segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Porta das Sombras




A Sangue Frio de Truman Capote é mais do que um marco da literatura do New Journalism. É um retrato sobre o interior do Homem, e os fantasmas que o assombram.




Stephen King uma vez escreveu: “Monstros são reais. Fantasmas são reais também. Vivem dentro de nós, e, às vezes, eles vencem”. Considerado pioneiro no ramo do New Journalism, Truman Capote (1924-1984) decidiu no romance de não ficção A Sangue Frio (
In Cold Blood, Truman Capote, 1966) investigar os fantasmas que vivem dentro do coração da América.


No dia 15 de Novembro de 1959, o assassinato de quatro pessoas da mesma família chocou a comunidade de Holcomb, no Kansas. Herb Clutter, sua esposa Bonnie e seus dois filhos, Kenyon e Nancy foram encontrados amarrados e mortos com tiros de espingarda na cabeça.

Capote, em meticulosa pesquisa jornalística, narra quase 6 anos entre a morte dos Clutter e a captura e condenação dos dois criminosos responsáveis, Perry Smith e Richard “Dick” Hitchcock, culminando na execução de ambos em 14 de abril de 1965.


Mesclando a objetividade jornalística testemunhada por extensa pesquisa de fontes, documentos e entrevistas, com a subjetividade literária, pela suposição de eventos que jamais poderiam ser confirmados (como diálogos entre a família Clutter que só eles poderiam saber e a narração de pensamentos de determinados personagens), Capote criou um panorama completo dos eventos ocorridos naquela cidade em 1959.


Os traços góticos e as sombras de Edgar Allan Poe, presente nos contos de Capote são inexistentes em A Sangue Frio. A narrativa começa fragmentada e com ritmo acelerado, gerando o suspense que culmina com a identificação dos criminosos. Desse ponto em diante, a narrativa torna-se mais sóbria, focando-se nos prisioneiros e detetives durante o processo que durou quase 5 anos.


A figura central do livro é a de Perry Smith. Talvez pela sua trajetória conturbada, marcada pela mãe alcoólatra e o pai violento, dois irmãos suicidas, várias visitas a orfanatos e um acidente de moto em que ele fraturou ambas as suas pernas, Capote tenha decidido focar-se nele. Talvez tenha tido dificuldades com o parceiro de Perry, Dick, divorciado e pai de três filhos. Contudo, em certa ocasião, Capote afirmou ter se identificado com Perry Smith: “É como se nós tivéssemos crescido na mesma casa. Só que eu saí pela porta da frente e ele pela dos fundos”.


O grande mérito de Capote foi explorar ao máximo as complexidades dos dois criminosos, em seus pensamentos, atitudes, nuances, falhas, desejos secretos, impulsos reprimidos e inclinações criminosas. Com o uso tanto da literatura, quanto do jornalismo, dando a oportunidade para várias vozes contarem a história, ele compôs um retrato nítido que, por vezes, torna a narrativa densa e pesada. Como a escuridão que se abateu naquela casa quando a família Clutter foi assassinada.


Entretanto, a derradeira questão que o livro aponta é o que faz duas pessoas aparentemente sãs cometerem atos de violência tão insanos? A pergunta que assombra as profundezas do coração humano permanece tão sem resposta quanto há 50 anos atrás. Contudo, em A Sangue Frio é possível ver com incrível nitidez, o fantasma de Perry Smith, em sua antiga casa em Nevada, saindo pela porta dos fundos.


“Derramamos mais lágrimas pelas preces atendidas do que pelas não atendidas” – Truman Capote.

O rei da cocada preta




Avatar de James Cameron, é uma mistura entre Pocahontas, O Último Samurai e O Coração das Trevas, só que em um mundo extraordinário, com seres azuis.

