sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Perfeição Enlouquecedora da Rainha dos Cisnes

"Cisne Negro" leva o espectador a uma viagem sem volta ao subconsciente alucinado de uma bailarina em busca da perfeição



Do diretor de "O Lutador", o novo filme de Darren Aronofsky, Cisne Negro (Black Swan, 2010, EUA), conta a história de Nina Sayers (a sempre talentosa Natalie Portman, que, sem dúvidas, merece o OSCAR, além de já ter ganhado o Globo de Ouro e o prêmio do SAG - Sindicato dos Atores - por este trabalho), uma bailarina que almeja a posição principal da obra O Lago dos Cisnes - a Rainha dos Cisnes, um papel que consiste na interpretação do Cisne Branco e do Cisne Negro pela mesma bailarina -, de Tchaikovsky, que está sendo refeita pela companhia de balé de que participa. Esforçada ao extremo, Nina não vê dificuldade no papel de Cisne Branco, pois possui muitas das características que definem a personagem, como sua doçura, timidez e inocência virginal; por outro lado, o papel de Cisne Negro parece ser o grande desafio para a bailarina, pois o papel é caracterizado pela sensualidade, sedução e rebeldia. Classicamente, ambos os papéis são feitos pela mesma bailarina pelo fato de que os personagens são gêmeos opostos e aí é que se encontra o primeiro empecilho para a jovem.

Reprimida pela mãe (Barbara Hershey), uma ex-bailarina frustrada que a trata como criança, sempre vigiando seus passos e sufocando-a em um mundo de infantilidade e controle, Nina começa a sentir a pressão do papel para o qual foi escolhida. Para piorar a situação, surge entre ela e Lilly (a estonteantemente fascinante e talentosa Mila Kunis) uma rivalidade sensualizada, típica de oponentes que se sentem atraídos um pelo outro, mas que são rivais por algum motivo. E essa é a questão: Lilly está sendo cogitada pelo diretor - Thomas Leroy (Vincent Cassel, que também está ótimo) - para assumir o papel de Nina caso ela não consiga se dominar e libertar o Cisne Negro que dorme dentro dela devido à repressão com que conviveu a vida toda.

À medida que os minutos vão passando e a tensão vai crescendo no espectador e na personagem de Portman, simplesmente por não saber o que é real e o que pode ser produto de sua mente, o longa fica a cada minuto mais próximo do fim, que é construído com e pela a apresentação de estreia de O Lago dos Cisnes. Por fim, chega a conclusão real da história, que o espectador já sabia, seria inesperado, eletrizante e genial. E é.

Vale notar que durante todo o longa, Aronofsky optou por mostrar mais dos que apenas a parte glamurosa do balé; optou por mostrar também as dificuldades enfrentadas pelas artistas: as unhas quebradas, o trabalho contínuo e repetitivo e a dedicação total àquilo que será apresentado talvez apenas uma porção de vezes para pouquíssimos interessados. Indubitavelmente é um trabalho belíssimo, mas que não é apreciado hoje e Aronofsky consegue mostrar isso ao som de Tchaikovsky. Vale a pena comentar também a participação ínfima, embora interessante, de Winona Ryder como Beth, a ex-bailarina principal da companhia de Nina, que tem que se aposentar devido a sua idade avançada (40 e poucos anos , se não me engano). É interessante perceber a obsessão de Nina em ser perfeita em todos os aspectos, mesmo que para isso tenha que ser outra pessoa, o que ela tenta fazer copiando Beth, a quem considera extremamente talentosa. O que ela não percebe é que ela mesma é assim: talentosa, dedicada, poderosa, imponente. Uma verdadeira rainha. Ela era a Rainha dos Cisnes o tempo todo e não sabia.

"Cisne Negro". Título original: "Black Swan". Ano: 2010. Nacionalidade: EUA. Diretor Darren Aronofsky. Roteiro de: Andres Heinz, John J. Mclaughlin, Mark Heyman. Produzido por: Arnold Messer, Brian Oliver, Mike Medavoy, Scott Franklin. Estrelando: natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder. Música de: Clint Mansell. Duração: 107 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,0/10.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Bolinho inglês - Entrega do BAFTA

Uma semana antes do OSCAR, ocorreu a entrega do prêmio BAFTA, o prêmio mais importante da inglaterra. Abaixo a lista de indicados e vencedores e alguns pensamentos a respeito.





Melhor filme



Vencedor:



O Discurso do Rei



Indicados:



Cisne Negro

A Origem

A Rede Social

Bravura Indômita

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Prêmio Alexander Korda de melhor filme inglês:



Vencedor:



O Discurso do Rei



Indicados:



127 Horas

Another Year

Four Lions

Made in Danegham

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Melhor ator:



Vencedor:



Colin Firth (O Discurso do Rei)



Indicados:



Javier Bardem (Biutiful)

Jeff Bridges (Bravura Indômita)

Jesse Einsenberg (A Rede Social)

James Franco (127 Horas)

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Melhor atriz:



Vencedora:



Natalie Portman (Cisne Negro)



Indicadas:



Annete Benning (Minhas Mães e Meu Pai)

Juliane Moore (Minhas Mães e Meu Pai)

Noomi Rapace (Os Homens que não Amavam as Mulheres)

Hailee Steinfield (Bravura Indômita)

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Melhor ator coadjuvante:



Vencedor:



Geoffrey Rush (O Discurso do Rei)



Indicados:



Chrisitan Bale (O Vencedor)

Andrew Garfield (A Rede Social)

Pete Postlethwaite (Atração Perigosa) - postumamente

Mark Ruffalo (Minhas Mães e Meu Pai)

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Melhor atriz coadjuvante:



Vencedora:



Helena Bonham Carter (O Discurso do Rei)



Indicados:



Amy Adams (O Vencedor)

Barbara Hershey (Cisne Negro)

Lesley Manville (Another Year)

Miranda Richardson (Made in Dagenham)

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Prêmio David Lean de melhor diretor:



Vencedor:



David Fincher (A Rede Social)



Indicados:



Darren Aronofsky (Cisne Negro)

Danny Boyle (127 Horas)

Tom Hooper (O Discurso do Rei)

Christopher Nolan (A Origem)

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Melhor roteiro original:



Vencedor:



O Discurso do Rei - David Seidler



Indicados:



Cisne Negro - Mark Heyman, Andres Heinz e John J. McLaughlin

O Vencedor - Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson

A Origem - Christopher Nolan

Minhas Mães e Meu Pai - Lisa Chodolenko e Stuart Blumberg

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Melhor roteiro adaptado:



Vencedor:



A Rede Social - Aaron Sorkin



Indicados:



127 Horas - Danny Boyle e Simon Beaufoy

Os Homens que Não Amavam as Mulheres - Rasmus Heisterberg e Nikolaj Arcel

Toy Story 3 - Michael Arndt

Bravura Indômita - Joel e Ethan Coen

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Melhor fotografia:



Vencedor:



Bravura Indômita - Roger Deakins



Indicados:



127 Horas - Anthony Dod Mantle e Enrique Chediak

Cisne Negro - Matthew Lebatique

A Origem - Wally Pfister

O Discurso do Rei - Danny Cohen

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Melhor montagem



Vencedor:



A Rede Social - Kirk Baxter e Angus Wall



Indicados:



127 Horas - John Harris

Cisne Negro - Andrew Weisblum

A Origem - Lee Smith

O Discurso do Rei - Tariq Anwar

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Melhor desenho de produção:



Vencedor:



A Origem - Guy Hendrix Dias, Larry Dias e Douglas A. Mowat



Indicados:



Alice no País das Maravilhas - Robert Stromberg e Karen O'Hara

Cisne Negro - Thérèse DePrez e Tora Peterson

O Discurso do Rei - Eve Stewart e Judy Farr

Bravura Indômita - Jess Gonchor e Nancy Haigh

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Melhor figurino:



Vencedor:



Alice no País das Maravilhas - Colleen Atwood



Indicados:



Cisne Negro - Amy Westcott

O Discurso do Rei - Jenny Beavan

Made in Denenham - Louise Stjernsward

Bravura Indômita - Mary Zophres

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Prêmio Anthony Anquish de melhor música:



Vencedor:



O Discurso do Rei - Alexandre Desplat



Indicados:



127 Horas - A.R. Rahman

Como Treinar o seu Dragão - John Powell

Alice no País das Maravilhas - Danny Elfman

A Origem - Hans Zimmer

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Melhor maquiagem e cabelo:



Vencedor:



Alice no País das Maravilhas



Indicados:



Cisne Negro

Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte I

O Discurso do Rei

Made in Degenham

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Melhor Som:



Vencedor:



A Origem



Indicados:



127 Horas

Cisne Negro

O Discurso do Rei

Bravura Indômita

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Melhores efeitos visuais



Vencedor:



A Origem



Indicados:



Alice no País das Maravilhas

Cisne Negro

Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte I

Toy Story 3

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Melhor filme "estrangeiro":



Vencedor:



Os Homens que Não Amavam as Mulheres



Indicados:



Biutiful

Io Sono I'amore

Dos Homens e dos Deuses

O Segredo dos seus Olhos

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Melhor filme de animação:



Vencedor:



Toy Story 3



Indicados:



Como Treinar o seu Dragão

Meu Malvado Favorito

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PENSAMENTOS:

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A confusão se instaurou definitivamente na tempora de premiação de filmes.

O Discurso do Rei ganhou o BAFTA como já era de se esperar, e provavelmente irá ganhar o OSCAR de Melhor Filme, como já é de se esperar também. O BAFTA, como acontece quase todos os anos, voltou com gostinho de bolo inglês, mas sem a parte mesclada, pois ainda mais do que o prêmio da Academia, o prêmio inglês consegue ser ainda mais patriótico do que o Hollywoodiano.

Por exemplo: O Discurso do Rei levando 2 prêmios de melhor um filme. Um de filme inglês e outro de melhor filme do ano. Tá, isso faz sentido.

O Discurso do Rei sendo indicado a praticamente TODAS as categorias da premiação, vencendo algumas nas quais ele não era o favorito. Outros filmes ingleses, como 127 Horas e A Origem, também receberam uma cota de prêmios ou indicações.

Entretanto, O Discurso do Rei pode ter vencido nas categorias de Melhor Filme, Filme Inglês, Ator, Ator Coadjuvante (?!) e outras bilhões de indicações, mas perdeu a de Melhor Diretor, para ninguém menos que David Fincher, de A Rede Social. Ou seja, não entendi mais nada. Já faz tempo que um OSCAR premia um diretor mas não sei filme - e vice-versa. Uma das últimas vezes foi quando Aang Lee venceu o prêmio de Melhor Direção por Brokeback Mountain, mas perdeu o de melhor filme para Crash. Desde então, todos os diretores venceram o OSCAR de seus respectivos filmes (Clint Eastwood, Martin Scorcese, Katherin Bigelow, Joel e Ethan Coen, Danny Boyle e por aí vai). Difícil é acreditar que o contrário aconteça este ano, mas tudo indica que sim.

Indicações malucas incluem a vitória de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, da Suécia, que sequer foi lembrado nos Estados Unidos, mas fez um puta sucesso na Europa.

Indicação de Melhores Efeitos Especiais para Cisne Negro e Toy Story 3. Quê?! Toy Story 3 é uma animação, pelo amor de Deus! Quanto a Cisne Negro, difícil dizer, pois ainda não vi, mas não entendi também.



Quanto ao OSCAR:



É de se esperar algo mais ou menos parecido. Se David Fincher vai levar o prêmio de Melhor Direção, não sei. Prêmios técnicos são uma incógnita, principalmente o de Melhor Fotografia. Acho que A Origem leva. Melhor Trilha Sonora não deve ficar nas mãos de Desplat. Melhor filme vai ser a mesma coisa e Geoffrey Rush provavelmente não repete a vitória de Ator Coadjuvante que deverá ser de Christian Bale.



Até o próximo domingo pra ver se eu acertei na mosca, ou falei abobrinha ;D

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Nova Gênesis de Evangelion


























* Atenção: para melhor compreensão da review, seria interessante ao leitor, procurar assistir a série original e seu longa metragem, The End of Evangelion.

Remake de uma das séries de anime mais importantes de todos os tempos, trancende a refilmagem e torna-se uma obra totalmente nova.


Em 1995, foi produzida pelo estúdio Gainax, a série Neon Gênesis Evangelion, um seriado de animação japonesa (anime), do gênero mecha, que constitui em robôs gigantes pilotados por seres humanos. Aliando ficção-científica com fantasia, uma trama e personagens complexos, referências religiosas, muita ação e sensualidade, a série foi um sucesso de proporções bíblicas, tornando-se indicustivelmente, uma das séries de animação de maior sucesso de todos os tempos.


A sinopse é tão complexa quanto seu desenvolvimento. Na aurora do novo milênio, um objeto desconhecido chocou-se com a Terra na região do círculo polar ártico. Acredita-se que tenha sido um meteoro, cuja explosão derreteu a calota polar, inundando a civilização, em um quase-apocalipse. Tokyo, onde a história se passa, foi destruída, sendo reconstruída outras duas vezes, até a então chamada Tokyo 3.


Quinze anos depois, a humanidade experimentou outro tipo de ameaça: criaturas gigantes de origem desconhecida, denominadas "anjos", todas aparecendo na mesma região de Tokyo 3, na tentativa de invadir as instalações da NERV, instalação governamental criada após o que foi descrito como o "Segundo Impacto". Para combater tais criaturas, robôs gigantes denominados Evangelions, foram desenvolvidos e são pilotados por 3 crianças de 14 anos, duas moças e um rapaz. São eles Rei Ayanami, Asuka Langley e o protagonista Ikari Shinji, cujo pai é o líder das operações da NERV.


