sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Não há nada como olhos azuis e gravidade zero



Baseado no livro de imenso sucesso e mesmo nome, Ender’s Game - O Jogo do Exterminador (Ender’s Game, EUA, 2013) chega ao Brasil nesta sexta-feira, 20/12, com a promessa de um longa-metragem de ficção científica belo e cativante. E alcança ao menos a metade do que foi prometido - o que é sempre uma vitória.

Acompanhei o filme em uma sessão privada (cortesia da Paris Filmes) e devo dizer que uma coisa o filme consegue: embasbacar com a beleza visual. Tanto que já me comprometi a assisti-lo novamente nos cinemas, com direito a 3D, IMax e tudo o mais a que tiver direito. O longa é uma obra de arte visual, não há como negar. Ao menos o ponto de filme de ação divertido ele conseguiu alcançar. No entanto, a história a que se propõe a contar é muito mais profunda do que isso e, neste quesito, o diretor sul-africano Gavin Hood (de X-Men Origens: Wolverine e O Suspeito) decepciona um pouco.

Do princípio, a história gira ao redor do gênio mirim Andrew ‘Ender’ Wiggin (Asa Butterfield, de A Invenção de Hugo Cabret) que é chamado para frequentar a Escola de Combate - uma estação espacial que orbita a Terra e que serve para treinar soldados para a guerra contra os Fórmicos (aliens insectóides que quase levaram os humanos à extinção) - e, por isso, deve abandonar a família para se tornar um soldado. Logo ele deixa para trás a amada irmã Valentine (Abigail Breslin) e o violento irmão Peter (Jimmy Pinchak) e parte junto ao Coronel Graff (Harrison Ford) rumo ao espaço. E lá ele é treinado para ser o comandante e líder que a humanidade precisa para alcançar a vitória na guerra que virá.

A série de livros escrita por Orson Scott Card em 1977 (e traduzida no Brasil pela editora Devir) se mostra uma grande surpresa para aqueles que não conhecem a ficção científica como um estilo literário profundo e amplo. A história de Ender Wiggin é muito mais profunda do que raios laser e naves espaciais (embora contenha essas coisas): a história de Ender consiste em uma viagem àquilo que o ser humano tem de pior. É a história do fim da infância devido à guerra e à violência, como vemos na África ainda hoje, só que se passando em um futuro avançado tecnologicamente. É um conto sobre um medo tão profundo da extinção que se ultrapassa todo e qualquer limite para evitá-la. É uma jornada sobre se encontrar, descobrir quem e o que você é e decidir se vai encarar o monstro que há em você ou se vai fugir quando for a hora.


“No momento em que eu verdadeiramente compreendo meu inimigo, compreendo bem o suficiente para derrotá-lo, então, naquele exato momento, eu também o amo. Creio ser impossível realmente compreender alguém, o que querem, no que acreditam, e não amá-los da mesma forma como eles amam a si mesmos. E então, no exato momento em que eu os amo… Eu os destruo.” 

- Andrew ‘Ender’ Wiggin.


Sou suspeito para comentar, pois sou fã da série de Scott Card desde que coloquei minhas mãos no primeiro livro. Portanto, foi com a expectativa lá em cima que me sentei na sala escura para começar a assistir ao longa-metragem. E isso eu posso dizer: o filme é extremamente fiel ao livro de mesmo nome. É perfeito? Não, não é. Isso simplesmente pelo fato de adaptar um livro cheio de informações em pouco menos de duas horas de roteiro. Mas a adaptação é boa e, embora não chegue à profundidade alcançada pela edição impressa, a narrativa é bem conduzida para um filme de ação.

Achei o início do filme apressado, passando tão rápido pela aparição de Valentine e de Peter que mal notamos a importância deles - que é grande uma vez que a personalidade de Ender é formada pelo lado sentimental que vem da irmã e pelo lado violento e perigoso que vem do irmão. Mas logo somos apresentados à Escola de Combate com seu domo transparente em pleno espaço sideral onde ocorrem os treinamentos em zero gravidade. À medida que os minutos voam pela tela, o espetáculo visual impressiona, embora nem sempre os atores o façam.

Asa Butterfield que esteve tão bem em Hugo Cabret deixa um pouco a desejar no papel principal, com os olhos cheios de lágrimas em mais vezes do que consegui contar (em alguns momentos encaixa, em outros parece exagerado). Por outro lado, atores como Harrison Ford, Hailee Steinfeld (a companheira mirim de Ender, Petra Arkanian), Abigail Breslin (que pouco aparece, mas convence como Valentine), Ben Kingsley (como um ótimo Mazer Rackham) e Viola Davis (como a Major Gwen Anderson) roubam a cena sempre que aparecem. Destaque mais do que merecido para Harrison Ford e Viola Davis, que têm discussões incrivelmente poderosas e desenvolvem diálogos impressionantes apesar do papel coadjuvante.Algumas atuações mirins são boas, como as de Aramis Knight (Bean) e Suraj Partha (Alai), além de, é claro, Hailee Steinfeld.

Vale lembrar que a fotografia é ótima e o roteiro foi bem adaptado, embora talvez não tão bem conduzido quanto deveria. A trilha sonora conduz bem e, embora não seja tão marcante, consegue arrepiar nos momentos necessários e levar àquele clímax que estávamos esperando. E sim, nós sabemos que Asa Butterfield tem olhos incrivelmente azuis e brilhantes, mas os closes dados pela câmera em seu rosto se tornaram cansativos e repetitivos já depois da primeira hora de filme.

No cálculo geral, O Jogo do Exterminador pode ser apontado como um filme ótimo para as crianças e para os fãs da série de Card, além de geeks que gostem de space operas. É, sim, um filme de ação belo e cheio de explosões (embora não tão legal quanto o livro, não canso de lembrar) que diverte e merece ser visto. Ah, e merece reconhecimento também pelas batalhas em gravidade zero (que espetáculo!), lindamente feitas.

Apesar das críticas, realmente gostei do filme (já me comprometi a comprar o DVD assim que for lançado, como bom colecionador que sou) e estou torcendo pela confirmação de uma continuação. E gostei tanto que estou disposto a voltar ao cinema só pra ver de novo. E se o filme agradou a um fã xiita como eu a ponto de me fazer voltar para um segundo round, só posso dizer que alguma coisa certa ele fez. Apesar do excesso de olhos azuis em closes.

"Ender's Game - O Jogo do Exterminador". Título original: "Ender's Game". Ano: 2013. Nacionalidade: EUA. Diretor: Gavin Hood. Roteiro de: Gavin Hood, Orson Scott Card. Produzido por:  Orson Scott Card, Robert Chartoff, David Coatsworth, Deborah Del Prete, Lynn Hendee, Aaron Johnstone Alex Kurtzman. Estrelando: Asa Butterfield, Harrison Ford, Ben Kingsley e Viola Davis. Com: Hailee Steinfeld, Aramis Knight, Suraj Partha, Abigail Breslin, Moises Arias e Jimmy Pinchak. Música de: Steve Jablonsky. Duração: 114 minutos. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 7,5/10.

domingo, 6 de outubro de 2013

Goodbye, Bitch!