Existem poucas diferenças entre Avatar (Avatar, EUA, 2009) do diretor James Cameron, e as histórias já vistas em Pocahontas, O Último Samurai de Ed Zwick e O Coração das Trevas, romance de Joseph Conrad, que depois sofreu a adaptação de Francis Ford Copolla em Apocalypse Now de 1979.
O filme do diretor vencedor do OSCAR em 1997 por Titanic, parece uma congruência dessas três histórias. Num futuro distante, a humanidade alcançou a exploração espacial e descobriu o planeta de Pandora, um pequeno corpo celeste orbitando um gigante gasoso, onde existe um minério raro e muito precioso, chamado Onubtanium, capaz de gerar um campo antigravitacional. Para alcançar as grandes jazidas desse minério, os humanos devem primeiro passar por cima da população local, humanóides com mais de dois metros e meio da altura, azuis, chamados de Na'Vi. Para isso, com os avanços da tecnologia genética, são embrionados "avatares", corpos geneticamente modificados, usando DNA humano e alienígena, numa tentativa de encontrar uma solução "democrática" para os nativos.
Nesse futuro distante e colorido, o paraplégico Jake Sully (interpretado pelo carismático, Sam Worthington) deve substituir seu irmão gémeo que foi morto recentemente em Pandora, o único, além de Jake, capaz de operar seu avatar. Diante da grande quantidade de dinheiro oferecida pela companhia de extração do minério, e a possibilidade de voltar a andar, ele viaja durante seis anos até o planeta, onde incorporará o avatar de seu irmão e entrará em contato com os habitantes locais, os Na'Vi.
A história criada por James Cameron não acrescenta nada de novo, exceto pela maravilhosa construção do planeta Pandora, no distante futuro. Tudo, desde a linguagem ao bioma são impecavelmente bem realizados, o design das criaturas, das plantas e das paisagens, são de preencher os olhos, um dos melhores trabalhos em desenho de produção e direção de arte da história recente do cinema americano.
Contudo, a trajetória percorrida por Sully, da descoberta dos nativos até a identificação por eles, que culminará num grande gesto de amor, junta o romance de Pocahontas, com o convívio com o inimigo de O Último Samurai e as disputas da colonização europeia nos países do terceiro mundo, de O Coração das Trevas, de Joseph Conrad. Contudo, Cameron, na maioria das vezes falha ao captar a mesma magia e singularidade vista em cada uma dessas obras.
A cultura criada para os habitantes nativos do planeta é extremamente rica em detalhes, assim como restante do roteiro. O bioma, a linguagem e os efeitos especiais em 3D, todos estão em seu devido lugar. Mas o filme falha ao criar uma tensão para o destino dos personagens, ou um envolvimento maior com eles. Falha no que todas as outras obras nas quais Cameron se inspirou (o que inclui "O Nome do Planeta é Floresta" de Ursula K. Le Guin) conseguiram: a análise profunda, introspectiva e moral que Cameron tanto quis ressaltar.
Avatar fala claramente sobre a colonização europeia em países como o Congo Belga, do massacre aos índios nativos nos EUA do século XVIII e XIX, uma dura crítica ao sistema capitalista e das grandes corporações (característica sempre presente nos filmes de Cameron) que tornam-se os verdadeiros governantes da sociedade do futuro, à preservação da natureza, etc. Contudo, o conglomerado de clichés e situações óbvias, acaba por tirar o seu brilho, fazendo com que o filme dependa mais em seus avanços tecnológicos do que na história propriamente dita.
Os efeitos tridimensionais são simplesmente incríveis. É recomendado o uso de uma sala com infalível sistema de som e imagem, como o IMAX, para total apreciação do universo incrivelmente rico, complexo e colorido que Cameron criou. Nesses aspectos, Avatar é um dos filmes de impacto visual mais proeminentes de todos os tempos.
Entretanto, a música de James Horner foi uma grande decepção, sendo uma experiência sonora extremamente alta, mas com pouca melodia e arranjos característicos do premiado compositor. A fotografia de Maurio Fiore, vencedor do OSCAR deste ano, é eficiente ao ressaltar os efeitos visuais criados para o filme, mas não chega perto da sofisticação e qualidade artística de muitos predecessores. A captação e edição do som também ficou a desejar, expecialmente para uma obra de tamanho impacto sensorial. O elenco, que conta com a presença de Sigourney Weaver, Michelle Rodriguez, Zoe Zaldana e o fabuloso Stephen Lang no papel do vilão, Quaritch é muito eficaz, embora merecesse maior aprofundamento.
Definitivamente não é o melhor filme de Cameron, que depois de O Exterminador do Futuro o Julgamento Final pareceu perder um pouco de sua característica rústica tanto apreciada pelos fãs da ficção científica de ação que Cameron ajudou a consolidar. Contudo, com um faturamento superior a 2 bilhões de dólares com Avatar e 1,5 bilhão com Titanic, seu trabalho anterior, James Cameron provou ser o diretor mais rentável de Hollywood, o que comprova a decisão da Academia de premiar a produção de baixo orçamento Guerra ao Terror, de sua ex-esposa, Katherine Bigelow, com um verdadeiro tiro do pé.
Da evolução do cinema que passou do filme mudo, para o sonoro, para o colorido para o tridimensional, ele cria a pergunta de: qual será o futuro do cinema, tal como conhecemos hoje? Mesmo assim, Avatar é um filme rico e bem elaborado, que apesar de todas as suas falhas comprova que Cameron é um dos maiores diretores de sua geração, e com os dois filmes de maior bilheteria na história, consolidado literalmente como o Rei da cocada preta. Deus salve o Rei da Cocada.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Shantih, Shantih, Shantih*












Filhos da Esperança, do diretor Alfonso Cuarón, é uma das obras de ficção científica mais belas e realistas dos últimos anos.




"Thesse fragments I have shored against my ruins
Why then Ile fit you. Hieronymo's mad againe.
Datta. Dayadhvam. Damyata.

Shantih, Shantih, Shantih".

- T.S. Elliot - The Wasted Lands (As Terras Devastadas)




