning, a muito melhor e mais bonita irmã de Dakota Fanning) que também não possui mãe, para filmar uma cena numa estação de trem. Entretanto o que parece ser apenas uma noite divertida entre amigos se torna numa das sequências mais espetaculares da história do cinema quando uma caminhonete entra nos trilhos e dá de frente no trem que está passando. Trem que, conforme grupo de amigos composto por 6 espetaculares atores mirins descobre, está carregando alguma coisa misteriosa.


Não é muito depois disso que estranhos eventos começam a acontecer na pequena cidade de Líllian. Motores, cabos de energia elétrica e pessoas estão desaparecendo, buracos estão surgindo dentro de garagens e o delegado Jackson Lamb (Kyle Chandler), pai de Joe, tenta resolver a situação enquanto a força aérea americana - detentora da carga do trem que descarrilhou - se nega a dar explicações.


Super 8 é o tipo de filme que lembra as antigas produções cinematográficas de ficção científica dos anos 70 e 80. Bons tempos em que Os Gunnies, E.T. O Extraterrestre, e por aí vai, enchiam as telas dos cinemas com um grupo extraordinário de crianças que se viam no meio de uma situação extraordinária.


Aqui não é diferente. O grupo de garotos composto por Joe (o corajoso), Charles (o mandão), Alice (a brava), Cary (o piromaníaco interpretado por Ryan Lee), Martin (o medroso que chora e vomita o tempo todo estrelado por Gabriel Basso) e Preston (o razoavelmente inteligente, interpretado por Zack Mills), vê seu mundo mergulhar no caos, e eles - somente eles - serão capazes de salvar o mundo da coisa grande e feia que está aterrorizando sua cidade.


Abrams mantém seu estilo de ritmo alucinante apresentado em Star Trek e Missão Impossível III, os outros dois filmes de sua direção. Entretanto, ele soube dozar as cenas de ação, com implacáveis sequências de suspense em que os efeitos sonoros dão a entender que existe alguma coisa muito enfurecida vindo na nossa direção.


Os efeitos visuais são espetaculares, ainda mais para um filme com um orçamento de 50 milhões de dólares (o que para um filme desse tamanho é pouco), cortezia da ausência de grandes estrelas - o que é bom - e a falta de necessidade de construção de grandes cenários, já que grande parte das cenas são filmadas ao ar livre.


A música de Michael Giacchino é a sua melhor composição desde UP Altas Aventuras, que lhe rendeu o OSCAR. Além de proporcionar impagáveis momentos de suspense e ação, também há nela uma beleza singular que carrega o espectador durante os momentos emocionalmente carregados da obra.


É verdade contudo, que o filme às vezes tende a desrespeitar as leis da física, construíndo sequências típicas do cinema hollywoodiano, sem se importar muito se a relidade concorda ou não. A narrativa também apresenta milhões de momentos de clichê, que, apesar de serem bem construídos, podem irritar um pouco os espectadores. O próprio estilo de direção de Abrams se assemelha tanto ao de seu ídolo, Spielberg, que não se sustenta como um estilo próprio. O filme poderia ser dirigido por qualquer um dos dois, que não daria para notar a diferença.


Mas apesar disso, todos os personagens são ótimos, fazendo com que você torça por cada um deles. Os momentos mais intensos de ação são recheados com o mesmo humor que permeia toda a obra, elevando o espírito do filme. E no final, tudo gira em torno de uma história de amor, e das dificuldades do crescimento, ainda mais com a ausência da figura materna, tão especial e impressindível na vida de qualquer um de nós.


Dessa forma, é inegável que essa parceria entre duas das mentes mais 'joviais' que já adentraram os portões do cinema americano, rendeu um dos melhores, mais divertidos e emocionantes filmes do ano. O tipo de obra que faz você se sentir feliz por ter ido ao cinema, sem se importar muito com discussões filosóficas e sigificados profundos da narrativa. E apesar de sua falta de respeito com as leis da física, dos clichês, ou mesmo do final que deixou muitos americanos desapontados, J.J. conseguiu aqui, o que muitos diretores almejam e nem sempre conseguem: deu aos seus personagens...vida.

sábado, 20 de agosto de 2011

A Maldição da Lua Cheia



Sim, Teen Wolf. Exatamente isso que você, caro leitor, está pensando: lobisomens. Acreditem em mim, não fiquei muito mais animado do que você está neste momento em que começa a ler esta resenha. Apesar de assistir a muitas séries, tenho a tendência a no mínimo escolher, de longe, as bem recomendadas e bem criticadas. Não é o caso deste lançamento. Para falar a verdade esta série me foi totalmente contra-indicada sobre todos os aspectos. Por motivos puramente acadêmicos (uhum, Cláudia, senta lá) decidi sacrificar algumas horas do meu suado e idolatrado final de semana em pról do estudo mais aprofundado de séries metafísicas, em especial a esta que se dedica exclusivamente (pelo menos até agora) à mitologia do lobisomem - metade homem, metade lobo.


Antes de iniciar falando sobre o contexto e roteiro, devo colocar uma questão importantíssima: porque diabos lobisomens não suportam usar camisas/camisetas? Alguém aí sabe? Caso alguém possua esse tipo de informação ultra-confidencial, favor me contar nos comentários. Grato.


Questão colocada, vamos à série: o protagonista desta série é o jovem Scott McCall - interpretado pelo ator Tyler Posey, que cá pra nós não é grande coisa em termos de atuação (adendo 1: deve ter sido escolhido pela cara bonitinha, pois realmente está longe de ser bom ator em 90% do tempo) -, um garoto de 16 anos que é ignorado por quase todos em sua escola, apesar de fazer parte do time de Lacrosse da escola. Sim, Lacrosse é o esporte oficial desta série (ponto positivo pela originalidade, já que nunca sequer tinha visto alguém jogando). É verdade que Scott é reserva do time, e tem asma, mas mesmo assim não tem motivo para o isolamento do garoto. É um daqueles típicos adolescentes isolados pelos grupinhos populares. Voltando: seu único amigo é Stiles - interpretado por Dylan O'Brien que provavelmente é o ator mais importante para o desenrolar da série, pelo simples fato de fazer o personagem mais divertido que vi em anos, em qualquer série de TV - um jovem sarcástico, irônico e de língua afiada, que também é reserva do time de Lacrosse e é apaixonado desde a 3ª série pela líder de torcida popular que namora o capitão do time da escola (respectivamente: Holland Roden interpretando Lydia e Colton Haynes interpretando Jackson). Logo no começo do episódio vemos Scott e Stiles invadindo uma floresta em busca de um corpo que a polícia está procurando. Por ser filho do xerife, Stiles soube em primeira mão que apenas metade do corpo de uma garota havia sido encontrado. Eles buscam a outra metade apenas pelo prazer de poder olhar um cadáver de perto. Confusões à parte, se separam na floresta escura e Scott acaba sendo mordido por um animal enorme, que depois viemos a saber, não era um lobo comum.