Como dito na recente resenha de Dexter (que você pode ver aqui), a moda dos seriados protagonizados por anti-heróis vêm marcando a presença na TV à cabo já tem uns bons anos. Para a vantagem dos telespectadores, claro. Isso porque personagens que não se prendem a limites morais e que traçam suas próprias regras se mostram protagonistas muito mais interessantes, na minha opinião.
Portanto não é surpreendente que um seriado como Breaking Bad faça tanto sucesso. Hoje, domingo 06/10, fez exatamente uma semana que foi finalizada a série criada por Vince Gilligan que conta a história de um professor de química de colegial que se descobre morrendo e, na tentativa de deixar algum dinheiro para sua família se manter após sua morte, acaba se tornando um dos maiores traficantes de metanfetamina dos EUA.
Com o decorrer das 5 temporadas que a série dura (de 2008 a 2013), acompanhamos o crescimento, ou talvez seja a decadência, do ingênuo e inofensivo professor de ensino médio Walter White (o inacreditavelmente bom Bryan Cranston) no seu alter-ego oposto, violento, frio, manipulador e calculista: Heisenberg. Não vou entrar em detalhes sobre como a série termina. Mr. White tem um câncer de pulmão incurável que o levará à morte, então é de se supor que ele não sairá do último episódio vivo. Mas ver a decadência física da personagem enquanto sua reputação apenas cresce é um prêmio à parte.

Aliás, vale ressaltar, que elenco estelar vemos em Breaking Bad. Quando Mr. White (ou Walt) recruta um ex-aluno seu, Jesse Pinkman (o incrível Aaron Paul, bitch!), você não sabe o que esperar. Isso simplesmente porque Jesse é tão obviamente um idiota no começo da história que é cômico. E ele é tão obviamente culpado de traficar drogas menores (e usá-las) que é surpreendente que não tenha ido pra cadeia. E seu costume de colocar o bordão ‘bitch!’ no fim de cada sentença é simplesmente divertidíssimo, bitch!

Outras personagens importantes (e um pouco irritantes) são a esposa de Walt, Skyler (Anna Gunn, que é ótima atriz encarnando uma personagem pra lá de chata) e sua irmã, Marie (Betsy Brandt). Embora Sky melhore no decorrer da série, ficando muito mais bad ass, Marie continua e mesma mala sem alça até o último episódio.

Depois também conhecemos o agente especial Hank Schrader (cansativo dizer que Dean Norris também é incrível?) do DEA - Agência de Combate às Drogas, em tradução livre - e que, por acaso também é cunhado de Walt. E mais pro fim do seriado, conhecemos o advogado porta-de-cadeia Saul ‘You better call Saul!’ Goodman (Bob Odenkirk, que de tão bom acabou ganhando um spin off próprio), que passa a ajudar Walter e Jesse a lavar o dinheiro conseguido com a venda de metanfetamina.

Pra quem não sabe, a metanfetamina é uma droga completamente produzida quimicamente e por isso é a opção mais viável para um genial professor de química que precisa de dinheiro rápido antes de morrer. Mas à medida que seu produto ganha reconhecimento pela alta qualidade, Mr. White e Jesse começam a lidar com os peixes grandes do tráfico de drogas. É nesse ponto que Walt assume o pseudônimo de Heisenberg (seu alter-ego de sangue-frio) e também é quando conhecemos personagens incríveis como Gustavo 'Gus' Fring (o assustador e magnífico Giancarlo Esposito), que é um traficante poderoso e multimilionário e que se disfarça de gerente de lanchonete; e seu braço direito (bem armado), Mike Ehrmantraut (o ainda-mais-assustador-e-com-olhos-mortos Jonathan Banks) que é quem cuida da ‘segurança’, que em outras palavras significa fazer o trabalho sujo.

Não vou entrar em mais detalhes. Quem assiste/assistiu Breaking Bad sabe o quanto a série é espetacular. E ficou marcada como uma das melhores exibidas na televisão nos últimos anos. Fica marcado os meus parabéns para o canal AMC e para o criador Vince Gilligan. Não à toa foi indicado umas 15 vezes à prêmios, só nesse ano de 2013 (segundo minha contagem ultra-rápida no IMDB), ganhando muitos deles. Agora, se você nunca acompanhou a série, mas gosta de explosões, sangue, violência e tudo o mais a que se tem direito para que você próprio não se transforme num psicopata/traficante/mercenário, eu recomendo muito que você assista. Me agradeça depois.

Sobre o último episódio de Breaking Bad, este se chama ‘Felina’ e, ao contrário de uns outros episódios finais de séries foi à altura dos fãs e de todos os episódios que o antecederam (chupa Dexter). Dei uma pesquisada e além de o título formar um anagrama para ‘finale’, ainda faz referência a uma música de 1959, que toca durante o episódio. Essa música se chama ‘El Paso’ de Marty Robbins e conta a história de um cowboy sem nome que se apaixona por uma mulher chamada Felina, é baleado por seus inimigos e morre nos braços da amada. Não vou dar spoilers, mas eu diria que a música não só encaixou perfeitamente no episódio como levou a compreensão das cenas finais a outro nível. Resumo da ópera que é a jornada de Walter ‘Heisenberg’ White: espetacular, incrível, imperdível (bitch!).

Título original: "Breaking Bad - Season 1-5". Ano: 2008-2013. Nacionalidade: EUA. Dirigido por: Michelle MacLaren, Adam Bernstein, Vince Gilligan, Colin Bucksey, Michael Slovis, Bryan Cranston, Terry McDonough, Johan Renck, Rian Johnson. Roteiro de: Vince Gilligan, Peter Gould, George Mastras, Sam Catlin, Moira Walley-Beckett, Thomas Schnauz, Gennifer Hutchison, John Shiban, J. Roberts e Patty Lin. Produzido por: Vince Gilligan, Mark Johnson, Melissa Bernstein, Stewart Lyons, Sam Catlin, Diane Mercer. Estrelando: Bryan Cranston, Anna Gunn, Aaron Paul, Dean Norris, Betsy Brandt e RJ Mitte. Com: Bob Odenkirk, Steven Michael Quezada, Jonathan Banks e Giancarlo Esposito. Música de: Dave Porter. Duração: 62 eps. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 10/10.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Morto e enterrado






Desde The Sopranos,  a moda dos seriados protagonizados por anti-heróis vêm marcando a presença na TV à cabo com grande sucesso. É o caso de seriados como Dexter e Breaking Bad, entre outros. Faz poucos dias que foi finalizada a série Dexter, que conta a história de um serial killer que opta por assassinar criminosos, baseando-se em um estrito código moral criado por seu pai policial.

Para ser sincero, me dói resenhar sobre o final de Dexter. Isso porque a série foi resenhada por mim mesmo em 2011, aqui neste mesmo blog. Tinha falado de como tinha gostado da primeira temporada da série (veja a resenha aqui) e como a série prometia ser uma das melhores da televisão. E foi. Mas infelizmente os produtores decidiram continuá-la após o seu auge, o que garantiu ao menos três ou quatro temporadas de puro declínio para o desespero e insatisfação dos fãs. Esse erro de julgamento fez com que a série desaparecesse da mídia e caísse no desgosto do público, arrastando-se pelos úlimos anos como alguém à beira de uma morte nada agradável. Dito e feito.

