quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

Como qualquer ano que se passa, coisas vão, coisas ficam e coisas nos marcam, de uma maneira boa ou ruim. Com os filmes é a mesma coisa, e abaixo estão alguns filmes que marcaram, de uma forma boa ou ruim.

A Fita Branca (Das Weisse Band)



- Ainda que o filme seja de 2009 e tenha concorrido – e perdido – o OSCAR de melhor filme estrangeiro, a fábula de horror criada por Michael Haneke foi um dos filmes mais impactantes do ano. Tenso, frio, silencioso, manipulativo e perturbador, a história narra estranhos acontecimentos que ocorreram em uma pequena vila alemã no ano predecessor à Primeira Guerra Mundial. Mais do que um conto sobre a maldade, é uma história que explica o por quê de muitos acontecimentos que marcaram com sangue a trajetória humana.


 

Inhale (Inhale)


- Sem lançamento no Brasil (e em muitos outros lugares do mundo), o primeiro longa de Baltasár Kormakur filmado nos EUA, narra a história de um homem que vai a fronteiras perigosas para conseguir um órgão para sua filha. Diante das atrocidades cometidas em regiões subdesenvolvidas do México, ele enfrenta um dilema moral que o mundo enfrenta todos os dias, tomando a decisão errada. O filme é tenso, violento, explícito e cruel. E é dessa forma que seu verdadeiro impacto acontece. Contudo, tal força só se mostra em real tamanho, muito depois que assistida.


 

Toy Story 3 (Toy Story 3)


- São raros os filmes que ao mesmo tempo são inteligentes, agradáveis e emocionantes. A magia da Pixar se sobressaiu mais uma vez este ano, com o final da trilogia Toy Story, que marca a partida de Andy para a faculdade e o destino dos brinquedos que encantaram milhões de pessoas (adultos e crianças) ao redor do mundo. Extremamente emocionante, é um filme sobre partida, amor e a necessidade de se desapegar de certas coisas, como acontece na vida de qualquer pessoa. Um final digno de uma série marcante, grande candidato aos prêmios deste ano.


 

O Escritor Fantasma (The Ghost Writer)


- Ainda que seja um indivíduo de ética duvidosa, Roman Polanski mostrou mais uma vez que é um diretor de visão e capacidade incrível de mergulhar o espectador numa história envolvente e inteligente. Um jovem escritor é contratado para realizar a biografia de um congressista americano, mas conforme vai cavando segredos descobre mais sujeiras do que deveria encontrar. Ainda que o futuro da carreira de Polanski seja uma incógnita, este filme foi uma grande realização, consolidando Ewan McCregor como um dos grandes atores desta geração.


 

Salt (Salt)


- Em mais uma das tentativas de transformar Angelina Jolie numa heroína de ação, Salt narra a frenética perseguição de Evelyn Salt que foi "confundida" com uma espiã russa e precisa provar sua inocência. À parte de algumas boas atuações e uma trilha sonora convincente, o filme é sem sal, implausível e em alguns momentos beira o absurdo. É uma obra interessante para quem curte ação sem conteúdo. Agora, para quem espera um roteiro inteligente como o da trilogia Bourne (no qual o filme claramente se baseia), ficará decepcionado.


 

Atração Perigosa (The Town)


- Sob o título americano de "A Cidade", Ben Affleck comprovou sua atuação limitada, aliada com uma direção segura e sólida. Ou seja, é um diretor muito melhor do que ator. Neste filme, ele interpreta um ladrão de bancos em Boston que se apaixona por uma gerente que é sequestrada pelo seu grupo. Aliando uma história de romance pouco original, com diálogos excelentes, um elenco ótimo que apresenta boas atuações, Atração Perigosa foi uma das boas surpresas do ano, e quem sabe, receberá uma indicação ao OSCAR de melhor filme. Ele merece.


 

O Fim da Escuridão (Edge of Darkness)


- Depois de muito tempo sem trabalhar na frente das câmeras, Mel Gibson reuniu-se com Martin Campbell, interpretando um pai que procura desvendar o assassinato de sua filha, mergulhando numa rede de intrigas políticas. Com ótimos diálogos, um elenco espetacular com um roteiro bem feito, uma ótima trilha sonora e uma atuação surpreendente de Gibson, o filme pega pela surpresa, sendo capaz de emocionar tanto quanto perturba. E nesse quesito, provavelmente só A Fita Branca consegue ser mais perturbador.


 

Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Ponyo on the Cliff by the sea)


- Quando Hayao Myiasaki anunciou a sua aposentadoria ao término deste filme, a indústria do cinema como um todo perdeu um de seus maiores diretores. Ponyo é um peixinho dourado que se apaixona por um menino chamado Sosuke, e assim, desequilibrando o já desequilibrado ambiente. Ambos então partem numa aventura para salvar o mundo. Visualmente espetacular, emocionante e inteligente, Ponyo é mais uma das grandes realizações de Myiasaki que aparentemente não irá mais se aposentar. Ainda bem. Mas se de fato se aposentasse, esse seria um bom final de carreira.