A série acompanha a vida de Shinji, na casa de sua supervisora, Misato, uma jovem capitã, bonita, atraente e dada numa cerveja. Há todo um desenvolvimento entre os relacionamentos de Shinji e sua superiora, assim como suas colegas de combate, Rei e Asuka. Uma gama de novos personagens aparecem e um desenvolvimento incrivelmente complexo da trama ocorre, mostrando os segredos por trás da NERV, do pai de Shinji e do Segundo Impacto.


Entretanto, o aclamado seriado Mecha teve um sério problema de conclusão, principalmente por parte de seu criador Hideaki Anno. Subsequentemente, houveram outros dois filmes, incluindo o The End of Evangelion, que procurou proporcionar um final definitivo à série. Não foi satisfatório, e recentemente, um projeto de 4 novos filmes do Evangelion começou, com o nome de Rebuild of Evangelion.


Os dois primeiros filmes da nova série já receberam lançamento nos EUA e recentemente no Brasil. O primeiro, Evangelion 1.11 You Are (Not) Alone já está disponível em DVD no Brasil, enquanto o segundo, Evangelion 2.22 You Can (Not) Advance, aguarda lançamento que deverá ocorrer em Março.


O primeiro filme da série de remakes, acompanha os seis primeiros episódios da série original, sem muitas alterações. Apresenta as personagens principais (sendo que Asuka só será introduzida no segundo filme), o início do relacionamento entre Shinji e Misato e Shinji com Rei, e o início de sua pilotagem do EVA (Evangelion).


Uma das características mais impressionantes, tanto da série, quanto dos novos filmes, é seus personagens. Shinji é o oposto do herói dos mangás (quadrinhos japoneses). É um menino magrinho e franzinho, inseguro e com péssima auto-estima. Pilota o EVA para fazer seu pai orgulhoso, o que não dá muito certo. Rei Ayanami é uma misteriosa menina de cabelos azuis e olhos vermelhos, quieta e reprimida, encontrando dificuldades de se relacionar com outras pessoas, assim como todos os pilotos.


No fundo, é um bando de jovens complexados pilotando robôs gigantes de combate. Asuka é alemã, e compensa sua insegurança aliada com um trauma familiar grave, com uma personalidade arrogante e incisiva. No entanto, todos terão um desenvolvimento, mesmo que tardio, de suas personalidades e entrarão em conflitos no decorrer da série, entre eles e entre si mesmos.


A maior diferença do primeiro longa é seu final, que difere da transição do 6º para o 7º episódio da série original. Há então um gancho para o segundo longa metragem que, ao contrário do primeiro, é quase que inteiramente diferente da série na qual foi baseado.


Há também, uma melhora considerável no design dos robôs e principalmente dos anjos. Embora sejam essencialmente parecidos com os originais, diferem em aspectos interessantes, tendo um desenvolvimento muito mais bacana para quem é fã da série. Os longas são visualmente espetaculares, ricos em cores com uma animação digna de um filme dos estúdios Ghibli (do diretor de A Viagem de Shihiro), proporcionando muita ação, muito humor e muita sensualidade.
Dividos em durações que variam de 100 a 110 minutos, ocorre uma grande condensação dos 26 episódios da série original, sendo que muito - e eu digo, MUITO - é deixado de fora, especialmente no primeiro longa.


Com as mudanças drásticas no visual do desenho, um choque acontece. Uma das características mais interessantes em Evangelion, era o seu início bem humorado e talvez até excessivamente simplista, o que pode irritar um espectador desavisado, e seu desenvolvimento posterior, tornando-o sério, carregado e sombrio. O que não acontece em nenhum dos longas, tanto pela parte visual, quanto pelo desenvolvimento do roteiro.


Ainda que a primeira metade (principalemente) do primeiro filme seja puro pastiche, enquanto a segunda apresenta novas situações, o segundo longa é absolutamente diferente da série original em quase todos os aspectos, com a apresentação de novos personagens, troca de situações e outras coisas que é melhor não falar.


Graças a isso, Rebuild of Evangelion deixa de ser somente uma refilmagem ou mesmo um reboot de Neon Genesis Evangelion, e passa a ser algo totalmente novo. Uma obra única, quase totalmente à parte de seu predecessor.


Isso é bom? Em partes. De fato, o espectador que assistir aos filmes sem ter visto a série, se verá a parte da trama original, e a entenderá - ou não. Entretanto, não estará assistindo Neon Genesis Evangelion, mas sim uma obra diferente que só apresenta os mesmos personagens. Para quem já viu a série, isso é incrivelmente interessante, pois há uma completa mudança de foco dos longas para o seriado, especialmente no segundo filme.


Rebuild of Evangelion é melhor do que Neon Genesis Evangelion? Essa é uma pergunta simples e totalmente válida. E a resposta é igualmente simples. Não. Tanto pelo seu tamanho reduzido - o que significa um desenvolvimento menor do que uma série de 26 episódios - quanto por características presentes somente na série, e que a tornaram única.


As personalidades de Shinji, Asuka e Rei estão diferentes, o que talvez proporcione mais calor entre eles. Entretanto, seus relacionamentos só se mostraram realmente fortes e bem explorados, justamente pela ausência desse calor, mostrado na série. Há toda uma trajetória para que isso aconteça, e nos filmes não há espaço para isso, a menos que cada um tenha pelo menos 2h 30.


Evangelion é complicado e carece de compreensão para a maioria dos espectadores. Aliando discussões filosóficas, momentos de mergulho na mente dos personagens, e muito tecno-baba. Então, é bem possível que o espectador fique confuso. Assim como na série. Entretanto, no que a série falhou, o filme é capaz de mudar, especialmente com dois outros filmes em andamento para serem lançados simultaneamente em 2012.


Onde o espectador não entendeu o final de Evangelion (aliás, para quem viu o longa, assista cinco vezes e quem sabe você entenderá), Rebuild tem a chance de mudar, principalmente por que apresentará um final totalmente novo.


Para aquele que procurar um anime realista, esqueça, é melhor assistir a série e filmes de Patlabor. Evangelion mostra robôs gigantes lutando contra monstros enormes, em cidades (desabitadas, ainda bem). Tem violência, conteúdo de nudez e tensão sexual, aliados com uma trama complexa e inteligente e muita, muita ação. Ambos os filmes (especialmente o segundo), são envolventes e instigantes, qualidade que tem se tornado cada vez mais rara ultimamente. Entretanto, embora a nova gênesis da série de anime mais ousada de todos os tempos seja mais do que satisfatória, Neon Genesis Evangelion é apenas um e jamais poderá ser superado.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Para ver com um olho só

Filme dos irmãos Coen chega badalado em com 10 Indicações ao OSCAR, mas possui mais nomes importantes do que qualidade propriamente dita.