Após a incrível quarta temporada, com um dos melhores vilões que o seriado já viu - o Trinity Killer (o espetacular e arrepiante John Lithgow) -, e a morte de uma personagem tão i(rritante)mportante quanto Rita (Julie Benz), a série descambou para vilões e discussões mais fracas. Embora Dexter Morgan (o brilhantíssimo Michael C. Hall, que continuou com uma atuação inacreditável apesar dos altos e baixos da série e apesar de seu próprio câncer) ainda fosse o assassino que tanto amamos, começou a ter dilemas mais humanos e problemas mais corriqueiros, o que de nenhuma forma desmerecia o personagem. Apenas entediava os espectadores.

A série recuperou o fôlego, mesmo que momentaneamente, quando o segredo de Dexter foi descoberto pela sua irmã, a detetive Debra ‘Fucking’ Morgan (Jennifer Carpenter, uma das poucas qualidades da série até seu derradeiro fim), durante a sexta temporada. Ainda que o conflito gerado tenha rendido alguns momentos de aflição e desespero, os assassinos foram se tornando mais entediantes e previsíveis. Dexter não tinha real competição e, embora tentassem, os roteiros simplesmente não prendiam como antigamente. A verdade é que estava difícil acreditar que o segredo de Dexter, ou ele próprio, corriam qualquer risco.

A oitava temporada chegou com um suspiro de alívio pelo conhecimento de que seria a última e não haveria mais espaço para estragar algo que já fora bom. É com essa impressão que encerrei a série, ainda que o final-final tenha sido pra lá de desapontador, como já imaginava, mas tinha esperança de estar errado. A questão é que a série vinha definhando e não havia final que fosse de fato agradar aos fãs. Mas isso não é desculpa pra o - e desculpem a expressão - brochante desenrolar que culminou na conclusão do último episódio. A dura verdade é que se a série tivesse sido brutalmente cancelada antes, o final não teria sido mais insatisfatório.

Embora tenha sido grande e boa, a série acabou não dando certo. Antes a tivesse tido menos enrolação, seu final teria agradado um pouco mais (ou agradado um pouco que seja). Uma pena. Com o perdão dos trocadilhos, mas Dexter tinha tudo pra ter um final matador e não um final tão morto. Tanto para os fãs quanto para a mídia.

Título original: "Dexter - Season 1-8". Ano: 2006-2013. Nacionalidade: EUA. Diretores: John Dahl, Steve Shill, Keith Gordon, Marcos Siega. Roteiro de: Scott Buck, Karen Campbell, Daniel Cerone, Manny Coto, Charles H. Eglee. Produzido por: Sara Colleton, John Goldwyn, Robert Lloyd Lewis, Scott Buck, Gary Law, Tim Schlattmann, Lauren Gussis, Michael C. Hall, Wendy West. Estrelando: Michael C. Hall, Jennifer Carpenter, Lauren Vélez, David Zayas, James Remar, C. S. Lee, Erik King, Geoff Pierson. Música de: Daniel Licht. Duração: 96 eps. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 7,5/10.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Coisas de Hollywood


Quem lê a sinopse pode até se perguntar: mas e daí? Eles eram só alguns adolescentes invadindo a casa de celebridades e roubando uma coisa ou outra. Quão dano eles podem ter causado? E eu vou lá e te conto que a Gangue de Hollywood, chamada pela imprensa norte-americana de Bling Ring, roubou cerca de 3 milhões em roupas e acessórios de marcas e grifes famosas. Sim, você não leu errado: são três MILHÕES de dólares.

Para quem não sabe do que estou falando, me refiro é claro à história contada no longa-metragem Bling Ring: a Gangue de Hollywood (The Bling Ring, EUA, 2013), atualmente em exibição nos cinemas. A trama contada no filme é baseada em um artigo da revista Vanity Fair, escrito sob o título de “Os Suspeitos Usavam Louboutins”, contando a história real ocorrida em Los Angeles entre outubro de 2008 e agosto de 2009.

A história se passa com um tímido garoto chamado Marc (Israel Broussard) que, ao se mudar para uma nova escola, acaba fazendo amizade com a popular Rebecca (Katie Chang). No desenrolar da história, percebe que a moça tem uma inclinação para o furto, em especial de objetos de grifes famosas. É numa dessas que, vendo pela internet que a celebridade está fora da cidade, decidem invadir a casa de Paris Hilton, apostando que ela guarda a chave embaixo do tapete de entrada. Quando de fato encontram a chave no lugar imaginado (sem necessidade, pois, por incrível que pareça, a porta estava destrancada), começa a história de invasões a casas de celebridades. Suas vítimas incluíam não apenas a ‘pobre’ Paris Hilton (visitaram a casa da moça ao menos quatro ou cinco vezes), como também Audrina Patridge, Rachel Bilson, Orlando Bloom, Megan Fox e Lindsay Lohan, entre outros.

Após a primeira invasão à casa de Paris Hilton, não demorou para que outraos membros fossem agregados ao grupo (não que Marc e Rebecca tenham sido discretos a respeito de onde e como estavam conseguindo as peças caras). Sempre com a ajuda do milagroso Google Earth e da toda abençoada internet, a Gangue de Hollywood encontrava facilmente o endereço de seus alvos e, descobrindo que estavam fora da cidade em eventos de cinema ou gravações, furtavam rapidamente o máximo de produtos que conseguiam.

O longa-metragem foi dirigido por Sofia Coppola, que não propriamente faz filmes bons ou ruins. A moça tem um estilo próprio que agrada a alguns e a outros, não. Eu? Acho seus filmes, na falta de palavra melhor, peculiares. E Bling Ring certamente é um filme divertido de se assistir, quiçá um dos melhores da diretora (o que não o torna necessariamente bom, vejam bem). Mas eu certamente ri ‘às pencas’, como dizia minha avózinha. Mas isso é tudo. Não há realmente um final para a história e o roteiro não traz nada de muito novo, nada de grandes revelações. Diverte e é só. Então não vá esperando uma história que vai mudar sua vida.

Entretanto, há alguns pontos positivos que merecem destaque: a trilha sonora, que encaixou como uma luva em um filme sobre o consumismo desenfreado; a câmera de mão é convincente em alguns momentos, acompanhando os membros da gangue; mas principalmente, o que mais se destacou no filme, foram duas atuações inesperadamente (tá, talvez nem seja tão inesperado assim) boas. A atuação de Israel Broussard como um dos ‘líderes’ (assim, entre aspas mesmo, porque quem lidera todo é a popular Rebecca) é convincente e gostei de como ele mostra dúvida e humanidade. A outra atuação que merece destaque, na minha opinião é a melhor do filme, e o centro das atenções sempre que está na tela: Emma Watson.

Não há outra palavra para descrever a atriz que viveu Hermione em Harry Potter: sexy. Se você, caro leitor, tinha alguma dúvida sobre a qualidade da moça como atriz ou se ela conseguiria superar Hermione Granger e deixar a adorável sabe-tudo para trás, pode se acalmar na cadeira. No momento em que ela dança loucamente em uma festa ou quando faz uma pole dance na balada particular na casa invadida de Paris Hilton, você sabe que ela conseguiu algo que Dan Radcliffe ou Robert Pattinson nunca conseguirão: ela superou sua personagem e o estigma de fazer um filme de sucesso. Emma simplesmente brilhou no papel coadjuvante de Nicki e roubou a cena, abandonando o sotaque britânico e adotando uma irritante voz de adolescente mimada.

Bling Ring pode não ser um espetáculo, mas diverte. Vale pela jornada, pela riso que provoca, pela crítica ao consumismo desenfreado à lá “é um estilo de vida”, e pelos louboutins. Ah é, e claro, pela pole dance.