 

Como Treinar o seu Dragão (How to train your dragon)


- Em um ano repleto de grandes animações, a produção da Dreamworks pegou muitos de surpresa, ao narrar a história de um jovem viking que se torna amigo de um dragão, criatura arque-inimiga de seu povo. Inteligente, divertido e emocionante, ele lembra os bons momentos (ou seja, todos) de Hayao Myiasaki, ainda que não no mesmo nível. Visualmente espetacular, é uma pena que tenha saído na mesma temporada de Toy Story, pois é um sopro de renovação numa categoria dominada pela Pixar e seria bom ver outro filme ganhar o OSCAR de melhor animação. Um filme como este.


 

Percy Jackson e o ladrão de raios (Percy Jackson & The Olympics – The lightning thief)


- Bom diretor de filmes infantis, como os dois primeiros da série Harry Potter, Chris Columbus escorregou na maionese e feio com este filme. Percy Jackson acha que é um garoto normal, quando na verdade é filho de deuses olímpicos e precisa encontrar um suposto ladrão de raios. O filme é incrivelmente ruim, ainda que fosse difícil esperar algo mais. Sem um pingo de inteligência, aliou originalidade com péssimos diálogos, péssimos atores (ou bons atores em péssimas atuações) com um roteiro bobo num dos piores filmes do ano e o pior da carreira de Columbus.


 

O Último Mestre do ar (The Last Airbender)


- Massacrado pela crítica e público nos EUA, a fábula de M.Night Shyamalan é um dos filmes mais injustiçados do ano. Nele, o jovem Aang é o único capaz de controlar os quatro elementos, e precisa derrotar a Nação do Fogo que quer escravizar os outros povos. Incrivelmente belo artisticamente, o filme tem seus problemas, mas alia mais qualidades do que falhas. É um filme espiritual, bonito e por muitas vezes emocionante, comprovando – mais uma vez – que Shyamalan ainda é um dos poucos diretores de visão da atualidade. É uma pena que caia sempre na incompreensão.


 

Tron – O Legado (Tron: Legacy)


- Dirigido por um arquiteto chamado Joseph Kosinski, a Disney encheu o projeto da sequencia de Tron – Uma Odisséia Eletrônica de dinheiro e efeitos visuais, para narrar a tentativa de Sam de encontrar seu pai, Kevin Flynn, astro do filme anterior, dentro de um programa de computador. O resultado é uma das maiores decepções do ano, que à parte dos efeitos visuais e uma boa trilha sonora, esbanja um roteiro burro, diálogos e situações horríveis, com um elenco mal aproveitado. Definitivamente um espetáculo visual, mas com um Q.I. de uma ostra.


 

A Origem (Inception)


- Dirigido pelo inglês Christopher Nolan, o filme esbanjou originalidade, acompanhando a trajetória de um ladrão especializado em adentrar as profundezas dos sonhos das pessoas, para, desta vez, implantar uma ideia. Com um elenco de primeira, um roteiro extremamente inteligente, cheio de ação e ótimos efeitos visuais, A Origem podia ter sido o melhor filme do ano se Nolan tivesse tido coragem de explorar mais as fronteiras de sua própria criação. O resultado é não experimentar a sensação de estar sonhando, mas o filme é, ainda assim, um dos melhores do ano.


 

A Rede Social (The Social Network)


- Com uma direção espetacular de David Fincher, um roteiro afiado de Aaron Sorkin e um elenco jovem mais do que competente, a história dos fundadores do facebook tornou-se, facilmente, o melhor filme do ano, pegando MUITA gente de surpresa. E no fim é um filme de atores, com a ação ocorrendo somente em diálogos, mas tão bem feito e tão bem conduzido, com uma ajuda da música poderosa de Trent Reznor, que é com certeza uma das obras mais interessantes da década. E ao mesmo tempo em que é um clássico moderno, é um filme que define a geração da cibercultura. E isso não é pouco.


 

2010 terminou e 2011 está para começar. Com ele, virão novos filmes de novos diretores, com elencos bons, ruins e desconhecidos. Virão trilhas sonoras marcantes, histórias diferentes – algumas boas e outras ruins – e histórias não tão diferentes assim. Este ano, tivemos histórias de agentes secretos, ladrões de sonhos, assaltantes de bancos, peixes dourados, caçadores de dragões e visionários. Tivemos histórias contadas por grandes diretores e outras contadas por diretores ruins. Tivemos surpresas boas e outras bem desagradáveis, decepções, ofensas, sentimos medo, rimos e choramos com as produções que encheram as telas dos cinemas do Brasil e do mundo este ano. E ano que vem tem mais, muito mais e nós estaremos aqui, sempre cobrindo, analisando, e, quem sabe, trazendo algo que os cinéfilos ainda não viram ou não sabem. Queremos agradecer por todos aqueles que entraram neste blog para ler as resenhas, análises, trailers e opiniões dos nossos moderadores. E queremos desejar um feliz 2011, repleto de alegrias, sonhos, paz, saúde e claro, muitos filmes.


