domingo, 27 de janeiro de 2013

A melhor de todas as noites




Quem me conhece, sabe que não costumo me emocionar demais vendo filmes ou lendo livros. A verdade é que dizem que tenho uma pedra de gelo no lugar do coração. Quando ouço isso, eu rio, me diverte. E é por isso que hoje venho trazer uma resenha sobre um dos poucos filmes que conseguiu derreter meu coração gelado e me fez chorar feito uma criancinha. O filme é o pouco conhecido longa-metragem de 2009, Em Busca de Uma Nova Chance (The Greatest, EUA, 2009). Trailer no final do post.
Verdade seja dita, estava em uma maratona de filmes dramáticos com minha irmã e quase morri desidratado de tanto chorar (ok, ok, exagero meu) depois de assistir a esse filme, logo após assistir Tão Forte e Tão Perto (que logo mais também estará resenhado neste blog). E devo dizer: odiei Em Busca de Uma Nova Chance pelo simples fato de ter adorado o maldito! Ele me fez chorar e eu ainda gostei de cada minuto. Damn you, Susan Sarandon!
A história gira ao redor da família Brewer, que perde o filho mais velho em um acidente de carro. O jovem de 16 ou 17 anos, chamado Bennett (Aaron Taylor-Johnson de Kick Ass), morre no acidente enquanto sua namorada quase não sofre ferimentos. Então começamos a acompanhar o sofrimento da família Brewer: o pai, Allen (Pierce Brosnan) é um professor que se culpa por não ter expressado seus sentimentos pelo filho recém-falecido; a mãe, Grace (a bendita da Susan Sarandon), que chora todo o tempo, ignorando a dor dos outros e apenas querendo manter a memória do filho viva, seja não tocando em seus pertences ou interrogando os médicos e testemunhas sobre os últimos minutos de vida do garoto; e o irmão caçula, Ryan (Johnny Simmons), que afirma ter odiado o irmão, mas se afunda nas drogas e passa a frequentar um grupo de apoio a pessoas que perderam parentes. E, não bastasse o palpável drama da família, surge ainda a namorada de Bennett, Rose (a ótima Carey Mulligan), grávida do garoto falecido e pedindo abrigo.
Nota-se logo que drama é o que não falta nesta história, mas não vou dar mais spoilers. Esse filme caiu no meu colo e simplesmente me apaixonei por ele, por sua sensibilidade, por seu toque delicado e bonito. O elenco de peso ajuda, é claro. Fazia tempo que Pierce Brosnan não me convencia tanto em uma atuação. Susan Sarandon, é claro, é espetacular e leva lágrimas aos olhos só com um olhar ou uma frase. O novato Johnny Simmons mostra que sabe o que está fazendo na cena em que finalmente se abre com o grupo de apoio (me fez chorar feito um bebezinho, o desgraçado). E claro, Carey Mulligan, espetacular e extremamente grávida. O jovem Aaron Taylor-Johnson pouco aparece, é verdade, visto que morre na primeira cena, mas mesmo assim é ótimo quando aparece nos flashbacks. Um trabalho espetacular do elenco todo, sem contar a trilha sonora – feita especialmente para fazer as lágrimas caírem – e uma fotografia no ponto ideal.
O nome original do filme é The Greatest. Isso porque em um flashback Bennett pergunta à Rose sobre o que ela diria se lhe perguntassem sobre aquela noite. A noite em que ficaram juntos pela primeira vez. E essa é a resposta dela: “The greatest”. Também é nesta noite que o rapaz perde a sua vida. Sim, mais lágrimas. Assisti a este filme nos primeiros dias de 2013. Aposto que até o final do ano, continuará no topo da minha lista de dramas favoritos do ano. Imperdível.
"Em Busca de Uma Nova Chance". Título original: "The Greatest". Ano: 2009. Nacionalidade: EUA. Diretor: Shana Feste. Roteiro de: Shana Feste. Produzido por: Pierce Brosnan, Anthony Callie, Doug Dey, Ron Hartenbaum, Aaron Kaufman e Douglas Kuber. Estrelando: Carey Mulligan, Aaron Taylor-Johnson, Pierce Brosnan, Susan Sarandon e Johnny Simmons. Música de: Christophe Beck. Duração: 99 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,5/10.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

¡Vamos a decir que NO!