"Bling Ring: a Gangue de Hollywood". Título original: "The Bling Ring". Ano: 2013. Nacionalidade: EUA. Diretor: Sofia Coppola. Roteiro de: Sofia Coppola. Produzido por: Roman Coppola, Sofia Coppola, Darren M. Demetre e Emilio Diez Barroso. Estrelando: Katie Chang, Israel Broussard, Emma Watson. Com: Claire Julien, Taissa Farmiga, Georgia Rock, Leslie Mann, Carlos Miranda e Gavin Rossdale. Música de: Daniel Lopatin, Brian Reitzell. Duração: 90 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 7/10.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Eternamente, no escuro



Não é surpresa para ninguém que vivemos em um mundo completamente baseado na tecnologia. Há tempos abandonamos como precárias e ultrapassadas as formas de sobrevivência sem a energia elétrica ou as diversas formas de tecnologia. Não me entendam mal, adoro a internet tanto quanto qualquer um, banhos quentes são perfeitos e ler à luz de vela deve ser um saco. Sem falar que se eu ficasse sem o Facebook, provavelmente passaria por uma época difícil de abstinência... mas enfim.
A série é Revolution, que conta a história de um mundo pós-apocaliptico onde todas as formas de energia desapareceram misteriosamente em uma noite. Quinze anos se passam e ninguém descobriu como, onde ou por que, mas a energia se foi e não voltou. Governos caíram e as milícias - grupos armados formados por pessoas comuns que querem poder -  tomaram conta, assumindo o controle e formando novos estados, obrigando pessoas a se juntarem a seus exércitos, monopolizando as armas. É nesse mundo que começamos a acompanhar a história, seguindo a vida da jovem e irritante Charlie Matheson (Tracy Spiridakos) que um dia volta para casa e encontra o pai à beira da morte, atacado pela Milícia Monroe. Enquanto agoniza no gramado, Ben Matheson (Tim Guinee) conta à filha que a milícia queria algo dele e, como não conseguiram, levaram seu outro filho, Danny (Graham Rogers), como prisioneiro. Em busca do irmão sequestrado, Charlie parte na companhia do amigo de seu pai, Aaron (Zak Orth), e da madrasta, Maggie (Anna Lise Phillips), para a antiga cidade de Chicago para pedir ajuda ao tio ex-militar, Miles (Billy Burke). Tirando o pequeno fato de ter de atravessar metade do país à pé para buscar uma pessoa, eles chegam a Chicago com relativa facilidade e, muito embora Miles seja procurado pela milícia, o encontram facilmente. Além disso, mesmo que ele afirme não ter nada a ver com a situação e se recuse a participar da expedição, em cerca de cinco minutos é convencido, partindo para recrutar a ex-amante e rebelde especialista em explosivos, Nora (Daniella Alonso).
E isso não é tudo, no decorrer dos episódios, à medida que o grupo se aproxima do objetivo de resgatar Danny das mãos do destacamento de milicianos - liderado pelo Major Tom Neville (o incrível Giancarlo Esposito, que interpretou Gustavo 'Gus' Fring em Breaking Bad) - que o leva até o quartel general da Milícia Monroe, conhecemos outros personagens tais como a mãe de Charlie e Danny, que achávamos estar morta, Rachel (Elizabeth Mitchell, de Lost) e o próprio General Sebastian ‘Bass’ Monroe (David Lyons). O mais interessante, ou devo dizer ‘a única coisa interessante’ em Revolution são os personagens secundários. Os protagonistas Miles e Charlie são chatíssimos e bastante entediantes. Sem falar que entram na história uns certos pingentes que quando pressionados, trazem de volta a energia em uma raio de poucos metros. Não me perguntem como ou porquê.
Algo que me incomodou à medida que estava assistindo foi que os personagens insistem em manter uma moralidade que não é propícia a um mundo pós-apocalíptico. Olha, eu sinto muito, mas agir como uma boa alma que quer ir pro céu vai te matar em um mundo cheio de foras-da-lei, mercenários e pessoas morrendo de fome (que te matariam por um pedaço de pão). Manter vivo um mercenário enviado para te capturar ou matar (como a jovem Charlie convence Miles a fazer) é arriscado e imbecil, pra não dizer inocente.
Mas honestamente a série melhorou do 10º episódio em diante. E melhorou bastante. Mas não vou dar pontos por isso porque a série deveria ser boa antes. Foi difícil chegar ao 10º episódio antes de me interessar: quase abandonei inúmeras vezes. 
Conclusão? Não vou dizer para não assistir, assim como não direi para assistir. Mas fica o aviso: se planeja começar a série, prepare-se para episódios bem cansativos e irritantes e atitudes imbecilescas (se é que essa palavra existe - vale a invenção apenas para caracterizar os personagens de Revolution) dos personagens, que aparentemente não se acostumaram com os perigos desse novo mundo embora vivam nele há uns 15 anos. O aviso está dado, o resto é por sua conta e risco.
"Revolution". Título original: "Revolution - First Season". Ano: 2012. Nacionalidade: EUA. Diretor: Steve Boyum, Charles Beeson. Roteiro de: Eric Kripke, Monica Breen, Paul Grellong, Matt Pitts, David Rambo, Anne Cofell Saunders e Melissa Glenn. Produzido por: Paul Grellong, J.J. Abrams, Eric Kripke, Bryan Burk, Jon Favreau e Geoff Garrett. Estrelando: Billy Burke, Tracy Spiridakos, Graham Rogers, Zak Orth, Daniella Alonso, Elizabeth Mitchell, Giancarlo Esposito e David Lyons. Com: Tim Guinee,  Anna Lise Phillips, JD Pardo e David Meunier. Música de: Christopher Lennertz. Duração: 20 eps. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 6,5/10.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Vantagem de quem assistiu


Eu não sei vocês, mas eu adoro histórias com explosões, pancadaria e tiroteios. Sim, gosto mesmo. Mas gosto ainda mais quando essas histórias vêm acompanhadas de um roteiro inteligente, rápido, divertido. É uma combinação tão boa que dói quando chega ao fim. Foi assim que me senti ao terminar de assistir à pouquíssimo conhecida série Leverage. Nome em português? Triste dizer, mas “Acerto de Contas” (segundo o Filmow). Para não me sentir ridículo ao escrever esse texto, usarei o nome em inglês: Leverage (tradução literal: Vantagem).
A série se parece com aqueles roteiros estilo Onze Homens e Um Segredo: um ex-agente de seguros é contratado para liderar uma equipe de ladrões em um assalto incrivelmente arriscado. A equipe é formada por: a golpista (no inglês, grifter) Sophie Devereaux (Gina Bellman), uma mulher com muitos pesudônimos (nunca chegamos a saber seu nome real) que sempre quis ser atriz, mas é péssima nos palcos, só conseguindo convencer quando interpreta personagens durante os golpes; pelo hacker Alec Hardison (Aldis Hodge), um carismático geek que consegue invadir qualquer sistema; a ladra (thief) Parker (Beth Riesgraf), uma bela jovem que consegue invadir qualquer lugar e roubar qualquer coisa, adora saltar de lugares altos e tem zero habilidade social; o ex-militar Eliot Spencer (Christian Kane), a força bruta (hitter) da equipe, que é ótimo batendo em pessoas, derrubando capangas e adora cozinhar; e, por fim, o ex-agente de seguro que se demitiu após a empresa em que trabalhava não cobrir o tratamento de seu filho doente, o que o levou à morte, o genial Nathan Ford (Timothy Hutton), o cérebro (brains) da equipe.
Depois de um primeiro trabalho, a equipe decide continuar unida, ajudando pessoas simples a recuperar objetos que foram roubados ou a derrubar grande magnatas e políticos corruptos. É a clássica situação de Robin Hood moderno. A série é espetacular. Cada membro da equipe tem um estilo próprio e é delicioso acompanhá-los. Todos eles têm trejeitos prórpios puxando pra comédia e é impossível não rir das ótimas tiradas.


