sexta-feira, 8 de julho de 2011

Como tudo é pequeno...




Arrietty dos estúdios Ghibli, é mais uma de suas maravilhosas e emocionantes narrativas fantásticas, que nos lembram que as portas para a fantasia ainda existem.



Arrietty (Kari-gurashi no Arietti, JAP, 2010) é uma menina de quatorze anos que vivem em um submundo mínusculo debaixo de uma casa numa província do Japão chamada Konagei, a oeste de Tókio. Ela vive com seus pais em uma casinha não muito maior do que uma caixa de sapatos. Os pequeninos tem mais ou menos a altura que lhes convém a capacidade de viver numa casa de bonecas, roubando pequenos utensilhos humanos como presílias, alfinetes, comida e tudo o mais que lhes for útil.
Durante uma de suas escursões com seu pai, ela acaba sendo descoberta por um menino habitante da casa. O garoto sofre do coração, e vive com a avó, uma velha rabujenta e uma gata gorda, e não tem o menor medo dos pequenos habitantes.


Daí, obviamente mas não menos interessante, nasce um amor impossível, como aliás, é de costume na maioria dos filmes Ghibli. Isso não torna a narrativa menos emocionante, ou menos melancolica. Do amor que brota entre a jovem Arrietty de cabelos ruivos e o garoto habitante da casa, brota também o perigo: a velha rabugenta procura desesperadamente os pequeninos e acaba raptando a mãe de Arryetty. Começa então, uma busca implacável para resgatá-la.


Adentrar no universo dos pequenos seres habitantes da casa, é como entrar em um conto de fadas. Tudo é lindo e colorido, e o olhar apurado do diretor estreante, Hiromasa Yonebayashi, mostram como é dura a vida das criaturas pequenas, em sua tentativa de sobreviver a pragas como ratos, gafanhotos, corvos ou mesmo uma gata gorda e sem vergonha.


A história é baseada em um romance da autora Mary Norton, chamado The Borrowers e você já deve ter visto algo semelhante em Os Pequeninos (1997), estrelado por John Goodman. Entretanto, o universo daqueles que vivem entre as frestas das paredes, debaixo do chão ou dentro dos armários não nasceu para ser contada na forma de pessoas de verdade, e é na animação que ela encontra seu próprio lar.


O filme retém todas as qualidades e características de um filme Ghibli: a animação é impecável, com o mínimo de recuros digitais possíveis. Os movimentos são fluídos e os detalhes transbordam. Desde um prego usado como bengala, a um alfinete usado como arma, todos os objetos que consideramos desncessários ou ínfimos, ganham novas proporções no mundo de Arrietty.


A música é composta por Cécile Corbel embora apresente momentos muito bonitos e delicados, não foi feita para sustentar momentos de suspense, ou proporcionar temas memoráveis. Mas ainda assim cumpre bem a sua função.


Arrietty é mais uma das grandes personagens das animações Ghiblenianas. De Shihiro, Kiki, Mononke, Chita e Nausicaa, são as personagens femininas quem conduzem a ação, e, embora mantenham sua feminilidade, esbanjam coragem e força nos momentos necessários.


Isso não significa que não haja personagens masculinos na trama. O menino habitante da casa também sabe agir quando necessário, e será fundamental para a sobrevivência de Arrietty e sua família. Devido a sua condição física, suas ações são um tanto sonolentas, o que dá - de vez em quando - vontade de dar um chute em sua cabeça, como Ikari Shinji mereceu em incontáveis vezes durante a saga Evangelion. Entretanto, ao contrário do piloto de robôs do cineasta Hideaki Anno, aqui, o garoto possui força e coragem, embora seu coração seja fraco.


Os fundadores do estúdio, Hayao Miyasaki e Isao Takahata nasceram em 1941 e 1935 respectivamente. Conforme a velhice finalmente os abate, novos cineastas como Yonebayashi (de 36 anos), aparecem para tomar o seu lugar. Mas não se assutem, o futuro da Ghibli está em boas mãos. Arrietty foi assistida por 7,5 milhões de pessoas no Japão; um recorde.


Apesar do tropeço de Goro Miyasaki, Tales from Earthsea, o estúdio conhecido por proporcionar animações memoráveis, parece ter acertado a mão mais uma vez. E já não era sem tempo. Em um ano repleto de continuações, um pouco de originalidade sempre é bem vinda. E apesar de Miyasaki estar planejando adaptar essa história há 40 anos, ela continua se mantendo atual, como provavelmente sempre será.


Afinal, somos todos pequenos quando confrontados com alguma coisa maior do que nós. Mas o coração do Homem, embora frágil, é imenso.

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