domingo, 21 de agosto de 2011

É Grande, Feio e Vem Vindo na Nossa Direção




Super 8 marca a primeira parceria do diretor J.J. Abrams e do produtor Steven Spielberg. Com um pouco de sorte, essa parceria se extenderá por muitos outros anos.



Crescer é um processo difícil na vida de qualquer criança. Os hormônios, as mudanças físicas, as garotas, a sensação de estar perdido em um universo muito maior do que você mesmo. Isso tudo se torna muito mais complicado com o desaparecimento da figura materna. Figura inexistente em Super 8 (Super 8, EUA, 2011), nova produção cinematográfica dirigida por J.J. Abrams e produzida pelo seu mentor, Steven Spielberg.


Joe Lamb (Joel Courtney) é um garoto de uns doze anos que acabou de perder sua mãe em um acidente numa indústria química da pequena cidade de Líllian. Quatro meses depois, o verão chega anunciando as férias e Joe prepara-se para ajudar seu melhor amigo Charles (Riley Griffiths) a terminar um filme de zumbis.


Durante uma das filmagens, Charles convida a jovem e bela Alice Dainard, (Elle Fanning, a muito melhor e mais bonita irmã de Dakota Fanning) que também não possui mãe, para filmar uma cena numa estação de trem. Entretanto o que parece ser apenas uma noite divertida entre amigos se torna numa das sequências mais espetaculares da história do cinema quando uma caminhonete entra nos trilhos e dá de frente no trem que está passando. Trem que, conforme grupo de amigos composto por 6 espetaculares atores mirins descobre, está carregando alguma coisa misteriosa.


Não é muito depois disso que estranhos eventos começam a acontecer na pequena cidade de Líllian. Motores, cabos de energia elétrica e pessoas estão desaparecendo, buracos estão surgindo dentro de garagens e o delegado Jackson Lamb (Kyle Chandler), pai de Joe, tenta resolver a situação enquanto a força aérea americana - detentora da carga do trem que descarrilhou - se nega a dar explicações.


Super 8 é o tipo de filme que lembra as antigas produções cinematográficas de ficção científica dos anos 70 e 80. Bons tempos em que Os Gunnies, E.T. O Extraterrestre, e por aí vai, enchiam as telas dos cinemas com um grupo extraordinário de crianças que se viam no meio de uma situação extraordinária.


Aqui não é diferente. O grupo de garotos composto por Joe (o corajoso), Charles (o mandão), Alice (a brava), Cary (o piromaníaco interpretado por Ryan Lee), Martin (o medroso que chora e vomita o tempo todo estrelado por Gabriel Basso) e Preston (o razoavelmente inteligente, interpretado por Zack Mills), vê seu mundo mergulhar no caos, e eles - somente eles - serão capazes de salvar o mundo da coisa grande e feia que está aterrorizando sua cidade.


Abrams mantém seu estilo de ritmo alucinante apresentado em Star Trek e Missão Impossível III, os outros dois filmes de sua direção. Entretanto, ele soube dozar as cenas de ação, com implacáveis sequências de suspense em que os efeitos sonoros dão a entender que existe alguma coisa muito enfurecida vindo na nossa direção.


Os efeitos visuais são espetaculares, ainda mais para um filme com um orçamento de 50 milhões de dólares (o que para um filme desse tamanho é pouco), cortezia da ausência de grandes estrelas - o que é bom - e a falta de necessidade de construção de grandes cenários, já que grande parte das cenas são filmadas ao ar livre.


A música de Michael Giacchino é a sua melhor composição desde UP Altas Aventuras, que lhe rendeu o OSCAR. Além de proporcionar impagáveis momentos de suspense e ação, também há nela uma beleza singular que carrega o espectador durante os momentos emocionalmente carregados da obra.