A partir desse ponto, claro, começa o conflito da série. Com seus novos poderes de lobisomem, Scott vira titular do time de Lacrosse (com velocidade sobrehumana e agilidade de um predador, até eu) além de conseguir impressionar a nova garota que se mudou para a cidade e acaba de entrar na escola, chamada Alisson Argent (Crystal Reed). Com o passar dos dias, Scott percebe que não é tão fácil ser lobisomem quanto Jacob faz parecer: se sua pulsação sobe por algum motivo - raiva, excitação sexual, nervosismo, ansiedade - começa a se transformar quase que imediatamente, colocando as garrinhas de fora, com direito a orelhas pontudas, rosto peludo, caninos grandes e olhos amarelos. (Adendo 2: admito que a maquiagem da série não convence na transformação, além de alguns dos efeitos especiais ficarem meio estranhos). Enfim, para lidar com essas transformações fora de hora, contamos com Derek Hale (o nada mau Tyler Hoechlin, que melhora com o decorrer dos episódios), o lobisomem que encontra Scott na floresta nos primeiros dias e o protege de um trio de caçadores que tentavam eliminá-lo. Este grupo de caçadores de lobisomens é liderado por Argent (personagem sem primeiro nome que é interpretado pelo ótimo JR Bourne) ao qual posteriormente se junta Kate (a incrível e linda Jill Wagner), respectivamente o pai e a tia da mocinha por quem nosso protagonista lupino se apaixonou. É mole ou quer mais?



Essa é a salada mista na qual se desenvolve a história. Reclamações, elogios, lágrimas? Claro que a história possui inúmeras reviravoltas, mas como já reclamaram que costumo spoilear muito nas minhas resenhas, paro de contar sobre a história por aqui mesmo.


Agora você me pergunta, caro leitor, o motivo de eu fazer uma resenha sobre uma série confusa como essa, que nem ao menos tem bons efeitos e maquiagem no que diz respeito a transformações em lobisomem, que meio que é o tema central. E eu te respondo, a atuação dos coadjuvantes. Em especial as atuações de Dylan O'Brien e Melissa Ponzio (Melissa McCall, a mãe de Scott). Dylan como Stiles é genial. Traz uma quantia infinita de humor à série, assim como comentários sarcásticos e uma emoção que falta ao protagonista, sem falar nos diálogos divertidíssimos e extremamente afiados. Não me lembro de nos últimos anos ter visto personagem mais divertido em qualquer outra série. A série em si é engraçadíssima. Apesar de se classificar como "horror, drama, thriller and comedy", a série é totalmente voltada para a comédia, pelo menos em relação aos diálogos e relacionamentos entre os personagens adolescentes. Outra coisa que vale destacar é a ótima química entre Tyler Posey e Crystal Reed, como Scott e Alisson. É um caso tão puro de amor platônico (não unicamente, apesar de nunca chegarem a consumar a relação) que emociona e cria aquela pontinha de inveja nos espectadores solitários e solteiros (leia-se #foreveralone's). É um romance tão bonito que, como se diz na blogosfera, nos faz ter vontade de vomitar arco-íris.


Para finalizar, deixe-me dizer que apesar de não ser uma das melhores séries que já vi, mas também não é de longe a pior. Creio até que tem tudo para ser melhor que algumas séries pseudo-cults e bestas que tem por aí. E a segunda temporada já foi confirmada, além, claro, das seis indicaçõs ao Teen Choice Award. E devo dizer, fazia muito tempo que não passava tantas horas bem gastas rindo sozinho em frente à tela do meu computador por causa de um seriado. Então vamos aguardar a segunda temporada para ver se, de fato, a lua cheia é uma benção ou uma maldição.


Título original: "Teen Wolf - First Season". Ano: 2011. Nacionalidade: EUA. Criado por: Jeff Davis. Roteiro de: Jeff Davis, Monica Macer, Jeff Vlaming, Daniel Sinclair. Produzido por: Tim Andrew, Keith Birkfeld, Christopher Ottinger, Jeff Vlaming. Estrelando: Tyler Posey, Crystal Reed, Dylan O'Brien, Tyler Hoechlin, Rolland Hoden, Colton Raynes, com JR Bourne, Melissa Ponzio, Jill Wagner, Liden Ashby, Orny Adams e Ian Bohen. Número de episódios: 12. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 7,0/10.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Coisas que falam de mistério






Com uma narrativa desconstruída, A Árvore da Vida fala de muitas coisas. Mas ao invés de tratar de assuntos filosóficos ou teológicos, ele transcende o próprio aspecto visual e parte para a poesia.






Terrence Malick desde o começo de sua carreira em 1973 com Terra de Ninguém, sempre foi um diretor voltado para o aspecto visual. Entretanto, seus filmes são marcados por uma tremenda ausência de construção narrativa, diálogos consistentes ou uma edição que componha um filme tal como o conhecemos.


É esse estilo de direção que fez com que ele se tornasse admirado por uns e odiado por outros. Seus dois últimos trabalhos, Além da Linha Vermelha e O Novo Mundo são uma compilação de imagens desconexas sem qualquer autenticidade íntima, sentido ou significado: um exercício cinematográfico quase insuportável de ser assistido.
Seu último filme A Árvore da Vida (The Tree of Life, EUA, 2011) procura, de certa forma, responder as perguntas que compõe as fundações da existência humana. Ousado? Sim. Pretencioso? Com certeza, assim como são todos os trabalhos de Malick. Este talvez mais do que os outros.


Estrelando Brad Pitt e Sean Penn nos papéis principais, o filme narra (se é que essa palavra é cabível) a infância e a vida adulta de Jack O'Brien (Hunter McCraken e Sean Penn). Com a morte de seu irmão, a vida de Jack e sua família (Brad Pitt, Jessica Chastain e seu outro irmão) desmorona, fazendo com que cada um questione seu papel neste mundo, a existência da fé e de Deus.


O filme pode ser dividido claramente em duas partes bem distintas. A primeira dura em torno de quarenta minutos e não possui um diálogo sequer. A obra abre com a notícia da morte do filho da família O'Brien chegando aos seus ouvidos. Questionando a existência de Deus, ou o motivo por Ele ter levado seu filho, é iniciada uma das sequências mais extraordinárias da história cinematográfica que é uma compilação em tom operístico da criação do universo, passando pela formação da Terra, o nascimento dos dinossauros e finalmente nós.


A partir de então, o filme começa a narrar a infância de Jack, desde seu nascimento, o complicado relacionamento com seu pai, extremamente rígidio, passando pro momentos de pura beleza e outros quase insuportáveis.


É praticamente impossível descrever em palavras a proeminência do aspecto visual neste filme. Malick, com a parceria do diretor de fotografia Emmanuel Lubeski, realizou algo nunca antes visto na história do cinema. Algo de beleza tão singela, que permanece na mente do espectador muito após o término do filme. Lubeski, que previamente havia trabalhado com Malick em O Novo Mundo é uma das personalidades mais influentes no desenvolvimento cinematográfico mundial.


Seu trabalho com Alfonso Cuarón (compatriota com o qual ele realizou várias colaborações), Filhos da Esperança, é um dos trabalhos fotográficos mais espetaculares de todos os tempos, com tomadas únicas de até 7 minutos, feitas inteiramente com câmeras de mão. Entretanto, aqui essa fotografia é elevado a um patamar completamente novo: um dos melhores (senão melhor) trabalhos de fotografia de todos os tempos.


