quinta-feira, 17 de julho de 2014

História sobre dragões




Algum tempo após terminar de ler o último livro publicado das Crônicas do Gelo e Fogo, A Dança dos Dragões, pude voltar aos Sete Reinos de Westeros - dessa vez para acompanhar personagens desconhecidos, e em uma época diferente (cerca de 100 anos antes de A Guerra dos Tronos) - e devo dizer: havia me esquecido de o quão fluida e detalhista é a narrativa de George R. R. Martin. Combinando três contos que se passam no mesmo universo, mas em uma época diferente, O Cavaleiro dos Sete Reinos conta o início da história de Dunk, um cavaleiro andante, e seu escudeiro Egg. Vale lembrar ainda que é por meio dessas narrativas extras que podemos notar o quão complexo é o universo das Crônicas, com suas lendas e histórias lendárias e reis antigos e guerras violentas. Confira abaixo um resumo dos acontecimentos de cada um dos contos que compõe O Cavaleiro dos Sete Reinos:


O Cavaleiro Andante: por ser o primeiro conto da série, apresenta aos leitores Dunk, um jovem alto de pouco mais de 16 anos que era escudeiro de um cavaleiro andante, Sor Arlan de Centarbor, até que o pobre e velho cavaleiro morreu de uma gripe. Juntando todos os pertences de seu antigo mestre, Dunk se encaminha então ao torneio na Campina de Vaufreixo para competir e tentar ganhar algum ouro. No caminho, no entanto, encontra um garoto careca de 10 anos em uma estalagem e o menino, chamado de Egg, pede para ser seu escudeiro, mas Dunk nega (posteriormente vemos que o menino o segue até Vaufreixo e, sem escolha, o jovem cavaleiro o aceita como seu escudeiro).


Enquanto Dunk se esforça para ser aceito no torneio (uma vez que é preciso ser um cavaleiro e não há nenhuma testemunha que comprove a sua cavalaria), acaba conhecendo o Príncipe Baelor ‘Quebra-Lança’ Targaryen, a Mão do Rei e o herdeiro do Trono de Ferro, e seu irmão Príncipe Maekar, e com uma pequena ajuda deles, Dunk acaba sendo aceito nas justas (batalhas sobre cavalos com lanças - o cavaleiro a ser derrubado primeiro, perde) sob o nome de Sor Duncan, o Alto.


Todos os planos de Dunk desandam, é claro, quando decide interferir e defender uma moça que era atacada, e acaba acertando seu atacante algumas vezes. O problema é que o atacante da moça era o Príncipe Aerion ‘Chamaviva’ Targaryen, filho do Príncipe Maekar. No mesmo momento, Dunk quase é espancado até a morte, sendo salvo pelo seu escudeiro Egg - que revela ser irmão de Aerion e o filho mais novo de Príncipe Maekar, Aegon.


Correndo o risco de ser condenado por atacar um membro da família real, e perder uma mão e um pé por isso, Dunk recorre a julgamento por combate. No entanto, Príncipe Aerion recorre a uma antiga lei e invoca um julgamento de sete, isto é, uma batalha com sete cavaleiros de cada lado, e o último cavaleiro a cair tem sua causa justificada. Dunk então convence alguns cavaleiros que conheceu a lhe ajudarem, Egg convence ainda alguns outros e, na hora da batalha, um de seus lutadores desiste, deixando seu grupo com apenas seis guerreiros (o que configura que sua causa não é justa, pelas leis antigas). Para completar o grupo, junta-se à causa de Dunk o próprio Príncipe Baelor. Após uma sangrenta batalha, Dunk consegue que Aerion se renda, acabando com o julgamento e o inocentando, mas o Príncipe Baelor Quebra-Lança morre devido a ferimentos causados durante a luta. Quando Dunk finalmente parte de Vaufreixo, leva com ele seu escudeiro Egg, que recebeu a permissão de seu pai para seguir o cavaleiro andante e aprender com ele sobre a cavalaria.