Não é recente que os irmãos Joel e Ethan Coen são considerados a maior dupla de diretores da atualidade. Com 3 vitórias ao OSCAR de 2008, por Onde os Fracos não têm Vez, nas categorias de Melhor filme, direção e roteiro adaptado, ambos chegaram com grande festa e badalação, com o remake do clássico de John Wayne, Bravura Indômita (True Grit, EUA, 2010).

Baseado no romance homônimo de Charles Portis e no filme de 1969, dirigido por Henry Hathaway e estreloando John Wayne (que recebeu o OSCAR de melhor ator pelo papel de Reuben "Rooster" Cogburn), a nova refilmagem do clássico faroeste é estrelada por ninguém menos que o ganhador do prêmio da Academia no ano passo, Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Brolin e a revelação adolescente Hailee Steinfield de somente 14 anos de idade.

A história gira em torno da menina Mattie Ross (Steinfield) que procura vingança pelo homem que matou seu pai. O homem em questão é Tom Chaney (Brolin), fugitivo e no fundo da lista dos menos procurados pela lei. Ela então decide contratar os esforços de "Rooster Cogburn", um federal bêbado e acabado (Bridges) que relutantemente aceita o dinheiro da menina para partir em caçada de Chaney, ao lado de um Texas Ranger chamado LaBeouf (Damon), que está na caça do criminoso há vários meses, devido ao assassinato de um deputado no Texas.

É de se esperar que com a quantidade de nomes importantes que o filme possui, especialmente o de seus diretores, que Bravura Indômita seja um dos filmes mais espetaculares do ano, já que é o segundo em número de indicações ao prêmio mais importante do cinema, atrás somente de O Discurso do Rei que possui 12 indicações, contra 10 do épico faroeste.

Entretanto, ao contrário de todas as espectativas, a travessia de Mattie e Cogburn não é metade do calibre de outros filmes dos irmãos Coen, como Fargo ou Onde os Fracos Não Têm Vez, ambos clássicos filmes sobre as atrocidades americanas.

Certamente os desempenhos são espetaculares, a começar por Jeff Bridges que providencia um papel constantemente hilário, mas cujo personagem também é extremamente poderoso e emblemático. O show fica a parte de Hailee Steinfield de 14 anos, no papel de Mattie, demonstrando extrema coragem e segurança em um papel difícil. Da mesma forma, Matt Damon e Josh Brolin estão ótimos em seus respectivos papéis.

Curiosamente, a aparição mais marcante do filme é a do ator Barry Pepper (de O Resgate do Soldado Ryan e A Conquista da Honra), como o líder da gangue de Chaney, Ned Pepper (papel que foi interpretado por Robert Duvall em '69). Isso tudo aliado a um ótimo trabalho de maquiagem, fotografia e figurino.

Então, o que há de errado em Bravura Indômita? Já que ele possui ótimas atuações, uma direção segura, um roteiro repleto de bons diálogos, um trabalho de maquiagem, figurino e fotografia impressionantes? Difícil de responder. Mas de alguma forma, o tom da obra fica um pouco fora do que deveria ter sido. A trilha sonora composta por Carter Burwell é tão onipresente como irritante, fora do conjunto e incapaz de transmitir alguma sensação, seja ela apreensão ou drama, nas cenas mais intensas de ação e violência.

Se há uma diferença muito grande entre as duas versões do filme, é quantidade de violência apresentada. Certamente a obra dos irmãos Coen é mais gráfica em termos de violência, com sequências de ação rápidas e intensas. Ela é mais uma forma de mostrar a violência como ato cotidiano e necessário daqueles que viviam em tempos difíceis no oeste americano do final do século XIV.

Entretanto, embora o filme seja impactante pela sua violência (ainda que nada comparado a outros filmes do gênero), ele peca na ausência de impacto emocional, seja ele bom ou ruim. Um final apático e a aparante falta de desenvolvimento de situações que poderiam ter sido melhor exploradas, tornam Bravura Indômita um dos mais fracos candidatos ao OSCAR de melhor filme deste ano. O que é uma tremenda decepção, dada a qualidade técnica e potencial já conhecidos pelos irmãos Coen, juntamente de um elenco espetacular.

Dessa forma, filmes como A Rede Social, O Vencedor e A Origem são muito melhor desenvolvidos em aspectos importantes de um filme dessa categoria: sua capacidade de ser marcante. Bravura Indômita não é um filme ruim, contudo. É cheio de humor, sendo muito divertido e entusiasmante em alguns momentos. Entretanto, não é o melhor filme dos irmãos Coen, não é o melhor filme dos indicados ao OSCAR e não é o melhor filme do ano. Fora isso, é diversão garantida para aqueles que não se importam com um pouquinho de sangue e tiros. Mas não deixa passar a impressão de que podia ser melhor.

Indicações do International Film Music Critics Association

Saem as indicações do prêmio de música para cinema mais importante, depois do Grammy.

Ainda que o Grammy Awards, o prêmio de música internacional mais importante do mundo possúa uma indicação ao prêmio de melhor trilha sonora, o International Fim Music Critics Association é o prêmio de composições cinematográficas mais importante do circuito. Abaixo estão os indicados em suas respectivas categorias:


Melhor trilha sonora do ano:


O Escritor Fantasma - Alexandre Desplat
Como Treinar o seu Dragão - John Powell
A Origem - Hans Zimmer
O Discurso do Rei - Alexandre Desplat
Tron: O Legado - Daft Punk


Melhor compositor do ano:


Alexandre Desplat
Danny Elfman
James Newton Howard
John Powell
Hans Zimmer


Compositor revelação do ano:


Óscar Araújo
Arnau Bataller
Daft Punk
Herbert Grönemeyer
Nulo Malo


Melhor trilha sonora original para um filme de drama:


Amália - Nulo Malo
Cisne Negro - Clint Mansell
Karatê Kid 2 - James Horner
O Discurso do Rei - Alexandre Desplat
Bravura Indômita - Carter Burwell


Melhor trilha sonora original para um filme de comédia:


The Lightkeepers - Pinar Toprak
LO - Scott Glasgow
Nanny McPhee e o Big Bang - James Newton Howard
Potiche - Phillippe Rombi
Vampiros que se Mordam - Christopher Lennertz


Melhor trilha sonora para um filme de ação/aventura/suspense:


Enterrado Vivo - Victor Reyes
O Escritor Fantasma - Alexandre Desplat
A Origem - Hans Zimmer
Robin Hood - Marc Streitenfield
Salt - James Newton Howard


Melhor trilha sonora para um filme de fantasia/ficção-científica/horror:


Alice no País das Maravilhas - Danny Elfman
2019 - O ano da Extinção - Christopher Gordon
Harry Potter e as Relíquias da Morte - parte 1 - Alexandre Desplat
O Último Mestre do Ar - James Newton Howard
Tron: O Legado - Daft Punk