No, novo filme de Pablo Larrain ("Post Mortem") é, acima de tudo, didático. Serve como uma boa aula de história, serve para futuros publicitários, serve para os cinéfilos de plantão, enfim, tem mil e uma utilidades. Além, é claro, de ser um puta dum filmaço. Não é nenhuma obra-prima do cinema latino, sosseguem. Mas é um daqueles filmes que você sente prazer em assistir, mesmo sabendo do final.

"No" mostra os bastidores do plebiscito que pôs fim à ditadura militar chilena. O povo tinha duas opções: votar SIM pela permanência de Pinochet no poder ou votar NÃO pelo fim do regime. As pessoas estavam desanimadas, muitas pretendiam nem se dar ao trabalho de sair de casa para votar. O plebiscito, para muitos, era uma fraude. A vitória do SIM estava praticamente garantida - e os próprios milicos tinham certeza absoluta de que Pinochet permaneceria governando o Chile. Mas é isso que dá cantar vitória antes do tempo. René (Gael Garcia Bernal), um publicitário bem-sucedido, foi convidado a integrar a equipe criativa da campanha pelo NÃO e a transformou da água para o vinho. E adivinhem só: deu certo!

Não pensem que estou entregando o final do filme. O interessante mesmo é ver como as coisas caminham até a vitória da oposição. E, acreditem, há momentos que a gente até esquece que o NÃO vence e torcemos para que os publicitários façam uma campanha superior a do SIM. E vibramos quando percebemos que o trabalho está surtindo efeito!

Não fosse "Amour" o franco favorito a levar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para casa, "No" teria boas chances. É um pequeno grande filme, filmado em uma abordagem quase documental e com um trabalho de fotografia fora de série. Ágil, bem amarrado e muito, mas muito interessante tanto para quem gosta de publicidade e história, como para os que amam cinema de qualidade.



Por Vinícius De Vita

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Amor

Obra-prima do diretor Michael Haneke, Amor é o melhor filme do ano

Georges e Anne são um casal octogenário que mora em um apartamento elegante na França. Os dois foram professores de música durante a maior parte de suas vidas e possuem uma filha que também trabalha na área musical e que mora na Inglaterra com seu marido. É mais ou menos isso que sabemos sobre o casal, além do amor que eles possuem um pelo outro.
Na cena de abertura, bombeiros abrem a porta do apartamento à força, para descobrir o corpo de Anne no quarto envolto em pétalas de flores decadentes. Seu corpo estivera lá por muito tempo e não sabemos onde seu marido está. A cena corta para uma apresentação musical na qual nunca vemos o palco. Um piano começa a tocar e em meio ao público que assiste, está o casal. É a primeira vez que vemos os dois juntos.
O diretor austríaco Michael Haneke está acostumado a fazer filmes que tratam sobre violência. É um trabalho sujo, mas alguém tem que fazê-lo. Os 20 e tantos anos de carreira no cinema renderam filmes enigmáticos como Caché e perturbadores como Violência Gratuita e A Fita Branca. Também renderam duas Palmas de Ouro. Uma por A Fita Branca e a outra por Amor.
Haneke é inteligente, cruel e manipulativo. Com ele as coisas nunca são tão simples. Nós nunca vemos o piano que está sendo tocado, seu olhar é focado para algo mais objetivo. Juntos, Anne e Georges são a definição da integridade e da dignidade. Ambos os atores, Jean-Louis Trintignant e Emmanuele Riva estão com mais de 80 anos (Trintignant tem 82 e Riva 85) e foram incumbidos com os papéis mais corajosos de suas carreiras.
A dignidade desaparece quando Anne tem um derrame. Caberá a seu marido, Georges, cuidar da esposa que sucumbe à doença da era moderna, enquanto seu corpo e sua mente vão lentamente se deteriorando até que os maiores traços de sua personalidade desaparecem debaixo de lençóis e edredons de uma cama.
Trintignant e Riva foram dois astros do cinema francês na época de sua juventude. Os traços da beleza galântica desapareceram com a idade, mas a experiência e o amor pela profissão permaneceram. E são colocados à prova neste filme, com toda a força de um trem em alta velocidade.
O papel de Haneke não é chocar. Deixe isso em seu devido lugar com Violência Gratuita. O que temos, no entanto, é um relato profundo e sincero sobre a união de um casal que passa por dificuldades do mundo contemporâneo. Esse tipo de beleza e poesia é algo raro na filmografia do diretor, mas o resultado não é menos emocionante. Ou perturbador.
Amor é uma montanha-russa de emoções. Quieto, belo e devastador. O que sobra no fim é uma realização súbita e indubitável de que o futuro da vida de qualquer pessoa pode terminar com os bombeiros arrombando a porta. Não há como negar. Estamos aqui só de passagem. 
Por Roberto Fideli.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um conto de redenção