O dia 16 de Novembro de 2027 marcou a morte de Diego Ricardo, de 18 anos de idade, a pessoa mais jovem do planeta. Em Filhos da Esperança (Children of Men, EUA/ING, 2006), nenhuma criança nasceu nos últimos dezoito anos. Por algum motivo desconhecido, as mulheres tornaram-se inférteis. Sem o riso das crianças para guiar os adultos, as fundações da sociedade desmoronaram.
O mundo entrou em guerra. Bombas nucleares foram despejadas em cidades americanas e na África. A Inglaterra (onde o filme se passa) tornou-se um estado quase ditatorial, constantemente atormentado por atentados terroristas e onde os imigrantes ilegais (qualquer um que não seja britânico) são caçados como judeus recém-escapados de campos de concentração (onde são enviados caso sejam capturados).
Em meio a esse caos, Theo Faron (interpretado por Clive Owen), cujo nome em grego significa "O Deus dos Faróis", é contactado por sua esposa, Julian (Juliane Moore), que precisa de sua ajuda para levar uma garota clandestina chamada Kee, ao litoral. O que ele não sabe é que a garota, inexplicavelmente, está grávida, e precisa encontrar um barco chamado "O Amanhã", onde o "Projeto Humano" - uma organização secreta, não governamental - procura descobrir as causas da infertilidade.
Vagamente baseado na obra da escritora de romances policiais, P.D. James, o filme é dirigido por Alfonso Cuarón, o mesmo de
E Sua Mãe Também, e Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban. Contudo, na obra original, a infertilidade é atribuída aos homens, incapazes de produzir esperma, e não às mulheres como no filme.
Outra característica que os difere é a narrativa mais introspectiva do romance, aprofundando-se na sociedade britânica pós-apocalíptica que é apresentada como plano de fundo no filme de Cuarón. Equanto o livro possui uma narrativa guiada pelos personagens, a do filme é guiada pelos acontecimentos.
A composição do universo de
Filhos da Esperança é assombrosamente detalhada. Cada rua, muro ou corredor é caracterizado de forma a demonstrar a decadência da sociedade mundial. A figura do quadro Guernica de Picasso, é uma constante no filme, representando o caos e a desordem que se instaurou no planeta graças à infertilidade. Pequenos detalhes como um balão gigante em forma de porco, referência ao álbum Animals, do grupo Pink Floyd, que completaria 50 anos em 2027, a presença de um animal em quase todas as cenas, normalmente um cão, as manchetes dos jornais e grafites nas paredes, ajudam a situar o espectador num futuro marcado pela falta de eseprança, de uma forma extremamente realista.
A fotografia do grande colaborador de Cuarón, Emmanuel Lubeski, feita totalmente em câmeras de mão, é uma das melhores na história recente. A priorização de longas tomadas única, também é evidente, com o uso extensivo de planos-sequência (a última sequência do filme possui mais de seis minutos sem cortes). Cuarón afirmou publicamente ter se inspirado no filme italiano,
A Batalha de Argel, de 1966, para narrar o filme quase como um documentário sobre os acontecimentos ocorridos em 2027.
A trilha sonora
Fragments of a Prayer de John Tavener é quase uma ópera, uma viagem espiritual que se aprofunda no coração de cada um dos personagens.
Com a ajuda de seu amigo, Jasper (Michael Cane) Theo se verá numa empreitada para levar Kee até o litoral, no que pode significar a última esperança da humanidade. Em sua jornada, haverá violência, haverá tristeza, e nem todos chegarão até o final, enquanto a pequena chama do coração dos homens tentará permanecer acesa.
As atuações são excelentes, a direção, fenomenal, a fotografia e direção de arte capazes de mergulhar o espectador na decadente Inglaterra infértil do futuro e o roteiro, tenso, repleto de detalhes e significados que manterão o espectador preso até o fim.
É um filme extraordináriamente realista (embora seja plausível acreditar que a medicina genética seria capaz de consertar os problemas da infertilidade), ora tenso, ora poético. Um conto de como os laços que unem a sociedade são fracos e podem ser partidos, e o que acontece quando são. A última jornada do homem pelas terras devastadas, na derradeira luta pela sobrevivência.



*Shantih Shantih Shantih faz parte do poema "As Terras Devastadas" de T.S. Elliot, e em tradução vafa, significa "A paz que passa compreensão".

Uma sombra passou por aqui*


A Vila, do diretor M. Night Shyamlan, não é um filme de horror, mas sim um estudo social com elementos de horror.

Se há uma cor capaz de descrever A Vila (The Village, EUA, 2004) essa cor é o vermelho. Um vermelho quase inexistente, proibido, que aparece vez ou outra como algum detalhe da paisagem, no sangue de um vestido branco, na frente de uma porta, entre os galhos nus da floresta e os ventos gelados e tenebrosos que ela traz consigo.
O quarto filme de M. Night Shyamlan, diretor indiano que começou com estrondoso sucesso em
O Sexto Sentido (1999), narra a história de uma garota ruiva, de olhos penentrantes, rosto jovem e corajoso. Seu nome é Ivy Walker. Ela vive em uma vila na Pensilvânia do século XIX, cercada pelas florestas de Convington. O lugar é pequeno, isolado e perdido no tempo. As árvores, com seus galhos despidos pelo sopro do outono, contam a história de misteriosas criaturas que vivem por lá. Atraídas pela cor vermelha, elas não atravessam a fronteira da vila, contanto que seus habitantes não adentrem a floresta.
Segredos são escondidos em cada canto do pequeno vilarejo. Conforme estranhos acontecimentos vão ocorrendo, a protagonista Ivy Walker se vê em uma situação na qual terá que cruzar a fronteira de sua vila e mergulhar nas sombras da floresta de Convington.
O elenco de estrelas composto pela belíssima Bryce Dallas Howard (filha do diretor Ron Howard), Joaquim Phoenix (o grande amor de Ivy), Adrian Brody (cuja inocência será fundamental para a trama), Sigourney Weaver, William Hurt e Brendan Gleeson (que escondem um segredo profundo e tenebroso) é o melhor já reunido pelo diretor. Em suas atuações, possuem tamanho entrosamento e sinceridade que é quase impossível imaginá-los fora de seus personagens.
A fotografia de Roger Deakins ressalta os tons dourados e avermelhados do filme, criando um ambiente caloroso e ao mesmo tempo assustador. Por vezes escuro e enigmático, o clima criado no filme é sombrio, e cada cor ressalta um aspecto importante da trama. A câmera se move como num sussurro, sempre espiando por detrás de uma parede ou porta, ou por cima do ombro do personagem principal.
A música, composta por James Newton Howard, flui como seda vermelha na pele de uma mulher. Orientada pelo violino da famosa Hilary Hahn, apresenta um tema feminino e delicado, que por vezes explode num trovão inquietante do espírito humano.
Algo vive em meio à floresta, certamente. Algo cruel e assustador. Conforme o vento sopra, a floresta nua chama com seu canto mau. Contudo, o verdadeiro horror vem de dentro das portas das casas construídas para os habitantes daquela vila. E é isso que Ivy irá descobrir ao cruzar a linha que separa seu mundo do desconhecido.
Há um fogo em seu coração, assim como no coração de cada habitante da comunidade. Contudo, aquilo que alimenta suas chamas difere de alma para alma. Seja por amor ou coragem, por ódio ou algo ainda mais escuro. Algo que alimenta o coração da floresta, e aqueles que não devem ser mencionados.
É o filme mais assustador de Shyamalan. É assustador em sua realidade. Uma fábula de como a dor e a violência nos seguem aonde quer que formos. E que existem lugares, assim como nas profundezas do coração humano, que são perdidos no tempo. Cercados e intocados por florestas sombrias e cantos sinistros, por onde as sombras passam.

