quarta-feira, 20 de julho de 2011

Enfim, o Fim!





Embora geralmente haja um acordo consensual e subscrito entre os autores deste blog para não se fazer duas resenhas sobre o mesmo filme, terei que quebrar nossa própria regra em nome de um bem maior: o adeus à infância proporcionado pela conclusão da saga escrita por J.K. Rowling.


Demorei para postar esta resenha, é verdade. Mas isso porque é impossível não encarar a estréia deste filme com certa tristeza. É como o anúncio de que a infância de toda uma geração chegou ao fim. Essa é a sensação que tive ao terminar de assistir, há apenas alguns dias, ao filme Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 (Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 2, EUA, 2011). É com certa tristeza que percebo que a saga (de filmes) que começou em 2001 chegou finalmente a uma conclusão após 10 anos de amadurecimento, tanto para seus personagens como para os ávidos telespectadores que acompanhavam a vida de Harry e seus amigos. É até meio estranho pensar que estivemos acompanhando o crescimento de Harry, Rony e Hermione (e de todos os personagens jovens, assim como os atores) até se tornarem o que são hoje: jovens adultos de sucesso. Sinto-me ligeiramente stalker (termo famoso em inglês, quem não conhece: Google existe para isso). Será que sou só eu? Mas voltando à resenha, Harry Potter é considerada a saga de maior sucesso da história cinematográfica. E isso não é pouca coisa. Mas voltando ao trágico fim da série, você pode ler a resenha da primeira parte do filme (Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1) aqui e à resenha do meu parceiro-bloggeiro sobre este segundo longa-metragem, aqui. Vale ressaltar que o texto a seguir irá conter informações específicas sobre a trama do filme (spoilers). Se pretende ver o filme e quer se surpreender, não leia (se bem que se você já leu o livro, já sabe o que vai acontecer, então vá em frente, leia e comente!).
A história de Relíquias da Morte - Parte 2 continua do ponto em que o primeiro filme acabou. Na cabana isolada onde Dobby morreu e foi enterrado por Harry. Eu, pelo menos, não me lembrava direito do final do último filme, o que é um ponto negativo já que a continuação é diretamente relacionada com os últimos acontecimentos do longa anterior. De lá, temos pouca enrolação atéo início da ação. A invasão à Gringotes (vale dizer que a segurança é absolutamente risível se analisar que é o único banco do mundo bruxo e que é considerado 'impenetrável') é bela e rápida o que dá ao espectador a sensação de urgência pretendida. De lá vamos para Hogwarts e da escola não saímos até o derradeiro fim do longa-metragem.
Pra ser sincero nem vou me dar ao trabalho de comentar as cenas e a história. Já houve tempo para todos os verdadeiros fãs da série assistirem ao filme e todos já sabem o que acontece. Em compensação acho que devo comentar sobre a fraquíssima atuação de Daniel Radcliffe - que apesar de ter tido a melhor atuação dele em qualquer filme de Harry Potter, está longe de ser considerada absolutamente boa. Os outros protagonistas interpretados por Rupert Grint e Emma Watson ainda se salvam por um pouco mais de emoção e química entre seus personagens. Em compensação a um personagem título interpretado por um ator ruinzinho, para dizer o mínimo, tem-se um elenco de apoio incrivelmente bom, com astros como Alan Rickman, Maggie Smith, Jason Isaacs e Ralph Fiennes, entre outros.
Na verdade, algumas das cenas mais interessantes e memoráveis deste filme giram em torno deste elenco mais velho e talentoso. Maggie Smith está de volta ao papel, depois de ser esquecida pelos últimos dois ou três filmes, com um vigor divertido e um humor tipicamente britânico que levava os espectadores a explodir em gargalhadas nas poltronas escuras do cinema. Contracenando bastante, com ela e com todos os outros, está Matthew Lewis, também trazendo mais talento e humor do que o protagonista da série. Seu Neville finalmente superou (quase) completamente a fase pateta em que esteve durante toda a série de livros e filmes e acabou por marcar o final da saga.