 

Atenciosamente,

Guilherme Aleixo e Roberto Fideli


 

"Você nunca está terminado, não enquanto tiver uma boa história e alguém para quem contar".

- A Lenda do Pianista do Mar

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

As dez melhores trilhas sonoras de 2010 foram escolhidas, mas existem algumas que não devem ser esquecidas, só por que não chegaram as 10 mais! São elas:

Toy Story 3 - Randy Newman. Conhecido justamente pelas músicas dos dois primeiros filmes da trilogia Toy Story, Randy Newman que demorou 13 indicações ao OSCAR para finalmente vencer, criou novamente uma trilha que fez jus à trilogia que encantou milhões de pessoas e cujo final fez chorar outras milhões. Ainda que infantil, possui temas muito bacanas, mas não chega aos pés do trabalho feito por Michael Giacchino ano passado, em Up-Altas Aventuras, trilha que lhe rendeu o Academy Award.

Zona Verde - John Powell. Powell que trabalha em parceria com o diretor Paul Greengrass em tudo que o inglês faz, criou um tema semelhante ao de Jason Bourne (também de Powell e Greengrass), mas mesmo assim, muito vibrante e perfeito para um filme de ação com a edição frenética e câmera semi-documental que Greengrass proporciona. Embora seja tão boa quanto a trilogia Bourne, sua semelhança extrema a tirou dos dez melhores, mas ainda assim foi uma das trilhas mais bacanas do ano.

As Crônicas de Nárnia a Viagem do Peregrino da Alvorada - Harry Gregson Williams. Era de se esperar que Gregson Williams estaria entre os dez mais, com Crônicas de Nárnia, mas infelizmente, apesar do ótimo trabalho com a composição de uma peça de fantasia, Nárnia não ganhou seu espaço entre as dez melhores do ano, embora merecesse um lugar, assim como as duas citadas àcima. Mas infelizmente, não deu pra colocar todo mundo.

Músicas pelas quais aguardo ansiosamente:

War Horse - John Williams. Filme dirigido por Steven Spielberg, traz John Williams de volta depois de mais de dois anos, no final de 2011. Morrendo de espectativa, já que Williams é um dos maiores compositores do mundo e seus trabalhos com Spielberg são, no geral, espetaculares.

As Aventuras de Tintin - John Williams. Juntamente com War Hourse, Spielberg vai lançar Tintin no final de 2011, e logicamente ela contém a trilha de John Williams. A espectativa por esse é ainda maior, pois a série deve proporcionar um tema maravilhoso nas mãos do maestro.

A Árvore da Vida - Alexandre Desplat. Está mais do que na hora de Desplat ganhar seu primeiro OSCAR. É possível que no filme de Terrence Malick, com Brad Pitt e Sean Penn, ele finalmente consiga. Uma preview já foi lançada e o tema, é certamente um candidato pro ano que vêm.

Água para Elefantes - James Newton Howard. A Árvore da Vida era pra ter música de Howard, mas Água para Elefantes foi a aposta. Se ele repetir o trabalho de Eu Sou a Lenda do diretor Francis Lawrence, neste filme, será um trabalho e tanto. Se o filme vai ser tão bom, difícil dizer.

Lanterna Verde - James Newton Howard. Howard já trabalhou com Martin Campbell em Limite Vertical, e o resultado foi o melhor tema de sua carreira. Se ele repetir isso na adaptação dos quadrinhos da DC, vai ser espetacular. Já o filme, provavelmente vai ser uma porcaria.

Capitão América - John Powell. Powell normalmente é um compositor de filmes de ação e boas animações, por isso é uma boa escolha para esta adaptação da Marvel. O filme é promissor, e a trilha de Powell deve ser interessante, mas nada espetacular. Resta esperar pra ver.

Hanna - The Chemical Brothers. Com o diretor Joe Wright por trás desta obra de ação e suspense, uma trilha com a dupla de irmãos conhecidos como The Chemical Brothers, deve ser interessante como as trilhas de Sangue Negro e A Rede Social, de Johnny Greenwood e Trent Reznor.