A Espada Juramentada: depois de escapar por pouco da morte no primeiro conto, voltamos a ver Dunk e Egg viajando por Westeros, aproximadamente um ano após o fim do conto anterior. Nessa história Dunk trabalha como espada juramentada para um pequeno senhor, fazendo trabalhos relativamente fáceis. Entretanto, o interessante é a contextualização política feita durante a narrativa, contando a história da Rebelião Blackfyre, que aconteceu 15 ou 16 anos antes e que dividiu os Setes Reinos entre aqueles que apoiavam o legítimo rei, Daeron Targaryen (chamado de Dragão Vermelho, devido ao símbolo da Casa Targaryen - um dragão vermelho de três cabeças sobre fundo negro) e aqueles que apoiavam o pretendente, Daemon Blackfyre (chamado de Dragão Negro, pois como um filho bastardo do rei Aegon, o Indigno, inverteu as cores do símbolo da Casa Targaryen - usando um dragão negro de três cabeças sobre fundo vermelho). Conta a lenda que o Rei Aegon IV, o Indigno, presenteou a lendária espada de aço valiriano portada por todos os reis Targaryen - e nomeada Blackfyre - a seu bastardo (Daemon) ao invés de dá-la a seu filho legítimo (Daeron), o que levou vários grandes lordes a apoiarem a reinvindicação do bastardo, assumindo que o desejo do rei era que seu bastardo assumisse o Trono de Ferro, uma vez que a lendária espada é vista por muitos como um símbolo da monarquia. A Rebelião Blackfyre terminou na Batalha do Campo do Capim Vermelho, onde calcula-se que cerca de dez mil guerreiros morreram, incluindo o pretendente ao trono, Daemon Blackfyre.


Enquanto tudo isso é contado em trechos e depoimentos ao longo da narrativa, vemos Dunk trabalhando para Sor Eustace, e se deparando com um dilema quando a Viúva Vermelha, vizinha de Sor Eustace e muito mais rica, cria uma barragem no rio próximo durante uma seca, impedindo que a água chegue à terras do velho lorde. O conflito apenas aumenta quando Sor Bennis, outra espada juramentada ao velho lorde, corta o rosto de um dos súditos da mulher. Logo, à beira de se envolver em uma batalha que não tem chance de vencer, Dunk tenta negociar com a senhora de alto nascimento que tem a fama de envenenar os próprios maridos (é viúva quatro vezes). E, embora a narrativa desenvolva um conflito interessante, a mim ao menos, ficou clara a impressão de que o verdadeiro conteúdo da história é a traição e a complexidade que há ao redor dos Targaryen: a família real (que, por acaso, também é a família de Egg).


O Cavaleiro Misterioso: o conto final é provavelmente o mais interessante deste livro. Dunk e Egg ainda estão viajando e o cavaleiro decide participar de um torneio feito para homenagear um casamento. A esperança de Dunk é vencer uma ou duas justas para conseguir algum ouro e poderem viajar sem preocupações financeiras até Winterfell, onde Lorde Stark reúne cavaleiros para expulsar os homens de ferro que andam saqueando as vilas costeiras. Mas é claro que, com a sorte de Dunk, as coisas não saem como ele esperava.


Seguindo para o castelo de Alvasparedes, Dunk e Egg acabam encontrando outros cavaleiros andantes que se dirigem para o torneio, conhecendo assim: Sor Kyle, o Gato do Pântano Nebuloso, Sor Glendon Flowers e Sor Maynard Plumm, além do simpático e misterioso Sor John, o Violinista. E embora a companhia dos cavaleiros não seja ruim, ao chegar à festa, Dunk não só subestima seu oponente nas justas (sendo derrotado) como tropeça em uma conspiração e uma possível rebelião - a Segunda Rebelião Blackfyre.


Desesperado pela vida de Egg estar em risco (por ele ser um Targaryen em meio a inúmeros lordes rebeldes), Dunk dá um jeito de o garoto fugir, enquanto ganha tempo distraindo Daemon II Blackfyre que decidira iniciar uma segunda guerra sob o estandarte do dragão negro. A situação se acalma quando Egg dá o alarme e o exército real chega ao castelo, sendo liderado pela Mão do rei, Lorde Corvo de Sangue, levando a Segunda Rebelião Blackfyre a se extinguir antes mesmo de ter chance de começar.