Os efeitos especiais são fantásticos, criando as mais espetaculares imagens que, curiosamente, acabam servindo a uma narrativa. Uma narrativa que trata da vida, da morte, da infância, dos relacionamentos entre pai e filho, mãe e filho e entre irmãos, reencarnação e principalmente redenção.


Louise Gluck tinha razão quando disse que nós só olhamos para um mundo uma vez, na infância. Em A Árvore da Vida, realidade e fantasia se misturam criando um mundo que desafia as leis da física e transcende a natureza tentando esplicar - de alguma forma - o espírito humano. Mas não é o tipo de fantasia que estamos acostumados a ver quando assistimos ou lemos O Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia e afins. É o tipo de fantasia que nos parece tão real quando somos pequenos, e que, conforme o tempo passa, desaparece.


É necessário cautela com este filme. Os primeiros 20 minutos são monótonos a beira de serem insuportáveis. Malick continua a abusar de seu estilo desencadeado de edição, o que não ajuda a manter uma linha trajetória que mantenha o espectador desperto. É um filme longo e complexo que no fim levanta mais perguntas do que respostas. Mas talvez esse fosse o objetivo desde o princípio. Perguntar o que move o ser humano através da adversidade, e onde Deus manifesta-se ao nosso redor, ao invés de entregar a resposta.


Tanto o poema Nostos de Louise Gluck como o último parágrafo de A Estrada de Cormac McCarthy podem explicar até algum ponto, os dois pontos distintos da obra. Obra que de fato, não é para qualquer um. Mas que empurra os limites da produção cinematográfica a uma nova fronteira, transformando-se em algo completamente diferente de tudo que já se viu.






Olhamos para o mundo uma vez, na infância. O resto são memórias.




- Nostos de Louise Gluck





Antes havia trutas nos riachos das montanhas. Você podia vê-las paradas na correnteza cor de âmbar onde as extremidades brancas de suas barbatanas encrespavam de leve a superfície. Tinham cheiro de musgo na mão. Polidas e musculosas e se retorcendo. Em suas costas havia padrões sinuosos que eram mapas do mundo em seu princípio. Mapas e labirintos. De algo que não podia ser resgatado. Não podia ser endireitado. Nos vales estreitos e profundos em que eles viviam todas as coisas eram mais antigas do que o homem e em um murmúrio contínuo falavam de mistério.




- A Estrada de Cormac McCarthy





Fast Food






Capitão América: O Primeiro Vingador, reúne um grupo de elementos que fazem com que ele seja melhor do que deveria ser.



Normalmente o que ocorre é o contrário. A maioria dos filmes possui um conjunto de elementos que estão reúnidos de forma que dê tudo certo, e então dá tudo errado. E vez ou outra, com um pouco de sorte, filmes com todos os elementos para dar errado, dão curiosamente certo. São quimeras raras ambos, e não aparecem com muita frequência nas telas. Mas Capitão América: O Primeiro Vingador (Captai America: The First Avenger, EUA, 2011), é um desses raros acontecimentos.


A trama é simples. Steve Rogers (interpretado por Chris Evans) é um rapaz pequeno e franzino que é reprovado cinco vezes para alistar-se no exército dos Estados Unidos. Durante uma discussão com seu melhor amigo, que está indo para a guerra, ele é avistado por um cientista alemão em serviço nos EUA, chamado Abraham Erskine (o maravilhoso Stanley Tucci), que vê no rapaz o que os outros não conseguem: sua vontade de fazer o bem.


Dessa forma ele é admitido para participar de um programa chamado Projeto Renascimento, sob a tutela do Coronel Chester Phillips (Tommy Lee Jones). Rogers é então submetido a injeção de um soro que amplia não somente suas capacidades físicas, mas também suas qualidades interiras, e então bombardeado com radiação. Ao emergir de seu casulo metálico construído por Howard Stark, o pai de Tony Stark, ele está com um corpo talhado em mármore, que é a proporção de sua vontade de fazer o bem.


Imediatamente após seu 'renascimento', o laboratório é destruído em um ataque, e os membros do Exército dos Estados Unidos descobrem seu maior inimigo. Johann Schmidt (Hugo Weaving), também conhecido como 'Caveira Vermelha', um cientista da subdivisão de projetos científicos nazistas Hydra, que tem como plano dominar o mundo.


Durante os 124 minutos de duração do filme, os que realmente valem o ingresso são os primeiros 30. Após a incorporação de Rogers no Exército Americano, tudo o que se vê são perseguições implacáveis e sequências de explosões que enchem a tela durante uma hora e meia de filme. São de fato divertidas e não muito cansativas, como ocorreu no último filme de Harry Potter e da trilogia Transformers, mas todos os dilemas e relações humanas são jogadas fora para dar sequência ao duelo mortal entre Steve Rogers e o Caveira Vermelha.


Os efeitos especiais também são mais interessantes nos primeiros trinta minutos. Usando uma técnica semelhante ao de O Curioso caso de Benjamin Button, o rosto de Chris Evans foi colocado no corpo de um adolescente bem magrinho. E é nesse momento em que o filme ganha mais profundidade, especialmente quando Rogers está no carro ao lado da bela Peggy Carter (Hayley Atwell), e vai contado que ele apanhou naquele beco, e naquele outro ali, e atrás daquela lanchonete também.


A relação de Rogers com o doutor Erskine, é uma coisa quase paternal, providenciada por uma atuação sempre perfeita de Tucci. Tommy Lee Jones também providencia ótimos momentos de humor sarcástico, tão característico seu, que funciona bem para contrabalançar as intensas sequências de ação.


Talvez seja justamente a competência de seu elenco que faz com que Capitão América funcione melhor do que deveria funcionar. Mas nem tudo é elenco, obviamente. Mattew Vaugh teve um elenco soberbo no último X-Men e não soube o que fazer com ele. Mas o diretor Joe Johnston, conhecido por seus trabalhos em Jumanji, e Jurassic Park 3, providencia uma direção firme e bem amarrada, que também cria uma certa nostalgia dos antigos filmes de super-heróis que eram passados no cinema, e talvez até do espírito norte-americano que se perdeu e tornou-se enevoado e manchado de sangue conforme o passar dos anos.


É com esse conjunto de elementos, que Capitão América: O Primeiro Vingador torna-se muito melhor do que o esperado, e o melhor de uma leva de não muito boas adaptações de histórias em quadrinhos que encheram as telas dos cinemas este ano (salva-se Thor talvez). E essa é uma linha tênue que beira entre o aceitável e o ridículo. Mas é bom finalmente ter um filme no qual você não sai ofendido do cinema. E esse é crédito de uma perfeita escolha de elenco, principalmente de Evans no papel principal. Mas não se engane. Apesar de todas as suas qualidades, Capitão América ainda é como um 'Fast Food': gostoso, sim. Mas não muito nutritivo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Tesouro dos Homens



Hellboy, O Exército Dourado,
é um mal exemplo de como a fantasia de alta qualidade se distorce sobre o manto comercialista norte-americano, mas possui qualidades que transcendem esses defeitos.