Pode parecer uma ficção científica simplista e bobinha, mas esse não é o verdadeiro cerne do filme A Outra Terra (Another Earth, EUA, 2011). É verdade que o filme gira em torno de um plot sci-fi: os astrônomos descobrem um novo planeta, uma Terra 2, na nossa galáxia. Ao que parece, o planeta estava escondido atrás do Sol, mas agora é visível. E tem mais: este planeta é um planeta espelho da nossa Terra. Isso significa que até certo ponto, tudo que aconteceu no nosso mundo, aconteceu naquele outro também. Há cópias nossas vivendo vidas iguais ou diferentes naquele mundo. Segundo os cientistas, os planetas eram reflexos perfeitos um do outro até o momento em que se avistaram simultaneamente. Neste segundo, então, o efeito espelho foi quebrado e nossas cópias da Terra 2 começaram a diferir em decisões com relação a nós. É ou não é um bom enredo?
Acontece que este enredo na verdade é apenas o pano de fundo deste filme, dirigido pelo estreante Mike Cahill. A história mesmo é focada em Rhoda Williams (a ótima Brit Marling), uma jovem que ama astrofísica e conseguiu entrar no concorridíssimo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em português). Acontece que a moça se distrai da direção quando ouve pelo rádio a notícia sobre a Terra 2 e, ao olhar para o céu em busca do planeta que recentemente se tornou visível, acaba causando um acidente que destrói uma família: tirando a vida de uma mulher grávida e de seu filho de 5 anos, além de deixar o pai e marido, John Burroughs (William Mapother, o Ethan de Lost) em coma por anos. Quando finalmente sai da cadeia após cumprir sua pena, Rhoda se emprega como faxineira no colégio, ao mesmo tempo em que acompanha, fascinada, os primeiros contatos com a Terra 2. Logo descobre que o homem que quase matou, saiu do coma e inicia uma relação com ele, no intuito de se desculpar. Tudo isso ao mesmo tempo em que resolve participar de um concurso que vale uma viagem para a Terra 2.
Embora seja um filme de apenas uma hora e meia de duração e muita coisa aconteça no decorrer da história, não é um filme apressado. Há longos silêncios de contemplação do céu e um clima de introspecção e melancolia permeando toda a segunda parte do longa-metragem.
Quando me propus a assistir a este filme, esperava uma ficção científica fraca e divertida e não essa obra sensível, tocante e cheia de reflexões. A questão de haver um planeta reflexo é mero panorama de fundo pra uma discussão humana muito mais interessante. É uma história sobre redenção, sobre aceitar os erros e aprender a conviver com eles, sobre tentar deixar as coisas certas. E, neste ponto, alcança um êxito poético.
"A Outra Terra". Título original: "Another Earth". Ano: 2011. Nacionalidade: EUA. Diretor: Mike Cahill. Roteiro de: Brit Marling, Mike Cahill. Produzido por: Tyler Brodie, Paul Mezey, Mike Cahill, Brit Marling e Hunter Gray. Estrelando: Brit Marling, William Mapother, Matthew-Lee Erlbach e Meggan Lennon. Música de: Fall On Your Sword. Duração: 92 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 8,5/10.