sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Baboseira Sofisticada





Ainda que Millenium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, do diretor David Fincher seja melhor que a obra sueca em todos os aspectos, ainda não se destaca como uma das grandes obras cinematográficas do diretor.



Em 2008 foi publicado no Brasil o primeiro romance da trilogia Millenium, do autor sueco Stieg Larsson, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres que imediatamente tornou-se o fenômeno literário que já era no exterior. Larsson, que nasceu em 1954 foi um dos mais influentes ativistas suecos e denunciou diversas organizações neofacistas e racistas à frente da revista fundada por ele, a Expo. Larsson morreu em 2004 de ataca cardíaco, antes de ver a obra publicada.


O sucesso de Millenium rendeu uma trilogia de filmes suecos estrelados pela espetacular atriz Noomi Rapace que fez considerável sucesso no exterior (e no Brasil). Em 2009 começou a produção da versão norte-americana de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (The Girl With The Dragon Tattoo, EUA, 2010), desta vez com um elenco de peso com os nomes de Daniel Craig, Christopher Plummer, Robin Wright e Rooney Mara no papel principal de Libseth Salander.


É palpável desde o livro, o quanto Larsson espelhou-se em sua própria vida para compor a obra que fez tanto sucesso. O jornalista Mikael Blomkvist - aqui estrelado por Daniel Craig - é editor e co-fundador da revista Millenium, que denuncia organizações facistas, racistas e de exploração sexual contra as mulheres, não muito diferente do que fazia a Expo durante os anos 90. Contudo, no primeiro livro, sua missão é descobrir o assassinato de uma jovem de dezesseis anos que desapareceu há quarenta anos sem deixar nenhum vestígio.



Mais ainda Blomkvist é um super-ego do próprio Larsson: um indivíduo que, embora ético, é consideravelmente inquieto e irresponsável. Além é claro de ser bonito, classudo e galante. A proza do autor é fria, analítica, recheada de detalhes, jornalística e excessivamente descritiva - o que não é necessariamente uma coisa boa para romances policiais.



A razão disso é óbvia: confundir o leitor com a quantidade absurda de informações que são colocadas à disposição do leitor, amarradas com uma narrativa semi-telegráfica, que lembra um pouco o estilo pragmático de autores conhecidos de romances policiais e espionagem, como John Le Carré, por exemplo, cujo filme O Espião Que Sabia Demais já está em cartaz no Brasil.



O que Larsson não é, ao contrário de Le Carré, é verdadeiramente inteligente. Ele tenta, de fato, mas a narrativa, ainda que prenda o leitor com grande facilidade, não leva a uma conclusão satisfatória. O que torna, esta, uma obra muito perigosa de ser adaptada.

Os filmes suecos o fizeram com considerável qualidade, não obstante, devido principalmente ao talento da protagonista, Rapace que conduz o filme de maneira hipnótica e às vezes, eletrizante. Então, já que a primeira adaptação cinematográfica fez tanto sucesso, o que levou um diretor do calibre de David Fincher (muito provavelmente o melhor da atualidade) tomar as rédias de tão complicada produção?


De acordo com o próprio Fincher, a oportunidade de inicar uma franquia de filmes adultos de grande orçamento (que era o grande sonho do cineasta), falou mais alto, apesar dele ser conhecido por fazer filmes sobre serrial-killers e pelo fato da obra já ter sido adaptada também.


Tomado um ponto de vista técnico, a escolha faz sentido. Fincher e Larsson possui o mesmo estilo frenético de narrativa. A complexidade do tema é orientada pelos diálogos - também uma característica do diretor. E é claro, é um suspense.


O retorno da franquia aos cinemas marca também o retorno de Fincher no gênero da investigação criminal, desde o Zodíaco. E se comparados livro e filme, ambos possuém muitas semelhanças.


Já as diferenças entre o filme norte-americano e o sueco são gritantes. A começar pelo estilo narrativo, que neste caso - conforme já citado anteriormente - se assemelha mais ao livro do que o filme anterior o fez. O visual é marcante, e as qualidades téncnicas como montagem, trilha sonora (composta por Trent Reznor e Aticuss Ross), design de som etc., supera o filme original em todos os aspectos.


Outra diferença gritante é a escolha de Daniel Craig como o galante Blomkvist. Trata-se de um ator que esbanja sexualidade e masculinidade, ao contrário do sabonetão interpretado por Michael Nyqvist na versão original.


O roteiro de Steven Zallian amarra as pontas de uma maneira melhor do que o outro. Este também tem mais humor (coisa simplesmente ausente no livro) e embora tenha um total de 158 minutos, nas mãos de Fincher ele passa como um foguete. Que é uma característica do diretor que sempre usa cortes rápidos, tomadas em movimento e câmeras em ângulos agudos. No final, têm-se uma obra mais cinematográfica - e com obviamente mais recursos - do que seu predecessor.

Apesar de todos os feitos técnicos, de uma boa atuação por parte de todo o elenco e da direção ágil de Fincher, capaz de conduzir sem dificuldades a labiríntica narrativa criada por Larsson, a verdadeira estrela do filme é a atriz Rooney Mara.


Após se destacar na batalha verbal entre Erica Albright e Mark Zuckerberg no filme A Rede Social (também de Fincher), Mara passou por uma bateria exaustiva de testes e ganhou o cobiçado papel de Libseth Salander, a hacker bissexual, punk e genial que tornou a obra de Larsson algo que merecia ser lido.