*Título original pertence à coletânea do autor Ray Bradburry, The Illustrated Man, publicada no Brasil sob o título de Uma Sombra Passou Por Aqui.

"A Vila". Título original: "The Village". Ano: 2004 Nacionalidade: EUA Dirigido por: M.Night Shyamalan Roteiro de: M. Night Shyamalan Produzido por: Sam Mercer, Scott Rudin e M.Night Shyamalan Estrelando: Bryce Dallas Howard, Joaquim Phoenix, Sigourney Weaver, Adrian Brody, Brendan Gleeson e William Hurt. Música de: James Newton Howard Duração: 108 min. Resenha escrita por: Roberto F. F. Causo (para a faculdade Cásper Líbero). Nota: 9,5/10

É Pra Você!

Em Celular, Stephen King demonstra novamente toda a crueldade que sua mente sádica pode imaginar: é genialmente sangrento

Onde você estava no último 1º de outubro, por volta das 15 horas? E mais importante ainda: o que estava fazendo? Se sua resposta for “estava falando ao celular” e você for um dos personagens deste thriller do aclamado Stephen King, então, bem, você agora é um zumbi insano e assassino que ataca sem qualquer restrição.

O livro Celular (Cell, lançado nos EUA em 2006) conta a história do desenhista Clay Riddell, que está em Boston em viagem de negócios com o intuito de vender uma história em quadrinhos que escreveu. Acontece que depois de uma reunião bem sucedida, Clay acaba presenciando um bando de pessoas que se atacam pelas ruas, usando qualquer arma, incluindo os próprios dentes, para matar uns aos outros. Tudo o que têm em comum é que todos estavam usando celulares naquela sangrenta tarde de 1º de outubro. Fica claro que algo denominado Pulso foi transmitido para todos os celulares e, dessa forma, todos que os estavam utilizando acabaram infectados.

A surpresa de ver as pessoas se atacando na rua, o sangue e os acidentes, logo é substituída pela perplexidade e pelo medo quando um engravatado ataca a ele e ao homem ao seu lado, chamado Tom McCourt, com um cutelo ensanguentado. Felizmente ambos conseguem sobreviver ao ataque e uma ligação de amizade e companheirismo nasce entre eles, nesse novo mundo apocalíptico.

Logo, tanto Clay quanto Tom partem para o estado do Maine, acompanhados da adolescente Alice que surge para lhes fazer companhia, em busca da ex-mulher e do filho de Clay. À viagem pelos cenários catastróficos de acidentes e cadáveres ainda é mais leve do que outras obras de King. As imagens ao ar livre e de caminhadas pela noite tornam menos carregado o decorrer da história.

Há uma inversão de papéis notável, pois os normies – aqueles que não foram afetados pelo chamado Pulso – passam a viajar e migrar apenas durante a noite, quando os fonáticos – os insanos assassinos criados pelos telefones portáteis – estão dormindo em bandos ao som das mais bregas músicas populares. Ao que parece, os zumbis desenvolveram uma mente coletiva, uma espécie de relação telepática entre si e, por isso, passam a viver em bandos. Mas é claro que isso não os impede de matarem uns aos outros por bolinhos recheados.

Logo se unem a mais alguns sobreviventes, como o jovem Jordan, um gênio de computador de 12 anos que cria uma teoria completa sobre o Pulso, e continuam seguindo para o norte, dessa vez por pressão doas fonáticos. A partir de então surge a figura do Homem Esfrangalhado ou Reitor de Harvard, um zumbi que representa a mente coletiva do grupo e que passa a guia-los até uma área isolada para o que parece ser uma execução pública.

É inegável que Stephen King tem um talento majestoso no que diz respeito a criar ficção de terror, tanto que é conhecido mundialmente como o Mestre do Terror. E Celular não deixa de ser uma obra sua. Com um final característico de seus romances, a história faz com que o leitor fique preso à ela, desesperado para saber a conclusão, para saber onde toda a destruição e morte irão terminar. Só sugiro que não se comece a ler este livro de madrugada, ainda mais se sua casa faz barulhos misteriosos durante a noite, como a minha. Você nunca mais irá ver um telefone da mesma forma. Garanto apenas uma coisa: você nunca mais irá atender seu celular sem pensar duas vezes.



terça-feira, 14 de setembro de 2010

Cisne Negro - trailer



Trailer de "Cisne Negro", novo filme do diretor Darren Aronofsky, um dos diretores mais importantes da história de Hollywood. Um triller psicológico que tem data marcada de estréia nos EUA para o dia 1º de Dezembro. Ainda não há previsão de estréia para o Brasil. Estrelando Natalie Portman, Vincent Cassell e Mila Kunis.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Um Banho de Sangue


Dentre tudo o que se pode esperar do filme de Paul Thomas Anderson, o principal é sangue.