The rich and powerful take what they want. We steal it back for you. Sometimes bad guys make the best good guys. We provide... leverage.


Mas nem só de comédia vivia Leverage. Em suas cinco temporadas, a última, finalizada em meados de 2012, pouquíssimas vezes eles basearam seus golpes em tecnologia super-avançada que de fato não existe. É tudo feito na base da marra, na cara de pau, no trabalho mesmo. E por isso é divertido. Não teria graça se bastasse usar um super-não-sei-o-que e pronto, conseguem fazer o trabalho e tal. Eles se deram mal, foram caçados, alguns presos, espancados, torturados, drogados, enterrados vivos, roubados, explodidos, entre muitas outras divertidas cenas que misturam ação e comédia sem fim. Hilariante, pra falar a verdade. Além disso, temos o grande rival de Nate, Jim Sterling (interpretado magnificamente pelo ótimo Mark Sheppard, o Crowley de Supernatural). A participação dele, desnecessário dizer, é espetacular.
Li em algum lugar, alguém dizendo que “cada episódio de Leverage daria um ótimo filme!” e não poderia concordar mais. Seja ‘roubando’ um hospital, um governo, uma igreja, um Departamento de Defesa, um congressista, um sonho, uma montanha e por aí vai, a cada trabalho, eu ficava mais e mais impressionado com a série e a capacidade dos personagens me conquistarem. Sem falar que as atuações são espetaculares, embora, às vezes, o CGI não seja. A parte boa é que esta é uma série de atuações e não de efeitos. E isso é essencial para uma série ser boa. Ainda tento entender o porquê de ser tão pouco conhecida. Acho que isso vai ficar sendo um mistério. E creio que a vantagem seja minha de ser um daqueles que pôde, mesmo que tardiamente, descobrí-la.
"Acerto de Contas". Título original: "Leverage - First to Fifth Season". Ano: 2008 - 2012. Nacionalidade: EUA. Diretores: Marc Roskin, Dean Devlin, Jonathan Frakes e John Harrison. Roteiro de: Chris Downey, John Rogers e M. Scott Veach. Produzido por: Rachel Olschan, Marc Roskin, Chris Downey, John Rogers, Paul F. Bernard e James Scura. Estrelando: Gina Bellman, Aldis Hodge, Beth Riesgraf, Christian Kane, Timothy Hutton e Mark Sheppard. Música de: Joseph LoDuca. Duração: 77 episódios (durante 5 temporadas). Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,5/10.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Eu Não Quero Voltar Sozinho

Costumeiramente eu coloco um título que tenha a ver com a história do livro/filme/seriado a ser resenhado. Geralmente algo que me remete àquela história, seja um sentimento, uma piada ou um comentário que o leitor só compreenda, ou compreenda claramente o que eu quis dizer após ter lido ou visto aquilo a que me refiro. Mas não hoje. Simplesmente porque isso não é necessário. O título desta resenha é também o título do filme. Logo, o filme é um curta-metragem nacional de 17 minutos chamado Eu Não Quero Voltar Sozinho (idem, BRA, 2010) dirigido pelo Daniel Ribeiro (diretor, editor, roteirista e por aí vai...) que se especializou em curtas e após o sucesso deste Eu Não Quero Voltar Sozinho no Youtube (no momento com mais de 2 milhões de visualizações e que linkei no final deste post), decidiu ampliar o roteiro do curta para um longa-metragem, atualmente em pós produção e com previsão de estrear em 2014.
Para quem não conhece, a curtíssima história mostra um adolescente cego chamado Leonardo (Ghilherme Lobo) e como a sua vida e de sua melhor amiga, Giovana (Tess Amorim), muda com a chegada de um novo colega de sala, Gabriel (Fabio Audi) por quem Leo começa a se apaixonar, causando ciúmes na melhor amiga. Giovana, que sempre acompanhava o rapaz até a sua casa, cai para segundo plano quando o novo amigo se torna mais presente e passa a comapnhá-los também. O filme já ganhou cerca de 10 prêmios mostrando o quão tocante consegue ser, principalmente por reunir no protagonista duas características que quase nunca são exploradas, principalmente no Brasil: a deficiência visual e a homossexualidade.
Para os puritanos de plantão, o filme não chega a mostrar nada, pois o objetivo é detalhar uma paixão puramente platônica e alcança um êxito louvável neste quesito. E sinceramente, não tenho outra forma de definir este filme: fofo. É uma filminho tocante, leve, sensível, belo. As atuações, tanto dos atores jovens quanto dos poucos adultos, são comoventes e ótimas. A trilha sonora é espetacular, inclusive com a música "Janta" de Marcelo Camelo. Ver a esse filme dá um sentimento gostoso no peito, daqueles que aquecem o coração. Mal posso esperar pelo longa-metragem que vem para completar este roteiro tão adorável.
Título original: "Eu Não Quero Voltar Sozinho". Ano: 2010. Nacionalidade: BRA. Diretor:  Daniel Ribeiro. Roteiro de:  Daniel Ribeiro. Produzido por:  Daniel Ribeiro, Diana Almeida. Estrelando: Ghilherme Lobo, Fabio Audi, Tess Amorim. Música de: Juliano Polimeno e Tatá Aeroplano. Duração: 17 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 10/10.


terça-feira, 12 de março de 2013

Complexo de dar nó


O ano era 2077 quando a história começou... não, espera. Será que a forma certa de dizer isso não é “o ano será 2077 quando a história começar”? Viram onde começa o problema quando se tenta escrever uma história sobre viagem temporal? Nem a resenha é simples de se fazer. Maldito paradoxo temporal que dá um nó na minha mente!

Voltando: o início da série Continuum se passa em 2077 (melhor, não?) com a policial Kiera Cameron (Rachel Nichols) em uma Vancouver do futuro. O contexto político da época é bastante conturbado, fazendo com que a detetive tenha bastante trabalho. Isso porque o governo deste futuro é formado por líderes empresariais, isto é, sem representação formal apontada pela população. Isso faz com que surja um conflito, uma vez que o interesse de diversas empresas se sobrepõe ao bem social. O lucro ganha uma importância maior do que a dos dias atuais (e vamos combinar que já não é pouco). É quando um líder carismático e ligeiramente psicótico cria uma célula terrorista para atacar alvos governamentais/empresariais. Os terroristas se denominam Liber8, e à frente deles está o genial Edouard Kagame (Tony Amendola), liderando um grupo de ex-soldados e mercenários com diversas especialidades, quase todas que envolvem a morte de pessoas. Com este contexto político explicado, vamos aos fatos: após um atentado que leva à morte de milhares de civis,  toda a célula acaba sendo capturada e condenada à morte. Enquanto estão na câmara de execução, no entanto, os terroristas ativam um dispositivo que os envia ao passado, juntamente com a detetive Cameron que supervisionava a execução. É assim que o grupo chega ao ano de 2012.