Quem eu gostaria de ver trabalhanto junto: James Newton Howard e David Fincher em Os Homens que Não Amavam as Mulheres, filme que estréia no fim do ano. Se isso acontecesse, acho que eu ia ter um troço. O filme ainda está em processo de filmagem e não tem compositor definido. Fincher tem escolhas interessantes para a música em seus trabalhos e, mesmo achando difícil uma parceria entre Howard/Fincher, aguardo ansioso para ver o que ele vai fazer.

Este foi um ano muito interessante para a música de cinema e grandes compositores como Howard Shore, Hans Zimmer, James Newton Howard e Alexandre Desplat foram para a lista dos 10 mais deste ano. Teve de tudo. Drama, comédia, suspense, terror, ficção científica, mas principalmente, fantasia, aparentemente o melhor gênero de filme para criar obras musicais memoráveis. Afinal, os três primeiros colocados deste ano eram de filmes de fantasia. Saudade dos bons tempos em que a ficção-científica competia pau a pau com ela. Este ano, músicas como Tron e A Origem marcaram presença, mas a fantasia levou a melhor em - quase - todos os sentidos. Quem sabe ano que vêm isso se torna mais equilibrado? Tem Lanterna Verde como ficção e A Árvore da Vida como fantasia. Isso vai ser interessante. Aguardo ansioso pelo ano que vêm, por John Williams, James Newton Howard e tudo mais que vier.

Abraçoss e um ótimo ano novo!

sábado, 25 de dezembro de 2010

Comentário convidado - A Criança Roubada







Por Finisia Fideli

A Criança Roubada (The Stolen Child), Keith Donohue. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007, 362 pgs. Capa de Jonathan Cape. Tradução de Cássio de Arantes Leite.


Na primeira frase do livro, o protagonista pede: "Não me chame de fada", e segue explicando que essa palavra adquiriu com o tempo inúmeros significados e que o correto é nomeá-lo de hobgoblin - ou changeling (do inglês "to change" = "trocar").
Os changelings sequestram uma criança humana e a substituem por um deles. A criança escolhida é rigorosamente acompanhada para que tudo a seu respeito e de sua família seja conhecido antes da troca. Não serve qualquer criança. É preciso que seja um tipo solitário, inapto à vida familiar, de alguma maneira rejeitada ou deixada de lado. Desse modo, o hobgoblin captura a criança e a substitui. Transforma seu corpo nos mínimos detalhes, a fim de enganar os pais e fazê-los acreditar que aquele changeling é de fato o filho deles.
A história começa com a captura e entrada de Henry Day no mundo das fadas, quando, aos sete anos de idade, ele decide fugir de sua casa na fazenda e adentrar na floresta que existe nas proximidades. Com os bolsos cheios de biscoitos, ele se esgueira dentro da mata sem que sua mãe perceba. É uma tarde quente de agosto, e Henry acaba se escondendo dentro do tronco oco de um enorme castanheiro. Ao entardecer, os adultos se aproximam de seu esconderijo com lanternas, procurando por ele, mas Henry está decidido a não ser encontrado.
Contudo, os changelings já o escolheram, e ele é arrancado do buraco, jogado no chão, amordaçado, despido, amarrado e carregado por crianças extraordinariamente fortes, em disparada pela floresta escura. A história de sua conversão é o início de uma fábula de sofrimento, ao mesmo tempo a imersão e o despertar de um sonho, de uma morte e de um renascimento.
Contando com ele, o grupo completa uma dúzia exata, seis garotos e cinco garotas quase nus, cobertos com roupas velhas e puídas; descalços, cabelos compridos e desgrenhados, belos rostos, olhos baços e vazios emoldurados por rugas finas. Anciãos em corpos de meninos selvagens, imobilizados no tempo, sem idade, eternos, rústicos como uma matilha de cães. Eles se apresentam: as meninas são Speck, Onions, Kivi, Blomma e Chavisory. Os garotos são Igel, o líder, Bécka, Ragno, Zanzara, Smaolach e Luchóg. Alguns agem como irmãos, outros como amantes, todos vivendo juntos na floresta.
Henry acaba sendo nomeado "Aniday" e aprende a arpoar rãs e peixes, distinguir cogumelos comestíveis dos venenosos e coletar água. No frio eles todos dormem juntos numa massa confusa sobre uma pilha de peles de animais. Os mais experientes fazem escursões à cidade para roubar agasalhos e sapatos para enfrentar o inverno rigoroso. Aniday é tratado como um bebezinho, enquanto se adapta, aos poucos, à fome quase permanente, ao desconforto, ao distanciamento de sua vida pregressa.
As fadas não são imortais, mas podem viver centenas de anos sem aparentar sinais de envelhecimento. Quando percebe que já não controla a passagem do tempo, Aniday decide escrever um diário.
Vivendo sua vida humana, Henry causa estranheza à sua família porque demora a crescer como um menino normal, tem estranhas mãos brancas e longuíneas, e vive cantarolando pela casa. Ele tem uma linda voz e demonstra talento musical. Levado a um professor de piano, acaba desenvolvendo suas habilidades, fazendo apresentações públicas, tentando mais e mais se integrar à sua família humana.
Aniday, por sua vez, mergulha na vida da floresta, ganha confiança do grupo e goza cada vez de mais liberdade em suas investidas na cidade. O que ele procura é papel para escrever o diário e livros da biblioteca local. Ele e sua melhor amiga, Speck, transforam o subsolo da biblioteca em um refúgio particular. Lá eles lêem e escrevem, tentando escapar um pouco das dificuldades da vida na floresta.
Acompanhamos a vida de ambos à procura de uma identidade que sempre lhes escapa. Henry nunca consegue esquecer sua vida antes das fadas, numa aldeia alemã; e Aniday jamais se afasta totalmente de seus pais e irmãs, e de um futuro que lhe foi usurpado.
O livro alterna capítulos na voz de Henry e Aniday. Nenhum deles encontra felicidade verdadeira, embora todas as chances estejam do lado de Henry. Mas nem a faculdade, o talento musical, o casamento e paternidade o satisfazem como indivíduo, e ele passa a desenvolver um medo quase paranóico em relação ao sequestro de seu próprio filho.
A vida de Aniday, por outro lado, é tão mais dura quanto o fato de ele não querer esquecer sua vida anterior, estando impedido, portanto, de pertencer totalmente ao mundo das fadas, onde ele enfrenta muito mais perdas do que acredita ser capaz de suportar.
Ambos só encontrarão paz quando alcançarem suas realizações. Henry através da música e Aniday com seu livro de memórias, que por fim conclui que as fadas já não representam problema para as crianças do mundo moderno, porque perigos muito mais reais estão à espreita.
O final acena com a procura de Aniday por um nome, um amor, uma esperança. Seu legado, um livro. Para lembrar de tudo.
O autor Keith Donohue é casado e pai de quatro filhos. Foi redator de discursos por oito anos e atualmente trabalha num órgão governamental ligado à preservação cultural dos Estados Unidos. Este é seu livro de estréia, traduzido em mais de vinte países. Escrito como uma fábula, uma fantasia contemporânea, uma original história de fadas cujo significado é a perda da identidade e a busca desesperada por um lugar no mundo que preencha o coração.