Mas creio que o interessante mesmo dos contos de Dunk e Egg é a profundidade com que podemos conhecer a Casa Targaryen. Enquanto nas Crônicas do Gelo e Fogo só temos a chance de conhecê-los por meio de Viserys e Daenerys nas Cidades Livres, aqui podemos ver a dinastia que reinou nos Sete Reinos por milhares de anos, que dominou os dragões e que fez com que os maiores lordes se ajoelhassem aos seus pés. E, ao mesmo tempo em que sabemos que não importa que Egg esteja longe na linha de sucessão, um dia ele reinará (sob o nome de Aegon V, o Improvável), podemos ainda conhecer seu irmão mais velho Aemon, que está na Cidadela treinando para ser um Meistre e que, quando chegar a hora, se despedirá do irmão a quem apelidou de Egg e se dirigirá para a Muralha, onde ainda estará quando Ned Stark morrer em A Guerra dos Tronos.


Esse pequenos elos de ligação entre a época de Dunk e Egg e a época das Crônicas é que nos fazem perceber o quão rico é o universo de Gorge R. R. Martin e nos fazem ter ainda mais vontade de acompanhar as aventuras do cavaleiro andante Sor Duncan, o Alto, e seu escudeiro, Egg.


George R. R. Martin, O Cavaleiro dos Sete Reinos (Knight of Seven Kingdoms), Editora Leya, Tradução de Márcia Blasques, 416 pgs., R$ 43,00

Espionagem é coisa de adultos!




Ele foi usado como alvo de um atirador de facas, foi jogado em um aquário gigante para ser dolorosamente assassinado por uma caravela portuguesa, quase foi dissecado vivo em um laboratório cheio de vilões, quase foi devorado por um tubarão para posteriormente quase ser espremido em um moedor de cana-de-açúcar, teve que sobreviver em uma arena de toureiro, sobreviveu a um acidente de avião, quase foi devorado por um bando de crocodilos famintos, quase se afogou (e congelou) ao cair de carro dentro de um lago congelado, quase foi obrigado a doar todos os seus órgãos numa operação ilegal do mercado negro, esteve sob a mira de uma arma em mais situações do que posso contar, foi baleado, drogado e envenenado, entre outras divertidas aventuras. Ele, leitor, se chama Alex Rider, e ele tem 14 anos.

Protagonista de uma série de nove livros, diversos mini-contos extras, um jogo de video game, uma série de graphic-novels e um filme, Alex Rider é um adolescente arrastado contra sua vontade para o mundo da espionagem quando seu tio, Ian Rider, um agente do MI6 é assassinado durante uma missão. No melhor estilo James Bond (em quem o autor confessadamente se baseou) infanto-juvenil, Alex - ao contrário da expectativa dos leitores - odeia ser espião e tudo o que quer é uma vida calma e normal ao lado dos amigos e da sua tutora americana, Jack Starbright. Seria pedir demais? Aparentemente sim.

Chantageado e obrigado a trabalhar para pessoas que despreza, o jovem acaba descobrindo que, no fim das contas, tem talento para a coisa, mas isso não torna suas missões mais fáceis ou mesmo divertidas. Passando por situações que a maioria de nós só imagina em pesadelos, Alex acaba se envolvendo em intrigas gigantescas e perigos que podem levar o mundo a um colapso, e tudo isso descrito em uma narrativa frenética e bastante adulta (e portanto cheia de violência - sério, muita mesmo). No melhor estilo de espionagem, as histórias do britânico Anthony Horowitz misturam ação, aventura e ficção científica (bem de leve, na verdade), além de reviravoltas de tirar o fôlego. Confira abaixo as sinopses dos livros da séries do jovem espião (com poucos spoilers, prometo!):