A complexidade do paradoxo temporal dá a qualquer um uma dor de cabeça básica (Quer ver? pensemos por um momento que os terroristas matem a detetive Cameron em 2012 - nada acontece no futuro, uma vez que ela é o corpo do futuro que viajou no tempo. Em outras palavras, ela é a única versão de si mesma que existe, seja no passado ou futuro. Por outro lado, o que aconteceria se matassem a avó dela em 2012, antes de sua mãe ter nascido? Será que a Cameron que está em 2012 - a que viajou no tempo - desapareceria? Ou será que essa mudança temporal não faz nenhum diferença no universo que acompanhamos, criando um novo universo, este no qual Cameron não existe? Já está com dor de cabeça?).

Mas deixando de lado toda essa confusão, Kiera Cameron se vê em um passado do qual quase nada sabe e sem toda a tecnologia a que está acostumada. Tudo o que lhe restou foi o seu traje de tecnologia multi-funcional, que lhe dá certa vantagem em comparação com os policiais de nossos tempos. É por meio dessa tecnologia que conhecemos o jovem gênio Alec Sadler (Erik Knudsen), que seria aquele que, em um futuro não muito distante, inventaria as tecnologias usadas pela polícia e se tornaria uma das pessoas mais poderosas do país. Com Alec como aliado-hacker-apoio, entra em cena o detetive Carlos Fonnegra (Victor Webster) que aceita Kiera como sua parceira, uma vez que ela se apresenta como uma agente que é especialista neste grupo terrorista que começa a agir na cidade (e ele não tem ideia de onde, ou melhor, quando ela é).

Nesse meio tempo, Liber8 decide mudar o futuro para que não chegue ao ponto em que sua existência se fazia necessária. Com informações sobre o mercado de ações, eventos históricos e com um pequeno (nem tanto) uso da violência, ameaças e explosões, a célula começa a criar diversos tumultos, espalhando as sementes para uma revolução. Aí voltamos ao paradoxo: se eles mudarem o futuro para que a política não exija atentados terroristas, eles não serão terroristas, não viajarão no tempo e não estarão no passado para mudar o futuro. Dor de cabeça? Nem me fale.

O final da temporada, então, é espetacular, e embora não surpreenda muito, é ótimo de assistir a algo que você meio que suspeitava por ser paranóico. Continuum é uma série de ficção científica de ótima qualidade. Com tramas políticas, explosões, cenas de ação bem feitas, tecnologia futurista e muito mais, é inevitável se prender à história. Principalmente porque Kiera é a única que pode impedi-los uma vez q ajudou a prendê-los e sabe de onde(, aliás, de quando) eles são. No aguardo da segunda temporada, a estrear em abril de 2013 e que mantêm no meu futuro a promessa de comprimidos para a dor de cabeça.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os filmes do Oscar


Conforme a premiação se aproxima, fazemos uma análise breve dos nove indicados à categoria principal da noite.

Vale lembrar que as opiniões descritas abaixo são exclusivas da pessoa que as escreveu e não refletem o pensamento ou opinião do blog Cinéfilos e Etc.


#9: A Hora mais Escura (Zero Dark Thirty): O mais fraco dos nove concorrentes, também foi o mais bem resenhado filme dos EUA no ano passado. Depois de levar o Oscar por Guerra ao Terror, Katheryn Bigelow narra a história da morte de Bin Laden do ponto de vista da agente da CIA que o perseguiu. O filme carece de uma boa condução, culpa de uma diretora que se mostrou incapaz de dar ritmo e fluidez ao roteiro de Mark Boal que não é tão bom assim. A câmera chacoalhando não ajuda e a edição é bagunçada. Mas a atuação de Jessica Chastain no papel de Maia é ótima, e a trilha sonora de Alexandre Desplat ajuda a criar o clima de suspense que Bigelow não cria. Veredito: o patriotismo falou mais alto. O filme poderia ter sido melhor, se ao menos fosse por um diretor que não se ergue acima do medíocre. Nota: 7,5

#8: Os Miseráveis (Les Miserábles): A adaptação do clássico de Victor Hugo foi dirigida por Tom Hooper (O Discurso do Rei) e tem de tudo: ótimas canções, atuações lindas de Hugh Jackman e Anne Hathaway e até Russell Crowe que consegue demonstrar algumas nuances, quando ele não está cantando ou... cantando. Os cenários, figurinos, tudo contribuí para a imersão no universo de Paris do século XIX. No entanto, a maquiagem é uma droga (ninguém envelhece) e o filme é longo (2h 37), cansativo e tem picos de engajamento. Isso significa que, ora ele é emocionante, ora ridículo. Essa inconsistência é perigosa, mas Hooper consegue manter o nível mais ou menos estável. Na corda bamba, mas estável. Ele é melodramático, é claro, mas é só olhar o título para entender que o filme não é uma comédia. Mas também não é lá um grande filme. Nota: 8,0

#7: Django Livre (Django Unchained): Quentin Tarantino finalmente conseguiu fazer um Spaghetti Western e o resultado foi Django, uma das fanfarronadas mais inteligentes e originais dos últimos 30 anos. Com um elenco de astros com grandes atuações, uma trilha sonora espetacular e uma fotografia profunda e repleta de contraste de Robert Richardson, Django é um banquete para os olhos e ouvidos dos apaixonados por cinema. No entanto, o filme escorrega feio no final depois de um primeiro clímax incrível. E, para uma obra que trata de assuntos como vingança, reconciliação racial, racismo, amor e redenção, o filme parece estranhamente sem emoção. Ele possui uma alma, sim, perturbada e esquizofrênica como deve ser a de Tarantino. Mas seus problemas – especialmente os últimos 20 minutos – impedem-no de ser a grande obra prima (possivelmente a maior da carreira do diretor) que deveria ter sido. Nota: 8,5

#6: O Lado bom da Vida (Silver Linings Playbook): Dirigido por David O. Russell, o filme narra as trapalhadas de um casal improvável formado pelo bipolar Bradley Cooper e pela deprimida Jennifer Lawrence. Juntos, os dois encontram forças para superar seus traumas e dificuldades, mas não sem umas boas risadas antes. Russell é um diretor de atores sem igual e extrai de todo o elenco performances memoráveis que renderam QUATRO indicações ao Oscar, em todas as categorias (Ator, Ator Coadjuvante, Atriz e Atriz Coadjuvante). Seu estilo hiper-naturalista cansa um pouco, e ele não tira o pé do acelerador em nenhum momento das duas horas de filme. Às vezes, tudo o que você quer é que ele te deixe respirar um pouco. Mesmo assim, O Lado bom da Vida é um filme humano e caloroso, qualidades raras em Hollywood ultimamente. Isso o torna especial. Russell faz você rir até que doa. Nota: 8,5