Primoroso e emocionante, o romance é uma obra de rara delicadeza, que ilumina e inspira, ao mesmo tempo que nos assombra em relação ao futuro de nossas crianças.






Esta resenha foi publicada originalmente na coluna do Terra Magazine, por Roberto Causo e foi escrita por Finisia Fideli. Foi postada aqui com autorização da autora. Para ler a resenha em seu contexto original, clique no link abaixo:






O conto "Exercícios de Silêncio", de Finisia Fideli, está na antologia Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica (Devir, 2007)

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes do término de 2010, uma compilação com as 1o melhores trilhas sonoras deste ano.

Finalmente chegamos ao número 1. E que ano foi este para a composição de trilhas sonoras. Grandes compositores como John Powell, Hans Zimmer, Alexandre Desplat e Howard Shore estão entre os melhores da lista. E novidades chegaram com tudo, como Trent Reznor da banda Nine Inch Nails e o grupo Daft Punk, que trouxeram com eles um estilo novo, ousado e intrigante. Mas como qualquer lista dos 10 mais, chegamos, invariavelmente ao primeiro colocado. E aí muitos concordam e muitos discordam. Espero que vocês concordem com a minha escolha para a melhor trilha sonora do ano, e se não tiveram como opinar, haverá a chance de ouvirem e então tomarem uma decisão. Espero que concordem comigo. E agradeço por terem vindo até aqui.

A Melhor Trilha Sonora do Ano:

O ÚLTIMO MESTRE DO AR - JAMES NEWTON HOWARD

Abordado pela primeira vez pelo produtor/diretor Frank Marshall na minissérie para televisão, Da Terra À Lua, James Newton Howard não podia imaginar que quase dez anos depois, seria apresentado a um jovem diretor indiano chamado M.Night Shyamalan, que estava lançando seu primeiro filme nos EUA, o trhiller fantasmagórico, O Sexto Sentido. E jamais poderia imaginar, que essa parceria iria redefinir sua carreira, projetá-lo no ranking dos melhores compositores do mundo, render-lhe uma indicação ao OSCAR e, consequentemente, uma das maiores parcerias entre compositor/diretor, desde John Williams e Steven Spielberg. Logo de cara, o resultado não foi dos melhores. A trilha sonora de O Sexto Sentido, apesar de ter momentos primorosos, não é a trilha pela qual ambos seriam lembrados. Provavelmente essa era A Vila. Agora é O Último Mestre do Ar. Com cada nova parceria, Howard e Shyamalan redefiniam o estilo de trilhas sonoras em filmes, ainda que algumas sejam melhores que outras. Corpo Fechado é uma das obras mais poderosas e hipnotizantes, tanto no aspecto visual quanto audio-visual. Sinais é um dos temas mais assustadores dos anos recentes e A Vila, um dos mais belos de todos os tempos. Enquanto a trilha que lhe rendeu sua mais incontestável indicação ao OSCAR é um tema delicado e feminino, A Dama na Água, favorita dos críticos de música no cinema, é uma explosão de orquestra e coro, numa das obras de fantasia mais inesquecíveis da história. Algo que está no patamar de O Senhor dos Anéis, de Howard Shore. Fim dos Tempos foi um tremendo escorregão, tanto para o diretor quanto para o compositor, ainda que seja capaz de transportar o ouvinte para dentro do clima de suspense criado por Shyamalan. Quando as coisas pareciam que iriam degringolar, Howard recebeu a chance de ouro de compor a trilha da adaptação da série da Nickelodeon, O Último Mestre do Ar. Como qualquer adaptação, ambos os artistas estavam sujeitos à comparação com a obra original, com o objetivo de criar algo tão bom, ou melhor do que os desenhistas do anime americano. Shyamalan (de acordo com a crítica em geral) decepcionou. Howard, como de costume, surpreendeu. Com um orçamento de 150 milhões de dólares, a orquestra com 119 integrantes fez jus ao empreendimento. A coisa é gigantesca, aliando solos furiosos de cordas com sopros imponentes e batidas pesadas. Nada tão grande quanto O Senhor dos Anéis, de Howard Shore ou Final Fantasy de Elliot Goldenthal, aquilo lá é sacanagem. Mas ainda assim o suficiente para lembrar as grandes orquestras de John Williams e Jerry Goldsmith, dos anos 70 aos anos 90 (e no caso de Williams, até metade dos anos 2000). Esse tipo de música não é tão ouvida com frequência nos últimos anos, o que é uma pena. O poder e a capacidade de progetar o ouvinte em um universo fantástico, de assustá-lo, conduzi-lo e emocioná-lo, é algo que só pode ser visto em uma obra dessa magnitude. Logo de cara, O Último Mestre do Ar abre com uma explosão orquestral de onze minutos, que mais ou menos apresentam todos os temas que serão desenvolvidos posteriormente. Howard foi capaz, com considerável habilidade, de manter uma construção homogênea, durante as mais de dez faixas do álbum. E acima de tudo, de fechá-lo, com um dos temas mais belos e melódicos e impactantes dos últimos anos: Flow Like Water, uma megalomaníaca profusão de cordas que fecham com o tema central do pequeno dobrador de ar. É uma pena que uma trilha de tamanha qualidade esteja em um filme tão mal compreendido pelo público e crítica em geral. M.Night Shyamalan vêm sofrendo, com o decorrer dos anos, uma crítica assombrosa que beira à perseguição. O Último Mestre do Ar, foi o mais massacrado de todos. Ainda que injustamente, isso foi o bastante para aniquilar quaisquer chances de Howard de conseguir sua 9ª indicação ao OSCAR e finalmente vencer. Não é desde A Vila que o compositor de três nomes é o melhor do ano. Ano passado, Giacchino foi o melhor (e levou, olhem, que surpresa). No ano anterior, ano em que Howard foi indicado por Um Ato de Liberdade, Alexandre Desplat era o melhor, com O Curioso Caso de Benjamin Button. Ambos perderam para o milionário indiano. Nesse caso, Desplat podia ter até criado a melhor trilha da década, ou algo perto disso. Se há alguma justiça nesse ramo, o prêmio agora é de James Newton Howard, e a lenda do O Último Mestre do Ar.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/user/rffcauso?feature=mhum#p/a/u/0/vSW1v8EDjIo

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras deste ano.