Stormbraker (no Brasil, Alex Rider Contra Stormbraker ou Operação Stormbreaker): Por ser o primeiro livro da série, Stormbreaker apresenta aos leitores o mundo da espionagem quando o tio de Alex, Ian Rider, é dado como morto em um suposto acidente de carro. E é então que, no enterro de Ian, Alex é apresentado ao arrepiante presidente do banco Royal & General e chefe do falecido, Alan Blunt. Desconfiado, Alex desobedece a sua melhor amiga e tutora - a jovem americana Jack Starbright - e acaba se metendo onde não deve, descobrindo a realidade: seu tio era um agente do MI6 (Military Intelligence, Section 6), um espião, e foi morto durante uma missão secreta. Agora encrencado com os chefes do MI6, Alan Blunt e seu braço direito, a Sra. Jones, Alex é chantageado a ajudá-los a completar a missão que seu próprio tio não conseguiu. Ou o adolescente os ajuda ou sua tutora e amiga Jack será deportada de volta para os EUA, o que significa ser mandado a um orfanato já que não possui nenhum outro parente vivo. Por ser jovem e despertar pouca desconfiança (pois quem iria imaginar um adolescente de 14 anos trabalhando como espião?), Alex acredita não correr muito perigo e aceita a oferta, topando a missão de se infiltrar na empresa de Herod Sayle - um empresário multimilionário que prometeu doar uma unidade de seu avançado supercomputador Stormbreaker para cada escola da Grã-Bretanha. Alex só percebe o quanto estava errado quando nota algo muito estranho acontecendo envolvendo um perigoso vírus e o envolvimento de um famoso assassino profissional de nome Yassen Gregorovich. Este romance inicial ganhou seis prêmios de literatura infanto-juvenil entre os anos de 2003 e 2005, vendendo mais de nove milhões de cópias ao redor do mundo desde seu lançamento.


Point Blanc (no Brasil, Desvendando Point Blanc): Depois de escapar por pouco da morte no primeiro livro, tudo o que Alex quer é que sua vida volte à normalidade. Ir à escola, sair com os amigos e passar a tarde andando de bicicleta. Mas seus planos saem de controle quando o MI6 recorre novamente a seus ‘serviços’. A morte de dois milionários - um general russo extremamente rico e poderoso e um proeminente empresário - desperta a suspeita de Alan Blunt, que descobre como única ligação entre os assassinatos a escola onde os filhos de ambos estudam, a Academia Point Blanc para garotos problemáticos. Portanto, usando sua arma secreta, o espião de que ninguém desconfia por ser apenas um garoto, Blunt envia Alex Rider sob disfarce para o colégio localizado em um castelo nos Alpes Suíços para investigar a estranha ligação entre as mortes suspeitas e a instituição comandada pelo cientista sul-africano Dr. Hugo Grief. E esta é a primeira vez que notamos a ficção científica (digna de James Bond, aliás) utilizada pelo autor, quando o Dr. Grief confessa ter se utilizado de meios escusos para se clonar e, por meio de diversas cirurgias plásticas dolorosas, transformar seus clones em cópias idênticas dos filhos das mais poderosas pessoas do mundo. Seu plano - receber os garotos problemáticos, estudar seus trejeitos e comportamentos para copiá-los, e devolver as cópias aos pais - dava bastante certo até Alex começar a se intrometer no assunto. Como sempre, ao final, Alex descobre o plano e é obrigado a arranjar um jeito de fugir enquanto é perseguido por criminosos que querem matá-lo.



Skeleton Key (no Brasil, A Ilha do Esqueleto): Fazendo um favor a um conhecido no MI6, Alex aceita uma posição de ajudante durante o torneio de tênis de Wimbledon e acaba, sem querer, esbarrando em um esquema para manipular os resultados. Correndo risco de vida, o garoto acaba nocauteando um membro da Tríade chinesa, um grupo de criminiosos organizados que juram matá-lo pela ofensa de atacar um de seus homens. Tendo que deixar o país enquanto o MI6 resolve a situação com a Tríade, Alex é ‘emprestado’ para a CIA para complementar o disfarce de dois agentes americanos que vão se infiltrar em Cuba para investigar um ex-general soviético que parece ter conseguido obter uma bomba nuclear. Enquanto os americanos desprezam a importância de Alex e desenvolvem sua investigação, tudo vai bem, e o garoto pode aproveitar as belas praias e o sol cubano. Mas quando os agente desaparecem no meio da missão, Alex novamente vê sua vida em risco quando tem que lidar com a muito real ameaça nuclear pairando sobre sua cabeça e com a realidade de que pode ser a única chance para salvar milhões de pessoas.