 #5: Lincoln (Lincoln): Steven Spielberg continua um garoto e é bom saber disso. É esse seu olhar maravilhado que conquista plateias desde a década de 70, e, embora ele tenha alguns tropeços nos últimos anos, essa chama juvenil se mostra presente até hoje. Mesmo que seu novo filme, Lincoln seja uma obra particularmente adulta e política – um tema que o diretor não está acostumado a conduzir. Apesar de se tratar de uma história americana, ela é um tema universal, e Spielberg a conduz com segurança e maturidade. Especialmente na direção dos atores, Daniel Day Lewis e Tommy Lee Jones, o segundo em uma das melhores atuações da carreira. Lincoln também tem cara de Spielberg, com aquele trabalho técnico de fotografia e edição, aliados à trilha sonora de John Williams que tornam seus filmes o que eles são: grandes filmes. E este é um grande filme. Nota: 9,0


 #4: Argo (Argo): Quem diria que Ben Affleck iria se tornar um diretor tão bom? Melhor que como ator, com certeza, pois o único ponto fraco de Argo é a atuação apagada de seu ator principal. O filme conta a história de como a CIA retirou seis cidadãos americanos que tiveram que se esconder na casa de um embaixador canadense durante uma revolução no Irã na década de 70. O filme é suspense que também trata dos bastidores de Hollywood com um humor e cinismo inusitados. Affleck disfarça a si mesmo e aos membros do Consulado dos EUA de cineastas canadenses, o que, por mais absurdo que possa parecer, dá certo. E é absurdo, sim. Daí Affleck mostra uma maestria cinematográfica impressionante, ao lidar com a comédia hollywoodiana com um thriller de tirar o fôlego quando a coisa “fica séria”. Ele tem bem o formato do Oscar e é bem provável que leve a estatueta de Melhor Filme. Mas não seria uma injustiça: ao contrário do que pode parecer à princípio, Argo é um ótimo filme. Nota: 9,0

#3: As Aventuras de Pi (Life of Pi): Ang Lee deve ter levantado um certo ceticismo quando decidiu filmar um filme infantil em 3D baseado no livro Best-seller de Yann Martel, As Aventuras de Pi. Sua última incursão ao mundo dos blockbusters resultou no não sucedido (mas não necessariamente ruim) Hulk em 2003. Desta vez, Lee demonstra um uso incrível da tecnologia, aplicando o uso do 3D de forma poética, aliado à fotografia de Claudio Miranda e à música de Mychael Danna. Pi é um garoto que fica preso num bote com um tigre de bengala adulto depois que o navio deles naufraga. É difícil imaginar que seria possível tirar-se algo de tamanha profundidade e simbolismo como Lee conseguiu, mas ele conseguiu. Pi é um daqueles filmes como Hugo Cabret e Benjamin Button que usam a tecnologia para expressar poesia. E no fim, te faz questionar se a história que foi contada é real ou não. Não importa, na verdade, pois o filme é real, minuto por minuto, quadro a quadro. E é um dos melhores filmes do ano. Nota: 9,5

#2: Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild): Nacido em Nova York, o diretor Benh Zeitlin uma vez teve a ideia de filmar este filme como uma poesia que parece com Duro de Matar. Missão cumprida. Com um elenco de atores desconhecidos e a jovem de nome quase impronunciável, de apenas nove anos, Quvenzhané Wallis, Zeitlin fez uma obra curta, mas memorável. Wallis, a mais jovem indicada ao Oscar da história, é uma força da natureza em miniatura e o filme é uma espécie de milagre: algo que não deveria existir na máquina coorporativa do cinema capitalista, mas existe. Ainda bem, pois ele é único e inesquecível. Não é fantasia, no entanto, mas sim realismo mágico, conforme observamos o mundo pelo olhar da pequena e feroz Hushpuppy, em todas as suas cores, luzes, temores e espetáculos. Em uma das cenas, ela orgulhosamente proclama ao seu pai: “Eu sou o cara”. Com certeza. E seu fascinante filme não é para se deixar passar. Nota: 10,0

#1: Amor (Amour): Alemão, Michael Haneke moldou sua carreira filmando filmes sobre violência. Não se deixe enganar pelo título: Amor não é diferente. Aliás, é muito possivelmente seu filme mais violento. Mas também é sua obra prima. Não esperamos esse tipo de profundidade de Haneke, que está mais interessado na provocação do que na contemplação da vida e da morte – e de tudo o que há entre – nesta narrativa de um casal octogenário que tem sua vida mudada quando a mulher tem um derrame. Interpretando Anne, a atriz de 85 anos, Emmanuelle Riva tem a atuação mais espetacular da década, se despindo do glamour dos anos em que filmou Hiroshima Mon Amour, enquanto Georges, interpretado por Jean-Louis Trintignant não fica atrás. É em seus olhos que o significado da degradação física e mental de Anne atinge o espectador em seu núcleo. E em seu ato final que o filme provoca e perturba. Amor é como O Velho e o Mar de Ernest Hemingway. Ele é despido que qualquer firula, atendo-se ao mais puro, objetivo e simples. E é nessa simplicidade, nada simples, que Haneke faz um retrato da existência humana em sua totalidade e fragilidade. Ele pretende chacoalhar sua alma. E consegue. Nota: 10,0

 Texto e análise de Roberto Fideli.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O fim da inocência




Baseado na série de livros de John Marsden (que também assina o roteiro) o filme de que falo hoje é a adaptação do livro Amanhã – Quando a Guerra Começou. Título em português? Guerreiros do Amanhã (Tomorrow, When the War Began, AUS, 2010). Sim, também achei uma adaptação estúpida e sem sentido do nome. Títulos brasileiros, sempre decepcionando...
Enfim, a história se passa na Austrália e gira ao redor de sete adolescentes que decidem aproveitar um feriado para ir acampar em uma área selvagem nas proximidades da pequena cidade onde moram. Esses adolescentes são: a protagonista, Ellie (Caitlin Stasey); sua melhor amiga Corrie (Rachel Hurd-Wood) e o namorado, Kevin (Lincoln Lewis); o amigo de infância de Ellie e rebelde do grupo, Homer (Deniz Akdeniz); a princezinha da cidade, garota rica e de que todos gostam, Fiona (Phoebe Tonkin); o garoto em que Ellie está interessada, Lee (Chris Pang); e, por fim, a prima religiosa de Ellie, Robin (Ashleigh Cummings). Nota-se logo que o que mantêm o grupo unido é a protagonista, Ellie, que é quem conta a história em primeira pessoa, em um diário em video.
Durante o final de semana em que estão acampando, no entanto, sua cidade é invadida, e ao que parece todo o país também, por um exército inimigo que começa uma ocupação. Todos os habitantes da cidade foram capturados e reunidos pelo inimigo. Ao que parece, teve início uma guerra e a pequena cidade onde morava está ocupada pelo inimigo devido a seu valor estratégico (no filme nunca fica claro o motivo, embora subentenda-se que é devido à grande baía e ao porto que dá acesso ao continente).
Não vou dizer que o filme é perfeito. Não é. Os livros são muito mais realistas e interessantes, se querem saber minha opinião. O fato é que o filme tem cenas espetaculares, tiradas ótimas, referências divertidas e por aí vai. E o plot da história, em si, é genial. Talvez fizesse muito mais sentido em um período de e pós-Guerra Fria, mas ainda assim, é válido para nos darmos conta de que a aparente segurança que temos é mera ilusão que pode se acabar com um apertar de botão, para se dizer a verdade. Nos livros e no filme, nunca chegamos ao nível de um ataque de proporções nucleares, e isso porque os invasores querem ocupar a terra, tomarem posse, habitá-la.
O interessante do filme australiano, é na verdade poder observar o psicológico dos adolescentes se deteriorando à medida que se dão conta de que têm de se virar, não podem contar com ninguém, que um erro pode levar todos eles à morte. Mesmo quando começam a atuar como um grupo de guerrilheiros, vemos o desfigurar de jovens com esperanças em soldados lutando por suas vidas (aliás, atuação estupenda da Caitlin Stasey neste quesito). Como disse antes, não é um longa-metragem perfeito. Mas é perfeito para mostrar que vivemos à base de esperança e ilusões e que temos de deixá-los de lado quando é necessário. Às vezes abandonar a inocência é essencial. Além do mais, as explosões e tiroteios divertem à beça.
"Guerreiros do Amanhã". Título original: "Tomorrow, When the War Began". Ano: 2010. Nacionalidade: AUS. Diretor: Stuart Beattie. Roteiro de: John Marsden, Stuart Beattie. Produzido por: Peter Graves, Christopher Mapp, Matthew Street, David Whealy. Estrelando: Caitlin Stasey, Rachel Hurd-Wood, Lincoln Lewis, Deniz Akdeniz, Phoebe Tonkin, Chris Pang, Ashleigh Cummings e Andrew Ryan. Música de: Reinhold Heil e Johnny Klimek. Duração: 103 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 7,5/10.