É verdade contudo, que o filme às vezes tende a desrespeitar as leis da física, construíndo sequências típicas do cinema hollywoodiano, sem se importar muito se a relidade concorda ou não. A narrativa também apresenta milhões de momentos de clichê, que, apesar de serem bem construídos, podem irritar um pouco os espectadores. O próprio estilo de direção de Abrams se assemelha tanto ao de seu ídolo, Spielberg, que não se sustenta como um estilo próprio. O filme poderia ser dirigido por qualquer um dos dois, que não daria para notar a diferença.


Mas apesar disso, todos os personagens são ótimos, fazendo com que você torça por cada um deles. Os momentos mais intensos de ação são recheados com o mesmo humor que permeia toda a obra, elevando o espírito do filme. E no final, tudo gira em torno de uma história de amor, e das dificuldades do crescimento, ainda mais com a ausência da figura materna, tão especial e impressindível na vida de qualquer um de nós.


Dessa forma, é inegável que essa parceria entre duas das mentes mais 'joviais' que já adentraram os portões do cinema americano, rendeu um dos melhores, mais divertidos e emocionantes filmes do ano. O tipo de obra que faz você se sentir feliz por ter ido ao cinema, sem se importar muito com discussões filosóficas e sigificados profundos da narrativa. E apesar de sua falta de respeito com as leis da física, dos clichês, ou mesmo do final que deixou muitos americanos desapontados, J.J. conseguiu aqui, o que muitos diretores almejam e nem sempre conseguem: deu aos seus personagens...vida.

sábado, 20 de agosto de 2011

A Maldição da Lua Cheia



Sim, Teen Wolf. Exatamente isso que você, caro leitor, está pensando: lobisomens. Acreditem em mim, não fiquei muito mais animado do que você está neste momento em que começa a ler esta resenha. Apesar de assistir a muitas séries, tenho a tendência a no mínimo escolher, de longe, as bem recomendadas e bem criticadas. Não é o caso deste lançamento. Para falar a verdade esta série me foi totalmente contra-indicada sobre todos os aspectos. Por motivos puramente acadêmicos (uhum, Cláudia, senta lá) decidi sacrificar algumas horas do meu suado e idolatrado final de semana em pról do estudo mais aprofundado de séries metafísicas, em especial a esta que se dedica exclusivamente (pelo menos até agora) à mitologia do lobisomem - metade homem, metade lobo.


Antes de iniciar falando sobre o contexto e roteiro, devo colocar uma questão importantíssima: porque diabos lobisomens não suportam usar camisas/camisetas? Alguém aí sabe? Caso alguém possua esse tipo de informação ultra-confidencial, favor me contar nos comentários. Grato.


Questão colocada, vamos à série: o protagonista desta série é o jovem Scott McCall - interpretado pelo ator Tyler Posey, que cá pra nós não é grande coisa em termos de atuação (adendo 1: deve ter sido escolhido pela cara bonitinha, pois realmente está longe de ser bom ator em 90% do tempo) -, um garoto de 16 anos que é ignorado por quase todos em sua escola, apesar de fazer parte do time de Lacrosse da escola. Sim, Lacrosse é o esporte oficial desta série (ponto positivo pela originalidade, já que nunca sequer tinha visto alguém jogando). É verdade que Scott é reserva do time, e tem asma, mas mesmo assim não tem motivo para o isolamento do garoto. É um daqueles típicos adolescentes isolados pelos grupinhos populares. Voltando: seu único amigo é Stiles - interpretado por Dylan O'Brien que provavelmente é o ator mais importante para o desenrolar da série, pelo simples fato de fazer o personagem mais divertido que vi em anos, em qualquer série de TV - um jovem sarcástico, irônico e de língua afiada, que também é reserva do time de Lacrosse e é apaixonado desde a 3ª série pela líder de torcida popular que namora o capitão do time da escola (respectivamente: Holland Roden interpretando Lydia e Colton Haynes interpretando Jackson). Logo no começo do episódio vemos Scott e Stiles invadindo uma floresta em busca de um corpo que a polícia está procurando. Por ser filho do xerife, Stiles soube em primeira mão que apenas metade do corpo de uma garota havia sido encontrado. Eles buscam a outra metade apenas pelo prazer de poder olhar um cadáver de perto. Confusões à parte, se separam na floresta escura e Scott acaba sendo mordido por um animal enorme, que depois viemos a saber, não era um lobo comum.