As estatísticas estão contra Guilhermo Del Toro. De sete filmes lançados nos Estados Unidos, 2 esquecíveis, um ousado, um porcaria, um mediano, uma obra prima (O Labirinto do Fauno) e Hellboy 2, O Exército Dourado (Hellboy II: The Golden Army, EUA, 2008). Este último merece um destaque maior.
Muito se esperava do diretor mexicano após o extraordinário sucesso comercial e crítico de sua fantasia adulta, O Labirinto do Fauno, que lhe rendeu a possibilidade de concorrer à estatueta do OSCAR de Melhor Roteiro e Filme Estrangeiro, com 'quase' injustas derrotas para o filme alemão, A Vida dos Outros.
Mas não foi o que aconteceu com a continuação do personagem de histórias em quadrinhos, Hellboy, quem ele havia adaptado já em um filme anterior. Hellboy (Ron Perlman), um demônio vermelho com uma mão de pedra foi incorporado ao nosso mundo pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, ao invés de servir seu propósito e trazer a destruição da humanidade, ele é criado por um professor (John Hurt) e desde então trabalha lado a lado com os humanos livrando nosso mundo dos perigos das criaturas mais fantásticas - e assustadoras - que habitam as entranhas de nossas metrópoles. Nesta sequência, ele e seus companheiros, sua namorada Liz Sherman (Selma Blair) capaz de transmutar-se em fogo, e o fiel companheiro Abe Sapien (Doug Jones) uma criatura aquática azul de aspecto curioso, capaz de ler mentes, devem enfrentar um príncipe do submundo chamado Nuada (Luke Gross) que, enfurecido com a raça humana por ter controlado o mundo acima do seu, decide entrar em guerra. Para tanto, ele desperatá o lendário Exército Dourado, uma compilação de máquinas andróides que uma vez postas em combate, jamais poderão ser detidas.
Com uma trama interessante, efeitos visuais fantásticos e um conceito artístico fora do comum, tudo parecia dar certo para o garoto vermelho. A maquiagem é absolutamente transcendental no cinema norte-americano, cortezia do incrível trabalho já feito em O Labirinto do Fauno. Neste episódio, Del Toro explora mais o conceito fantástico que ele mesmo criou, ousando construir criaturas fora do comum, e de extraordinária beleza, entre elas o próprio príncipe Nuada e sua irmã, Nuala, um Anjo da Morte assustador e um maravilhoso Elemental da Floresta. Todos que se tornaram adversários de um herói pouco merecedor: um vindo diretamente das profundezas do inferno.
A coisa começa a derrapar logo nos aspectos técnicos: a trilha sonora composta por Danny Elfman é tão passável que chega ao ponto de ser ofensiva, tamanho o espaço a ser explorado num filme com o conceito como este.
A partir daí o roteiro de Del Toro perde as rédeas a transforma o que poderia ser uma obra prima numa boba aventura fantástica com um herói pouco carismático e onde todos os protagonistas (sem exceção), tomam TODAS as decisões erradas durante a trama inteira.
Ainda que não necessariamente ruim, Hellboy II, O Exército Dourado, é excessivamente bobo, e deixa a impressão de que foi um tremendo desperdício de talento e perícia técnica que são jogadas fora durante sequências totalmente desnecessárias. A ação, quase constante, também é mal coreografada (ou pelo menos em um nível que lhe permitisse explorar todo o aspecto visual que o filme contém), as piadas ruim, a trilha sonora fraca, os atores principais, Ron Perlman no papel de Hellboy e Selma Blair no papel de Liz, sem o menor carisma ou química, enfim, uma pena. Ainda mais quando comparado ao seu predecessor, o fauno, para quem ele perde em todos os aspectos.
Entretanto, nem tudo são partículas negatívas voando ao redor do talento criativo de Del Toro. Existe uma mensagem mais profunda em Hellboy, que vai além do seu aspecto preservacionista, mais palpável e superficial:
O Príncipe Nuada luta por um motivo. Seu reino foi abandonado e esquecido, e seu povo condenado a viver nas profundezas das cidades que os humanos construiram. Mas não é nas profundezas das metrópoles que as criaturas como elfos, ogros, elementais ou anjos vivem. São nos calabouços das nossas próprias mentes e corações, cujos portões foram fechados à chave pelo chamado amadurecimento. E nesse aspecto o filme transmite muito bem a sua mensagem.



domingo, 31 de julho de 2011

Não é justo



Harry Potter e as Relíquias da Morte, pt II, releva uma questão curiosa: 'quando um filme baseado em um livro, consegue ser melhor que o próprio livro'?