É, obviamente, Salander a razão pela qual a série faz tanto sucesso e perto dela - apesar dos esforços de Daniel Craig - o jornalista Mikael Blomkvist se torna uma figura pálida e superficial. Salander se aproxima de um personagem cyberpunk, como um indivíduo à margem da sociedade, que domina a tecnologia cibernética e que é incapaz de se relacionar com outras pessoas sem uma grande dificuldade.


Embora seja difícil avaliar se Rooney Mara foi ou não melhor do que Noomi Rapace, é inegável que o talento da jovem é algo que precisa ser observado com atenção, sendo suficiente para lhe render uma indicação ao OSCAR de Melhor Atriz.


No final das contas, Fincher mais uma vez conseguiu tirar leite de pedra, e sob o ponto de vista cinematográfico, este é um grande filme. De longe o melhor do diretor, mas até isso é melhor do que a maioria. Entretanto, é uma baboseira. Assim como livro e como o filme original. Uma baboseira sofisticada, bem feita, bem atuada, bem conduzida e divertida. Uma boa baboseira, de fato. Mas uma baboseira assim mesmo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Tinker quem?: O Melhor e o PIOR do OSCAR...



















Normalmente com as indicações do maior prêmio do cinema internacional, ocorrem surpresas e desilusões. Serão analisados categoria por categoria, os indicados e os favoritos, par que você escolha o seu, ou quem devia ter sido indicado no lugar.


Melhor Filme


O Artista - depois de rapar as principais categorias de prêmios da associação de críticos, O Artista do diretor Michel Hanazavicius tornou-se o favorito a levar o OSCAR de Melhor Filme este ano.

Os Descendentes - corre em segundo lugar para levar o prêmio de melhor do ano, justamente atrás de O Artista. Falam-se coisas maravilhosas sobre ambos os filmes. Resta esperar para assistir.

Tão Forte e Tão Perto - frisbee!!!!! Alerta de baboseira. Depois de ter sido mal criticado pela crítica e público, este filme que dificilmente é o melhor trabalho do diretor Stephen Daldry, roubou um lugar nas indicações no lugar de O Espião Que Sabia Demais, provavelmente o melhor filme do ano. Ridículo.

Histórias Cruzadas - já era de se esperar, após ser indicado ao Globo de Ouro, sindicado dos produtores, diretores e por aí vai.

A Invenção de Hugo Cabret - a nova superprodução infantil e em 3D do diretor Martin Scorcese, deve levar muitos prêmios técnicos, mas está muito longe da disputa do prêmio principal da noite.

Meia Noite em Paris - meio surpreendente, de fato. Entretanto, merecido. Meia Noite em Paris é um dos melhores filmes do diretor Woody Allen e deve levar o prêmio na categoria de melhor roteiro original.

O Homem Que Mudou o Jogo - filme de baseball com roteiro de Aaron Sorkin e direção de Benett Miller, é um filme que parece bom, mas que não deve ter muito apelo ao público brasileiro quando - ou se - estreiar.

A Árvore da Vida - eis sim uma surpresa. E uma BOA surpresa. O longa semi-abstrato de Terrence Malick foi esnobado pelas outras premiações (Globo de Ouro, BAFTA, SAG), mas conseguiu roubar indicações nas principais categorias do Academy Awards.

Cavalo de Guerra - para fechar a sessão dos indicados ao prêmio de Melhor Filme, entra a produção de Steven Spielberg. Embora seja um ótimo filme, tornou-se mera formalidade para fechar a lista dos indicados.


- Análise final: faltaram dois nomes importantes: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres e O Espião Que Sabia Demais. No caso deste segundo, o fato dele não ter sido indicado é uma das maiores marmeladas do OSCAR nos últimos dez anos. Quanto à adaptação de David Fincher do livro de Stieg Larsson, suas chances eram muito pequenas, visto a quantida de violência e abuso sexual no filme, e quantidade de velhos judeus conservadores na Academia. Quem ficou de fora também foi Drive que vem sido chamado de um dos melhores do ano. Mas também é violento demais para a Academia.


Melhor Ator


Demián Bichir (A Better Life) - que DIABOS? Muito difícil dizer, nesse ponto, se a indicação desse desconhecido ator mexicano foi justa ou não. Fato é que ele roubou o lugar do Ryan Gosling, que embora tenha estrelado dois grandes filmes, falhou de novo ao receber uma indicação.

George Clooney (Os Descendentes) - difíci dizer. Clooney tem recebido ótimas críticas pelo seu papel em Os Descendentes, mas a disputa com Dujardin é intensa e vale lembrar que ele já levou um OSCAR (Ator Coadjuvante por Syriana).

Jean Dujardin (O Artista) - vai ficar entre ele e George Clooney. Sem dizer uma palavra, o carismático Dujardin ganhou o coração dos críticos, mas quem tem levado os prêmios é Clooney. Difícil dizer, pelo menos até o dia da entrega, qual dos dois será o vencedor.

Gary Oldman (O Espião Que Sabia Demais) - demorou uns vinte anos, mas Gary Oldman finalmente conseguiu sua indicação de melhor ator - o que foi uma surpresa. Definitivamentea melhor atuação de sua carreira e seria maravilhoso ver o teatro desabar com uma vitória dele no Academy Awards.

Bradd Pitt (O Homem Que Mudou o Jogo) - sob este ponto de vista, um dos mais fracos concorrentes ao prêmio de melhor ator. Mas sua indicação não foi nenhuma surpresa, e com certeza demonstra o amadurecimento do ator nos últimos anos.


Análise: a boa surpresa foi Gary Oldman, que merece levar a estatueta e não vai. A má surpresa foi a saída de Ryan Gosling, que constantemente é esnobado pela Academia. Fora isso, sem grandes mágoas ou surpresas.