Upton Sinclair foi um escritor vencedor do premio Pulitzer, nascido em 1878 em Baltimore, Maryland, nos EUA. Autor de mais de 90 livros dos mais diversos gêneros, Oil!, uma sátira política publicada em 1927 foi adaptada no ano de 2007 pelo diretor Paul Thomas Anderson (Boggie Nights, prazer sem limites e Magnólia) sob o nome de Sangue Negro (There Will Be Blood, EUA, 2007).


Candidato sério ao OSCAR daquele ano, o filme recebeu 8 indicações, vencendo em duas categorias, a de melhor fotografia e melhor ator para Daniel Day Lewis.


Lewis representa Daniel Plainview, um prospector de petróleo no começo do século XXI, mesma época em que o romance foi publicado. Após ser contatado por um jovem rapaz chamado Paul Sunday (interpretado por Paul Dano, o astro de Pequena Miss Sunshine), ele e seu filho, H.W. Plainview (adotado após a morte de seu verdadeiro pai, um dos trabalhadores de Daniel, apresentado no começo do filme) viajam até um pequeno vilarejo na Carolina do Sul, sob a promessa de que há grande quantidade de petróleo debaixo das areias do deserto.


Alguma coisa se esconde embaixo daquelas terras, certamente e não é só petróleo, o sangue negro que corre pelas veias da sociedade capitalista, fazendo moverem-se os motores da terceira revolução industrial, logo no começo do século passado. Alguma coisa mais perversa e incandescida se esconde por debaixo da areia, onde Plainview irá perfurar e chegar a lugares que ele desejaria nunca ter visitado.


No pequeno vilarejo ele se defrontará com Eli, irmão gêmeo de Paul que deu a informação à Plainview sobre a existência de petróleo. Dono de uma pequena paróquia da Igreja da Nova Renascença ele será a força que colidirá de frente com Daniel Plainview. E a partir do primeiro momento em que os dois são colocados frente à frente, estará iniciado um confronto mortal entre espíritos extremamente poderosos e gananciosos.


Plainview e seu filho se estabelecem no vilarejo e começam seu trabalho de prospecção. Ao perfurarem um bolsão de gás que explode, o filho de Daniel é seriamente ferido, perdendo totalmente a audição. Uma coluna de óleo negro jorra em direção ao céu, depois se incendiando em uma espada flamejante gigantesca. É o sinal que Plainview procurava: um oceano de petróleo debaixo de seus pés. E desse momento em diante, ele mergulha num oceano ainda mais perverso: o de sua mente.


Sob as mãos de Paul Thomas Anderson, conhecido por seus trabalhos “pouco comuns” como Boggie Nights e Magnólia, o filme assume um tom de estranheza, incomodativo. Conforme Daniel vai enlouquecendo, caindo nas profundezas mais escuras de sua mente e coração, o filme vai se tornando cada vez mais denso e pesado.


A fotografia vencedora do OSCAR de Robert Elswit possui, em sua maior parte, tons esverdeados, realçando a paisagem inóspita e surreal dos desertos do sul dos Estados Unidos. Sempre em movimento, por vezes mergulha o espectador no universo do filme, por vezes foge de seus personagens principais, criando ângulos estranhos e quadros quebrados onde o protagonista aparece no canto, e nem todas as vezes por inteiro.


A música do guitarrista da banda Radiohead, Johnny Greenwood, assume maior destaque. Ela é um personagem da história, tanto quanto Daniel, seu filho e Eli. Ao som de ritmos diferentes colocados um sobre o outro e violoncelos elétricos que explodem em uma melodia aterrorizante, é a representação dos calabouços da cobiça e vingança no qual Daniel afunda e se aprisiona, além de crescer conforme o embate entre ele e seu inimigo mortal Eli, vai alcançando proporções catastróficas.


Naquele deserto, Plainview irá encontrar não somente a realização de todos as suas ambições, como também a destruição de todos os fundamentos de sua moralidade (se é que houve alguma) e da família que ele mantinha com seu filho. Encontrará um rival e descobrirá o lado mais perverso de sua humanidade (se é que ela existiu).


Sangue Negro é um filme de horror. Embora não apresente uma visão tão dogmática quanto a do romance de Sinclair, é uma clara analogia ao sistema capitalista, que abraçou a filosofia do petróleo como combustível para suas conquistas sobre os outros países, suas guerras e seus sacrifícios. A ganância dos ricos prevalecendo e a miséria dos pobres aumentando. Em sua cobiça, tanto a nação cuja filosofia Plainview defende quanto o próprio Plainview, irão descobrir que durante a jornada, haverá cobiça. Haverá vingança. Haverá sangue.



"Sangue Negro". Título original: "There will be blood". Ano: 2007 Nacionalidade: EUA Dirigido por: Paul Thomas Anderson. Roteiro de: Paul Thomas Anderson - baseado no romance "Oil" de Upton Sinclair. Produzido por: Daniel Lupi, JoAnne Sellar e Paul Thomas Anderson. Estrelando: Daniel Day Lewis, Paul Dano e Ciarán Hinds. Música de: Johnny Greenwood. Duração: 158 min. Resenha escrita por: Roberto F. F. Causo. Nota: 9,0/10


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Rede Social - trailer



Trailer do novo filme do diretor David Fincher (Se7en, Clube da Luta, Zodíaco, O Curioso Caso de Benjamin Button), A Rede Social, filme biográfico sobre os criadores do Facebook. Candidato sério ao OSCAR deste ano, e já considerado um dos melhores filmes desta temporada. Estréia prevista nos EUA para o dia 1º de Outubro. No Brasil, estréia prevista para 3 de Dezembro.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Identidade Salt



Novo filme de Angelina Jolie,
Salt, lembra um pouco demais os filmes da trilogia Bourne.