A partir desse ponto, claro, começa o conflito da série. Com seus novos poderes de lobisomem, Scott vira titular do time de Lacrosse (com velocidade sobrehumana e agilidade de um predador, até eu) além de conseguir impressionar a nova garota que se mudou para a cidade e acaba de entrar na escola, chamada Alisson Argent (Crystal Reed). Com o passar dos dias, Scott percebe que não é tão fácil ser lobisomem quanto Jacob faz parecer: se sua pulsação sobe por algum motivo - raiva, excitação sexual, nervosismo, ansiedade - começa a se transformar quase que imediatamente, colocando as garrinhas de fora, com direito a orelhas pontudas, rosto peludo, caninos grandes e olhos amarelos. (Adendo 2: admito que a maquiagem da série não convence na transformação, além de alguns dos efeitos especiais ficarem meio estranhos). Enfim, para lidar com essas transformações fora de hora, contamos com Derek Hale (o nada mau Tyler Hoechlin, que melhora com o decorrer dos episódios), o lobisomem que encontra Scott na floresta nos primeiros dias e o protege de um trio de caçadores que tentavam eliminá-lo. Este grupo de caçadores de lobisomens é liderado por Argent (personagem sem primeiro nome que é interpretado pelo ótimo JR Bourne) ao qual posteriormente se junta Kate (a incrível e linda Jill Wagner), respectivamente o pai e a tia da mocinha por quem nosso protagonista lupino se apaixonou. É mole ou quer mais?



Essa é a salada mista na qual se desenvolve a história. Reclamações, elogios, lágrimas? Claro que a história possui inúmeras reviravoltas, mas como já reclamaram que costumo spoilear muito nas minhas resenhas, paro de contar sobre a história por aqui mesmo.


Agora você me pergunta, caro leitor, o motivo de eu fazer uma resenha sobre uma série confusa como essa, que nem ao menos tem bons efeitos e maquiagem no que diz respeito a transformações em lobisomem, que meio que é o tema central. E eu te respondo, a atuação dos coadjuvantes. Em especial as atuações de Dylan O'Brien e Melissa Ponzio (Melissa McCall, a mãe de Scott). Dylan como Stiles é genial. Traz uma quantia infinita de humor à série, assim como comentários sarcásticos e uma emoção que falta ao protagonista, sem falar nos diálogos divertidíssimos e extremamente afiados. Não me lembro de nos últimos anos ter visto personagem mais divertido em qualquer outra série. A série em si é engraçadíssima. Apesar de se classificar como "horror, drama, thriller and comedy", a série é totalmente voltada para a comédia, pelo menos em relação aos diálogos e relacionamentos entre os personagens adolescentes. Outra coisa que vale destacar é a ótima química entre Tyler Posey e Crystal Reed, como Scott e Alisson. É um caso tão puro de amor platônico (não unicamente, apesar de nunca chegarem a consumar a relação) que emociona e cria aquela pontinha de inveja nos espectadores solitários e solteiros (leia-se #foreveralone's). É um romance tão bonito que, como se diz na blogosfera, nos faz ter vontade de vomitar arco-íris.


Para finalizar, deixe-me dizer que apesar de não ser uma das melhores séries que já vi, mas também não é de longe a pior. Creio até que tem tudo para ser melhor que algumas séries pseudo-cults e bestas que tem por aí. E a segunda temporada já foi confirmada, além, claro, das seis indicaçõs ao Teen Choice Award. E devo dizer, fazia muito tempo que não passava tantas horas bem gastas rindo sozinho em frente à tela do meu computador por causa de um seriado. Então vamos aguardar a segunda temporada para ver se, de fato, a lua cheia é uma benção ou uma maldição.