Eagle Strike (nem este e nem os livros posteriores foram traduzidos para o português - a Editora Fundamento está reeditando a série no Brasil, conferirei e aviso aqui em que pé está isso): Enquanto de férias na França com sua amiga Sabina (que conheceu em Wimbledon, no livro anterior), Alex acaba coincidentemente se encontrando com o assassino profissional Yassen Gregorovich (que matou o tio do garoto, Ian Rider, no primeiro livro) e entreouvindo parte de um esquema do criminoso com o famoso pop star Damian Cray. No entanto, quando conta suas descobertas e sua suspeita a respeito de Cray para os chefes do MI6, Alan Blunt e Sra. Jones, Alex é obrigado a ouvir que o artista é uma espécie de santo, que passou a vida lutando contra as drogas e fazendo caridade e bla bla bla. Por sua conta e risco, e sem nenhum suporte da agên cia de inteligência, Alex decide investigar o famoso cantor e acaba se envolvendo em uma complicada trama que consiste em sequestrar o avião do presidente americano, o Força Aérea Um, para poder usar sua sala de controle para lançar um ataque nuclear em larga escala. E, mais uma vez, Alex Rider é a única esperança de evitar uma catástrofe que pode custar milhões de vidas.


Scorpia: Antes de tudo, o nome do livro se refere a um grupo criminoso chamado Scorpia, que é a abreviação para as suas principais atividades: ‘Sabotage, Corruption, Intelligence and Assassination’ (Sabotagem, Corrupção, Inteligência e Assassinato). Seguindo o conselho dado pelo Yassen Gregorovich no final do último livro, Alex começa a procurar sobre a organização criminosa conhecida como Scorpia para descobrir a verdade sobre seu pai - que supostamente teria sido um dos seus melhores agentes. Quando o garoto finalmente encontra o que estava procurando, ele é recrutado por uma das líderes de Scorpia, Julia Rothman, que não apenas lhe fornece informações importantes sobre seu pai, como ainda fornece provas de que ele foi assassinado pelo MI6. E ainda por cima, de que a ordem foi dada por alguém que ele conhece: a segunda em comando na agência britânica, Sra. Jones. Agora agindo sob o comando de Scorpia, Alex recebe sua primeira missão: assassinar sua ex-chefe do MI6 e a mulher que ordenou a execução de seu pai. Enquanto isso, o plano de Scorpia de chantagear o governo britânico pode colocar em risco milhares de crianças no Reino Unido.


Ark Angel: Depois do final surpreendente (e do qual não falarei) de Scorpia, Alex ainda está no hospital, se recuperando. É então que, claro, com a sua sorte, algo vai dar errado. E dá. No meio da noite quatro homens encapuzados aparecem no hospital para sequestrar o garoto do quarto ao lado, Paul, filho do bilhonário russo Nikolei Drevin. Após dar um jeito nos criminosos, Alex acaba conquistando a amizade e simpatia tanto de pai quanto do filho, descobrindo que o empresário é responsável pelo mega-empreendimento chamado de Ark Angel - um revolucionário hotel, construído fora de órbita, em pleno espaço sideral. Enquanto viajava com os dois russos, Alex é contatado pela CIA, que o informa sobre atividades ilegais do empresário russo e pede que investigue seus planos. Quando enfim chegam ao destino final de sua viagem, Alex descobre o plano de Nikolei: o russo planeja destruir Ark Angel com uma bomba, pois o investimento está lhe custando sua fortuna e possui um alto seguro. O problema, é claro, são os destroços do enorme hotel espacial, que cairão sobre o Pentágono, na capital dos Estados Unidos, destruindo todas as evidências de seus crimes e, claro, matando dezenas de milhares de pessoas no processo. O plano, obviamente, envolve enviar Alex à Ark Angel para impedir que a bomba seja detonada.