Melhor Atriz


Glenn Close (Albert Nobbs) - nenhuma surpesa aqui. Close se transformou em homem e assumiu as rédias da produção, roteiro e trilha sonora. Indicação mais que merecida, embora o filme não tenha passado no Brasil.

Viola Davis (Histórias Cruzadas) - mais uma indicação para esta veterana e maravilhosa atriz. Mais uma derrota provavelmente, mas ela ainda pode surpreender. Veremos.

Rooney Mara (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres) - uma surpresa, ela conseguiu se manter entre as indicadas. Mas será muito criticada pelo fato de ser americana, e por Noomi Rapace não ter sido indicada pelo mesmo papel de Lisbeth Salander.

Meryl Streep (A Dama de Ferro) - favorita para levar o prêmio de melhor atriz. Bobagem. Ela já venceu antes e é a recordista de indicações. Hora de dar pra outra pessoa.

Michelle Williams (Sete Dias com Marylin) - outra das meras formalidades da Academia junto com Mara, embora a indicação tenha sido merecida. Curiosamente, ela fez o que Marylin Monroe nunca fez: ser inciada ao OSCAR.


Análise: nenhuma surpresa, com excessão talvez de Rooney Mara que tirou o lugar de Tilda Swinton por Precisamos Falar Sobre o Kevin. Isso vai render reclamações, mas Mara é uma grande atriz.


Melhor Ator Coadjuvante


Kenneth Branagh (Sete Dias com Marylin) - absolutamente nenhuma surpresa. O espetacular Branagh ganhou outra indicação ao OSCAR depois de muitos anos. É um grande ator, mas vai perder para Christopher Plummer.

Johan Hill (O Homem Que Mudou o Jogo) - difícil ver um pingo de dramaticidade neste ator. Mais difícil ainda é avaliar seu trabalho por um filme que não estreou ainda.

Nick Nolte (O Guerreiro) - a grande surpresa desta categoria, também é uma declaração de amor para este carismático ator e uma mera formalidade, já que ele infelizmente não possui chance alguma. Mas só por que é formalidade, não significa que ele não mereça a indicação.

Christopher Plummer (Toda Forma de Amor) - danou-se. O prêmio é dele e é muito difícil dar marmelada neste caso. E já era hora. O ator de 82 anos só foi indicado duas vezes ao prêmio e é claramente o favorito para levar a estatueta.

Max Von Sydow (Tão Forte e Tão Perto) - mais um dos grandes velhos a ser indicado. Ele é maravilhoso, de fato, mas o prêmio deve ficar com Plummer. E parece que o filme é ruim. Vai entender. Mas Von Sydow é sempre perfeito.


Análise: duas surpresas: Nolte e Sydow. Christopher Plummer e Kenneth Branagh são os favoritos mas o canadense deve levar a melhor - finalmente.


Melhor Atriz Coadjuvante


Bérénice Bejo (O Artista) - uma revelação que foi coroada com a indicação ao OSCAR. Mesmo assim, a vitória vai ser difícil, visto a lista de concorrentes.

Jéssica Chastain (Histórias Cruzadas) - outra grande revelação que também foi coroada com uma indicação ao Academy Awards. É uma atriz interessante e que promete muito.

Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento) - a simpatissíssima atriz de Mike & Molly provou ser mais do que uma grande atriz de comédia, ao ser indicada ao prêmio de atriz coadjuvante. Ela é maravilhosa, de fato.

Janet McTeer (Albert Nobbs) - difícil dizer, ainda mais sem ver o filme.

Octavia Spencer (Histórias Cruzadas) - é a favorita, e dificlmente outra atriz vai conseguir roubar-lhe o prêmio. A menos que alguma coisa muito estranha aconteça, claro. É uma grande atriz veterana, cujo prêmio já era aguardado.


Análise: sempre uma categoria difícil de avaliar, ainda mais sem ver os filmes. Mas sem grandes surpresas e o prêmio deve ficar com Octavia Spencer sem grandes sustos.


Woody Allen (Meia Noite em Paris) - não dá pra dizer que eu concordo, nem que eu discordo. Mas preferia que a indicação tivesse sido ou para David Fincher ou para Thomas Alfredson por O Espião que Sabia Demais.

Michel Hazanavicius (O Artista) - é um dos favoritos, juntamente com Martin Scorcese. Vai ser uma disputa relativamente acirrada, mas o prêmio deve ficar com ele.

Terrence Malick (A Árvore da Vida) - é a grande surpresa da categoria. Parecia que o lendário diretor seria esnobado por todas as categorias, mas ele conseguiu roubar um lugar no OSCAR e deixou muita gente - inclusive eu - de queixo caído.

Alexander Payne (Os Descendentes) - inegável que Payne seja um diretor talentoso, mas não vejo muita graça em seus filmes. De qualquer maneira, sua indicação não foi surpresa alguma. Se ele perder, também não vai ser nenhuma surpresa.

Martin Scorcese (A Invenção de Hugo Cabret) - é um dos favoritos. Mas a disputa está totalmente em aberto com Hazanavicius. Vale lembrar também que Scorcese já foi coroado uma vez.


Análise: a aparição de Malick entre os indicados foi uma grande surpresa. Mas ainda é a categoria mais marmelada da competição, ao deixar de fora diretores como Steven Spielberg, David Fincher, Nicholas Winding Refn e Thomas Alfredson. Ou seja, a mesma baboseira de sempre. Agora a disputa está totalmente em aberto entre Hazanavicius e Scorcese. Deve ser interessante. Se Hazanavicius ganhar, O Artista leva melhor filme.