É inegável que a saga criada por J.K. Rowling foi um dos maiores fenômenos culturais/literários de todos os tempos. Milhões, senão bilhões, de pessoas se emocionaram e acompanharam com aptidão e interesse incríveis, as aventuras e confusões do bruxinho Harry Potter e seus fiéis amigos, Rony e Hermione.
Com um total de sete livros e oito filmes (o último foi dividido em duas partes), é também de conhecimento comum, que esta foi uma das franquias mais rentáveis da história contemporânea, tanto na literatura quanto no cinema. É com esse pedigree, que o último filme - ou seja, a última apresentação - da saga de maior sucesso de todos os tempos, Harry Potter e as Relíquias da Morte parte II (Harry Potter and the deathly hollows part II, EUA, 2011), estreou como se esperava que deveria estrear: como um meteoro.
Em menos de dezenove dias, o último filme da série arrecadou 900 milhões de dólares, batendo o recorde que anteriormente era de Avatar , de James Cameron. Este, além de proporcionar aos fãs e espectadores em geral o épico final escrito por Rowling, é também uma das mais curiosas das produções.
Pra começar, é o final, obviamente. Em segundo lugar, o diretor, David Yates, é o único a dirigir mais de duas produções da franquia Harry Potter. Chris Columbus dirigiu os dois primeiros e Yates os quatro últimos, como se os produtores estivessem, durante os episódios três e quatro, testando novos diretores, até que este foi escalado para comandar A Ordem da Fênix.
Curioso também, pois analisando-se a diretor e seus trabalhos anteriores, nota-se um desnível de qualidade cinematográfica. Da bomba cataclísmica que foi o quinto episódio, para o sensacional sexto filme, o monótona mas não menos divertida primeira parte do último, para então a complicada segunda parte.
Seria impossível analisar completamente esta produção, sem compará-la com todas as outras, e por falta do conjunto espaço/tempo, isso não será possível. Mas existem pontos que valem a pena serem ressaltados.
A começar pelo elenco. Durante os últimos anos, a saga Harry Potter, tornou-se conhecida por contar com um dos mais espetaculares elencos de qualquer filme Hollywoodiano. Com os atores do maior calibre do Reino Unido, o que criou um problema inusitado. Isso acontece pois o elenco é dividido em duas metades muito distintas: os adultos que ganharam os papéis coadjuvantes como os professores, vilões, aliados e enfim, e as crianças que obtiveram os papéis principais.
Ainda que os jovens Rupert Grint (Rony) e Emma Watson (Hermione) tenham melhorado suas técnicas dramáticas, tanto eles quanto o péssimo Daniel Radcliffe no papel de Harry Potter, ficam apagados diante da sombra de atores como Alan Rickman, Michael Gambon, Ralph Fiennes, David Twelis, Jason Isaacs, Brandon Gleeson, Kenneth Branagh, Maggie Smith, Helena Bohman Carter, e lá vai fumaça.
Dessa forma, o espectador sente-se irritado com as péssimas atuações dos garotos, e conta os minutos para ver os adultos em ação.
Outro dos grandes problemas enfrentados pela série, foi a mudança do compositor das trilhas sonoras. John Williams, conhecido por ser recordista de indicações ao OSCAR e por criar temas incrivelmente memóraveis (Star Wars, Jurassic Park, E.T. e Indiana Jones, por exemplo), escreveu as músicas dos primeiros três filmes apenas. E embora seu último substituto, Alexandre Desplat seja um músico de grande calibre, sua melodia não se compara a das primeiras aventuras do bruxinho Harry.
Neste filme, o brilho é quase todo de Alan Rickman. Após ganhar o papel de Severo Snape que previamente era de Tim Roth, ele deitou e rolou nos últimos dez anos, interpretando o professor que todos temem ter. E neste último empreendimento, seus dotes Shakesperianos são levados a um novo nível. E como se ele já não fosse uma das melhores coisas de todos os filmes, neste ele pega-o, dobra-o, coloca-o no bolso, e o leva embora.
Ainda assim, seus companheiros de cena Maggie Smith (profª McGonagal) e Ralph Fiennes que se entregou de forma assustadora a um dos personagens mais malígnos de todos os tempos, Lord Voldemort, tiveram apresentações memoráveis.
Os efeitos especiais também alcançaram um novo patamar. Nesta história, Harry, Rony e Hermione voltam para Hogwarts com o objetivo de encontrar e destruir as últimas Relíquias da Morte, o que inevitavelmente culmina numa batalha de proporções bíblicas, dentro do portão da escola, gerando assim, incríveis cenas de ação, e momentos de pura poesia visual.
Com apenas 130 minutos, este é um dos menores filmes da série, mas pela imensa quantidade de explosões, luzes e barulhos, não parece assim. Harry Potter e as Relíquias da Morte, pt II, é uma experiência quase exaustiva, ainda que com momentos de humor bem colocados.
O que diabos deu errado então? Essa é uma pergunta que muitos - até mesmo os que se emocionaram com a atuação de Alan Rickman, e com as últimas cenas do filme - devem ter feito a si mesmos.
Pela primeira vez em muito tempo, um filme baseado em um livro foi melhor do que o próprio livro. Isso por que na sétima obra, a autora J.K. Rowling pareceu perder completamente sua linha de raciocínio e escreveu quase 700 páginas do que foi um dos piores - senão o pior - livros da série.
O final apático e raso, deixou muitos com o coração partido. Mas o problema se estende a cavernas e calabouços mais profundos dentro da mente da autora. E que são difíceis de explicar, sem dirigirem-se à mais brutal franqueza.
O maior problema da série Harry Potter, é o próprio Harry Potter. Com um personagem fraco, infantil, pouco inteligente e dependente de todos os outros personagens, fica difícil torcer por ele, ainda mais quando todos os outros personagens que nós verdadeiramente amamos, perdem suas vidas para salvá-lo.
Harry lembra em muitos aspectos, o personagem Shinji, do anime Evangelion. Rapaz mirrado, inseguro e deprimido que é colocado em situações extraordinárias, Shinji em muitos momentos tem crises de consciência em momentos de brutal importância, que fazem o espectador querer entrar na televisão e lhe dar um chute na cabeça.
Com o jovem Harry não é diferente. Muitas das situações de vários dos livros, só acontecem devido a sua incompetência ou falta de raciocínio lógico - como *spoilers* a morte de seu padrinho Sirius Black no quinto livro, que só ocorreu por causa dele *spoilers*.
A condescendência da autora com sua criação favorita também é outro problema, pois ele não consegue fazer praticamente nada, sem a ajuda de seus amigos e professores. Ou pior: da incompetência dos próprios vilões. Isso claramente faz com que a autora fielmente confie na burrice do leitor/espectador, o que é uma tremanda sacanagem.
E consequentemente ela trai a memória do próprio personagem que ela criou, e que ela amou durante todos esses anos. Conforme os muros de Hogwarts caem, consumidos pelas explosões e inimigas e os personagens tão amados perecem diante de seus adversários, a sensação que o leitor ou espectador tem, é que eles morreram em nome de alguém que não merecia. E que nós, leitores e espectadores que tanto nos emocionamos, rimos, choramos e nos angústiamos à espera da épica conclusão da saga, merecíamos coisa melhor.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Enfim, o Fim!





Embora geralmente haja um acordo consensual e subscrito entre os autores deste blog para não se fazer duas resenhas sobre o mesmo filme, terei que quebrar nossa própria regra em nome de um bem maior: o adeus à infância proporcionado pela conclusão da saga escrita por J.K. Rowling.