2º: Como treinar o seu dragão - John Powell

John Powell nunca foi e provavelmente nunca vai ser um John Williams, ou um Jerry Goldsmith. Não está no patamar de Thomas Newman, Howard Shore ou Hans Zimmer. Não foi indicado ao OSCAR. Provavelmente não será este ano. Sua carreira (como qualquer outra) é marcada por trabalhos bons e outros não tão bons, mas nada espetacular. Seu maior destaque ainda a trilogia Bourne, surpreendente boa em todos os aspectos - e o mais perto que ela já chegou a merecer uma indicação da Academia. Mesmo assim, nunca chegou ao nível de excelência exigido para estar entre o seleto grupo de gigantes das músicas para cinema. Contudo, sua mais nova produção, o desenho da Dreamworks, Como treinar o seu dragão, é surpreendente. Assim como o filme, a música esbanja simpatia, aliando o épico com o divertido com considerável maestria. Filmes como este se sustentam em boas trilhas sonoras, e Como treinar o seu dragão não é uma exceção. Assim como Jerry Goldsmith fez com Mulan e James Newton Howard fez com Dinossauro, a música não é condecendente com a faixa etária do filme. Apesar de ser um filme para crianças, a obra, assim como a trilha sonora, possui momentos bem adultos e dramáticos, onde a música consegue atingir maior expressividade. Ainda assim, a composição de Powell não é tão pesada quanto os acordes de Howard em Dinossauros, os sopros de Goldsmith em Mulan ou os tambores poderosos de Hans Zimmer em O Rei Leão. Aliás, colocando esses três em competição, Powell fica em quarto. Contudo, a música do jovem cavaleiro e seu dragão faz o espectador (ou ouvinte), acompanhar, torcer, rezar, chorar, se surpreender e principalmente, voar junto com os personagens do filme. Ou seja, Powell trouxe à superfície, todas as qualidades que uma boa música precisa ter. Especialmente em um filme de animação. É possível, embora incerto, que Powell seja agraciado com sua primeira indicação. Possível. Num ano disputado, em que grandes mestres irão lutar pela vitória pau a pau, é provável que ele seja deixado de lado. O que é uma pena. John Powell foi capaz, aqui, de jogar o ouvinte pra fora da cadeira. Isso é raro, e esse tipo de raridade merece o destaque que a Academia proporciona. Se ele for indicado, beleza. Se ele vencer, maravilha.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=1ei2HSGeLHo

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras deste ano.


3º: Harry Potter e as Relíquias da Morte parte I - Alexandre Desplat

No momento em que Alexandre Desplat assumiu a trilha sonora dos últimos dois filmes da saga Harry Potter, ele assumiu uma missão incrivelmente difícil. A de criar algo tão bom quanto o que John Williams criou para os primeiros três filmes, assim como criar um final digno da série do bruxinho Harry e seus amigos. Com o primeiro de dois filmes que encerram a série que encantou milhões de pessoas pelo mundo afora, Desplat falhou em ambos os sentidos. A começar que ele é um dos melhores compositores da atualidade, mas isso é por que John Williams não compôs nada desde o último filme da série Indiana Jones. A terminar que, em nenhum momento, você tem a sensação de que essa será a trilha sonora que o fará lembrar da saga que percorreu quase uma década cinematográfica. E mesmo assim, ela ficou com a terceira posição. Por que diabos? Bom, sua posição se deve ao fato de Desplat ter massacrado Nicholas Hooper e Patrick Doyle - que compuseram as músicas dos filmes posteriores ao Prisioneiro de Askaban - em todos os aspectos. De fato, o parisiense é um compositor muito superior à ambos. Na nova trilha, ele insere elementos dignos de terror, compondo uma peça assustadora. Contudo, no momento em que os acordes direcionam sua força para a ação, algo da melodia se perde, como costuma acontecer. A coisa toda lembra um pouco o estilo de Williams, mas Desplat foi inteligente o bastante para criar algo exencialmente seu, ainda que o tema composto pelo maestro apareça em determinados momentos do álbum. No geral, a música criada pelo francês é espetacular, sombria, dark e empolgante. Mas infelizmente não é capaz de levantar os cabelos como Williams fez no terceiro filme. É o que falta na composição desta obra. Entretanto, como primeira parte do encerramento da série, não há muito espaço para isso (eis uma das infelicidades dos produtores de dividirem o último livro em dois filmes). E dado isso, Desplat encontra-se numa encrenca das grandes, já que o segundo filme é a metade do livro que deu problema e que consequentemente desapontou milhões de fãs, com um final xoxo e sem impacto. Caso os produtores sejam fiéis à obra de J.K. Rowling, Desplat terá que se superar para trazer o que a autora fora incapaz de levar aos últimos parágrafos da obra que definiu sua carreira: o senso de conclusão. É uma tarefa difícil, e compará-lo aos outros compositores que trabalharam nesta saga é inevitável. Ainda assim, Alexandre Desplat já se provou capaz de tal tarefa em outras ocasiões. Mesmo assim, sentimos falta do John Williams.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=7RkRlgYGdbY

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras deste ano.