Melhor Roteiro Original


O Artista - Michel Hazanavicius

Missão Madrinha de Casamento - Kristen Wiig e Annie Mumolo (QUE DIABOS ISTO ESTÁ FAZENDO AQUI?!)

Margin Call - O Dia Antes do Fim - J.C. Chandor

Meia Noite em Paris - Woody Allen É O FAVORITO

A Separação - Asghar Farhadi


Análise: o favorito é Woody Allen, mas o prêmio pode muito bem ir para O Artista, dependendo de o quanto a Academia pretende coroar o filme mudo. Margin Call foi uma boa surpresa, mas está fora do papo.


Melhor Roteiro Adaptado


Os Descendentes - Alexander Payne, Nat Faxon e Jim Rash É O FAVORITO.

A Invenção de Hugo Cabret - John Logan

Tudo Pelo Poder - George Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon

O Homem Que Mudou o Jogo - Steven Zallian, Aaron Sorkin e Stan Chervin

O Espião Que Sabia Demais - Bridget O'Connor e Peter Straughan


Análise: uma categoria mais interessante do que a de roteiro original, neste ano. O favorito é Os Descendentes, mas O Espião Que Sabia Demais é o melhor e também o roteiro mais difícil de ser escrito. Merecia vencer. E claro, não vai.


Melhor Animação:


Um Gato em Paris - Alain Gagnol e Jean Loup Felicioni

Chico & Rita - Fernando Trueba e Javier Mariscal

Kung Fu Panda 2 - Jennifer Yuh HAJA SACO...

Gato de Botas - Chris Miller

Rango - Gore Verbinski


Análise: bizarro. O ano dos gatos pelo visto. O melhor parece ser Um Gato em Paris. Kung Fu Panda 2 é frisbee, Tintim venceu o Globo de Ouro e não foi indicado (VAI ENTENDER!) e Rango deve levar o prêmio.

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OUTRAS CATEGORIAS


Quem deve levar:


Melhor Filme Estrangeiro:

A Separação (Irã)


Melhor Fotografia:

A Árvore da Vida (Emmanuel Lubeski) - pelo amor de Deus, é a melhor fotografia que eu já vi... Embora seja bom manter o olho em O Artista de Guillaume Schiffman, que é em preto e branco.


Melhor Montagem:

Frisbee... Não chuto Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, pois os dois editores já levaram o prêmio ano passado, então fico com O Artista.


Melhor Direção de Arte:

A Invenção de Hugo Cabret, disparado.


Melhor Figurino:

Frisbee... Que o melhor filme de época vença.


Melhor Maquiagem:

Albert Nobss - transformaram a Glenn Close num homem. Não que precisasse de muito, mas vai levar o prêmio por isso.


Melhor Trilha Sonora:

O Artista. As duas indicações de John Williams por Tintim e Cavalo de Guerra, achei desmerecido. Williams é maravilhoso, mas duas últimas composições não foram nada boas. Tintim é totalmente sem personalidade e Cavalo de Guerra é muito exagerado. O Espião Que Sabia Demais de Alberto Iglesias foi uma boa surpresa. É minha favorita.


Melhor Canção:

Muppets... Ninguém vai dar pro Rio.


Melhor Mixagem de Som:

Frisbee... Vou chutar ou Os Homens Que Não Amavam as Mulheres ou A Invenção de Hugo Cabret. Faltou Super 8 nesta indicação. Merecia só pela cena do trem. Melhor mixagem de som do ano, disparado. Vai entender.


Melhor Edição de Som:

Mesma coisa. Faltou também o Super 8.


Melhores Efeitos Visuais:

A Invenção de Hugo Cabret, certeza. Mais uma vez, faltou Super 8 e neste caso, de forma mais gritante, A Árvore da Vida, que tem os efeitos especiais mais lindos e bem feitos da temporada. Douglas Trumbull, pô!

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Análise final: é um ano relativamente fraco, se comparado ao ano passado, com mais decepções do que boas surpresas, como sempre. As boas surpresas foram A Árvore da Vida e Gary Oldman sendo indicados aos principais prêmios da noite, mas infelizmente não irão levar nenhum. Minha única torcida é para O Espião Que Sabia Demais levar alguma coisa - vou sair frustrado. Emmanuel Lubeski é disparado o melhor diretor de fotografia do ano e um dos homens mais inteligentes de Hollywood. Tá na hora dele. Mas vai dar marmelada. O Artista deve levar o prêmio principal da noite, acho muito difícil dar erro, mas a disputa por melhor diretor, roteiro e ator está em aberto. Resta esperar para ver. E você? Qual é seu favorito e quem você acha que vai levar o OSCAR de 2012? Deixe seus comentários e sugestões abaixo e obrigado por acessar o Cinéfilos e Etc. ;D



sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Belo e Vazio




As Aventuras de Tintim traz Steven Spielberg ao reino das animações, na tentativa de recriar os quadrinhos de Hegé, captando a beleza, mas se esquecendo da alma.




Um novo movimento tem ocorrido nos últimos anos (e especialmente ano passado) no cinema contemporâneo norte-americano. De novo na verdade ele não tem nada, diretores japoneses já vem fazendo isso há muitos anos, mas certamente o fenômeno vem chamando atenção.

Trata-se de diretores especializados em animações estão mudando suas atenções para os longa-metragens com atores e cenários de verdade. Mas se por um lado, os diretores Brad Bird e Andrew Stanton - ambos da Pixar - dirigiram Missão Impossível: Protocolo Fantasma e John Carter (estréia em Março), em contrapartida nomes como Gore Verbinski e Steven Spielberg se aventuraram nos oceanos da imaginação com Rango e mais recentemente, As Aventuras de Tintim (The Adventures of Tintim, EUA/NZL, 2011), em cartaz no Brasil.