Demorei para postar esta resenha, é verdade. Mas isso porque é impossível não encarar a estréia deste filme com certa tristeza. É como o anúncio de que a infância de toda uma geração chegou ao fim. Essa é a sensação que tive ao terminar de assistir, há apenas alguns dias, ao filme Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 2, EUA, 2011). É com certa tristeza que percebo que a saga (de filmes) que começou em 2001 chegou finalmente a uma conclusão após 10 anos de amadurecimento, tanto para seus personagens como para os ávidos telespectadores que acompanhavam a vida de Harry e seus amigos. É até meio estranho pensar que estivemos acompanhando o crescimento de Harry, Rony e Hermione (e de todos os personagens jovens, assim como os atores) até se tornarem o que são hoje: jovens adultos de sucesso. Sinto-me ligeiramente stalker (termo famoso em inglês, quem não conhece: Google existe para isso). Será que sou só eu? Mas voltando à resenha, Harry Potter é considerada a saga de maior sucesso da história cinematográfica. E isso não é pouca coisa. Mas voltando ao trágico fim da série, você pode ler a resenha da primeira parte do filme (Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1) aqui e à resenha do meu parceiro-bloggeiro sobre este segundo longa-metragem, aqui. Vale ressaltar que o texto a seguir irá conter informações específicas sobre a trama do filme (spoilers). Se pretende ver o filme e quer se surpreender, não leia (se bem que se você já leu o livro, já sabe o que vai acontecer, então vá em frente, leia e comente!).
A história de Relíquias da Morte - Parte 2 continua do ponto em que o primeiro filme acabou. Na cabana isolada onde Dobby morreu e foi enterrado por Harry. Eu, pelo menos, não me lembrava direito do final do último filme, o que é um ponto negativo já que a continuação é diretamente relacionada com os últimos acontecimentos do longa anterior. De lá, temos pouca enrolação atéo início da ação. A invasão à Gringotes (vale dizer que a segurança é absolutamente risível se analisar que é o único banco do mundo bruxo e que é considerado 'impenetrável') é bela e rápida o que dá ao espectador a sensação de urgência pretendida. De lá vamos para Hogwarts e da escola não saímos até o derradeiro fim do longa-metragem.
Pra ser sincero nem vou me dar ao trabalho de comentar as cenas e a história. Já houve tempo para todos os verdadeiros fãs da série assistirem ao filme e todos já sabem o que acontece. Em compensação acho que devo comentar sobre a fraquíssima atuação de Daniel Radcliffe - que apesar de ter tido a melhor atuação dele em qualquer filme de Harry Potter, está longe de ser considerada absolutamente boa. Os outros protagonistas interpretados por Rupert Grint e Emma Watson ainda se salvam por um pouco mais de emoção e química entre seus personagens. Em compensação a um personagem título interpretado por um ator ruinzinho, para dizer o mínimo, tem-se um elenco de apoio incrivelmente bom, com astros como Alan Rickman, Maggie Smith, Jason Isaacs e Ralph Fiennes, entre outros.
Na verdade, algumas das cenas mais interessantes e memoráveis deste filme giram em torno deste elenco mais velho e talentoso. Maggie Smith está de volta ao papel, depois de ser esquecida pelos últimos dois ou três filmes, com um vigor divertido e um humor tipicamente britânico que levava os espectadores a explodir em gargalhadas nas poltronas escuras do cinema. Contracenando bastante, com ela e com todos os outros, está Matthew Lewis, também trazendo mais talento e humor do que o protagonista da série. Seu Neville finalmente superou (quase) completamente a fase pateta em que esteve durante toda a série de livros e filmes e acabou por marcar o final da saga.
É impossível não comentar nesta resenha sobre as atuação magníficas, exuberantes, excepcionais de Alan Rickman e Ralph Finnes. Finalmente o Professor Snape de Rickman recebeu a atenção que sempre mereceu. Numa atuação emocionante que fez pessoas soluçarem nas poltronas ao meu redor (e fez um grande amigo meu chorar de raiva pelas implicações da relação Dumbledore/Snape), Rickman mostrou a que veio neste último filme da série, colocando seu talento para fora mais claramente do que nunca. Snape nunca foi um personagem amado nos filmes até a cena em que finalmente morreu nos braços de Harry. E quando então o cabeça-oca-que-possui-cacatriz finalmente visualiza as memórias daquele a quem sempre odiou, é impossível não se emocionar na cena mais tocante presente nas pouco mais de duas horas de filme, compreendendo que aquele a quem temia e desprezava era na verdade seu maior protetor, ainda maior que o aparentemente super-protetor Dumbledore. Ralph Fiennes por outro lado sempre ostentou seu talento no papel do sádico-bruxo-sem-nariz-autodenominado-Lord-Voldemort e neste último longa da série não fez feio: mostrou um lado ainda desconhecido e ainda mais assustador do personagem, um lado ligeiramente humano. A cena em que Voldemort por fim abraça Draco Malfoy (o quase inexistente Tom Felton, que mal aparece) apenas mostra o quão estranha é aquela cena, pois o bruxo das trevas não sabe abraçá-lo. Suas risadas maníacas e atitudes hostis e de surpresa ou medo apenas realçam esta interpretação da humanização da personagem.
Da mesma forma, Michael Gambon, Helena Bonham Carter e Evanna Lynch também estão ótimos, apesar das participações diminutas. Gambon aparece brevemente ao final do roteiro, contracenando (explendidamente, diga-se de passagem) com Rickman em discussões sobre a morte de Harry e a forma como o garoto deveria morrer. Bonham Carter mal aparece, apesar de ser uma excepcional atriz e sua morte é uma das mais, com o perdão da palavra, broxantes da história do cinema. Evanna Lynch é mal aproveitada apesar de encarnar com franqueza e talento a personagem Luna Lovegood, sempre fazendo uma pequena aparição aqui e ali.
O filme tem praticamente duas horas de duração, mas muito deste tempo é desperdiçado com cenas de ação desnecessárias que poderiam ser melhor utilizadas no aprofundamento da parte emocional do roteiro (como exemplo cito a morte de um dos gêmeos Weasleys e as mortes de Lupin e Tonks, ambas mostradas por literalmente uns dois segundos cada). "Como David Yates pode dar tão pouca importância à morte de personagens que tanto amamos?", me perguntei ao ver essa cena. É triste ver esse tipo de descaso com um dos personagens mais interessantes e divertidos da série. Em compensação temos uma cena de 10 minutos com Harry e Voldemort voando (sim, voando) por cima e por dentro de Hogwarts, em estado meio-dissolvido/meio-sólido numa aparatação incompleta que sabe-se lá o que quis dizer. Cena desnecessária e cansativa, diga-se de passagem.
Um dos pontos positivos do filme foram os efeitos especiais. A cena de Hogwarts sob ataque, com a cúpula de proteção se desfazendo e o castelo em chamas definitivamente vai provocar arrepios nos fãs. A ótima trilha sonora também é válida para intensificar estes efeitos e sensações. David Yates se arriscou ao aceitar dirigir este longa. Óbvio que é impossível agradar a todos os fãs, mas de fato deveria ter sido dada mais atenção à parte emocional deste filme (com tantas mortes e perdas, é excruciantemente o filme mais emocional da série). Por outro lado, tem se tornado comum encontrar filmes nos cinemas atualmente em que o roteiro não presta e as cenas de ação se estendem indefinidamente como se pudessem tapar buracos numa história fraca com tiroteiros e explosões (vide Transformers 3).
O epílogo, bom, nem vale a pena ser comentado. Fraco, chato e sem sentido, assim como no livro. E infelizmente mal-feito também. A maquiagem não convenceu e fechar a cena final na cara de Harry acabou com a graça de se ter um epílogo. Bem melhor seria fechar a cena com o Expresso de Hogwarts partindo.
Como disse no começo desta resenha, dizem que este é o fim de uma era. Uma era de Harry Potter. Mas não creio que seja. Creio que é apenas o começo de uma Nova Era. Uma Era em que Harry Potter vai ser apenas uma lembrança de toda a magia do mundo, marcando nossas memórias para sempre. O fim chegou, como sempre chega. E a todos que viveram estes tempos mágicos nada resta a não ser voltar a mergulhar nesta história quando se sentir nostálgico. Apesar de todos os problemas da série (me refiro à de livros e de filmes), é impensável esquecer Hogwarts e seus ocupantes. Afinal, como diz Dumbledore, Hogwarts estará sempre lá para aqueles que dela precisarem.


"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2". Título original: "Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 2". Ano: 2011. Nacionalidade: EUA. Diretor: David Yates. Roteiro de: Steve Kloves, J. K. Rowling. Produzido por: David Barron, David Heyman, Debbi Bossi, J.K. Rowling. Estrelando: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Bonnie Wright, Tom Felton, Matthew Lewis, Helena Bonham Carter, Jason Isaacs, Michael Gambon, Maggie Smith. Música de: Alexandre Desplat. Duração: 130 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 8,5/10.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Sólido Abismo






Phillip Reeve construiu, em Mortal Engines, um universo denso, detalhado e perturbador, onde cidades andam sobre esteiras comendo umas as outras.