Título original: "Teen Wolf - First Season". Ano: 2011. Nacionalidade: EUA. Criado por: Jeff Davis. Roteiro de: Jeff Davis, Monica Macer, Jeff Vlaming, Daniel Sinclair. Produzido por: Tim Andrew, Keith Birkfeld, Christopher Ottinger, Jeff Vlaming. Estrelando: Tyler Posey, Crystal Reed, Dylan O'Brien, Tyler Hoechlin, Rolland Hoden, Colton Raynes, com JR Bourne, Melissa Ponzio, Jill Wagner, Liden Ashby, Orny Adams e Ian Bohen. Número de episódios: 12. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 7,0/10.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Coisas que falam de mistério






Com uma narrativa desconstruída, A Árvore da Vida fala de muitas coisas. Mas ao invés de tratar de assuntos filosóficos ou teológicos, ele transcende o próprio aspecto visual e parte para a poesia.






Terrence Malick desde o começo de sua carreira em 1973 com Terra de Ninguém, sempre foi um diretor voltado para o aspecto visual. Entretanto, seus filmes são marcados por uma tremenda ausência de construção narrativa, diálogos consistentes ou uma edição que componha um filme tal como o conhecemos.


É esse estilo de direção que fez com que ele se tornasse admirado por uns e odiado por outros. Seus dois últimos trabalhos, Além da Linha Vermelha e O Novo Mundo são uma compilação de imagens desconexas sem qualquer autenticidade íntima, sentido ou significado: um exercício cinematográfico quase insuportável de ser assistido.
Seu último filme A Árvore da Vida (The Tree of Life, EUA, 2011) procura, de certa forma, responder as perguntas que compõe as fundações da existência humana. Ousado? Sim. Pretencioso? Com certeza, assim como são todos os trabalhos de Malick. Este talvez mais do que os outros.


Estrelando Brad Pitt e Sean Penn nos papéis principais, o filme narra (se é que essa palavra é cabível) a infância e a vida adulta de Jack O'Brien (Hunter McCraken e Sean Penn). Com a morte de seu irmão, a vida de Jack e sua família (Brad Pitt, Jessica Chastain e seu outro irmão) desmorona, fazendo com que cada um questione seu papel neste mundo, a existência da fé e de Deus.


O filme pode ser dividido claramente em duas partes bem distintas. A primeira dura em torno de quarenta minutos e não possui um diálogo sequer. A obra abre com a notícia da morte do filho da família O'Brien chegando aos seus ouvidos. Questionando a existência de Deus, ou o motivo por Ele ter levado seu filho, é iniciada uma das sequências mais extraordinárias da história cinematográfica que é uma compilação em tom operístico da criação do universo, passando pela formação da Terra, o nascimento dos dinossauros e finalmente nós.


A partir de então, o filme começa a narrar a infância de Jack, desde seu nascimento, o complicado relacionamento com seu pai, extremamente rígidio, passando pro momentos de pura beleza e outros quase insuportáveis.


É praticamente impossível descrever em palavras a proeminência do aspecto visual neste filme. Malick, com a parceria do diretor de fotografia Emmanuel Lubeski, realizou algo nunca antes visto na história do cinema. Algo de beleza tão singela, que permanece na mente do espectador muito após o término do filme. Lubeski, que previamente havia trabalhado com Malick em O Novo Mundo é uma das personalidades mais influentes no desenvolvimento cinematográfico mundial.


Seu trabalho com Alfonso Cuarón (compatriota com o qual ele realizou várias colaborações), Filhos da Esperança, é um dos trabalhos fotográficos mais espetaculares de todos os tempos, com tomadas únicas de até 7 minutos, feitas inteiramente com câmeras de mão. Entretanto, aqui essa fotografia é elevado a um patamar completamente novo: um dos melhores (senão melhor) trabalhos de fotografia de todos os tempos.