Dirigido por um dos nomes mais concentuados do cinema internacional, e protuzido por Peter Jackson (diretor de O Senhor dos Anéis) o filme foi produzido utilizando a tecnologia da captura de movimentos, que cria animações em três dimensões que copiam fielmente os movimentos físicos e faciais dos atores.

Mais do que a busca por uma nova tecnologia, a epopéia de Spielberg é algo que faz mas sentido - e mais seguro - do que as empreitadas de diretores como Bird e Stanton. Deve-se ao fato de uma simples questão psicológica, onde o espectador acredita fielmente que tudo o que está presente nas telas de um desenho animado é plausível e verossímil, o que não acontece em longas com atores reais, onde a inverossimilhança excessiva (como no caso de Missão Impossível), deixa de cumprir seu papel como catalizador da diversão e passa a ser ridícula.

Ambos utilizam recursos de suas obras originais, no entanto. Bird usou e abusou da computação gráfica para narrar as aventuras de Ethan Hunt, enquanto Spielberg utilizou de técnicas puramente cinematográficas como posicionamento de câmera, edição e iluminação, para criar uma animação que parece com um filme de verdade.

Baseado nos quadrinhos do belga Hergé no final da década de 20, Tintim era um jovem jornalista e viajante auxiliado pelo seu fiel escudeiro, o cachorrinho Milu. A série tornou-se muito famosa especialmente na europa e já rendeu dezenas de títulos em quadrinhos e até uma série animada que chegou a passar no Brasil.

"O Segredo do Unicórnio" é baseado em O Tesouro de Rackman, o terrível de 1944 que procura explicar a origem da amizade do protagonista com outro de seus amigos, o famoso capitão Haddock e sua busca pelo navio de batalha, Unicórnio, uma embarcação do século XVII que desapareceu junto com um segredo.

As interpretações ficaram a cabo de um elenco internacional. Jamie Bell tomou as rédeas do protagonista Tintim, enquanto o capitão Haddock ficou nas mãos do maravilhoso Andy Serkins. O vilão, Sakharine é interpretado por Daniel Craig. O filme ainda conta com as vozes de Toby Jones, Simon Pegg e outros, dando uma qualidade fora do normal em termos de caracterização de personagens que por sinal estão igualzinhos às obras originais.

Os efeitos especiais são sensacionais, os cenários parecem de verdade e o visual é um dos mais belos da história recente. A montagem é de Michael Kahn, sempre em parceria com o diretor, e o diretor de fotografia Janusz Kaminski serviu como consultor técnico para a Weta Designs (produtora de efeitos especiais do filme), que tem uma qualidade pictórica impressionante, assemelhando-se aos estilos noir que fizeram tanto sucesso nas décadas de 20 e 30, enquanto a trilha sonora é composta pelo parceiro de longa data de Spielberg, John Williams.

E apesar de seus efeitos especiais extraordinários, um roteiro divertido e imaginativo, uma direção ágil e a melhor equipe técnica que o dinheiro pode comprar, As Aventuras de Tintim não possui um pingo de alma em todos os seus 107 minutos de duração. É vazio, e suas concepções parecem mais arqueteturais do que emocionais.

Isso em parte é decorrência da trilha sonora de John Williams, que - por incrível que pareça - em suas duas últimas colaborações com Spielberg, pareceu ultrapassar o ponto de frenagem em uns vinte quilômetros. Se em O Cavalo de Guerra (também em cartaz no Brasil) ele pecou pelo excesso, em Tintim ele compôs uma música absolutamente sem personalidade ou imaginação. Seu estilo fragmentado não ajuda a criar um tema bem definido e principalmente a proporcionar ao filme o que lhe faltou: alma.

Era de se esperar. E infelizmente, apesar de todos os elementos conspirarem para um bom resultado, ele fica aquém do que qualquer fã dos quadrinhos de Hergé desejariam: uma obra que, em detrimento das qualidades técnicas, possuia o que ironicamente a obra original e a última produção do diretor, O Cavalo de Guerra possuíam: alma.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Reencontro dos Tolos

Em O Espião que Sabia Demais, o diretor Tomas Alfredson ajuda a reinventar um gênero já desgastado criando o melhor filme de espionagem de todos os tempos.