Melhor trilha sonora para um filme de animação:


Como Treinar o seu Dragão - John Powell
O Mágico - Sylvain Chomet
A Lenda dos Guardiões - David Hirschfelder
Enrolados - Alan Menken
Toy Story 3 - Randy Newman


Melhor composição instrumental do ano:


Alice no País das Maravilhas - "Alice's Theme" - Danny Elfman
O Escritor Fantasma - "The Truth About Ruth" - Alexandre Desplat
Como Treinar o seu Dragão - "Forbidden Friendship" - John Powell
Como Treinar o seu Dragão - "Test Drive" - John Powell
O Último Mestre do Ar - "Flow Like Water" - James Newton Howard


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Maior número de indicações

Alexandre Desplat - 7 indicações
James Newton Howard - 5 indicações
John Powell - 5 indicações
Danny Elfman - 3 indicações
Hans Zimmer - 3 indicações
Daft Punk - 2 indicações
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Os compositores Alexandre Desplat, John Powell e Hans Zimmer estão indicados ao OSCAR de melhor trilha sonora, pelos seus trabalhos em O Discurso do Rei, Como Treinar o seu Dragão e A Origem, respectivamente. A maioria das trilhas sonoras citadas cima, estão disponíveis no Youtube. Abaixo, seguem os links das cinco faixas indicadas à melhor composição instrumental do ano.



Alice no País das Maravilhas 'Alice's Theme' (Danny Elfman):
http://www.youtube.com/watch?v=h8JMSN4IJ_0

O Escritor Fantasma 'The Truth About Ruth' (Alexandre Desplat)
http://www.youtube.com/watch?v=RoTUX6ZKke0

Como Treinar o seu Dragão 'Forbidden Friendship' (John Powell)
http://www.youtube.com/watch?v=6CJ96LGGP6w

Como Treinar o seu Dragão 'Test Drive' (John Powell)
http://www.youtube.com/watch?v=aJBpLQrBJXM

O Último Mestre do Ar 'Flow Like Water' (James Newton Howard)
http://www.youtube.com/watch?v=-mTANle_IcQ


Confiram e deixem comentários!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Doce Ilusão



Filmes como O Mágico de Sylvain Chomet, são raras provas de que existe um mundo além da PIXAR.




Houve um homem chamado Jacques Tati, que nasceu na França em 1907. Tinha 1 metro e 91 de altura, vestia uma capa meio beje toda armafanhada, a calça na altura do umbigo, e possuía uma capacidade extraordinária de entreter o público com suas mímicas sem som. Com apenas 9 créditos como diretor de filmes, ele foi elento o 46º melhor diretor de todos os tempos, possuíndo títulos como Meu Tio, e Carrossel da Esperança, no final dos anos 40 até os anos 50.


Tati morreu em 1982, sem ver filmado seu roteiro para O Mágico (I'illusionniste, FRA, 2010), que foi então adaptado pelo diretor Sylvain Chomet, de As Bicicletas de Belleville. Nesta história que se passa em Edimburgo, Tati em forma de desenho, é um mágico francês decadente, que vê sua carreira desabar na onda de astros de rock duma Europa pós Segunda Guerra. Forçado a aceitar trabalhos em teatros quase abandonados, festas e bares, Jacques viaja por vários lugares da Europa em busca de seu sustento, até que na Escócia ele encontra uma jovem fã que muda sua vida para sempre.


Sem diálogos e somente com 80 minutos de duração, O Mágico é um filme de animação pra lá de diferente. E eis uma das coisas boas dos "desenhos animados". Ao contrário dos filmes que estrelam atores reais, as animações, sendo elas de qualquer parte do mundo, proporcionam ao espectador uma viagem a lugares, mundos, situações e personagens que jamais seriam possíveis no cinema com pessoas reais, por mais avançadas que sejam as técnicas de filmagem.


Isso ocorre por causa das diferenças entre a aceitação de um filme e de uma animação. Em desenhos, tudo é plausível e as implausibilidades tornam-se aceitáveis em qualquer circunstância. Brinquedos podem ganhar vozes de astros de cinema, e personalidades próprias. Cidades podem flutuar e casas podem ser erguidas por balões. Robôs podem emocionar pessoas e carros podem ganhar vida nas mãos de um hábil diretor. Uma menina pode se perder em uma casa de banho para Deuses e um mágico pode procurar significado em sua vida, enquanto a única coisa que ele sabe fazer já não é mais necessária.


Sylvain Chomet é, certamente, um dos maiores cineastas da atualidade, em qualquer gênero, sendo comparado somente a gênios como outro animador, o japonês Hayao Myiasaki, de A Viagem de Chihiro. Requer muita coragem e perícia para fazer um filme sem diálogos, contando apenas com as ações dos personagens e um fundo musical.


E aliás, que fundo musical. Composta pelo próprio diretor que também adaptou o texto original de Tati, a música é personagem integrante da história, tanto quanto Tati e a jovem que o acompanha em sua jornada por teatros caindo aos pedaços e sem público. Ela da voz às animações, carregando o espectador no colo durante pouco mais de uma hora de filme.


O Mágico é uma evolução extraordinária em termos de trajetória. Começa com muito humor, mas um humor sutil, que requer atenção aos planos secundários das cenas para ser admirado em toda a sua magnitude. E conforme a história se passa, os pianos suaves e cordas gentis vão acompanhando Tati, em um mundo que vai se transformando num lugar cada vez mais triste e mais frio.


O filme de Chomet é de partir o coração, e seu impacto emocional permanece durante muito tempo, engasgado no peito de quem o assistir. Não é uma história para crianças, e embora possa ser assistido por todas as idades, só pode ser realmente compreendido em toda sua beleza e profundidade por alguém mais atento. É uma poesia digna da lista das melhores animações já feitas, lado a lado com o mestre japonês Miyasaki, que também é capaz de transpor emoções como ninguém mais.


Três filmes de animação estão indicados este ano ao OSCAR de melhor animação. Toy Story 3 da Pixar, Como Treinar o Seu Dragão da Dreamworks, e O Mágico. É difícil acreditar que depois da obra prima que foi Toy Story, algo pudesse superá-lo, mas O Mágico conseguiu.


Assim como o ofício de Tati, os filmes de animação que são realmente desenhos, estão deixando de existir, em uma indústria dominada por animações computadorizadas que custam de 100 a 200 milhões de dólares, ou mais. O Mágico custou 11 milhões de euros. O que prova que orçamento é o menor dos problemas quando se trata de contar uma boa história.