É impossível não comentar nesta resenha sobre as atuação magníficas, exuberantes, excepcionais de Alan Rickman e Ralph Finnes. Finalmente o Professor Snape de Rickman recebeu a atenção que sempre mereceu. Numa atuação emocionante que fez pessoas soluçarem nas poltronas ao meu redor (e fez um grande amigo meu chorar de raiva pelas implicações da relação Dumbledore/Snape), Rickman mostrou a que veio neste último filme da série, colocando seu talento para fora mais claramente do que nunca. Snape nunca foi um personagem amado nos filmes até a cena em que finalmente morreu nos braços de Harry. E quando então o cabeça-oca-que-possui-cacatriz finalmente visualiza as memórias daquele a quem sempre odiou, é impossível não se emocionar na cena mais tocante presente nas pouco mais de duas horas de filme, compreendendo que aquele a quem temia e desprezava era na verdade seu maior protetor, ainda maior que o aparentemente super-protetor Dumbledore. Ralph Fiennes por outro lado sempre ostentou seu talento no papel do sádico-bruxo-sem-nariz-autodenominado-Lord-Voldemort e neste último longa da série não fez feio: mostrou um lado ainda desconhecido e ainda mais assustador do personagem, um lado ligeiramente humano. A cena em que Voldemort por fim abraça Draco Malfoy (o quase inexistente Tom Felton, que mal aparece) apenas mostra o quão estranha é aquela cena, pois o bruxo das trevas não sabe abraçá-lo. Suas risadas maníacas e atitudes hostis e de surpresa ou medo apenas realçam esta interpretação da humanização da personagem.
Da mesma forma, Michael Gambon, Helena Bonham Carter e Evanna Lynch também estão ótimos, apesar das participações diminutas. Gambon aparece brevemente ao final do roteiro, contracenando (explendidamente, diga-se de passagem) com Rickman em discussões sobre a morte de Harry e a forma como o garoto deveria morrer. Bonham Carter mal aparece, apesar de ser uma excepcional atriz e sua morte é uma das mais, com o perdão da palavra, broxantes da história do cinema. Evanna Lynch é mal aproveitada apesar de encarnar com franqueza e talento a personagem Luna Lovegood, sempre fazendo uma pequena aparição aqui e ali.
O filme tem praticamente duas horas de duração, mas muito deste tempo é desperdiçado com cenas de ação desnecessárias que poderiam ser melhor utilizadas no aprofundamento da parte emocional do roteiro (como exemplo cito a morte de um dos gêmeos Weasleys e as mortes de Lupin e Tonks, ambas mostradas por literalmente uns dois segundos cada). "Como David Yates pode dar tão pouca importância à morte de personagens que tanto amamos?", me perguntei ao ver essa cena. É triste ver esse tipo de descaso com um dos personagens mais interessantes e divertidos da série. Em compensação temos uma cena de 10 minutos com Harry e Voldemort voando (sim, voando) por cima e por dentro de Hogwarts, em estado meio-dissolvido/meio-sólido numa aparatação incompleta que sabe-se lá o que quis dizer. Cena desnecessária e cansativa, diga-se de passagem.
Um dos pontos positivos do filme foram os efeitos especiais. A cena de Hogwarts sob ataque, com a cúpula de proteção se desfazendo e o castelo em chamas definitivamente vai provocar arrepios nos fãs. A ótima trilha sonora também é válida para intensificar estes efeitos e sensações. David Yates se arriscou ao aceitar dirigir este longa. Óbvio que é impossível agradar a todos os fãs, mas de fato deveria ter sido dada mais atenção à parte emocional deste filme (com tantas mortes e perdas, é excruciantemente o filme mais emocional da série). Por outro lado, tem se tornado comum encontrar filmes nos cinemas atualmente em que o roteiro não presta e as cenas de ação se estendem indefinidamente como se pudessem tapar buracos numa história fraca com tiroteiros e explosões (vide Transformers 3).
O epílogo, bom, nem vale a pena ser comentado. Fraco, chato e sem sentido, assim como no livro. E infelizmente mal-feito também. A maquiagem não convenceu e fechar a cena final na cara de Harry acabou com a graça de se ter um epílogo. Bem melhor seria fechar a cena com o Expresso de Hogwarts partindo.
Como disse no começo desta resenha, dizem que este é o fim de uma era. Uma era de Harry Potter. Mas não creio que seja. Creio que é apenas o começo de uma Nova Era. Uma Era em que Harry Potter vai ser apenas uma lembrança de toda a magia do mundo, marcando nossas memórias para sempre. O fim chegou, como sempre chega. E a todos que viveram estes tempos mágicos nada resta a não ser voltar a mergulhar nesta história quando se sentir nostálgico. Apesar de todos os problemas da série (me refiro à de livros e de filmes), é impensável esquecer Hogwarts e seus ocupantes. Afinal, como diz Dumbledore, Hogwarts estará sempre lá para aqueles que dela precisarem.


"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2". Título original: "Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 2". Ano: 2011. Nacionalidade: EUA. Diretor: David Yates. Roteiro de: Steve Kloves, J. K. Rowling. Produzido por: David Barron, David Heyman, Debbi Bossi, J.K. Rowling. Estrelando: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Bonnie Wright, Tom Felton, Matthew Lewis, Helena Bonham Carter, Jason Isaacs, Michael Gambon, Maggie Smith. Música de: Alexandre Desplat. Duração: 130 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 8,5/10.

Nenhum comentário:

Postar um comentário