O cenário é Budapeste. Um homem chamado Jim Prideaux (Mark Strong) está sentado num café com outro homem. Ambos esperam a chegada de um terceiro que possui informações sobre um possível agente duplo dentro do mais alto escalão do MI6. O garçom se aproxima se aproxima, tremendo e suando. É o primeiro sinal de que alguma coisa está errada. Jim percebe, se levanta, mas já é tarde demais. O garçom entra em pânico e dispara duas vezes: o primeiro acerta uma moça sentada numa cadeira em frente com uma criança no colo. O segundo acerta Jim nas costas que cai, sangrando no chão da calçada.
É com Jim que a história se inicia, se desenrola e termina, pois é Jim o estopim para os acontecimentos que virão em seguida, no filme O Espião que Sabia Demais (Tinker Tailor Soldier Spy, ING, 2011), em cartaz no cinemas de todo o Brasil.
A suspeita é simples. De acordo com o líder do MI6, Control (John Hurt) há um espião, bem no topo do "Circo". Ele está lá por anos e é um de cinco homens: Bill Haydon (Colin Firth), Percy Alleline (Toby Jones), Roy Bland (Ciarán Hinds), Toby Esterhase (David Dencik) ou George Smiley (Gary Oldman). Mas como descobrir um inimigo que está escondido bem diante de seus olhos? E pior: depois o que fazer com ele? Entretanto quando Control morre do coração, a missão de descobrir o espião dentro do MI6 cai nas mãos do semi-aposentado Smiley.
Baseado no romance homônimo de John Le Carré, O Espião que Sabia Demais de 1974 é considerado por muitos, sua obra prima. E isso vindo do autor de obras clássicas da espionagem contemporânea como O Espião que Veio do Frio, O Jardineiro Fiel e A Casa da Rússia, é muito. Difícil dizer se de fato o é, mas com certeza é um dos mais complexos. São dezenas de personagens, reviravoltas, flashbacks, informações e outros tantos nomes, que são capazes de deixar o mais atento dos leitores confuso.
Não é o caso da adaptação dirigida pelo sueco Tomas Alfredson. Vindo do sucesso do drama de terror, Deixe ela Entrar, Alfredson teve a dura tarefa de fazer um trabalho melhor do que o realizado na minissérie de 1979 e mais: de tornar uma obra complicadíssima, num filme assistível.
Com um elenco do mais alto calibre britânico, o papel de George Smiley - que aparece em várias obras de Le Carré - caiu nas mãos de Gary Oldman, que esperou uma vida inteira pela oportunidade de mostrar todo o seu potencial em um papel que merece todo o seu potencial. O resultado é mais que primoroso.
Trata-se de um personagem de grande frieza, e que não demonstra seus sentimentos em momento algum, mas que no fundo é atormentado por uma série de questões morais e pessoais. Smiley acabou de perder o emprego, sua mulher o traiu e o tirou e agora ele tem que espionar seus próprios companheiros para descobrir um traidor que esteve escondido durante anos bem na frente de seus olhos.
Aliás, este é um filme onde não há um ator sequer fora do papel. Estão todos perfeitos e isso somado à interessante fotografia de Hoyte Van Hoytema e à trilha sonora de Alberto Iglesias, tornam esta uma das mais interessantes obras da espionagem do cinema contemporâneo de todos os tempos.
É também um anti-filme de espionagem. Não há perseguições ou tiroteios em O Espião que Sabia Demais e a sexualidade sedutora do agente James Bond aqui é substituída por momentos de homoeroticidade bem palpáveis - o que vindo de uma sociedade conservadora da Inglaterra dos anos 70 é algo bem delicado.
Ao contrário do livro, o filme foi capaz de condensar absolutamente o essencial, também proporcionando mais lineariedade à narrativa de Le Carré. Isso não diminui em nenhum momento a intelectualidade da obra original, ou os dilemas morais que ela apresenta. Afinal, qual é o valor da lealdade em uma sociedade que já não acredita mais nos seus ideais do pós-guerra, em seus líderes, ou nos líderes das nações vizinhas. São todos tolos, na verdade - os integrantes do "Circo". Seja por que eles acreditam em seus ideais, ou não.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Estrada para a perdição


The Red Star: a Estrela Vermelha une magia e ficção científica em um universo épico no qual é narrada a queda de um império.

The Red Star: A Estrela Vermelha é uma história em quadrinhos criada por Christian Gossett em 1999 e que foi publicada no Brasil em 2001 pela editora Image, ao preço de R$ 5,50 e dividia em duas partes, cada uma contendo dois capítulos do formato original.

Em um universo paralelo, a União Soviética é chamada de U.R.E.V. (União das Repúblicas da Estrela Vermelha) e possui a força armada mais temida do mundo. Imensas naves, cada uma com três quilômetros de comprimento e vinte mil tripulantes, são chamadas de Fornalhas Celestes. Nesse universo, fantasia e ficção científica se misturam. Ao mesmo tempo em que existem naves, tanques e outros tipos de armamentos, feiticeiras também são usadas como uma espécie de canhões, de dentro das Fornalhas Celestes.


Maya Antares era uma dessas feiticeiras. É através dela que são narrados os acontecimentos da grande batalha do portal de Kar Dathra, uma invasão que ocorreu nove anos na nação conhecida como Al'istão (também uma analogia à invasão realizada pela União Soviética ao Afeganistão em 1978). A invasão - na tentativa de derrotar um supremo sacerdote - falhou miseravelmente e resultou na morte de Marcus Antares, seu marido e de milhares de outros soldados, na maior derrota da história da nação.


É Marcus quem Maya visita, através de monotrilhos que percorrem campos e mais campos repletos de túmulos cobertos de neve. No trem, ela encontra um veterano soldado chamado Vanya, com quem ela conversa e conta a história da grande batalha que foi o estopim para a derrocada de sua nação, que ela tanto defendeu.


De imediato, A Estrela Vermelha chama a atenção pela sua qualidade técnica. O processo artístico do quadrinho é maravilhoso. Apesar de sua idade, as imagens são incrivelmente bem feitas e maravilhosas. Conforme a história progride, passando por quatro episódios, a qualidade gráfica vai se aperfeiçoando, criando imagens monumentais, memoráveis, cuja capacidade de penetrar na mente do leitor (e lá permanecer) chega a ser assustadora.


A fusão de fantasia e ficção científica é feita de uma maneira extremamente interessante, tornando esta obra a melhor história épica que conseguiu juntar os dois elementos desde Neon Genesis Evangelion (1995).


Os personagens, que vão desde Maya e Marcus Antares, até Vanya, o veterano soldado do Exército Vermelho, que lutou na 'Grande Guerra Patriótica', são igualmente interessantes e apresentam uma profundidade rara de se ver em produções desse tipo.


Entretanto, nem tudo são rosas nesta obra. A prosa narrada por Maya, muitas vezes interfere com o andar da narrativa, e conforme a história progride, mais e mais ela mergulha na fantasia e assim como Evangelion, as coisas começam a fazer cada vez menos sentido rumo ao final.

