domingo, 15 de julho de 2012

Alguns dias


O que você fez no dia 15 de julho deste ano? Quem você encontrou? Você acha que as suas ações ou as pessoas que viu neste irão mudar a sua vida de alguma forma? Nunca pensou nisso? Bem, então você deveria mesmo ler o livro Um Dia, escrito pelo roteirista e escritor britânico David Nicolls. Publicado pela primeira vez em 2009 (na Inglaterra), Um Dia conta a história de Dexter e Emma, um casal que passa uma noite juntos após se embebedarem na formatura em 1988. A história acompanha ambos os personagens nos 20 anos seguinte, sempre no dia 15 de julho e como aquele primeiro dia influenciou suas vidas.
É interessante notar as personagens tentando manter relações cordiais mesmo quando não se veem há meses ou mesmo mais tempo do que isso. É bastante verossímil a forma como ambos tentam manter a amizade em um tempo sem internet ou celulares e as dificuldades que derivam desse contato contínuo por cartas e cartões postais. 
David Nicolls escreve bem sobre a humanidade. Sabe aprofundar na mente das personagens, mostrando-nos o típico garotão popular, que nunca precisou se esforçar para alcançar seus objetivos, apenas por ser carismático e ter uma boa aparência. E vemos que essas características só o ajudam a chegar até certo ponto na vida. Vemos que mesmo que Dex pareça não se importar, ele se importa e por isso recorre constantemente às drogas e ao álcool, fugindo da realidade que o torna humano. Já Emma é a típica garota que se considera intelectual e politizada e que almeja grandes objetivos e sonhos. Sempre se opondo a alguma coisa, desde guerras ao apartheid, notamos que Em está tão sem direção quanto qualquer um. Tem tantos sonhos que não sabe a qual deles se dedicar e qual objetivo deve perseguir. Novamente, sua humanidade é marcante como uma das principais características da obra.
Com capítulos descrevendo a situação de "Dex e Em, Em e Dex" em cada 15 de julho desde 1988 até 2007, Um Dia mostra bem claramente o quão complexas são as relações humanas. Vemos o interesse das personagens pelo outro crescerem com o passar dos anos, evoluindo de um caso de uma noite, para um interesse romântico utópico, para uma grande amizade (com direitos a confissões amorosas e semi-pornográficas por parte de Dexter), para um distanciamento e esfriamento da amizade, para uma re-aproximação, para enfim, um namoro-noivado-casamento.
À medida que os anos passam, passamos a conhecer Dex e Em profundamente, gostando dela e sentindo certa vergonha dele, mas de qualquer forma, encarando a riqueza com que Nicholls aprofunda a maturidade em suas vidas. Por fim, chegamos a um ponto em que sabemos que algo vai dar errado e, para falar a verdade, não é nenhum surpresa quando de fato a tragédia acontece.
O dia é 15 de julho. Férias, tanto aqui no Brasil quanto na Inglaterra. E esse é um típico livro de férias. Tranquilo, leve e rápido, depois que se consegue engrenar a segunda marcha. Não leva a grandes reflexões, de fato, mas diverte pela simplicidade e pelo lado humano. Uma leve distração para uma época de calmaria. Um livro para ser lido, apreciado e esquecido: algo que não dura mais do que alguns dias.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Decepção Bíblica


Após a Terceira Guerra Mundial matar milhões e milhões de pessoas e levar países inteiros à completa destruição, há um consenso mundial para evitar que tais acontecimentos se repitam: todas as religiões são banidas por suas visões extremistas que acabam por levar a conflitos religiosos. Esse é o plot que origina o livro O Agente de Jerry Jenkins. Muito interessante, hein? O personagem principal deste romance pós-apocalíptico e futurista é o agente Paul Stepola. Um agente que trabalha para a ONP - Organização Nacional da Paz, uma mistura de FBI com CIA -, trabalhando na repressão de extremistas religiosos que atuam como terroristas em um país chamado Sete Estados Unidos da América. Parece um enredo bom, não é? Pois eu concordava, até ler, de fato, o livro.
Para quem gosta de romances de aventura futuristas, este livro promete e eu mesmo estava bastante empolgado com ele. Ledo engano. No decorrer da história, Paul Stepola é transferido para uma força-tarefa liderada por seu sogro (que não gosta nada dele) e acaba tendo de se infiltrar em algumas destas células terroristas religiosas que atuam pelo país, ameaçando a paz e prosperidade oferecida pela falta de religião. Acontece que os atentados terroristas que Paul testemunha acabam despertando nele uma estranha curiosidade obsessiva pelo cristianismo. Não demora muito e acaba por se envolver com fiéis, se interessando por uma delas (apesar de ser casado) e fazendo um grande amigo, bastante religioso.
Comecei a me preocupar quando vi, meio que por acidente, que a editora que publicou a obra no Brasil se chama Editora Mundo Cristão. Até aí tudo bem, a história estava levemente interessante, mas me despertou certo receio. Isso porque comecei a notar pequenos detalhes que forçavam religião em praticamente toda e qualquer situação. Não tenho nada contra religiões e pessoas religiosas, só não gosto que tentem me fazer engolir suas práticas e costumes como se fosse minha obrigação. Dito isso, continuei a ler o livro, ignorando a má percepção que me causou a descoberta da editora. Pra ser sincero, a impressão que tive foi que era um livro feito para forçar a religiosidade à vida das pessoas, mas continuei lendo por uma questão de princípios: não queria abandonar um livro por um preconceito automático como esse (mais tarde notei que era um pouco mais do que apenas um preconceito).
Mas comentários à parte, prossigamos com a história do livro: Paul descobre várias situações que parecem ser atentados terroristas, embora os religiosos afirmem que são milagres. Até que, por fim, descobrimos a verdade: são mesmo milagres! Paul acaba se tornando um religioso devoto, completamente crente nos poderes de Deus e aqueles que não acreditam são punidos ao final da história.
Agora, não sei vocês, mas esse não era o final que eu esperava. Por ser o primeiro livro de uma trilogia, esperava a construção básica de uma conspiração futurista que apenas culpava os extremistas religiosos (ou talvez eles mesmo atuassem na conspiração), mas para todos os efeitos, atentados terroristas e pessoas atuando e não poderes divinos. Triste. Pareceu-me, ao fim, que eu fui tolo de esperar algo a mais. O autor dá dicas o tempo inteiro de um plano superior agindo por trás das cortinas, eu é que não quis ver. Só achava a história boa original o suficiente para se manter sem precisar de óbvias esculhambações e tão forçoso final. Porque, digam-me vocês, jogar a culpa de tudo em Deus é ou não é fácil demais? Não precisa de explicação, não precisa de base, não precisa de nada. É o que é, e ponto final.
Admito que esperava muito mais. O livro não é de todo ruim, claro. Jerry Jenkins escreveu outra série de sucesso (Deixados para trás), que por algum motivo me inspira a mesma confiança que senti ao descobrir sobre a editora cristã. Não me entendam mal, não julgo a editora ou nada assim, apenas achei que o livro ganhou um ar de panfleto religioso. Perdeu todo o brilho da escrita envolvente e rápida e ganhando ares de panfletagem para me convencer a ir mais à igreja. Não sei se esse era o objetivo, mas foi o que senti. Uma pena, pois a história tinha tudo para ser incrível e não apenas uma decepção de nível bíblico.