Os efeitos especiais são fantásticos, criando as mais espetaculares imagens que, curiosamente, acabam servindo a uma narrativa. Uma narrativa que trata da vida, da morte, da infância, dos relacionamentos entre pai e filho, mãe e filho e entre irmãos, reencarnação e principalmente redenção.


Louise Gluck tinha razão quando disse que nós só olhamos para um mundo uma vez, na infância. Em A Árvore da Vida, realidade e fantasia se misturam criando um mundo que desafia as leis da física e transcende a natureza tentando esplicar - de alguma forma - o espírito humano. Mas não é o tipo de fantasia que estamos acostumados a ver quando assistimos ou lemos O Senhor dos Anéis, As Crônicas de Nárnia e afins. É o tipo de fantasia que nos parece tão real quando somos pequenos, e que, conforme o tempo passa, desaparece.


É necessário cautela com este filme. Os primeiros 20 minutos são monótonos a beira de serem insuportáveis. Malick continua a abusar de seu estilo desencadeado de edição, o que não ajuda a manter uma linha trajetória que mantenha o espectador desperto. É um filme longo e complexo que no fim levanta mais perguntas do que respostas. Mas talvez esse fosse o objetivo desde o princípio. Perguntar o que move o ser humano através da adversidade, e onde Deus manifesta-se ao nosso redor, ao invés de entregar a resposta.


Tanto o poema Nostos de Louise Gluck como o último parágrafo de A Estrada de Cormac McCarthy podem explicar até algum ponto, os dois pontos distintos da obra. Obra que de fato, não é para qualquer um. Mas que empurra os limites da produção cinematográfica a uma nova fronteira, transformando-se em algo completamente diferente de tudo que já se viu.






Olhamos para o mundo uma vez, na infância. O resto são memórias.




- Nostos de Louise Gluck





Antes havia trutas nos riachos das montanhas. Você podia vê-las paradas na correnteza cor de âmbar onde as extremidades brancas de suas barbatanas encrespavam de leve a superfície. Tinham cheiro de musgo na mão. Polidas e musculosas e se retorcendo. Em suas costas havia padrões sinuosos que eram mapas do mundo em seu princípio. Mapas e labirintos. De algo que não podia ser resgatado. Não podia ser endireitado. Nos vales estreitos e profundos em que eles viviam todas as coisas eram mais antigas do que o homem e em um murmúrio contínuo falavam de mistério.




- A Estrada de Cormac McCarthy





Fast Food






Capitão América: O Primeiro Vingador, reúne um grupo de elementos que fazem com que ele seja melhor do que deveria ser.



Normalmente o que ocorre é o contrário. A maioria dos filmes possui um conjunto de elementos que estão reúnidos de forma que dê tudo certo, e então dá tudo errado. E vez ou outra, com um pouco de sorte, filmes com todos os elementos para dar errado, dão curiosamente certo. São quimeras raras ambos, e não aparecem com muita frequência nas telas. Mas Capitão América: O Primeiro Vingador (Captai America: The First Avenger, EUA, 2011), é um desses raros acontecimentos.


A trama é simples. Steve Rogers (interpretado por Chris Evans) é um rapaz pequeno e franzino que é reprovado cinco vezes para alistar-se no exército dos Estados Unidos. Durante uma discussão com seu melhor amigo, que está indo para a guerra, ele é avistado por um cientista alemão em serviço nos EUA, chamado Abraham Erskine (o maravilhoso Stanley Tucci), que vê no rapaz o que os outros não conseguem: sua vontade de fazer o bem.