Por enquanto, a indústria cinematográfica americana continuará na ilusão de que domínia a doce arte da animação. Mas a verdade é que por trás dos muros da Pixar, da Dreamworks e da Fox, existe todo um mundo. Enorme, profundo e belo.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Vil Vingança Vermelha


Baseado na grafic novel homônima, V de Vingança é envolvente e inteligente





"Remember, remeber the fifth of November". Essa é uma das frases iniciais do excelente V de Vingança (V for Vendetta, EUA, 2006) dirigido pelo pouco conhecido James McTeigue e com participação especial na produção por parte dos irmãos Wachowski (da trilogia Matrix). Baseado na grafic novel de mesmo nome escrita por Alan Moore (autor de outra história recém-adaptada para as telonas: Watchman) e ilustrada por David Lloyd, o longa consegue ser uma adaptação e, ao mesmo tempo, uma obra-prima.

Como o primeiro filme de 2011, resolvi escolher este que é um dos meus favoritos. Por vários motivos, simplesmente não me canso de ver este filme, acho-o belo e genial e sombrio e criativo e denso e tocante. Simples assim. E vamos à história: o enredo se passa na década de 2020 em uma Inglaterra ditatorial comandada por uma versão moderna e futurista do Grande Irmão, o chanceler Adam Sutler (interpretado por John Hurt, que está muito bem no papel de ditador) e seus seguidores que se afiliaram ao Partido. É basicamente a mesma história que já conhecemos da Alemanha nazista, quando o Partido Nacional-Socialista - o NAZI - comandava o império alemão sob o comando do führer Adolf Hitler. Sem falar é claro nas semelhanças de ideologias em ambos os chefes de estado: ambos deram início à perseguição de judeus, homossexuais e todos que eram diferentes. Vale também ressaltar o quão parecidos são os nomes de Adam Sutler e Adolf Hitler.

Já aquela primeira frase "Remember, remember the fifth of November" se refere a um poema encontrado embaixo do Parlamento inglês em 5 de novembro de 1606 quando um terrorista católico chamado Guy Fawkes foi preso colocando inúmeros barris de pólvora que seriam explodidos durante uma sessão naquele dia, o que mataria todos os representantes do governo protestante. É neste terrorista que o herói deste filme se baseia, mas chegaremos até isso daqui a pouco.

Uma das belezas desta história é que Alan Moore se baseou na história relativamente recente do nazismo para criar um futuro possível. Possível e horrível. E neste mundo ditatorial em que o Partido controla a imprensa e os Homens-Dedo (uma versão moderna e britânica da Gestapo) amedrontam a população com sua batidas e prisões, que inevitavelmente levam a desaparecimentos, é que surge um terrorista que se autodenomina V (Hugo Weaving, que embora não tire a máscara em nenhum momento está excepcional no filme). Usando preto o tempo todo, uma peruca, chapéu e uma máscara de Guy Fawkes, além de muitas, muitas facas, V surge para chocar e reunir uma população inerte que permite que seu governo se imponha por meio da violência e medo. E é por isso que V faz o mesmo: explode logo nas primeiras cenas um dos clássicos edifícios ingleses numa simbólica destruição do Estado e seus representantes. Sua intenção claramente é despertar a população para o fato de que eles é que têm o poder e que sua inércia é que mantêm a todos prisioneiros do regime.

Ao contrário de outros heróis de filmes de ação, V é um personagem profundo e ricamente construído. Culto, inteligente e estudado, cita Shakespeare e escuta Tchaikovisk por meio de alto-falantes enquanto explode as coisas. Além do mais, sua relação com Evey (Natalie Portman, que também está muito bem) é bonita mesmo que nunca tenham se olhado cara-a-cara. Não vou me aprofundar mais ainda na história. Há explosões, tiroteios, traições e principalmente intriga política. É um filme ideológico disfarçado de triller de ação. Minha intenção com esta resenha era despertar o interesse de alguns que não haviam visto o filme e espero ter conseguido isso. Vejam, pois vale a pena, e muito.

Por fim, acrescento apenas a participação de outros grandes astros como John Hurt no papel de Adam Sutler (vale lembrar que é o segundo filme sobre regimes ditatoriais de que ele participa. O outro foi 1984, em que ele estava no papel principal, como inimigo do Grande Irmão); Stephen Rea como um investigador honesto que tenta deter V; e Stephen Fry como um divertido apresentador/diretor de TV.

Por fim,[2] quero ressaltar os incríveis diálogos capazes de arrepiar a qualquer um. Frases realmente memoráveis dos mais diversos personagens, mas principalmente de V, como a frase a seguir: "O povo não deve temer seu governo. O governo deve temer seu povo". No início, V era apenas um anti-herói que queria se vingar, mas antes de concluir sua vendetta, ele se torna o herói que estava destinado a ser.

"V de Vingança". Título original: "V for Vendetta". Ano: 2006. Nacionalidade: EUA. Diretor: James McTeigue. Roteiro de: Alan Moore, Andy Wachowski, Lana Wachowski. Produzido por: Andy Wachowski, Lana Wachowski, Grant Hill, Lorne Orleans, Joel Silver, Charlie Woebcken. Estrelando: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, John Hurt, Stephen Fry. Música de: Dario Marianelli. Duração: 132 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,5/10.


Segue o trailer abaixo para os interessados:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Não há calor na terra do frio



Filme estrelando Viggo Mortensen é uma compilação de paisagens apocalípticas, mas perde o sentido expresso no livro de Cormac McCarthy.




Comarc McCarthy é considerado um dos maiores autores americanos da atualidade, senão o maior e seu romance A Estrada, venceu o prêmio Pulitzer na categoria de melhor ficção. Isso faz com que o livro seja uma das obras mais difíceis de serem adaptadas cinematograficamente, não por suas complexidades técnicas, mas sim pelas morais, as que se escondem nas entrelinhas e nas profundezas da alma gelada do romance.


A Estrada (The Road, EUA, 2009) é dirigido por John Hillcoat, um australiano conhecido por filmes de faroeste, que se interessou em adaptar a obra de McCarthy quando ninguém mais o fez.


Talvez devesse ter permanecido assim, afinal, McCarthy é um dos autores mais difíceis de se adaptar com qualidade. Todos os Belos Cavalos, obra que inicia a trilogia Fronteiras, foi adaptada por Billy Bob Thorton e estrelando Matt Damon. Não passou de um filme bom, mas nada demais. Onde os Fracos Não Têm Vez (Onde os Velhos não Têm Vez na tradução original) foi adaptada pelos irmãos Coen e recebeu 4 vitórias no OSCAR, incluindo a de melhor filme.


Isso demonstra o potencial das obras do autor americano, mas também suas complexidades. Quando bem adaptadas, elas são vencedoras de prêmios da Academia, mas quando mal adaptadas tornam-se filmes banais, sem impacto ou profundidade.


É o caso de A Estrada.


Num futuro não muito distante, alguma coisa aconteceu. Provavelmente uma guerra nuclear, que devastou todo o globo, deixando um deserto de árvores mortas e prédios abandonados num eterno inverno. Nessa paisagem cinza e fria e hostil, pai e filho viagem pelas estradas americanas rumo ao norte, equipados somente com cobertores e um carrinho o qual empurram rumo ao litoral, sem saber o que encontrarão quando chegarem lá. No processo, são perseguidos por uma turpe de canibais, tudo o que restou da raça humana.