O que faz sentido. Afinal, no período de 1999 a 2010 foram publicadas outras três histórias em formato de brochura nos EUA. Os quatro volumes que totalizam a história que foi publicada até agora (A Batalha do portal de Kar Dathra - única publicada no Brasil, Nokgorka, Prision of Souls e Sword of Lies), podem ser adquiridos no site oficial do quadrinho, theredstar.com, ao preço de 100 dólares (ou vinte e cinco cada um), mas em inglês. Infelizmente em sites como Amazon e Ebay os preços tendem a aumentar até tornarem-se exorbitantes e as perspectivas dos episódios subsequentes da série serem publicadas no Brasil são praticamente nulas.


O que é uma pena. A Estrela Vermelha é uma das mais imaginativas e inovadoras obras de ficção científica que foram publicadas em quadrinhos nos últimos dez anos. Rumores de que haveria um filme começam a desaparecer, mas a série já rendeu jogos de RPG e também um jogo de videogame para Playstation 2.


Christian Gossett e uma equipe de espetaculares artistas, criou uma história diferente, magnificamente bem trabalhada, repleta de simbologias e folclores russos, além de personagens envolventes, que, apesar das óbvias analogias, possui capacidade de unir com naturalidade elementos de fantasia e ficção científica ao narrar a história de uma sociedade que, não muito diferentemente da nossa, caminha paulatinamente rumo ao precipício.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Império do Besteirol

Saído dos desenhos para os cinemas, Brad Bird tomou as rédias do novo Missão Impossível, mas o resultado deixou a desejar.

A ideia de uma franquia é de que cada novo episódio traga ao público mais do que o episódio anterior. Isso significa mais ação, mais perseguições e explosões, mais comédia, mais moças bonitas e por aí vai. Missão Impossível: Protocolo Fantasma segue exatamente essa noção de que quanto mais melhor.
A franquia de Missão Impossível, baseada na série de televisão de 1966, já teve quatro diretores diferentes. Brian de Palma dirigiu o primeiro filme, que teria sido memorável se a última sequência de ação não fosse tão absurda; John Woo (a resposta do oriente a Ed Wood) dirigiu o segundo que ainda é o pior de todos; J.J. Abrams debutou nos cinemas com o terceiro e agora Brad Bird, conhecido diretor da Pixar, assumiu as rédias do quarto e último filme da franquia - até agora.
Não funcionou muito bem. O que parece absurdo, visto que até agora foi o filme mais bem criticado tanto pela crítica quanto pelo público, e que vem somando horrores de bilheteria, deixando para trás até mesmo Sherlock Homes, War Horse (de Steven Spielberg) e Os Homens que não Amavam as Mulheres de David Fincher.
O filme é dividido em uma série interminável de blocos, cada um com uma sequência de ação mais espalhafatosa do que outra. Tanto que para que o filme começe, sã necessários três blocos: um agente da IMF (Impossible Mission Force), que carrega códigos de misseis nucleares e é assassinado; a fuga de Tom Cruise de uma prisão na Sérvia e finalmente uma invasão do mesmo Tom Cruise e seus colegas ao Kremlin.
Essa divisão, ao invés de promover um envolvimento maior do público para com a trama, cria uma certa ambivalência com o começo do filme, que deveria ser algo impactante o bastante para prender a atenção do espectador durante duas horas e quinze de filme. O que é o oposto feito por J.J. Abrams no filme anterior, com um começo mais do que impactante.
Aliás, Abrams que atua como produtor da obra, é quem deveria ter dirigido tudo. Discípulo de Spielberg, Abrams é quem tem a inteligência e a energia suficientes para catapultar o filme.
Durante uma missão mal resolvida no Kremlin, que resulta na destruição do histórico edifícil, Ethan Hunt e seus colegas serão vistos como inimigos públicos número um - responsáveis por um ato não declarado de guerra contra a Rússia - e deverão agir sem o apoio da IMF para reaver os códigos de misseis nucleares antes que tudo resulte numa guerra nuclear.
Uma possível nostalgia com a época da Guerra Fria, que rendeu filmes memoráveis sobre ação e espionagem? Difícil dizer. Mas Missão Impossível não foi o primeiro a voltar com essa temática, apesar das boas relações entre a Rússia e os EUA. O outro foi Salt, com Angelina Jolie.
Enfim... A coisa vai desandando a medida em que o filme avança. Com sequências de ação cada vez mais inverossímeis, aparelhagens tecnológicas que transcendem para a ficção científica e que deixariam James Bond de queixo caído e um humor cretino, Missão Impossível ao invés de progredir ao avançar da história, vai regredindo até se tornar uma das maiores decepções do ano em matéria de filmes de ação.
Na obra, os problemas vão se acumulando, como o absurdo das cenas de ação. Em uma sequência em Dubai, Ethan Hunt pula de um carro a cem quilômetros no meio de uma tempestade de areia feita por uma Computação Gráfica que não engana ninguém, não se machuca, vê seu carro se chocar com um outro veículo de frente, e vê esse veículo ser propulcionado no ar e não acertar seu corpo de um metrô e setenta por poucos centímetros.
A coisa não melhora muito. À parte dos efeitos especiais que não são tão bons assim, não há sequer um personagem interessante no filme, com exceção talvez, de Josh Holloway (o Sawyer da série Lost - também de J.J. Abrams), que interpreta o agente da IMF que morre no começo do filme.
O pior de todos é o vilão Kurt Hendricks, interpretado pelo sueco Michael Nyqvist, o mesmo que interpretou o jornalista Mikael Blomkvist na trilogia Millenium original, feito na Suécia. Nyqvist não tem um pingo de personalidade, ou nuances ou nada que sequer o compare com o vilão do filme anterior, interpretado pelo espetacular Phillip Seymor Hoffman.
Cruise, em seu retorno aos filmes de grande orçamento, nem cheira nem fede e também não acrecenta muita coisa ao personagem que já se esgotou faz um tempo.
A direção de Brad Bird é frenética, e o uso de CGI excessivo. Isso faz sentido, pois é o que ele conhece, mas a plasticidade digital não ajuda na construção das cenas mais complexas do filme, como a tempestade de areia em Dubai ou a explosão do Kremlin. A trilha sonora de Michael Giacchino (um dos melhores compositores da atualidade), sustenta o filme, mas não se destaca.
Pior ainda, é a ausência de um roteiro que consiga se reinventar, o que é muito importante em um filme desse tipo. A construção das cenas de ação é sempre a mesma: a equipe da IMF precisa entrar em algum lugar, pegar alguma coisa e fugir - o que sempre resulta numa perseguição absurda.
Uma pena, de fato. Ainda que nenhum dos filmes da franquia seja lá uma obra prima, é triste saber que do terceiro para o quarto filme não houve uma evoulção, mas sim uma regressão. Se Abrams filmou sequências de ação implausíveis, ao menos ele o fez com um realismo que não existe no último episódio. E ao explorar os recursos da narrativa, ele fez o que Bird não conseguiu: transformou o império do besteirol, no espetáculo da inverossimilhança.

