domingo, 4 de setembro de 2011

Império dos Macacos



Planeta dos Macacos, A Origem,
é o reflexo de uma geração tecnológica e cujos maiores temores, vêm da natureza ao seu redor.

Quando o primeiro Planeta dos Macacos, estrelando Charlton Heston e Roddy McDowall foi lançado em 1968, ele refletia - assim como todo filme de sua época - as preocupações de uma geração filha do átomo, aquela que dormia a noite sob o manto negro de um holocausto nuclear, ou da possibilidade de um. Nele, o coronel George Taylor, após vaguear durante centenas de anos no espaço, aterrissa em um planeta habitado por símios inteligentes, que escravizaram a raça humana, menos desenvolvida.
Contemplando os destroços da antiga Estátua da Liberdade, Taylor descobre que o planeta se trata da própria Terra, dizimada por uma guerra atômica, onde a maior parte da raça humana foi destruída, e o mundo foi habitado pelos predecessores mais desenvolvidos: os macacos. Tais preocupações proeminentes da Guerra Fria (que gerou grandes clássicos da ficção científica como Vampiros de Almas e O Dia em Que a Terra Parou) foram substitúidas por temas mais modernos, como a manipulação genética e a iminência de uma praga mundial, consequencia da superpoluação que o nosso planeta enfrenta, em O Planeta dos Macacos, A Origem (Rise of the Planet of the Apes, EUA, 2011).
Na nova produção - que procura esquecer a vergonha dirigida por Tim Burton em 2001 - novamente vê-se um retrato de uma geração tencológica e inovadora: a maquiagem que antes cobria o rosto dos atores na produção original (e na de 2001 também), foi substitúida pela técnica da captura de movimentos, extensivamente usada em Avatar, e pioneirizada em O Senhor dos Anéis.
Na nova narrativa, Caesar é um chimpanze cuja mãe foi usada em experimentos genéticos na tentativa da descoberta de uma cura para o alzheimer, outra das doenças que afetam o mundo moderno. A ideia era criar um vírus capaz de regenerar as células cerebrais. Mas o que os cientistas e principalmente Will Rodman (James Franco), encarregado da pesquisa não esperavam, era que o vírus não apenas regeneravam as células cerebrais, como aprimoravam as funções cognitivas. E que tais mudanças podiam ser carregadas geneticamente, de mãe para filho.
Logo Will descobre que Caesar não apenas é mais inteligente do que os outros símios, mas como também aprende numa taxa mais rapida do que o próprio ser humano. O cientista então adota o macaco ainda bebê e o cria como filho: uma relação perigosa que terá consequências catastróficas.
A relação entre humano/macaco, na obra original maravilhosamente apresentada por Heston e Kim Hunter, foi substituída pela não menos impressionante interação entre James Franco e Andy Serkins, que aqui, interpreta o chimpanzé que será o catalizador do próximo estágio evolutivo. Com a técnica que o próprio Serkins consolidou, neste filme concretiza um feito extraordinário: transformar um personagem computadorizado no eixo que sustenta todo o filme.
Sem Serkins, A Origem não seria metade do filme que foi. A cada mudança da trama, são acrescentadas mais camadas de complexidade emocional no personagem de Caesar: após um momento de fúria num pequeno subúrbio de São Francisco, Caesar é confinado num tipo de campo de concentração disfarçado de zoológico. Lá ele aprende a se comunicar com os outros macacos, e junto deles começa a orquestrar um plano de fuga.
Fora a sequência de ação final, que é bem orquestrada pelo diretor Rupert Wyatt, o filme não tem consistência suficiente sequer para se mostrar plausível, muito menos para prender o espectador em sua trama. Daí que entra Serkins, absolutamente soberbo, cujo mérito transcende a habilidade do diretor ou dos roteiristas encarregados, e se torna algo unicamente do ator. E com olhos e feições assustadoramente humanas, ele consegue criar um personagem complexo e profundo, que embora não seja humano, é carregado com uma humanidade e - principalmente - intelecto para se tornar o Caesar dos tempos romanos: aquele que dará o próximo salto na civilização.