sexta-feira, 13 de maio de 2011

A Redenção [2]




E aqui estou eu de volta, depois de algum tempo sem postar nada, para finalizar meus comentários sobre a brilhante série The Confession, estrelada pelos inacreditáveis Kiefer Sutherland e John Hurt. Como disse na última resenha, que você encontra aqui, que fala sobre a série e sobre os primeiros cinco capítulos, esta é uma websérie que conta a história de um assassino profissional que resolve se confessar com um padre. Na resenha passada, dei um resumo sobre os acontecimentos dos primeiros cinco capítulos desta obra de arte, além das informações técnicas de rotina sobre a produção e filmagens. A seguir irei comentar sobre os capítulos finais desta que se tornou uma das minhas séries favoritas, apesar da curta duração e do número limitado de episódios. Vale a pena dar uma olhada na resenha anterior para se interar mais profundamente sobre os temas abordados e, caso alguém queira, me avise que repassarei o site onde é possivel encontrar essa minissérie incrível.

Já no sexto episódio vemos que nosso matador na verdade é capaz de demonstrar compaixão para com seus alvos. Ele simplesmente deixa um homem viver quando percebe que ele está pronto para morrer por sua esposa e filho, e isso desperta um estranho senso de compaixão o que nos leva, e ao padre, a pensar se a presença do garoto no andar de cima não o influenciou de alguma forma. O flashback seguinte mostra que nosso mercenário não elimina seus alvos apenas fisicamente, em algumas situações eles os destrói psicologicamente e deixa que os próprios alvos estourem seus miolos, como é o caso do homem que roubou o dinheiro de todas as pessoas que investiram com ele, incluindo o contratante de nosso assassino. O personagem de Sutherland sequer precisa puxar o gatilho. Quando convence o ladrão a devolver todo o dinheiro roubado a seus respectivos donos, ele simplesmente vai embora e ouve o disparo ao longe enquanto espera o elevador. A história desenrola um pouco mais e acabamos descobrindo que há um trocadilho desde o início da série no fato de o assassino chamar o padre de padre (father, em inglês), mas que o sentido verdadeiro da palavra é o literal pai (também father, em inglês). A cena da descoberta dessa informação pelo padre é realmente tocante e densa, pelo simples fato de ele ter abandonado o filho ainda criança, depois de espancá-lo e à mãe do garoto inúmeras vezes quando estava bêbado. Ele conta que dedicou sua vida a Deus em uma tentativa de obter perdão por estes pecados que o assombram até hoje. Na cena final da série, nosso matador diz ao padre que é quem e o que é graças ao que aquele homem à sua frente fez a ele, à forma como o tratou. Diz que vai continuar matando e o padre terá que conviver com sua culpa por ter criado um monstro.

Esse tipo de reflexão a que a série nos leva é que realmente importa: até que ponto influenciamos as pessoas ao nosso redor, seja positivamente ou negativamente? Como podemos saber de que forma aquele ato irá agir sobre as outras pessoas? Creio que a partir do momento em que estas reflexões são propostas, estamos uma passo mais perto de nos tornarmos uma raça melhor como seres humanos. A partir deste tipo de preocupação é que a bondade do ser humano vem à tona, por mais difícil que seja de isso acontecer. Sobre a minissérie, bom... é genial, já disse. É uma obra prima que merecer ser assitida, apesar da pouca divulgação, não tenho dúvidas. Inicialmente acreditava que ao final, veríamos a redenção do assassino de alguma forma, mas estava enganado. A redenção que vem com a confissão não era para o assassino e sim para o padre. E ela nunca virá.


Título original: "The Confession". Ano: 2011. Nacionalidade: EUA. Criado por: Brad Mirman. Roteiro de: Brad Mirman. Produzido por: Matt R. Brady, Dave Chamberlin, Joseph Gomes, Maura Mandt. Estrelando: Kiefer Sutherland, John Hurt. Número de episódios: 10. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 10/10.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A Última Fantasia




É hora de subverter histórias infantis, como Chapeuzinho Vermelho. Para tanto, não há opção melhor do que a animação Jin Roh - A Esquadra do Lobo.

É difícil de entender a mania de Hollywood de adaptar histórias infantis para um contexto mais adulto, como aconteceu com Chapeuzinho Vermelho em A Garota da Capa Vermelha (2011), ou mesmo com Alice no País das Maravilhas, na nova adaptação do diretor Tim Burton. Afinal, a maioria dessas histórias que surgiram em algum lugar da França no século XVIII, já são subversivas o suficiente - e com o passar dos anos foram mascaradas e açucaradas.