Phillip Reeve nasceu em Brighton na Inglaterra, em 1966. Trabalhou como ilustrador de diversas obras infantis, antes de publicar seu primeiro romance, em 2001, chamado Mortal Engines (Mortal Engines, 2011, Editora Novo Século, Osasco, 279 páginas, R$ 26,90), o primeiro de uma série de quatro livros, também conhecidos como Hungry Cities Chronicloes.


Num futuro longínquo, povos tecnologicamente muito avançados da civilização humana foram completamente aniquilados por uma guerra conhecida como Guerra dos Sessenta Minutos, que transformou o planeta Terra em um mundo pós-apocalíptico, onde imensas cidades foram colocadas sobre esteiras e rodam mundo àfora, a procura de presas: outras cidades. As gigantescas construções tracionadas literalmente devoram umas as outras, transformando seus sobreviventes em escravos, no que ficou chamado de Darwinismo Municipal.


É nesse contexto em que Londres vaga pelo deserto,e onde surge o protagonista: Tom Netsworthy. Tom é um mero aprendiz de classe subalterna, quase, que trabalha em um "Museu de História Natural" da Londres criada por Reeve. Depois de ser repreendido por seu superior, após observar a sangrenta caçada de sua cidade a um povoado menor, ele é enviado aos níveis inferiores para ajudar Thaddeus Valentine e sua maravilhosa filha, Katherine, a encontrarem relíquias outrora guardas nas cidades engolidas, chamadas de Old Tech -fragmentos da tecnologia dos povos antigos que foram dizimados à milhares e milhares de anos.


Durante sua busca, os três são confrontados com uma misteriosa garota chamada Hester Shaw. Em um golpe súbito ela tenta matar Valentine, mas é frustrada por um corajoso Tom que se põe em seu caminho. Ele sai em perseguição de Hester que pula para o abismo frio e sombrio das terras abaixo de Londres. Quando Tom conta a Valentine o que aconteceu, este o empurra rumo à morte certa, sem a suspeita de ninguém, pois não havia ninguém - especialmente sua filha - para ver o que aconteceu.


O rapaz obviamente sobrevive, assim como Hester, e ambos correm para alcançar Londres novamente: Hester para concluir sua missão de matar Valentine, e Tom para descobrir o que diabos aconteceu.


Durante sua jornada, Tom descobre que os pais de Hester foram brutalmente assassinados - diz ela - pelo próprio Valentine, que além de tudo lhe desferiu um golpe no rosto, que agora possui uma enorme cicatriz que percorre todo o seu rosto. Também descobrem que a cidade adquiriu um antigo artefato Old Tech chamado de MEDUSA, algo deixado pelos antigos que pode muito bem ter destruído o mundo milênios no passado.


A história é contada em duas narrativas paralelas: uma acompanha Tom e Hester, durante o encontro dos personagens mais inusitados, dos inimigos mais assustadores e das perseguições mais perigosas. A outra acompanha Katherine, filha de Valentine, que procura desesperadamente descobrir a verdade sobre seu pai, e sobre a misteriosa garota que tentou matá-lo.


Ambos os protagonistas das duas narrativas, Tom e Katherine, são perfeitos cidadãos londrinos, inteiramente mergulhados em sua sociedade: uma sociedade consumista e autodestrutiva, não muito diferente da nossa. Mas conforme seus destinos vão chegando ao fim, eles vão percebendo a cruel realidade por trás das pessoas que conheciam, e da vida que tinham.


Obviamente surgem histórias de amor no decorrer do livro. Tom por Katherine, embora ambos estejam separados por centenas de quilômetros, e ela acredite que ele esteja morto. E surpreendentemente de Hester por Tom, que formam uma confusa, conturbada e emocionante amizade.


O ritmo imposto por Reeve é frenético. Durante as quase trezentas páginas há uma profusão de perseguições, conflitos, tiroteios e explosões, para aqueles que não aguentam ficar duas páginas parados. Também é uma analogia as próprias cidades, e mais ainda, à vida no século XXI, transmutável, turbulenta e imparável.


Tom, Hester e Katherine encontram aliados pelo caminho? Sim. Mas ao contrário da maioria das narrativas infanto-juvenis (com exceção talvez, de Garth Nix), não há condescendência do autor com seus personagens. Eles terão que contar com sua coragem, perspicásia e inteligência para sobreviverem. E embora esta seja uma obra categorizada como "infanto-juvenil", Mortal Engines esbanja violência, e seu final (ao menos do primeiro livro), pode ser perturbador.


Mais contrária ainda, à onda da literatura adolescente, não há final feliz em Mortal Engines. Tampouco poderia haver, em uma história de autodestruição como esta. E nos faz pensar qual é o futuro da nossa sociedade que caminha paulatinamente rumo ao precipício. Reeve diz muito bem o que aconteceu conosco, nossa civilização. Foi destruída, vítima de nossa própria imbecilidade, reduzida a sombras e histórias. E cujos erros, os homens do futuro teimam em repetir.


Dessa forma, a obra surge como um sopro de originalidade em um mercado que começa a mostrar tendências de saturamento. Seu universo rico e complexo, seus personagens cativantes, suas sequências de ação intensas e seus destinos perturbadores, farão o leitor grudar em cada uma de suas páginas.


Houve o boato, em dezembro de 2009, que o cineasta neozelandês, Peter Jackson, iria filmar a obra em 3D. Isso, entretanto, permaneceu somente um boato, perdido em algum lugar na sombra e no escuro, proporcionando nada mais do que espectativa. No Brasil, restam ainda três livros a serem publicados. Qual o destino que Reeve dará para Tom e Hester, é impossível dizer até lá. Já o restante da civilização humana pereceu há muito tempo.



Foi lançada também uma resenha no portal do Terra Magazine, escrita por Roberto de Sousa Causo. Ela pode ser lida através do link abaixo:








quarta-feira, 13 de julho de 2011

O tempo que nos é dado





Woody Allen retorna à boa forma com Meia Noite em Paris, com um elenco espetacular e uma das melhores histórias de sua carreira.

