domingo, 9 de outubro de 2011

A Humanidade Acima de Tudo

Depois de algum tempo sem nenhum post, cá estou eu em meu retorno triunfal (oi?). Antes de tudo quero avisar que o meu amigo Roberto - outro autor deste blog - está escrevendo resenhas para uma outro site além do Cinéfilos e Etc, o que quer dizer que as resenhas dele por aqui vão diminuir um pouco. Quando souber direitinho o site, aviso vocês aqui.


Devo dizer que tenho o maior respeito por aqueles que exercem a inteligência militar, seja no tempo da guerra, seja no tempo da "paz". Os chamadas agente de campo que trabalham na área da inteligência, conhecidos popularmente como espiões, são heróis para seus países, que sacrificam sua própria identidade em prol de beneficios táticos e estratégicos para seus respectivos países. Eu sou um grande fã dos espiões e de suas histórias e é disso que quero falar hoje.


Embora nunca tenha lido nenhuma história da série de espionagem mais famosa de todos os tempos - me refiro aqui, é claro, à história escrita pelo jornalista e ex-espião britânico, Ian Fleming, que criou os famosos agentes double zero da série 007. Sim, gosto de espiões e nunca li nada de Bond, James Bond (estou tomando providências para mudar isso). Mas nem só de Bond vive a espionagem. Já li os dois primeiros livros da série escrita por Robert Ludlum, que se tornaram bem famosos ao se tranformar em filmes: me refiro, é claro, à série Bourne. Mas nem só de ficção vive a espionagem. A inteligência militar é um ramo que existe desde que as guerras existem. O simples fato de alguém tentar descobrir o que seu inimigo está tramando pode ser considerado espionagem e, por isso, hoje irei falar de uma história real.


Baseado em extensas pesquisas históricas, inúmeras visitas aos arquivos militares da antiga Tcheco-Eslováquia e pesquisas sem fim com os sobreviventes, Rudolf Ströbinger publicou em 1967 o romance A-54 - O Espião das Três Faces (Stopa Vede K Renému, no original em tcheco) que conta a história de Paul Thuemmel, o espião conhecido como A-54, que durante toda a Segunda Guerra Mundial passou incessantemente informações sobre da alta cúpula nazista aos serviço de inteligência tcheco e, posteriormente, ao britânico.


Alemão, filho de um padeiro de um vilarejo e amigo pessoal de Himmler - um dos principais líderes da cúpula de Hitler e chefe da polícia militar alemã, a SS - Thuemmel assumiu vários nomes, tais como Dr. Steinberg, Dr. Holm, Baer, Rabe e, posteriormente, "traidor X" quando se descobriu o vazamento de informações da elite nazista. Alemão orgulhoso e possuidor da honorária Insígnia de Ouro do Partido Nazista, não se sabe o que levou A-54 a passar informações para o serviço de inteligência tcheco. Ele simplesmente se ofereceu para fornecer informações em troca de dinheiro antes do início da guerra (mais precisamente em 1937) e continuou a fazê-lo até ser capturado e preso pela Gestapo - a polícia secreta alemã.


Thuemmel foi denominado A-54 pela liderança do serviço de inteligência tcheco, e posteriormente recebeu codinomes como René e Eva, entre muitos outros. Por meio de seu contato com o Coronel Moravec - em exílio em Londres depois da captura da Tcheco-Eslováquia pelos nazistas - passou informações cruciais à Inglaterra e à União Soviética. Inclusive, um dos líderes do MI6 (Serviço Britânico de Inteligência) afirmou que: "A-54 é um agente sob cujas palavras os exércitos marcham", devido à exatidão de suas informações, quase sempre ultra-secretas e de imenso valor estratégico.


Paul Thuemmel, o agente A-54, foi preso pela Gestapo em 1942. A Gestapo tentou utilizá-lo para prender outros inimigos do regime, sem sucesso. Especula-se que foi graças a informações de A-54 que a Gestapo conseguiu se aproximar do Capitão Václav Morávek, membro de um grupo de resistência à ocupação nazista na Tcheco-Eslováquia, mas seu envolvimento nunca foi provado. Em 1943, Thuemmel foi enviado ao presídio da polícia em Theresienstadt, sob o nome de Peter Toman. Ao que parece, ainda tinha amigos poderosos que tentavam protegê-lo de ser executado como traidor. Misteriosamente, em 1944, os documentos sobre o caso de A-54 foram retirados dos arquivos nazistas para serem queimados mais tarde. Thuemmel ficou preso sob nome de Peter Toman até 1945, quando foi executado por fuzilamento.


Ao final do livro, Ströbinger se pergunta o motivo que levou Thuemmel a trair seu país.Ao entrar para o Partido nazista era uma fiel colaborador e parecia acreditar piamente nas diretrizes que foram sendo impostas pro Hitler. E, além disso, subiu muito na hierarquia militar, apesar de ser civil. Ele cobrava pelas informações que passava? Sim, mas deve-se considerar os gastos para exercer a atividade de espião duplo (subornos, presentes, etc), além, é claro, de ter que manter uma certa imagem que era esperada de um respeitável membro da cúpula alemã.


Mas o que realmente levou Paul Thuemmel, respeitável membro do Partido Nazista, portador da Insígnia de Ouro do Partido, amigo pessoal de Heinrich Himmler - um dos homens mais poderoso do Reich -, membro da cúpula alemã, a trair seu país e os ideais que defendia? Era conhecido pelos que conviviam com ele que tinha um profundo e inexplicado ódio da SS. Parecia acreditar também que Hitler perderia a guerra. Ou será que ele previra os rumos que o Nazismo estava tomando e optou por tentar minimizar os danos, sabotando sua própria nação? Ele valorizara mais a humanidade do que sua lealdade à Alemanha? Seria esse o motivo? Não se sabe. Muitas perguntas permanecem sem resposta com a morte de A-54. Mas é fato que, sem a ajuda de Thuemmel, talvez a guerra de Hitler tivesse terminado de forma diferente. No que se refere a isso, tudo o que podemos fazer é agradecer.

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