Com o advento dos filmes da trilogia Bourne no começo do século XXI, que alcançaram um novo patamar no gênero de ação no cinema norte-americano, muitos diretores recentemente têm tentado reproduzir os efeitos dos filmes de ritmo rápido e roteiro inteligente dirigidos pelo inglês Paul Greengrass (Vôo United 93, Zona Verde) e estrelados por Matt Damon.
Um deles foi o próprio Paul Greengrass, que, no começo de 2010 lançou nos cinemas brasileiros, Zona Verde, um drama de ação política que se passa durante a guerra do Iraque em 2003, onde ninguém menos que Matt Damon, tenta desvendar uma conspiração realizada pelo governo americano, ao não encontrar as armas de destruição em massa que foram a causa da guerra pelos EUA.
Embora seja o melhor filme de ação deste ano, com o roteiro do vencedor do OSCAR, Brian Helgeland (Los Angeles, Cidade Proibida), o filme que possui ritmo alucinante e roteiro extremamente inteligente, não foge às referências óbvias à franquia que o diretor Greengrass consolidou alguns anos antes.
O que isso tudo tem a ver com Salt? Estrelado por Angelina Jolie e dirigido por Phillip Noyce (O Colecionador de Ossos), Salt (Salt, EUA, 2010), não foge às mesmas características que o espectador já viu em Jason Bourne.
No filme, Evelyn Salt (Jolie) é uma agente da CIA que se encontra disfarçada como a vice-presidente de uma empresa petrolífera, até que ela e seu parceiro (o fabuloso Liev Scrheiber), são abordados por um desertor russo, Orlov, interpretado por Daniel Olbrychski, que afirma haver um espião russo infiltrado dentro da CIA e que ele irá assassinar, naquele mesmo dia, o presidente russo que está em visita aos EUA para o funeral do recém falecido vice-presidente americano. Afirma também, que o nome do espião é Evelyn Salt.
No momento seguinte, Salt escapa das instalações da CIA (passando por cima de alguns dos agentes que a perseguem) e foge em busca do marido, um aracnólogo alemão que ela acredita estar em perigo.
A sucessão de acontecimentos que ocorrem conforme o filme prossegue tornam-se cada vez mais implausíveis, como Salt pulando do topo de caminhões por uma via expressa, entre outras coisas. O filme então parte para um segmento que dá valor às reviravoltas, que depois da quarta, tornam-se tão implausíveis quanto o restante do filme.
O bom trabalho dos atores coadjuvantes não ajuda a esconder os maiores defeitos do filme. Jolie é magra demais para convencer na maior parte das acrobacias das cenas de ação, embora tenha afirmado recentemente que as realizou sem o uso de dublês. Algumas das mesmas cenas, são extremamente parecidas com as já vistas na trilogia Bourne, fazendo com que o público muitas vezes se sinta incrédulo com o que está acontecendo na tela.
A própria música do compositor americano James Newton Howard soaria bem em O Fugitivo (trabalho que lhe rendeu uma de suas 8 indicações ao OSCAR), com toques mais graves de elementos eletrônicos e de percussão, mas também não foge ao clichê de usar pesadas guitarras elétricas e tambores toda vez que Salt realiza uma de suas sequências mais "extraordinárias".
O roteiro de Kurt Wimmer (Código de Conduta, Os Reis da Rua) faz de tudo para que a verdadeira identidade de Salt seja negada ao espectador. Contudo, conforme as cenas de ação vão se desenrolando e as improbabilidades se acumulando, o espectador é levado à uma iminente continuação e permanece preso entre duas possibilidades sobre a verdadeira identidade da personagem Salt.
Uma delas é que Salt é quem diz que é (ainda lembrando Jason Bourne, só que voltada para o sexo feminino). A outra é a mais plausível de todas. Por que, apesar de todas as acrobacias, pirotecnias e reviravoltas, Salt é ninguém menos que Angelina Jolie.

"Salt". Título original: "Salt". Nacionalidade: EUA. Ano: 2010 Diretor: Phillip Noyce. Roteiro de: Kurt Wimmer. Produzido por: Lorenzo di Bonaventura e Sunil Perkash Estrelando: Angelina Jolie, Liev Schreiber, Chiwetel Ejiofor e Daniel Olbrychski. Música de: James Newton Howard Duração: 100 min. Resenha escrita por: Roberto F. F. Causo Nota: 6,5/10

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Corações na Atlântida



Filme do diretor Scott Hicks e baseado num romance de Stephen King, conta uma história de um lugar mágico e antigo dentro do coração humano.