Dessa forma ele é admitido para participar de um programa chamado Projeto Renascimento, sob a tutela do Coronel Chester Phillips (Tommy Lee Jones). Rogers é então submetido a injeção de um soro que amplia não somente suas capacidades físicas, mas também suas qualidades interiras, e então bombardeado com radiação. Ao emergir de seu casulo metálico construído por Howard Stark, o pai de Tony Stark, ele está com um corpo talhado em mármore, que é a proporção de sua vontade de fazer o bem.


Imediatamente após seu 'renascimento', o laboratório é destruído em um ataque, e os membros do Exército dos Estados Unidos descobrem seu maior inimigo. Johann Schmidt (Hugo Weaving), também conhecido como 'Caveira Vermelha', um cientista da subdivisão de projetos científicos nazistas Hydra, que tem como plano dominar o mundo.


Durante os 124 minutos de duração do filme, os que realmente valem o ingresso são os primeiros 30. Após a incorporação de Rogers no Exército Americano, tudo o que se vê são perseguições implacáveis e sequências de explosões que enchem a tela durante uma hora e meia de filme. São de fato divertidas e não muito cansativas, como ocorreu no último filme de Harry Potter e da trilogia Transformers, mas todos os dilemas e relações humanas são jogadas fora para dar sequência ao duelo mortal entre Steve Rogers e o Caveira Vermelha.


Os efeitos especiais também são mais interessantes nos primeiros trinta minutos. Usando uma técnica semelhante ao de O Curioso caso de Benjamin Button, o rosto de Chris Evans foi colocado no corpo de um adolescente bem magrinho. E é nesse momento em que o filme ganha mais profundidade, especialmente quando Rogers está no carro ao lado da bela Peggy Carter (Hayley Atwell), e vai contado que ele apanhou naquele beco, e naquele outro ali, e atrás daquela lanchonete também.


A relação de Rogers com o doutor Erskine, é uma coisa quase paternal, providenciada por uma atuação sempre perfeita de Tucci. Tommy Lee Jones também providencia ótimos momentos de humor sarcástico, tão característico seu, que funciona bem para contrabalançar as intensas sequências de ação.


Talvez seja justamente a competência de seu elenco que faz com que Capitão América funcione melhor do que deveria funcionar. Mas nem tudo é elenco, obviamente. Mattew Vaugh teve um elenco soberbo no último X-Men e não soube o que fazer com ele. Mas o diretor Joe Johnston, conhecido por seus trabalhos em Jumanji, e Jurassic Park 3, providencia uma direção firme e bem amarrada, que também cria uma certa nostalgia dos antigos filmes de super-heróis que eram passados no cinema, e talvez até do espírito norte-americano que se perdeu e tornou-se enevoado e manchado de sangue conforme o passar dos anos.


É com esse conjunto de elementos, que Capitão América: O Primeiro Vingador torna-se muito melhor do que o esperado, e o melhor de uma leva de não muito boas adaptações de histórias em quadrinhos que encheram as telas dos cinemas este ano (salva-se Thor talvez). E essa é uma linha tênue que beira entre o aceitável e o ridículo. Mas é bom finalmente ter um filme no qual você não sai ofendido do cinema. E esse é crédito de uma perfeita escolha de elenco, principalmente de Evans no papel principal. Mas não se engane. Apesar de todas as suas qualidades, Capitão América ainda é como um 'Fast Food': gostoso, sim. Mas não muito nutritivo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Tesouro dos Homens



Hellboy, O Exército Dourado,
é um mal exemplo de como a fantasia de alta qualidade se distorce sobre o manto comercialista norte-americano, mas possui qualidades que transcendem esses defeitos.