domingo, 27 de janeiro de 2013

A melhor de todas as noites




Quem me conhece, sabe que não costumo me emocionar demais vendo filmes ou lendo livros. A verdade é que dizem que tenho uma pedra de gelo no lugar do coração. Quando ouço isso, eu rio, me diverte. E é por isso que hoje venho trazer uma resenha sobre um dos poucos filmes que conseguiu derreter meu coração gelado e me fez chorar feito uma criancinha. O filme é o pouco conhecido longa-metragem de 2009, Em Busca de Uma Nova Chance (The Greatest, EUA, 2009). Trailer no final do post.
Verdade seja dita, estava em uma maratona de filmes dramáticos com minha irmã e quase morri desidratado de tanto chorar (ok, ok, exagero meu) depois de assistir a esse filme, logo após assistir Tão Forte e Tão Perto (que logo mais também estará resenhado neste blog). E devo dizer: odiei Em Busca de Uma Nova Chance pelo simples fato de ter adorado o maldito! Ele me fez chorar e eu ainda gostei de cada minuto. Damn you, Susan Sarandon!
A história gira ao redor da família Brewer, que perde o filho mais velho em um acidente de carro. O jovem de 16 ou 17 anos, chamado Bennett (Aaron Taylor-Johnson de Kick Ass), morre no acidente enquanto sua namorada quase não sofre ferimentos. Então começamos a acompanhar o sofrimento da família Brewer: o pai, Allen (Pierce Brosnan) é um professor que se culpa por não ter expressado seus sentimentos pelo filho recém-falecido; a mãe, Grace (a bendita da Susan Sarandon), que chora todo o tempo, ignorando a dor dos outros e apenas querendo manter a memória do filho viva, seja não tocando em seus pertences ou interrogando os médicos e testemunhas sobre os últimos minutos de vida do garoto; e o irmão caçula, Ryan (Johnny Simmons), que afirma ter odiado o irmão, mas se afunda nas drogas e passa a frequentar um grupo de apoio a pessoas que perderam parentes. E, não bastasse o palpável drama da família, surge ainda a namorada de Bennett, Rose (a ótima Carey Mulligan), grávida do garoto falecido e pedindo abrigo.
Nota-se logo que drama é o que não falta nesta história, mas não vou dar mais spoilers. Esse filme caiu no meu colo e simplesmente me apaixonei por ele, por sua sensibilidade, por seu toque delicado e bonito. O elenco de peso ajuda, é claro. Fazia tempo que Pierce Brosnan não me convencia tanto em uma atuação. Susan Sarandon, é claro, é espetacular e leva lágrimas aos olhos só com um olhar ou uma frase. O novato Johnny Simmons mostra que sabe o que está fazendo na cena em que finalmente se abre com o grupo de apoio (me fez chorar feito um bebezinho, o desgraçado). E claro, Carey Mulligan, espetacular e extremamente grávida. O jovem Aaron Taylor-Johnson pouco aparece, é verdade, visto que morre na primeira cena, mas mesmo assim é ótimo quando aparece nos flashbacks. Um trabalho espetacular do elenco todo, sem contar a trilha sonora – feita especialmente para fazer as lágrimas caírem – e uma fotografia no ponto ideal.
O nome original do filme é The Greatest. Isso porque em um flashback Bennett pergunta à Rose sobre o que ela diria se lhe perguntassem sobre aquela noite. A noite em que ficaram juntos pela primeira vez. E essa é a resposta dela: “The greatest”. Também é nesta noite que o rapaz perde a sua vida. Sim, mais lágrimas. Assisti a este filme nos primeiros dias de 2013. Aposto que até o final do ano, continuará no topo da minha lista de dramas favoritos do ano. Imperdível.
"Em Busca de Uma Nova Chance". Título original: "The Greatest". Ano: 2009. Nacionalidade: EUA. Diretor: Shana Feste. Roteiro de: Shana Feste. Produzido por: Pierce Brosnan, Anthony Callie, Doug Dey, Ron Hartenbaum, Aaron Kaufman e Douglas Kuber. Estrelando: Carey Mulligan, Aaron Taylor-Johnson, Pierce Brosnan, Susan Sarandon e Johnny Simmons. Música de: Christophe Beck. Duração: 99 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,5/10.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

¡Vamos a decir que NO!



No, novo filme de Pablo Larrain ("Post Mortem") é, acima de tudo, didático. Serve como uma boa aula de história, serve para futuros publicitários, serve para os cinéfilos de plantão, enfim, tem mil e uma utilidades. Além, é claro, de ser um puta dum filmaço. Não é nenhuma obra-prima do cinema latino, sosseguem. Mas é um daqueles filmes que você sente prazer em assistir, mesmo sabendo do final.

"No" mostra os bastidores do plebiscito que pôs fim à ditadura militar chilena. O povo tinha duas opções: votar SIM pela permanência de Pinochet no poder ou votar NÃO pelo fim do regime. As pessoas estavam desanimadas, muitas pretendiam nem se dar ao trabalho de sair de casa para votar. O plebiscito, para muitos, era uma fraude. A vitória do SIM estava praticamente garantida - e os próprios milicos tinham certeza absoluta de que Pinochet permaneceria governando o Chile. Mas é isso que dá cantar vitória antes do tempo. René (Gael Garcia Bernal), um publicitário bem-sucedido, foi convidado a integrar a equipe criativa da campanha pelo NÃO e a transformou da água para o vinho. E adivinhem só: deu certo!

Não pensem que estou entregando o final do filme. O interessante mesmo é ver como as coisas caminham até a vitória da oposição. E, acreditem, há momentos que a gente até esquece que o NÃO vence e torcemos para que os publicitários façam uma campanha superior a do SIM. E vibramos quando percebemos que o trabalho está surtindo efeito!

Não fosse "Amour" o franco favorito a levar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para casa, "No" teria boas chances. É um pequeno grande filme, filmado em uma abordagem quase documental e com um trabalho de fotografia fora de série. Ágil, bem amarrado e muito, mas muito interessante tanto para quem gosta de publicidade e história, como para os que amam cinema de qualidade.



Por Vinícius De Vita