Woody Allen é certamente um dos melhores e mais respeitados diretores e roteiristas da história de Hollywood. Já venceu 3 OSCAR (dois por Noivo neurótico, noiva nervosa e um por Hannah e Suas Irmãs nos anos de 1978 e 1986 respecitvamente). Sua inigualável criatividade e capacidade de escrever/filmar filmes com uma velocidade impressionante, lhe renderam milhões de fãs devotados ao redor do mundo.
O diretor nascido no Brooklyn em 1935, sempre se revelou melhor nas comédias do que em filmes dramáticos: Match Point e O Sonho de Cassandra, embora relativamente bons (ou ao menos detentores de seu fan club), decerto não estão nem perto de seus melhores trabalhos. Os mais recentes, aliás, mostram uma tremenda queda de qualidade de sua produção.
Com Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, EUA, 2011), ele parece ter retornado à boa forma. Com um elenco estupendo - aliás como de costume -, composto por Owen Wilson, Rachel McAdams, Adryan Brody, Kathy Bates, Michael Sheen e outros.
Wilson, recuperado dos recentes casos de tentativa de suicídio e internação por uso de drogas, faz uma mímica perfeita do próprio Woody Allen, interpretado Gil Pender, um jovem roteirista de Hollywood que está em Paris com sua noiva Inez (McAdams), enquanto os pais dela estão viajando a negócios. Ele trabalha em seu primeiro romance e é um verdadeiro bisonho que possui a noção romântica e nostálgica de uma Paris dos anos 20 na chuva, como o local ideal pra se viver.
Lá eles encontram o fantástico e não menos irritante Paul (Michael Sheen), um sujeito incrivelmente culto e antigo amigo de Inez, que os leva por um tour nas principais galerias e museus franceses, Versalles e por aí vai. Durante um desses passeios, ele se enche e deixa a noiva nas mãos de Paul, saindo para voltar ao hotel a pé na Paris noturna. No meio do caminho, obviamente se perde, e acaba se sentando aos pés de uma pequena igreja de uma ruazinha escura. Quando bate meia noite, um carro antigo passa por ele e os passageiros o convidam para entrar: mal sabe Gil, que ele acaba de cruzar um portal justamente para a Paris dos anos 20, que ele tanto sonhava, dando-lhe a oportunidade de conhecer seus maiores ídolos, F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Salvador Dalí, Pablo Picasso, Gertrude Stein e por aí vai.
O que a princípio torna-se um tremendo choque, logo revela ser a oportunidade de Gil, de conhecer as pessoas que ele mais admira, e a possibilidade de melhorar seu romance e de admitir seus erros.
Esse é, provavelmente, uma das histórias mais agradáveis e inventivas de Allen em muito tempo. A direção é divertida como de costume, e atuação de Owen Wilson, uma surpresa. Entretanto, a fotografia do Iraniano Darius Khondji merece uma mensão especial: durante o tempo em que Gil passa em sua época, ela é relativamente simples e bastante clara. Entretanto, toda vez que ele dá um pulo para o passado, ela se torna escura e envolvente com detalhes em dourado. Quase noir.


Até certo ponto do filme, Allen dá a impressão de estar indo numa direção totalmente errada. Mas próximo do final, a grande lição surge: de que não existem tempos melhores, mais belos ou mais especiais do que aquele em que estamos vivendo. Cada geração possui seus Hemingways, seus Fitzgeralds, seus Dalís, seus gênios e seus criadores, que inevitavelmente vêem sua época como uma era monocromática e sem imaginação, criando a doce ilusão de que um tempo longínquo pode ser melhor.


No fim, talvez seja melhor sermos felizes com e no o tempo que nos foi dado. Não adianta olhar para as estações passadas esperando pelo seu retorno, pois elas seguem sempre em frente, cada uma com suas nuances, anomalias e qualidades. E nem sempre os mais sábios conseguem enxergar os dois lados.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Como tudo é pequeno...




Arrietty dos estúdios Ghibli, é mais uma de suas maravilhosas e emocionantes narrativas fantásticas, que nos lembram que as portas para a fantasia ainda existem.



Arrietty (Kari-gurashi no Arietti, JAP, 2010) é uma menina de quatorze anos que vivem em um submundo mínusculo debaixo de uma casa numa província do Japão chamada Konagei, a oeste de Tókio. Ela vive com seus pais em uma casinha não muito maior do que uma caixa de sapatos. Os pequeninos tem mais ou menos a altura que lhes convém a capacidade de viver numa casa de bonecas, roubando pequenos utensilhos humanos como presílias, alfinetes, comida e tudo o mais que lhes for útil.
Durante uma de suas escursões com seu pai, ela acaba sendo descoberta por um menino habitante da casa. O garoto sofre do coração, e vive com a avó, uma velha rabujenta e uma gata gorda, e não tem o menor medo dos pequenos habitantes.


Daí, obviamente mas não menos interessante, nasce um amor impossível, como aliás, é de costume na maioria dos filmes Ghibli. Isso não torna a narrativa menos emocionante, ou menos melancolica. Do amor que brota entre a jovem Arrietty de cabelos ruivos e o garoto habitante da casa, brota também o perigo: a velha rabugenta procura desesperadamente os pequeninos e acaba raptando a mãe de Arryetty. Começa então, uma busca implacável para resgatá-la.


Adentrar no universo dos pequenos seres habitantes da casa, é como entrar em um conto de fadas. Tudo é lindo e colorido, e o olhar apurado do diretor estreante, Hiromasa Yonebayashi, mostram como é dura a vida das criaturas pequenas, em sua tentativa de sobreviver a pragas como ratos, gafanhotos, corvos ou mesmo uma gata gorda e sem vergonha.


A história é baseada em um romance da autora Mary Norton, chamado The Borrowers e você já deve ter visto algo semelhante em Os Pequeninos (1997), estrelado por John Goodman. Entretanto, o universo daqueles que vivem entre as frestas das paredes, debaixo do chão ou dentro dos armários não nasceu para ser contada na forma de pessoas de verdade, e é na animação que ela encontra seu próprio lar.


O filme retém todas as qualidades e características de um filme Ghibli: a animação é impecável, com o mínimo de recuros digitais possíveis. Os movimentos são fluídos e os detalhes transbordam. Desde um prego usado como bengala, a um alfinete usado como arma, todos os objetos que consideramos desncessários ou ínfimos, ganham novas proporções no mundo de Arrietty.


A música é composta por Cécile Corbel embora apresente momentos muito bonitos e delicados, não foi feita para sustentar momentos de suspense, ou proporcionar temas memoráveis. Mas ainda assim cumpre bem a sua função.


Arrietty é mais uma das grandes personagens das animações Ghiblenianas. De Shihiro, Kiki, Mononke, Chita e Nausicaa, são as personagens femininas quem conduzem a ação, e, embora mantenham sua feminilidade, esbanjam coragem e força nos momentos necessários.


Isso não significa que não haja personagens masculinos na trama. O menino habitante da casa também sabe agir quando necessário, e será fundamental para a sobrevivência de Arrietty e sua família. Devido a sua condição física, suas ações são um tanto sonolentas, o que dá - de vez em quando - vontade de dar um chute em sua cabeça, como Ikari Shinji mereceu em incontáveis vezes durante a saga Evangelion. Entretanto, ao contrário do piloto de robôs do cineasta Hideaki Anno, aqui, o garoto possui força e coragem, embora seu coração seja fraco.


Os fundadores do estúdio, Hayao Miyasaki e Isao Takahata nasceram em 1941 e 1935 respectivamente. Conforme a velhice finalmente os abate, novos cineastas como Yonebayashi (de 36 anos), aparecem para tomar o seu lugar. Mas não se assutem, o futuro da Ghibli está em boas mãos. Arrietty foi assistida por 7,5 milhões de pessoas no Japão; um recorde.


Apesar do tropeço de Goro Miyasaki, Tales from Earthsea, o estúdio conhecido por proporcionar animações memoráveis, parece ter acertado a mão mais uma vez. E já não era sem tempo. Em um ano repleto de continuações, um pouco de originalidade sempre é bem vinda. E apesar de Miyasaki estar planejando adaptar essa história há 40 anos, ela continua se mantendo atual, como provavelmente sempre será.


Afinal, somos todos pequenos quando confrontados com alguma coisa maior do que nós. Mas o coração do Homem, embora frágil, é imenso.