Ausência de Sentido

Vampiros que se Mordam, é mais uma das sátiras idiotas de Hollywood, a um elemento da cultura pop contemporânea, que consegue ser mais idiota ainda.

A Saga Crepúsculo é um fenômeno recente da cultura pop adolescente que se iniciou através da literatura, quando o primeiro livro, justamente chamado Crepúsculo publicado em 2005. Desde então, a série já rendeu mais três livros e cinco filmes (o último ainda não estreou nem nos EUA, nem no Brasil), rendendo sabe-se lá quantos milhões de dólares em livros vendidos, camisetas, bonecos, cd's e ingressos.
Tamanho sucesso reergueu os vampiros ao status dos personagens mais interessantes (ou pelo menos mais comerciais e demandados), tanto na literatura quanto no cinema. São centenas de títulos, que vão desde Diários de um Vampiro e True Blood. O apelo ao personagem faz sentido. A procura por um indivíduo obscuro, à margem da sociedade é no mínimo intrigante.
Entretanto, o que intriga ainda mais - e não faz nenhum sentido - é a qualidade GROTESCA da maioria desses títulos, seja de acordo com os padrões literários, quanto cinematográficos. Personagens absurdamente artificais e situações incrivelmente absurdas, principalmente no caso de Crepúsculo, colocam os vampiros como os mais interessantes - e burros, personagens da literatura e do cinema contemporâneo.
A progressão do personagem do vampiro de monstro, para romântico e posteriormente boiola, foi uma coisa gradativa. Primeiramente, na obra de Bram Stoker, o vampiro em um monstro semelhante a um demônio, e depois tornou-se romântico com Entrevista com o Vampiro de Ann Rice. E agora, a obra de Stephanie Meyer aniquilou de todas as maneiras possíveis, o personagem, apresentando-o como um indivíduo que brilha no sol, tem mais de cem anos mas é virgem e com mentalidade adolescente, e por aí vai.
É nesse contexto de total degradação dos padrões de inteligência da cultura pop adolescente, que surgem as paródias. As paródias são o gênero cinematográfico mais porcaria, absurdo e desrespeitoso do cinema norte-americano. O que não impede seu sucesso, claro. Depois de uma espera agonizante, finalmente foi lançada uma paródia de Crepúsculo - e seus companheiros de jornada. Os Vampiros que se Mordam (Vampires Suck, EUA, 2010), decidiu por um fim à baboseira, com mais baboseira.
É a técnica de apagar o fogo com gasolina, mas nesse caso funciona. Não apenas o filme procura satirizar os livros e filmes da Stephanie Meyer e companhia, como qualquer outro elemento da cultura adolescente que faz tanto sucesso, explorando títulos que vão desde Os Diários de um Vampiro até Querido John.
Esse tipo de desconstrução de discurso requer inteligência. Se bem que nesse caso, inteligência não é muito necessária, já que a desconstrução já está presente no próprio discurso. O que não faz sentido. Como qualquer paródia, a melhor parte de Os Vampiros que se Mordam está no começo. Aquela parte onde é feita a introdução dos personagens e do universo, com uma precisão incrível. Mas conforme as piadas vão se acumulando, ao invés de complementarem umas as outras, elas acabam se sobrepondo e se esgotando.
É lógico que a obra dirigida por Jason Friedberg e Aaron Seltzer, não tem pé nem cabeça, e o humor vem do absurdo e da comédia estilo pastelão. Mas isso não impede a apreciação do filme como um todo, nem momentos de intensa gargalhada.
A melhor parte no entanto, reside nos atores. Especialmente em Jenn Proske, que interpreta Bella Swam. Observa-se desde o princípio, que a atriz canadense fez um estudo detalhado dos maneirismos de Kristen Stewart (com aquela expressão de perpétua enfastiada) com precisão hilariante.
Os Vampiros que se Mordam chega a ser inacreditavelmente absurdo. Mas talvez o absurdo esteja em como essa franquia conseguiu fazer tanto sucesso, com suas limitações tão evidentes de conteúdo ou inteligência. Isso sim não faz o menor sentido...