terça-feira, 16 de agosto de 2011

Fast Food






Capitão América: O Primeiro Vingador, reúne um grupo de elementos que fazem com que ele seja melhor do que deveria ser.



Normalmente o que ocorre é o contrário. A maioria dos filmes possui um conjunto de elementos que estão reúnidos de forma que dê tudo certo, e então dá tudo errado. E vez ou outra, com um pouco de sorte, filmes com todos os elementos para dar errado, dão curiosamente certo. São quimeras raras ambos, e não aparecem com muita frequência nas telas. Mas Capitão América: O Primeiro Vingador (Captai America: The First Avenger, EUA, 2011), é um desses raros acontecimentos.


A trama é simples. Steve Rogers (interpretado por Chris Evans) é um rapaz pequeno e franzino que é reprovado cinco vezes para alistar-se no exército dos Estados Unidos. Durante uma discussão com seu melhor amigo, que está indo para a guerra, ele é avistado por um cientista alemão em serviço nos EUA, chamado Abraham Erskine (o maravilhoso Stanley Tucci), que vê no rapaz o que os outros não conseguem: sua vontade de fazer o bem.


Dessa forma ele é admitido para participar de um programa chamado Projeto Renascimento, sob a tutela do Coronel Chester Phillips (Tommy Lee Jones). Rogers é então submetido a injeção de um soro que amplia não somente suas capacidades físicas, mas também suas qualidades interiras, e então bombardeado com radiação. Ao emergir de seu casulo metálico construído por Howard Stark, o pai de Tony Stark, ele está com um corpo talhado em mármore, que é a proporção de sua vontade de fazer o bem.


Imediatamente após seu 'renascimento', o laboratório é destruído em um ataque, e os membros do Exército dos Estados Unidos descobrem seu maior inimigo. Johann Schmidt (Hugo Weaving), também conhecido como 'Caveira Vermelha', um cientista da subdivisão de projetos científicos nazistas Hydra, que tem como plano dominar o mundo.


Durante os 124 minutos de duração do filme, os que realmente valem o ingresso são os primeiros 30. Após a incorporação de Rogers no Exército Americano, tudo o que se vê são perseguições implacáveis e sequências de explosões que enchem a tela durante uma hora e meia de filme. São de fato divertidas e não muito cansativas, como ocorreu no último filme de Harry Potter e da trilogia Transformers, mas todos os dilemas e relações humanas são jogadas fora para dar sequência ao duelo mortal entre Steve Rogers e o Caveira Vermelha.


Os efeitos especiais também são mais interessantes nos primeiros trinta minutos. Usando uma técnica semelhante ao de O Curioso caso de Benjamin Button, o rosto de Chris Evans foi colocado no corpo de um adolescente bem magrinho. E é nesse momento em que o filme ganha mais profundidade, especialmente quando Rogers está no carro ao lado da bela Peggy Carter (Hayley Atwell), e vai contado que ele apanhou naquele beco, e naquele outro ali, e atrás daquela lanchonete também.


A relação de Rogers com o doutor Erskine, é uma coisa quase paternal, providenciada por uma atuação sempre perfeita de Tucci. Tommy Lee Jones também providencia ótimos momentos de humor sarcástico, tão característico seu, que funciona bem para contrabalançar as intensas sequências de ação.


Talvez seja justamente a competência de seu elenco que faz com que Capitão América funcione melhor do que deveria funcionar. Mas nem tudo é elenco, obviamente. Mattew Vaugh teve um elenco soberbo no último X-Men e não soube o que fazer com ele. Mas o diretor Joe Johnston, conhecido por seus trabalhos em Jumanji, e Jurassic Park 3, providencia uma direção firme e bem amarrada, que também cria uma certa nostalgia dos antigos filmes de super-heróis que eram passados no cinema, e talvez até do espírito norte-americano que se perdeu e tornou-se enevoado e manchado de sangue conforme o passar dos anos.


É com esse conjunto de elementos, que Capitão América: O Primeiro Vingador torna-se muito melhor do que o esperado, e o melhor de uma leva de não muito boas adaptações de histórias em quadrinhos que encheram as telas dos cinemas este ano (salva-se Thor talvez). E essa é uma linha tênue que beira entre o aceitável e o ridículo. Mas é bom finalmente ter um filme no qual você não sai ofendido do cinema. E esse é crédito de uma perfeita escolha de elenco, principalmente de Evans no papel principal. Mas não se engane. Apesar de todas as suas qualidades, Capitão América ainda é como um 'Fast Food': gostoso, sim. Mas não muito nutritivo.

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