Por mais simples que seja a trama seja, ela esbanja profundidade e emoção, de uma maneira árida e gelada. A começar pela ausência de nomes aos personagens. Não há calor no mundo ao redor de ambos os protagonistas. Não há calor entre eles. Seus diálogos são frios e o destino deles é incerto. O menino, mais jovem no livro, pergunta constantemente ao pai, o que os difere daqueles que os perseguem.


Estrelando Viggo Mortensen no papel do pai, é difícil imaginar melhor escolha para o papel. E de fato ele proporciona uma atuação impressionante, mesclando-se ao ambiente árido e frio. Entretanto, com grandes nomes marcando presença em pontas, a atuação de Mortensen é ofuscada pelo desempenho assustador de Robert Duvall, irreconhecível como o velho que pai e filho encontram na estrada.


O maior problema do filme é sua tentativa quase constante de criar calor entre os personagens ou situações, coisa que não existe no livro de McCarthy. Uma das obras mais difíceis de se ler, criou uma tentativa frustrada de apresentar emoção entre o homem e sua esposa (Charlize Theron) ou ele e seu filho.


Não que isso seja errado. Mas neste caso, na tentativa talvez de, "poupar" o espectador de um filme que seria quase insuportável de ser assistido, Hillcoat e o roteirista Joe Penhall tentaram criar uma coisa que não deveria existir. O fogo, aquele que o menino carrega juntamente de seu pai, é uma chama pequena e trêmula, mas seu poder torna-se maior durante as páginas do livro, justamente pela ausência de quaisquer outras formas de luz.


E infelizmente, A Estrada perdeu a mensagem mais importante que havia no livro, e que o tornava uma das obras de ficção mais avassaladoras e emocionantes da história recente. O fogo é fraco, sua chama é baixa, trêmula e seu brilho, pequeno. Contudo, enquanto o mundo se foi, apagado pelo inverno, pela secura e pela violência, o fogo que mantém acesa a alma da humanidade continua aceso.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um aloprado à beira de um ataque de nervos



Filme dirigido por Martin Scorcese e estrelado por Leonardo DiCaprio, é, infelizmente, um dos filmes que não devem ser assistidos duas vezes.




Baseado em um romance de Dennis Lehane, Ilha do Medo (Shutter Island, EUA, 2010) foi adaptado para os cinemas pelo consagrado diretor Martin Scorcese, com um elenco de peso que incluia Leonardo Di Caprio, Mark Ruffallo, Ben Kingsley, Michelle Williams e Max Von Sydow.


Em 1954, um oficial federal chamado Ted Danniels (DiCaprio) é enviado até Shutter Island para investigar o misterioso desaparecimento de uma mulher chamada Rachel. O lugar é uma instituição psiquiátrica de segurança máxima que fica em uma Ilha no estilo de uma história de Alexandre Dumas, responsável pelo tratamento dos criminosos insandecidos mais violentos e rejeitdaos pela sociedade e outros sistemas carcerários.


Juntamente de seu parceiro, Chuck Aule, Teddy irá desvendar segredos obscuros em Shutter Island, que envolvem mais do que a irresponsabilidade dos médicos e seguranças que deixaram a fugitiva em questão escapar, mas a possibilidade de experimentos científicos com os prisioneiros, e outras coisinhas sórdidas.


O diretor do local, John Cowley, interpretado por Ben Kingsley, é desde cara o tipo de sujeito que não deixará dois oficiais federais estragar, seja lá qual for o objetivo que ele está tentando alcançar. E durante toda a "peregrinação" pelha ilha do medo, Teddy e Chuck irão de deparar com uma série de mentirosos e seguranças psicopatas, que estão escondendo um segredo profundo e assustador dentro do hospital.


Ainda que possúa uma premissa muito interessante e fiel ao livro de Lehane, responsável por trabalhos como Sobre Meninos e Lobos (adaptado por Clint Eastwood), o filme que começa muito bem, proporcionando um clima tenso e atmosférico, vai descarrilhando rumo ao final.


Mas nada comparado ao que acontece nos últimos trinta minutos da obra.


Já é de longa data a mania de Hollywood de criar filmes com reviravoltas "inteligentes" no final. M. Night Shyamalan fez isso em O Sexto Sentido e deu certo. Abusou muito nos filmes posteriores e deu errado. Tony Gilroy usou e abusou disso em Duplicidade e funcionou também, mas Martin Scorcese, embora seja um diretor talentoso e conceituado, não é nem M. Night Shyamalan nem Tony Gilroy. E muito menos Alfred Hitchcock, ou seja lá que mais ele se inspirou para fazer o filme.


O que é uma pena. Durante grande parte do filme, ele parece seguir por uma trajetória muito promissora, mas depois desencana numa reviravolta que pode surpreender os mais desatentos, mas desapontar - e muito - aqueles que prestaram mais atenção em certos aspectos fundamentais do filme.


E ainda que funcione de alguma forma em ambos os casos, torna o filme impossível de ser assistido uma segunda vez, sem que as improbabilidades tornem-se palpáveis e as incoerências insuportáveis.


Isso não é culpa inteiramente de Scorcese. Aliás, mérito dele por tentar criar algo diferente do gênero do gangsterismo, o qual ele está acostumado. Tanto Lehane quando o cineasta, falharam em aproveitar ao máximo o que uma trama "mais simples" podia oferecer, voltando-se para a reviravolta. O problema de tal recurso, é que ele tende a criar o "efeito rebobina", no qual o espectador (se for do tipo observador), irá procurar ao longo da memória, todos os detalhes da trama que poderiam ter entregue o final mas não entregaram (ou entregaram).


A direção de Scorcese é falha, e é incapaz de manter o espectador na ponta da cadeira, criando um clima de medo e suspense. Desde o começo do filme, é óbvio que o personagem de Di Caprio está derrapando entre os limites da lucidez e da insanidade e conforme o filme passa, ele se torna mais um aloprado à beira de um ataque de nervos, do que um oficial federal que seria chamado para uma instituição repleta de loucos. Só não sabemos por que ele está assim. Uma direção mais sóbria e uma atuação menos intensa por parte do ator principal, poderiam ter feito a diferença na hora de criar o impacto indesejado.


Mas não em costurar os furos do roteiro/livro, que é quase uma peneira de impossibilidades. Entretanto, o livro possui um clima muito mais ágil e bem humorado, que faltou ao filme, por opção do cineasta ou da roteirista Laeta Kalogridis, que providenciou o roteiro. Estes elementos poderiam ter criado um clima ainda mais envolvente, que só é providenciado pelo ótimo trabalho de produção e pelo soberbo trabalho de fotografia de Robert Richardson.