Snakehead: De volta à Terra, o módulo onde Alex escapou de Ark Angel pousa no oceano próximo à Austrália. Quando finalmente chega ao continente, o rapaz é recrutado pelo ASIS (Serviço de Inteligência Secreto Australiano), onde conhece pela primeira vez o seu padrinho, um agente secreto australiano e o melhor amigo de seu pai, um homem chamado Ash (Anthony Sean Howell). Ao mesmo tempo, Scorpia retorna à cena com um plano para eliminar todos os membros de uma conferência organizada por famosos para discutir como acabar com a pobreza no mundo. Alex então é enviado à Tailândia com Ash para investigar uma rede asiática especializada em tráfico de pessoas (conhecida como Snakehead). Se passando por refugiados afegãos que querem chegar à Austrália, são levados para um navio onde são separados e presos em containers com várias outras pessoas. Alex se utiliza de um dos explosivos que o MI6 havia lhe dado e consegue fugir, descobrindo o plano de Scorpia: explodiar uma bomba em um determinado ponto do oceano, causando uma tsunami que não só iria aniquilar a conferência com as oito celebridades (já que esta seria em uma pequena ilha), mas também chegaria à costa da Austrália, causando dezenas de milhares de mortes. Ainda que Alex consiga escapar do navio, Ash é usado como barganha e o garoto é obrigado a se entregar. Novamente capturado, Alex é enviado pelo membro de Scorpia, Winston Yu, a um hospital secreto onde seria doador em uma operação ilegal de transplante de órgãos. Conseguindo fugir novamente, e por pouco, Alex contata a agência britânica e a australiana e corre contra o tempo para impedir o plano de Yu.

Crocodile Tears: Enquanto Alex passa o Ano Novo com a família de sua amiga Sabina na Escócia, um acidente acontece em uma usina nuclear da Índia, causando um desastre gigantesco. E o desastre seria ainda pior, não fosse pela reação tão rápida de uma instituição de caridade chamada First Aid. Na Escócia, Alex acaba conhecendo o poderoso empresário que criou a caridade, Desmond McCain. Ao voltar para casa, no entanto, Alex acredita que está livre do MI6, ao menos até que um jornalista aparece em sua porta querendo publicar suas experiências no mundo da espionagem. É então que o garoto aceita uma última missão para a agência de inteligência, desde que, em troca, eles se livrem do jornalista. Sua nova missão consiste em conseguir informações sobre plantas geneticamente modificadas durante um passeio escolar a uma empresa privada. Enquanto está obtendo a informação, Alex presencia uma conversa entre o cientista-chefe da empresa e McCain e, enquanto foge da empresa é reconhecido. McCain então procura um pouco e encontra o jornalista, obtendo toda a história e investigação que o repórter havia feito sobre Alex. Sabendo exatamente quem éAlex e para quem ele trabalha, McCain o sequestra e o envia para o Quênia, contando que sua caridade na verdade é um esquema para roubar governos e o público, uma vez que ‘ajuda’ em desastres que ela mesma criou. O plano é usar a engenharia genética para causar uma mutação nas safras de trigo de toda a África, fazendo com que as plantas passem a produzir um poderoso veneno. Em poucos meses, First Aid encontraria a solução do problema, coletaria e o pagamento e sumiria do mapa, enquanto metade da população da África estaria morta. Como sempre, Alex é o único perto o suficiente para conseguir impedir o plano, contando com a ajuda de um agente da inteligência indiano, pois uma vez que o gene comece a mudar as plantações, não há volta.