As estatísticas estão contra Guilhermo Del Toro. De sete filmes lançados nos Estados Unidos, 2 esquecíveis, um ousado, um porcaria, um mediano, uma obra prima (O Labirinto do Fauno) e Hellboy 2, O Exército Dourado (Hellboy II: The Golden Army, EUA, 2008). Este último merece um destaque maior.
Muito se esperava do diretor mexicano após o extraordinário sucesso comercial e crítico de sua fantasia adulta, O Labirinto do Fauno, que lhe rendeu a possibilidade de concorrer à estatueta do OSCAR de Melhor Roteiro e Filme Estrangeiro, com 'quase' injustas derrotas para o filme alemão, A Vida dos Outros.
Mas não foi o que aconteceu com a continuação do personagem de histórias em quadrinhos, Hellboy, quem ele havia adaptado já em um filme anterior. Hellboy (Ron Perlman), um demônio vermelho com uma mão de pedra foi incorporado ao nosso mundo pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, ao invés de servir seu propósito e trazer a destruição da humanidade, ele é criado por um professor (John Hurt) e desde então trabalha lado a lado com os humanos livrando nosso mundo dos perigos das criaturas mais fantásticas - e assustadoras - que habitam as entranhas de nossas metrópoles. Nesta sequência, ele e seus companheiros, sua namorada Liz Sherman (Selma Blair) capaz de transmutar-se em fogo, e o fiel companheiro Abe Sapien (Doug Jones) uma criatura aquática azul de aspecto curioso, capaz de ler mentes, devem enfrentar um príncipe do submundo chamado Nuada (Luke Gross) que, enfurecido com a raça humana por ter controlado o mundo acima do seu, decide entrar em guerra. Para tanto, ele desperatá o lendário Exército Dourado, uma compilação de máquinas andróides que uma vez postas em combate, jamais poderão ser detidas.
Com uma trama interessante, efeitos visuais fantásticos e um conceito artístico fora do comum, tudo parecia dar certo para o garoto vermelho. A maquiagem é absolutamente transcendental no cinema norte-americano, cortezia do incrível trabalho já feito em O Labirinto do Fauno. Neste episódio, Del Toro explora mais o conceito fantástico que ele mesmo criou, ousando construir criaturas fora do comum, e de extraordinária beleza, entre elas o próprio príncipe Nuada e sua irmã, Nuala, um Anjo da Morte assustador e um maravilhoso Elemental da Floresta. Todos que se tornaram adversários de um herói pouco merecedor: um vindo diretamente das profundezas do inferno.
A coisa começa a derrapar logo nos aspectos técnicos: a trilha sonora composta por Danny Elfman é tão passável que chega ao ponto de ser ofensiva, tamanho o espaço a ser explorado num filme com o conceito como este.
A partir daí o roteiro de Del Toro perde as rédeas a transforma o que poderia ser uma obra prima numa boba aventura fantástica com um herói pouco carismático e onde todos os protagonistas (sem exceção), tomam TODAS as decisões erradas durante a trama inteira.
Ainda que não necessariamente ruim, Hellboy II, O Exército Dourado, é excessivamente bobo, e deixa a impressão de que foi um tremendo desperdício de talento e perícia técnica que são jogadas fora durante sequências totalmente desnecessárias. A ação, quase constante, também é mal coreografada (ou pelo menos em um nível que lhe permitisse explorar todo o aspecto visual que o filme contém), as piadas ruim, a trilha sonora fraca, os atores principais, Ron Perlman no papel de Hellboy e Selma Blair no papel de Liz, sem o menor carisma ou química, enfim, uma pena. Ainda mais quando comparado ao seu predecessor, o fauno, para quem ele perde em todos os aspectos.
Entretanto, nem tudo são partículas negatívas voando ao redor do talento criativo de Del Toro. Existe uma mensagem mais profunda em Hellboy, que vai além do seu aspecto preservacionista, mais palpável e superficial:
O Príncipe Nuada luta por um motivo. Seu reino foi abandonado e esquecido, e seu povo condenado a viver nas profundezas das cidades que os humanos construiram. Mas não é nas profundezas das metrópoles que as criaturas como elfos, ogros, elementais ou anjos vivem. São nos calabouços das nossas próprias mentes e corações, cujos portões foram fechados à chave pelo chamado amadurecimento. E nesse aspecto o filme transmite muito bem a sua mensagem.