Chapeuzinho Vermelho por exemplo, acaba com canibalismo, pedofilia e inevitavelmente com a morte da própria Chapeuzinho. Daí, temos a animação Jin Roh - A Esquadra do Lobo (Jin Rô, JAP, 1999), do diretor Hiroyuki Okiura e do produtor Mamoru Oshii (de O Fantasma do Futuro, e Patlabor).
Em um universo alternativo, a Alemanha ganhou a Segunda Guerra Mundial, e assumiu controle político do Japão. Dez anos após o conflito, um membro de uma divisão anti-terrorismo chamada CAPO (que existiu de verdade durante a década de 40), chamado Fuse, fica traumatizado após uma garota terrorista detonar uma bomba - e ela mesma - na sua frente, enquanto Fuse foi incapaz de atirar nela a tempo.

Com isso, o jovem oficial começa a rastrear a irmã da garota, a qual ele também descobre que faz parte da organização terrorista que usa meninas como bombas, chamdas de 'chapeuzinhos vermelhos'. E no processo de procurá-la, e encontrá-la, ele obviamente acaba se apaixonando por ela.

Oshii encadeou uma profunda trama política, com um aspecto psicológico profundo e logicamente, a história de Chapeuzinho Vermelho. A relação aqui é clara. Fuse é um monstro confinado no corpo de um homem, e esse conflito o corrói durante toda a trama. E no processo de auto-descobrimento, Fuse ainda precisa proteger a garota pela qual ele se apaixonou, de uma trama política perigosíssima.

Com uma extraordinária parte técnica, Jin-Roh, em sua época, foi um dos animes mais caros já produzidos. E a parte interessante nisso, é justamente a dualidade existente entre o criador Mamoru Oshii, e o diretor Hiroyuki Okiura: Oshii é um dos maiores intusiastas da inserção da tecnologia nas animações japonesas, o que faz com que seus trabalhos tenham grandes componentes digitais. Já Okiura é completamente averso ao uso de computadores, o que faz Jin-Roh ficar com cara de desenho. O que numa era em que as animações digitais reinam, é um sopro de ar fresco. O filme quase foi indicado ao OSCAR de Melhor Animação, em 2001, mas como já havia sido lançado em DVD no Japão, foi desqualificado.

A animação é fluida, repleta de detalhes e com sequencias de tirar o fôlego. Aliada com a música de Hajime Mizoguchi, Jin-Roh é uma obra completa. Entretanto, sua complexa trama política, recheada de discussões filosóficas, podem confundir o espectador, e as fortíssimas cenas de violência tornam o filme uma obra exclusiva para aqueles de estômago forte.

A Esquadra do Lobo não representa a dualidade entre o bem e o mal. Procura entender o mal e desmascará-lo. A dualidade ocorre entre o homem e a fera. Com imagens marcantes e uma trama inteligente, homem e fera lutam dentro do coração de cada homem, até o final da última fantasia.

domingo, 8 de maio de 2011

Onde foi parar a magia?



A Lenda, de Ridley Scott, é uma das empreitadas cinematográficas de fantasia, mais inusitadas e interessantes de Hollywood.


A Lenda (Legend, EUA, 1985), é um dos primeiros filmes de Ridley Scott, conhecido posteriormente por filmes como Gladiador, Hannibal e Falcão Negro em Perigo. Entretanto, durante o final da década de 70, e meados de 80, Scott se destacou como um dos principais diretores dos gêneros de ficção e fantasia.

Vê-se o talento do cineasta para lidar com a fantasia e o horror, em Alien - O Oitavo Passageiro (1979), Blade Runner - O Caçador de Andróides (1982) e é claro, A Lenda (1985). Isso até ele mergulhar de cabeça no besteirol, e não mais se destacar como um dos diretores mais versáteis de sua geração - vide Robin Hood (2010).

Mas naquela época, há muito, muito tempo, em um reino muito, muito distante, o inglês parecia realmente saber o que estava fazendo. Nessa estranha fantasia, Lili é uma jovem princesa interpretada por Mia Sara, que está loucamente apaixonada por um rapaz que vive na floresta, chamado Jack, interpretado por ninguém menos do que Tom Cruise no começinho da carreira. Ingênuos e imaturos como são, Jack leva Lili para ver unicórnios, as criaturas mais sagradas e belas do mundo. E no processo, a princesa toca um deles, o que é proibido.

Até aqui, tudo parece um desenho da Disney, só que interpretado por pessoas de verdade. E parece MESMO. Os diálogos são hiperbólicos e rimados, e beiram o ridículo. O filme é meigo, e fofo, quase bobo. Isso, é claro, depois que se passam os primeiros quinze minutos.