Scorpia Rising: No último livro da série, vemos o último plano de Scorpia, sob controle do novo membro do grupo - Abdul-Aziz Al-Rashim, conhecido como Razim - ser posto em prática. O plano consiste em chantagear o governo britânico para que, em troca, o governo ceda a famosa Elgin Marbles (uma obra de arte grega, em posse dos ingleses) de volta para a Grécia. É isso que Scorpia foi contratada para fazer. E seu trunfo é um arquivo com todas as informações conhecidas sobre Alex Rider. Razim planeja para que Alex seja enviado em uma nova missão, onde Scorpia irá fazer com que leve a culpa por um atentado e, consequentemente, fazer parecer que tudo ocorreu conforme ordens do governo inglês. E tudo viria a público caso a arte não fosse devolvida à Grécia. Para tanto, Scorpia ajuda um prisioneiro a escapar de uma prisão secreta para tomar parte em seu plano. Seu nome é Julius Grief e ele é fisicamente idêntico a Alex Rider (ele é um dos clones do Dr. Grief que apareceu em Point Blanc e seria aquele que tomaria o lugar de Alex). De volta a Londres, a escola de Alex é atacada por um atirador de elite, errando Alex por pouco e acertando um de seus amigos no braço. Com medo de que a vida do garoto ainda esteja em risco, Alan Blunt do MI6 o tira do país e o envia ao Colégio Internacional do Cairo para investigar o novo chefe da segurança, Erik Gunter, que pode ter alguma conexão com Scorpia. Diferente das outras missões em que o garoto esteve, dessa vez a guardião e melhor amiga de Alex, Jack Starbright, exige ir junto do garoto para poder ficar de olho nele. Enquanto investigava Gunter, Alex acaba sendo sequestrado e ‘interrogado’ por agentes da CIA que acreditavam que ele era um assassino enviado para matar a secretária de estado americana, que está vindo ao Cairo para fazer um discurso anti-britânico. Decidido a abandonar a missão e sair do Cairo com Jack, Alex é sequestrado por Julius e Gunter e obrigado a deixar suas digitais no rifle que será usado para o assassinato da secretária de estado. Correndo contra o tempo uma última vez, Alex dá um jeito de escapar e garante que o plano de Scorpia não dará certo, que Scorpia está acabada e que o MI6 nunca mais volte a usá-lo.

Roussian Roulette: Embora este tenha sido o último livro relacionado a Alex Rider lançado por Horowitz (em 2013), ele na verdade é um prequel, isto é, ele se passa antes de todos os outros e não é focado em Alex. Seu protagonista na verdade é o assassino profissional Yassen Gregorovitch e como ele chegou a ser o homem que Alex conheceu.

Lembrando ainda que, embora contando por cima a ideia de um espião adolescente seja risível e ridícula sim (e por isso é ficção), e que o público alvo da série são os jovens, a série Alex Rider não é um série de livros para crianças. Ainda que de início pareça leve e inocente, o clima vai se tornando mais denso e pesado com o decorrer dos livros e a violência vai aumentando da mesma forma. Creio que a série seja classificada erroneamente como infanto-juvenil por falta de classificação melhor, mas o ideal era que fosse literatura juvenil/adulta. Recomendo ainda que as crianças com menos de 11 ou 12 anos passem longe dessa série de livros simplesmente pelo seu conteúdo muitas vezes carregado e exacerbadamente sangrento. Ainda que faça parte da narrativa e seja uma ferramenta de construção física e psicológica natural, interessante e essencial para a personalidade de Alex, e portanto de forma alguma é violência gratuita, deve-se atentar para o fato de, como nos filmes de hoje, a violência corre solta e desregrada (a exemplificar, em Scorpia Rising, Razim é um especialista em tortura e decide criar uma unidade de medida para a dor e, para tanto, mede a a dor torturando seus prisioneiros). 


Fica o aviso a todos: embora não hajam cenas tão explícitas, as poucas mostradas nos livros são para um propósito narrativo claro, levando Alex do inocente garoto de 14 anos em Stormbreaker a um adulto experiente de 15 ao final de Scorpia Rising. Fica a dica e boa leitura!

Anthony Horowitz, Alex Rider Contra Stormbraker / Operação Stormbreaker (Stormbraker), Desvendando Point Blanc (Point Blanc), A Ilha do Esqueleto (Skeleton Key), Eagle Strike, Scorpia, Ark Angel, Snakehead, Crocodile Tears, Scorpia Rising e Roussian Roulette; Tradução (brasileira): Mônica Rodrigues da Costa e Gabriela Romeu; Editora Publifolha / Fundamento (Brasil), Walker Books (Reino Unido), Puffin (EUA, CAN) e Philomel (EUA), R$ 24,00.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A distopia da escolhas



Todo mundo que costuma ir ao cinema já deve ter notado a recente moda, derivada de séries de livros infanto-juvenis, de longa-metragens de temática distópica que têm invadido nossas salas de cinema, como a saga Jogos Vorazes, Divergente e, em um futuro próximo, a saga Maze Runner. Jogos Vorazes e Em Chamas são ótimos filmes, e todo mundo já os conhece, e Maze Runner ainda está para estrear, logo vamos focar em Divergente, que estreou não tem muito tempo aqui no Brasil.