O elenco ainda é bem aproveitado, com boas atuações de Kinglsey, Ruffallo, Von Sydow e Michelle Williams, como a falecida esposa de Teddy, que aparece em flashbacks. Outras participações, como as de Elias Koteas e Jackie Earl Haley tornam Ilha do Medo uma das obras com o melhor elenco dos últimos anos.


Ao cineasta Martin Scorcese sempre faltou sutileza, algo necessário para um filme de suspense, cuja trama vai se desenrolando até o final - ou não. Ao roteiro e ao livro, faltaram consistências que permitissem o resultado final, ser plausível.


Ilha do Medo ainda é um filme envolvente que mantém o espectador relativamente preso numa trama que parece ser bem elaborada, mas não é. É divertimento descompromissado para quem só quer se sentir angustiado durante duas horas e pouco. Mas para quem quer algo mais inteligente, existem opções melhores. Para quem gostou da primeira vez, melhor não ver a segunda.

O tubarão e o pato





Filme estrelado por Mark Wahlberg e Chrisitan Bale narra a trajetória do lutador Micky Ward com incrível humanidade e realismo.



Um dos 10 indicados ao OSCAR 2011, O Vencedor (The Fighter, EUA, 2010) vai de um festival de improbabilidades, começando pelos seus dois protagonistas, a um dos melhores filmes do ano, em um dos melhores anos da história recente.

Micky Ward (Mark Wahlberg) tem uma carreira medíocre como pugilista proficional, ministrado pela sua mãe (Melissa Leo) e treinado pelo seu irmão, Dicky Eklund (Christian Bale), um ex-lutador que tornou-se viciado em crack.

É quando ele perde uma luta transmitida pela ESPN, que Micky decide dar um novo rumo à sua vida e sua carreira, desistindo de lutar e começando um relacionamento como uma barman, Charlene Fleming (interpretada por Amy Adams).

Depois de algum tempo sem lutar, Micky começa a treinar novamente, mas sem a tutela do irmão, Dicky que foi preso pela 27ª vez, por roubo, tráfico e agressão a um policial.

Após vencer sua primeira luta em muito tempo, Micky entra em conflito com a família, após o retorno do irmão da prisão, ao mesmo tempo tendo uma levantada meteórica, no maior estilo Rocky Ballboa ou neste caso, James J. Braddock, cujo retorno virou o filme dirigido por Ron Howard, A Luta Pela Esperança.

Com tantos filmes clássicos do gênero, O Vencedor precisaria de algo a mais para ficar no mesmo patamar, com um dos grandes filmes sobre pugilismo.

Guiado por um diretor acostumado com comédias, David O. Russell assumiu o comando de um projeto que possúia tudo para dar errado, mas deu certo.

A começar pelo protagonista Mark Wahlberg, o pato que se transformou em tubarão dentro de Hollywood. Nascido em Boston, o ator de 39 anos nunca foi um ator digno de muito crédito, passando de filmes ruins em filmes ruins e sendo condecorado com uma indicação ao "Framboesa de Ouro" de pior ator por seus trabalhos em Fim dos Tempos e Max Payne. Sua única indicação ao OSCAR foi pelo trabalho meramente impressionante em Os Infiltrados de Martin Scorcese, no qual engordou 16kg, para interpretar um policial em Boston.

Entretanto, quando voltou-se para a produção, sua carreira pareceu deslanchar e pouco a pouco ele tornou-se um tubarão dentro de Hollywood. Produziu séries de sucesso como Entourage e Em Terapia e este ano ganhou o Globo de Ouro de Melhor Série Dramática, por Boardwalk Empire, juntamente de seu colega-diretor, Martin Scorcese.

Por trás das câmeras e na frente delas, em O Vencedor, Wahlberg, agora ator/produtor, encontrou um dos melhores - senão o melhor - papéis de sua carreira, interpretando o lutador que se reergueu das cinzas. Contudo, acabou sendo engolido por um festival de atuações espetaculares, que começam com seu amigo, Christian Bale, que aceitou só aceitou o convite graças a Walhberg.

Bale começou como grande promessa mirim, no drama de guerra Império do Sol, dirigido por Steven Spielberg em 1987, mas durante muito tempo, não vingou. Sua arrancada começou após o destaque crítico de Psicopata Americano em 2000. Sua chance de ouro então apareceu quando Christopher Nolan o escalou para ser o novo Batman, em Batman Begins e O Cavaleiro nas Trevas, sucesso estrondoso de bilheteria e crítica por todo o mundo.

Ele imediatamente tornou-se o queridinho de Hollywood para estrelar grandes produções, assumindo o papel de John Connor em O Exterminador do Futuro - A Salvação e colocando-se no patamar de Russel Crowe, no violento Western, Os Indomáveis.

De pato para tubarão, Bale despencou novamente para pato, após desferir uma quantidade recorde de obscenidades que pararam no Youtube, nos sets de filmagem de Exterminador do Futuro. Sua chance de retornar aconteceu quando o convite para interpretar Dicky Eklund, irmão de Micky Ward apareceu.

E Bale estraçalhou o tubarão Wahlberg, com uma interpretação fora do comum, e comparável à de Heath Ledger como o coringa de Cavaleiro das Trevas (no qual Bale também atua). Conquistou sua primeira indicação ao OSCAR e possivelmente sua primeira vitória também. Mas o mérito não é somente dele.

David O. Russel foi primoroso em uma direção humana e delicada, que retrata os momentos mais íntimos da família de Micky, colocando seus atores em papéis espetaculares e desempenhos incríveis. Entretanto, sua visão do protagonista é a de um personagem sem personalidade, ou pelo menos alguém que é engolido em todos os aspectos pelos outros atores como Christian Bale, Melissa Leo e Amy Adams, e também pelos seus respectivos personagens.


No fim, O Vencedor cai no mesmo problema visto em A Origem. Apesar de ambos os filmes serem ótimos, acabam sendo infiéis às suas propostas, neste caso, a de mostrar a história de superação de Micky Ward. Há constantemente um embate entre personalidades muito fortes. Seja da mãe ou do irmão de Micky com sua namorada, ou da mãe de Micky e seu irmão, ou de Micky com o seu irmão. EContudo, em todas as ocasiões, o personagem interpretado por Mark Wahlberg desaparece na sombra de seus conterrâneos.

Entretanto, apesar de seus problemas, o filme ainda assim é um dos melhores do ano. Instigante, envolvente e emocionante, mesmo que o sentimento não seja relacionado ao seu personagem principal, visto como inseguro, imaturo e incapaz. Mas pela destreza de seus roteiristas e um desempenho espetacular dos atores coadjuvantes, o filme conquistou merecidamente um lugar de destaque como um dos melhores filmes de 2010 e do gênero do boxe.

Contudo, quem foi derrotado foi o tubarão Wahlberg. E quem venceu foi o pato Bale.