No momento em que Lili toca o unicórnio, o mundo se transforma em trevas e inverno. Todas as plantas, animais e pessoas - mortais - viram estátuas congeladas em um sono profundo. O mundo se torna um grande pesadelo, dando lugar a figuras assustadoras e demoníacas. Lili se culpa pelo que aconteceu, mas tudo não passou de um plano da Escuridão (interpretado por Tim Curry, numa das personificações do Demônio mais assustadores de todos os tempos), para transformar tudo em noite, e caberá a Jack colocar tudo em ordem novamente. Para tanto, ele se une a um grupo estranho de personagens, que vão de doendes a fadas, e juntos eles partem numa jornada para derrotar resgatar a princesa Lili da Escuridão, e assim salvar seu mundo do interminável inverno.

A Lenda, beira a subversão. O diretor Ridley Scott foi sábio o bastante para manter o tom próximo do humor, para não assustar as crianças com as vizões das horrendas - e espetaculares - criaturas que preenchem a noite. A música de Jerry Goldsmith (que só foi ouvida nos DVD's recentemente lançados, já que o estúdio vetou a trilha sonora que foi substituida pelo grupo Tangerine Dream na década de 80), sustenta o clima tenebroso, especialmente na viagem do grupo de heróis rumo ao inferno.

A obra que não teme usar e abusar das cenas de violência e da fotografia sombria, lembra os tempos em que Hollywood ousava criar histórias plenamente fantásticas - antes do cinema cair na contemporâneidade, assim acabando com muito da magia que outrora existia. Foram poucos os filmes que ousaram permanecer extritamente no universo fantástico. Como a trilogia O Senhor dos Anéis, entre outros. O visual soberbo, é precursor dos filmes de Guilhermo Del Toro, como O Labirinto do Fauno e Hellboy.

A Lenda é um filme estranho, que deve ser assistido de mente aberta. Para os curiosos, vale a pena conferir a performance de um jovem Tom Cruise, praticamente o filme todo com as pernas de fora. Ou simplesmente pelo espetacular visual, que inclui um número musical com uma bailarina sem rosto.

Mas no fim, o que o filme tenta mostrar, é que a magia é um reino que existe dentro do coração de cada pessoa. Durante nossa viagem rumo ao amadurecimento, essa magia se perde, e o caminho para os reinos de Nárnia, da Terra Média, ou de Hogwarts, torna-se cada vez mais oblíquo e nebuloso. Quando tudo o que basta, é abrir a porta.

domingo, 1 de maio de 2011

Au...Au...




A Garota da Capa Vermelha é uma tentativa miserável de subversão da história da Chapeozinho Vermelho, onde o Lobo Mau não assusta a ninguém.

Difícil é acreditar que a selvageria cometida pela diretora Catherine Hardwicke em Crepúsculo (por melhor ou pior que tenha sido o livro), que era possível pior realização, DE QUALQUER GêNERO CINEMATOGRÁFICO. Até, A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood, EUA, 2011).
Numa época medieval onde as pessoas se vestem como astros de rock fracassados, uma pequena vila é assombrada pela figura de um lobisomem, que voltou após uma seca de matanças que durou 20 anos. Desta vez a vítima foi a irmã da protagonista Valerie (Amanda Seyfried). No meio do medo causado pela criatura, Valerie está loucamente apaixonada por um rapaz meio gótico, meio punk, meio sei-lá-o-quê, chamado Peter, interpretado pelo nojentinho Shiloh Fernandez.

E ainda no meio disso tudo, outro rapaz está apaixonado por Valerie (o que neste caso faz sentido), o igualmente nojentinho Henry (Max Irons). Só que Henry é um ferreiro e vem de uma família financeiramente respeitável, enquanto Peter é um simples marceneiro pobre e modorrento. Não é preciso dizer com quem Valerie quer ficar.

Na tentativa de conter a fera desenfreada, o povo do vilarejo faz o que qualquer pequena comunidade em desespero faria: volta-se para uma instituição maior, a Igreja. Dela vêm os cavalos, e os cavaleiros e o Padre Solomon (Gary Oldman, em uma de suas piores atuações). Conforme os homens da igreja procuram pelo lobisomem, que durante o dia assume forma humana, tornam-se oblíquas as linhas que separam o bem do mal. E no processo, todo e qualquer habitante do vilarejo pode ser um lobisomem em potencial, o que é realmente preocupante quando você não se importa.