Creio que a primeira coisa que tenho a dizer sobre o filme é: é extremamente fiel ao livro em que se baseou. Que adaptação incrível! E em termos de bilheteria, o longa-metragem arrecadou mais de 145 milhões de dólares só nos EUA durante as oito semanas em que ficou em cartaz (sendo cerca de 56 milhões só no final de semana de estréia).


Para quem não conhece a história, Divergente conta a história de um futuro distópico em que a sociedade se dividiu em cinco facções como uma forma de manter a paz e dividir as funções da comunidade: a Erudição (os cientistas, professores e estudiosos que prezam pela inteligência em seus membros), a Amizade (os produtores e fazendeiros, prezam pela paz), a Franqueza (legisladores e juízes, que prezam pela sinceridade), a Audácia (os soldados e guardas que protegem a população e prezam pela coragem acima de tudo) e a Abnegação (os políticos e governantes, prezam pelo altruísmo).


É nesse mundo que conhecemos Beatrice Prior (Shailene Woodley), uma garota nascida na Abnegação, mas que não tem certeza de se encaixar em seu padrão de vida despojado de posses e altruísta. É por isso que ela aguarda ansiosa pelo Teste de Aptidão que lhe dirá com qual facção tem mais entrosamento. Só que o que acontece é que seu teste tem um resultado inconclusivo, significando que tem a capacidade de se adaptar em mais de uma facção. Pessoas como Beatrice são raras e perigosas (pois põem em risco o sistema de facções) e são chamadas de Divergentes. Posteriormente, há a Cerimônia de Escolha em que os jovens devem escolher as facções a que jurarão lealdade para o resto de suas vidas. E lá, ao lado de seu irmão Caleb (Ansel Elgort), Beatrice toma sua decisão: escolhe a facção Audácia, abandonando os pais e tudo que conhecera. É lá que, sob o nome de Tris, conhece o instrutor Quatro (Theo James), por quem começa a se apaixonar ainda que ele a trate incrivelmente mal, e descobre planos que envolvem não só o assassinato de Divergentes como também um golpe de estado que pode destruir todo o sistema de facções, além de causar uma guerra.


O filme é uma adaptação incrivelmente fiel ao livro em que foi baseado, o que significa que não só os fãs da saga literária foram um pouco mimados como também aqueles que foram ao cinema sem nunca ter ouvido falar da história puderam conferir um bom longa-metragem de ação. E, embora isso tenha causado uma acalorada discussão entre eu e meus amigos, eu, ao contrário deles, não acho que o fio condutor da saga seja mais do mesmo e tenha sido feito para atrair e agradar aos adolescentes. Creio eu que o conflito criado remonta a uma questão básica da humanidade: “tentar descobrir onde se encaixa e o motivo disso”. O que fazer então quando há mais de uma opção ou quando nenhuma delas parece perfeita? A questão da escolha sobrepondo-se às características naturais é corriqueira (aparecendo até em Harry Potter, por exemplo, quando Harry opta pela Grifinória ainda que tenha talento para a casa rival) e faz parte da natureza humana no que se refere às decisões e consequências destas. E Tris mostra bem isso, quando escolhe a facção da luta, da batalha.


O fato é que este início da saga Divergente traz muitas promessas. Algumas serão cumpridas ao longo dos próximos livros e filmes, outras não. Surpreendente será, isso eu garanto. Entretanto, se vai agradar ou não, ou melhor, se vai reconstruir um dos mais interessantes questionamentos da natureza humana, se vai se fazer presente dentre as melhores histórias distópicas lançadas nos últimos anos, isso cabe aos leitores, e espectadores, julgarem.


"Divergente". Título original: "Divergent". Ano: 2014. Nacionalidade: EUA. Diretor: Neil Burger. Roteiro de: Evan Daugherty e Vanessa Taylor. Produzido por: Lucy Fisher, John J. Kelly, Michael Paseornek, Pouya Shahbazian, Rachel Shane, Barry H. Waldman e Douglas Wick. Estrelando: Shailene Woodley, Theo James, Ashley Judd, Jai Courtney, Ray Stevenson, Zoë Kravitz, Miles Teller, Tony Goldwyn e Ansel Elgort. Música de: Junkie XL. Duração: 139 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 8/10.