Lembranças de um Verão (Hearts in Atlantis, EUA, 2001) é baseado num romance de Stephen King, chamado Hearts In Atlantis, título original do filme. Na história que acompanha somente um breve período da obra original, Bobby Garfield, interpretado por Anton Yelchin (Star Trek) e David Morse (À espera de um Milagre) relembra seus momentos de infância em uma pequena cidade dos EUA, quando ele e sua mãe viúva encontram um homem estranho, Ted Brautigan (Anthony Hopkins) que está se ospedando no andar de cima de sua casa.
Extremamente culto e caloroso, Brautigan assume a figura paterna que Bobby nunca teve. Figura, que aliás é constantemente degradada por sua mãe (Hope Davis). Contudo, por trás de uma aparência triste e serena, Brautigan, ou simplesmente Ted, esconde um segredo grande demais para a compreensão do garoto, ou de sua melhor amiga, Carol (Mika Boorem) ou de sua mãe. Um segredo que irá acarretar uma série de acontecimentos que irá mudar a vida de Bobby para sempre.
Como qualquer criança de sua idade, Bobby vê o mundo com olhos em dourado. Característica que é amplamente explorada pelo diretor Scott Hicks, aclamado pelo seu trabalho em
Shine - Brilhante de 1996. No mundo do começo da década de 60, ele mostra um universo diferente. Caloroso, onde dias podem durar uma eternidade. Assume constantemente o olhar do menino, que aos seus onze anos de idade, vive o último ano de sua infância.
Mas a magia está além dos olhos infantis de Bobby, Carol e seu outro amigo Sully, que no começo do filme é apresentado como um herói de guerra que foi morto em um trágico acidente de carro. Bobby, interpretado adulto pelo fabuloso David Morse, começa a relembrar os momentos mais marcantes daquele breve verão, no qual ele conheceu Ted e nessa época,.a magia já se foi, restando somente um sinal ou passagem.
Entretanto, a escuridão circunda a vida daquele misterioso homem, que rapidamente cativa o menino (e vice-versa). Uma sombra na forma de carros grandes e chamativos, normalmente pretos e barulhentos, e também na figura de homens vestidos de sobretudos pretos e chapéus. São chamados "Homens Ordinários", mas na verdade são os "Homens Baixos", apresentados na história de King de uma forma muito mais assustadora. E é na figura destes homens que Bobby irá descobrir, aos poucos, a identidade secreta em Brautigan, capaz de presenciar eventos inexplicáveis, que normalmente só pertenceriam à imaginação da criança.
A fotografia do Polonês Piotr Sobocinski que faleceu no mesmo ano do lançamento do filme, funciona na forma de cores douradas e quentes durante toda a infância de Bobby, assumindo tons tristes e sombrios em sua fase adulta, como se a magia aos poucos desaparecesse da vida das crianças para dos adultos. O constante uso de espelhos, remete aos reflexos da identidade de Bobby e de Ted, assim como passagens para um lugar parecido com o nosso, mas não exatamente igual. O lugar de onde Ted vêm.
A música, de Mychael Danna é triste, serena e nostálgica, relembrando a época da inocência que Bobby pensa com tanto carinho. As lembranças de seu primeiro amor, Carol, e de seu primeiro amigo adulto, Ted, que lhe proporcionou algo mais do que uma simples amizade.
É um filme delicado e nostálgico. Seja nos tons dourados da fotografia, nos pianos e flautas da trilha sonora, na atuação serena e profunda de Anthony Hopkins e Anton Yelchin que demonstra maturidade e sinceridade em um difícil papel. O mesmo válido para Hope Davis, que interpreta sua mãe, uma mulher revoltada e desatenta para as dificuldades do amadurecimento de seu filho.
As origens de Ted Brautigan permanecem um mistério tanto para Bobby quanto para o espectador. Contudo, nas histórias de King, normalmente conectadas umas com as outras, acabam tornando-se mais evidentes, seja em
Lembranças de um Verão, em A Torre Negra, ou qualquer outra história em que os Homens Baixos se escondam nas sombras e becos escuros.
Contudo, algo que se torna claro durante o decorrer dos 100 minutos da obra-prima de Scott Hicks, é que Ted não é daqui. E em seu contato com Bobby, ambas as suas vidas serão mudadas de uma forma que nenhum dos dois imaginou ser capaz. O lugar de onde Ted veio, e para onde vai, é longe e antigo. É o lugar para onde o filme nos leva. Um lugar mágico e esquecido pelo tempo, onde os olhos das crianças enxergam com maior intensidade. Um lugar como a Atlântida deve ter sido.


"Lembranças de um Verão". Título original: "Hearts in Atlantis". Nacionalidade: EUA Dirigido por: Scott Hicks. Roteiro de: William Goldman - baseado no romance "Hearts in Atlantis" de Stephen King. Produzido por: Kerry Heysen. Estrelando: Anthony Hopkins, Anton Yelchin, Hope Davis e David Morse. Música de: Mychael Danna. Duração: 101 min. Resenha escrita por: Roberto F. F. Causo Nota: 10/10

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Deus-Demônio do Rio




Clássico de Francis Ford Copolla, é uma viagem sobre o rio da loucura. [atenção, esta resenha contém *spoliers*]