Em todos os momentos dos 100 minutos da obra, A Garota da Capa Vermelha procura ser uma versão mais moderna de A Vila de M. Night Shyamalan, mas em nenhum momento consegue. Isso não é necessariamente bom, para aqueles que não gostaram da obra do diretor indiano. Ao contrário do filme de Shyamalan, aqui todos os atores estão péssimos, em atuações que beiram o ridículo.

De imediato é possível ver que a cineasta Harthwicke não faz a menor ideia do que está fazendo. Os diálogos são atrozes, a trilha sonora - embora interessante - é totalmente errada para os momentos mais "dramáticos" ou "romanticos" do filme e fora um ou outro momento de boa cinematografia, nada se salva dessa obra.

De certo, A Garota da Capa Vermelha deve agradar aos fãs da saga Crepúsculo, carentes de um romance bobo e açucarado, despido de sentido ou significado, compilado com péssimas atuações, diálogos horríveis e situações incrivelmente mal dirigidas e editadas. E se há alguma surpresa neste filme, não é na descoberta de quem é o lobo afinal, mas do quanto NINGUÉM se importa com quem é o lobo.

A Garota da Capa Vermelha certamente será um dos piores filmes do ano. Uma pacata, pífia, asqueroza e irritante tentativa de subverter um conto infantil que já é mais do que subversivo em suas versões originais. Agora, se o objetivo era transformar a história infantil em algo mais adulto, o filme certamente falhou miseravelmente. Para tanto, obras como a animação japonesa Jin Roh - A Esquadra do Lobo, são opções muito mais interessantes.

Nem tudo são rosas no paraíso



Rio pode ser muito bonito, rico, colorido e divertido. Mas o filme do diretor Carlos Saldanha pega pontos muito importantes da realidade brasileira.

Já foi ressaltado na resenha da revista Veja, escrita por Isabella Boscov, que Rio (Rio, BRA/EUA, 2011) é um sopro de originalidade em um ano onde os estúdios de animação apostaram nas sequências - vide Carros e Kung Fu Panda 2. Embora isso seja absolutamente correto, não é necessariamente o que faz o filme do diretor brasileiro Carlos Saldanha, tão importante e tão diferente.

Blu (Jesse Einsenberg) é uma rara arara azul, que foi roubado de seu habitat natural, o Rio de Janeiro, e levado para uma cidadezinha fria e distante no interior de Minessota, Estados Unidos. Lá ele é encontrado por Linda, na época apenas uma menina, que o adota mais do que como bicho de estimação, mas como companheiro e parceiro. Uma substituição da sociedade que ela tanto procura evitar dentro de sua pequena livraria.

Sendo um de apenas dois exemplares da espécie que está à beira da extinção, Blu e Linda são contactados por Tulio (Rodrigo Santoro), um ambientalista meio atrapalhado que leva ambos para o Rio de Janeiro - que, aliás, é uma cidade MUITO parecida com aquela coisa em Minessota - para acasalar com a bela e furiosa Jewel (Anne Hathaway), onde, obviamente, dá tudo errado.
Ambas as araras são capturadas por um grupo de traficantes de animais que operam nas favelas da cidade e se utilizam de exploração infantil, e dos trabalhos de uma cacatua psicótica chamada Nigel, onde o filme ganha seus ares mais sombrios.

Aliás o que não faltam neste filme são pontadas dolorosas ao descaso governamental brasileiro, que vão desde o tráfico de animais, à exploração do trabalho infantil, entre outras coisas. Onde Saldanha mascara tudo isso para que a obra não fique sombria demais, é no humor, que aliás, é de chorar de rir.

Tudo, aliás, em Rio, é de chorar de rir. A começar pelo elenco de vozes norte-americano que conta com Jamie Foxx, o vocalista do Black Eye Peas, Will I Am, Anne Hathaway, Rodrigo Santoro, Jesse Eisenberg, entre outros, que tiraram de letra - e de forma impressioanante - o ritmo rápido da comédia Saldaniana. Não há um personagem sequer que não seja interessante, coisa que só se vê em obras do diretor japonês Hayao Miyasaki.

O visual espetacular e a música de John Powell são outros fatores que contribuem para a diversão do filme. E como já foi mensionado anteriormente, apesar da obra se tratar de uma declaração de amor ao Rio de Janeiro, o que não faltam são críticas que passam despercebidas aos olhos desatentos, tanto dos americanos quanto dos brasileiros.

A qualidade de uma obra crítica como essa, é rara na maioria das produções de animação, que tendem ao lado mais poético da narrativa - vide os filmes da Pixar, que de vez em quando dão pontadas ao descaso social, como Wall-E. Dessa forma, Rio torna-se uma obra muito mais completa, divertida e interessante do que seu predecessor, A Era do Gelo. E mais do que isso: torna-se um dos melhores filmes do ano.

Todo-Poderoso Thor




Graças a direção de Kenneth Branagh, Thor deixa de ser um filme superficial, para entretenimento de boa qualidade.

É raro ver um filme dos estúdios Marvel ou DC Comics que se destaca de alguma maneira. Aliás, recentemente tem se tornado difícil encontrar qualquer filme de grande orçamento que se destaque de alguma maneira - positiva, diga-se de passagem, pois negativa tem de monte. Alguma coisa sempre escapa, seja no bom ou no mal sentido. Como a profundidade ética/psicológica dos filmes de Christopher Nolan, como A Origem e O Cavaleiro das Trevas, ou o humor patético de Michael Bay em Transformers. Thor (Thor, EUA, 2011) se destaca pelos motivos mais inusitados.

Em termos de narrativa, a obra dirigida pelo inglês Kenneth Branagh, é completamente plana. Branagh é conhecido mais como o galante ator de teatro e cinema britânico, que adaptou, dirigiu e estrelou Hamlet, além de sua aparição divertidíssima em Harry Potter e a Câmara Secreta, como o professor de defesa contra as artes das trevas, Gilderoy Lockhart. Dada a sua filmografia, a babilônica empreitada dos estúdios Marvel parecia completamente fora dos padrões do ator/cineasta. Talvez por esse mesmo motivo que deu certo.

Conhecido pelo seu jeito "Shakesperiano" tanto dentro quanto fora das telas, todos os filmes dirigidos por Branagh parecem sempre um tom acima do adequado. Às vezes isso funciona, como em Hamlet (1996) ou Henrique V (1989). Outras vezes não, como em Frankenstein de Mary Shelley (1994).

Thor (Chris Hemsworth), filho de Odin (Anthony Hopkins), vive no reino mítico de Asgard, visto aqui como um planeta distante (ou coisa do tipo), com tecnologia super avançada que utiliza portais ou pontes, que levam aos reinos secundários, entre eles a Terra. Durante a coroação do jovem e impulsivo prometido ao trono, um grupo de antigos inimigos, os Gigantes de Gelo, adentram aos portões do castelo e tentam roubar uma relíqua preciosa que estava nas mãos dos Asgardianos há muito tempo. Embora seu fracasso fosse previsível, Thor, impulsivo e infantil do jeito que é, viaja ao reino dos gigantes encontrar respostas. No processo, inicia um confronto com o rei Laufey (interpretado maravilhosamente por Colm Feore), e recomeça a guerra que seu pai havia previamente encerrado. Como consequencia, é expulso de seu reino e aterrissa na Terra.

Aqui, no nosso pequeno e pacato planetinha, ele encontra Jane (Natalie Portman), uma astrofísica atrapalhada pela qual ele obviamente se apaixona - e vice-versa. No processo de tentar voltar para casa, ele começa a desvendar segredos por trás da guerra, dos planos de seu irmão, Loki, de usurpar o trono de Odin, e culminamente torna-se um dos defensores do nosso planeta.

Toda vez que a narrativa se passa dentro das fronteiras de Asgard, ou no reino gelado dos Gigantes, o filme é interessantíssimo. Grandes e mirabolantes tramas políticas, aliadas com um elenco muito interessante de coadjuvantes, e um visual belíssimo, mas cafona, fazem com que o espectador fique grudado na poltrona prestando atenção. Entretanto, toda vez que o foco muda para nosso mundo, a trama torna-se chata, besta e desinteressante.

O que é o maior problema de Thor. Infelizmente Branagh não conseguiu conciliar ambas as narrativas de maneira que ambas fossem igualmente instigantes. Ainda que seu principal objetivo fosse criar uma versão repleta de efeitos especiais de Henrique V. Todo o resto funciona. Os diálogos são bons, as atuações são excelentes para um filme desse gênero (especialmente as concentradas entre os muros de Asgard), o visual é ousado, a música é eficaz e a fotografia até se dá ao luxo de abusar de ângulos inusitados, o que pode torná-la interessante ou profundamente irritante.

O que irrita é aquele típico humor bobo dos personagens da Marvel, ou a falta de substância da narrativa e dos personagens "terrenos", interpretados por Portman, Stellan Skarsgard e Kat Dennings. Mesmo assim, é um filme mais do que obrigatório para os fãs do personagem, ou simplesmente aqueles que procuram um pouquinho de diversão descompromissada.