Dirigido por Francis Ford Copolla, da trilogia O Poderoso Chefão, Apocalypse Now estreou no Brasil em outubro de 1979 e tornou-se o ícone de uma geração pós-guerra do Vietnã. Em 2001, ganhou uma versão especial com 49 minutos nunca exibidos nos cinemas. Ambientado em 1969, o filme acompanha a travessia do Capitão Willard (interpretado por Martin Sheen) pelo ficcional rio Nung na selva vietnamita. Sua missão é encontrar - e matar - o coronel Kurtz (Marlon Brando) que se estabeleceu como deus de uma tribo local.
Copolla inspirou-se no romance O Coração das Trevas, de Joseph Conrad. As obras não parecem ter muito em comum: o filme é ambientado na Guerra do Vietnã, e o romance, publicado em 1902, trata da colonização europeia no Congo Belga e da brutal extração de marfim e borracha da selva africana. A figura central das duas narrativas é Walter Kurtz, indivíduo enigmático que o protagonista Willard (no livro Marlow) precisa encontrar. Mas sua missão no filme é matá-lo, enquanto no livro é de tirá-lo da selva.
Outra figura importante é um personagem que nunca assume forma humana: o Deus-Demônio do rio que Marlow e Willard singram, símbolo dos abismos da loucura, do horror trazido pela guerra - e pela exploração colonialista. Exploração que foi uma das mais brutais da história, sob o comando do Rei Leopoldo II. Nos dois casos, colonialismo europeu e imperalismo americano, têm-se a imposição de valores ocidentais sobre países do Terceiro Mundo, pelo uso da violência subvencionada pelo Estado. O horror vem do choque entre as justificativas morais do ocidente, da elevação do Terceiro Mundo, e da prática: a realização dos objetivos a qualquer custo, através da violência a mando do Estado. Diante dessa violência, presenciada e cometida por Kurtz, ele enlouquece. Em sua loucura, torna-se inconveniente por explicitar a prática imperialista por meio da violência e precisa ser "removido".
Situações absurdas - como a de um oficial que extermina uma vila praiana para poder surfar em paz, "coelinhas" da Playboy enviadas à selva para o delírio dos soldados, e o massacre a civis inocentes - são mostradas às claras, em cores vibrantes que ressaltam uma paisagem surreal marcada pelo fogo, o sol e as florestas primordiais.
*spoilers* - início
A maior diferença, porém, está na conclusão. Diante de Kurtz, Willard e Marlow são jogados no abismo mais profundo de suas almas, mas de formas diferentes. No encontro de Marlow com Kurtz, este está doente e à beira da morte (que acontece durante a jornada de volta). Já Willard cumpre a missão de matar o coronel e tem a oportunidade de assumir o lugar dele na tribo, mas não o faz. Recusa o papel de deus arbitrário, e parte, anulando a ordem de bombardear a cidadela e voltando à escuridão do rio, assombrado pelas últimas palavras de Kurtz em ambas as histórias: "O horror..O horror...".
*spoilers* - término.
O mal. Ou o horror. Mas o mal está dentro de cada homem. Em situações em que a violência legalizada é ferramenta de dominação de um povo por outro, ele escapa de maneira avassaladora e segue o Deus-Demônio do rio, "parecendo levar ao coração de imensas trevas" (Joseph Conrad).

"Apocalypse Now". Título original: "Apocalypse Now". Nacionalidade: EUA Dirigido por: Francis Ford Copolla Roteiro de: John Milius e Francis Ford Copolla - baseado no romance "Heart of Darkness" de Joseph Conrad. Produzido por: Fred Roos, Gray Frederickson, Tom Stenberg e Francis Ford Copolla. Estrelando: Martin Sheen, Marlon Brando, Dennis Hopper, Lawrence Fishbourne. Com Robert Duvall e Harrison Ford. Música de: Carmine Copolla e Francis Ford Copolla. Duração: 153 min (versão original), 203 min. (versão extendida). Resenha escrita por: Roberto F. F. Causo (para a faculdade Cásper Líbero). Nota: 10/10

Um Nome Genial... ou não?

A direção de Ron Howard e a atuação de Russel Crowe levaram este filme ao patamar dos dramas psicológicos bem construídos: é brilhante!


O filme Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, EUA, 2001), dirigido magnificamente por Ron Howard, conta a vida do matemático John Forbes Nash. Baseado na história homônima de Sylvia Nasar, o filme, protagonizado por Russel Crowe e Jennifer Connelly - com a participação especial de Ed Harris e muitas outras estrelas hollywoodianas -, conta a história de Nash, um matemático esquizofrênico que criou diversas teorias, trabalhou para o governo norte-americano e, em 1994, ganhou o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas.
O filme, baseado em sua história real, se desenvolve a partir de um trabalho de criptografia feito pelo matemático para o governo dos EUA. A partir de então, ele se torna paranóico e começa a ter alucinações e delírios relacionados a conspirações governamentais. A história flui facilmente através dos conflitos criados pela mente do personagem, mergulhando o público de cabeça em sua doença e deixando-o com a mesma sensação de Nash: não saber o que é alucinação e o que é real.
O filme de Howard trata das dimensões psicológicas e derivações filosóficas causadas por uma genialidade permeada e/ou, paralelamente - quem sabe, se relacionando -, a esquizofrenia. A complexidade da história cresce até o momento em que a doença mental é diagnosticada e o público se sente inclinado a ficar ao lado do gênio matemático, a acreditar em sua história. Acompanha-se a trajetória e as dificuldades do professor durante suas crises e a complicada situação que sua esposa enfrenta ao tentar encarar sua doença, persistentemente.
O filme é simplesmente brilhante. Sem trocadilho com o nome. As cenas de Nash ignorando suas alucinações, tentando superá-las renderam ao filme quatro Oscars e mais quatro indicações; quatro Globos de Ouro e mais duas indicações, entre outros prêmios. Sem dúvida é um filme que vale a pena assitir. Você sendo um gênio ou não.
"Uma Mente Brilhante". Título original: "A Beautiful Mind". Ano: 2001. Nacionalidade: EUA. Diretor: Ron Howard. Roteiro de: Akiva Goldsman. Produzido por: Brian Grazer e Ron Howard. Estrelando: Russel Crowe, Jennifer Connelly, Ed Harris. Música de: James Horner. Duração: 134 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,0/10.