4º: Tron - O Legado - Daft Punk

O grupo Daft Punk é conhecido por suas músicas vibrantes, energéticas, de ritmo eletrônico pesado, remixes e agora pela trilha sonora da nova mega-produção da Disney, Tron - O Legado. Com um orçamento de 3oo milhões de dólares (o que, cá entre nós, dava pra alimentar muitas populações africanas), o filme é incapaz de criar algo de conteúdo inteligente, mas a trilha sonora é espetacular. Passado quase que inteiramente dentro de um jogo de computador, o filme feito em IMAX 3D precisava de uma música muito distinta. Algo que fosse capaz de criar uma voz singular a uma obra singular, ao mesmo tempo mantendo as características de condução de um filme que toda trilha sonora deve ter. Daí a ideia de trazer à bordo, um grupo musical conhecido por ritmos eletrônicos, característica primordial do filme. Elementos orquestrais, tão admirados pela Academia Hollywoodiana, são quase inexistentes aqui, e quando aparecem, recebem distorções eletrônicas. A coisa se resume basicamente em batidas pesadas de ritmos variados. Consequentemente, é uma trilha sonora energética e vibrante, capaz de levantar até o espectador mais desatento. Ainda que as qualidades melódicas da trilha como um todo não sejam tão boas, a música ainda assim é um dos álbuns mais interessantes dos últimos anos, e certamente uma mudança drástica no estilo de música para cinema do estúdio da Disney. Embora o filme seja uma trombada, a música certamente é um ponto alto deste ano.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=Tzer8ZCW-Ys

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras deste ano.

5º: O Fim da Escuridão - Howard Shore

Com um estilo vibrante e predominantemente orquestrado, Howard Shore ganhou destaque internacional com 3 vitórias no OSCAR por sua composição na trilogia O Senhor dos Anéis, dirigida por Peter Jackson. Contudo, é inegável que se estilo se adaptou melhor aos filmes de suspense do que qualquer outro gênero, incluindo a fantasia. Quem está acostumado a filmes policiais com requintes de horror, deve lembrar dos acordes poderosos e instrumentos de sopro protuberantes de filmes como Se7en, Silêncio dos Inoscentes e O Quarto do Pânico. Além disso, Shore é conhecido por seus trabalhos com os diretores Martin Scorcese e David Cronenberg. O Fim da Escuridão marca sua primeira colaboração com o diretor Martin Campbell, que trabalhou com compositores como David Arnold e James Newton Howard em uma carreira repleta de sucessos comerciais. O resultado aqui é interessante. É curioso o método de Shore para criar o suspense. O elemento mais audível na trilha são os instrumentos de sopro (ainda que aliados com violinos estridentes). Característica predominante em sua carreira, o uso de tais elementos lembra compositores como Elliot Goldenthal, ainda que com menos elementos eletrônicos. Sua trilha em Eclipse, da saga Crepúsculo, não é tão boa. Neste caso, Shore cria situações de suspense com crescendos de sorpo e explosões de cordas, o que torna a trilha grande, poderosa e assustadora. Ao contrário de compositores como James Newton Howard que tiram o suspense através das cordas, criando elementos atmosféricos sombrios, Shore o impõe através da violência, como o próprio filme. Entretanto, alia elementos tristes e dramáticos com considerável maestria. Infelizmente, faltou um pouco de constância na obra para levá-la a patamares mais altos. Mas ainda assim, como o filme em si, a trilha sonora de O Fim da Escuridão, é surpreendentemente boa.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=JnZt1H20_Ts&feature=related

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras deste ano.

6º: A Rede Social - Trent Reznor e Aticuss Rosss

Depois de quinze anos o caso de amor de David Fincher finalmente acabou. Após colocar uma música da banda de um homem só, Nine Inch Nails, nos créditos de uma de suas obras primas, Se7en, Fincher finalmente teve a oportunidade de trabalhar com o músico Trent Reznor. O convite surgiu no filme que conta a história dos fundadores da rede social, Facebook, na produção A Rede Social, disparado o melhor filme do ano. Com uma ajudinha do compositor Aticuss Ross de O Livro de Eli, o resultado foi mais do que interessante. Reznor e Ross usam baixos e sintetizadores que criam um clima diferente no que seria esperado em um filme biográfico. A melodia é proveniente de pianos e da introdução de elementos eletrônicos parecidos com os sons das baladas undergrounds. A trilha sonora de A Rede Social é diferente, ousada e bastante energética. Contudo, da mesma maneira que a música levanta e empolga, ao mesmo tempo emociona e perturba. No fundo, o álbum que foi disponibilizado gratuitamente na web, reflete a evolução da música nos tempos de hoje. A introdução de elementos eletrônicos nas trilhas sonoras dos filmes (como a música de Tron - O Legado, do grupo Daft Punk), representa uma alteração no estilo dessas composições, que vêm aumentado com o passar dos anos. Também mostra a introdução de bandas como Nine Inch Nails, Daft Punk e até Radiohead, na música para cinema. Em parte elas tomam o lugar dos compositores tradicionais, mas em outra, provêm uma mudança de estilo e consequentemente, obras memoráveis. Como é o caso em A Rede Social. Embora a criação de Trent Reznor e Aticuss Ross peque um pouco pela falta de melodia, é uma das criações mais interessantes do ano, e favorita ao OSCAR 2011. Ou, não, conhecendo a Academia.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=E87JSduSnVw

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras deste ano.

7º: O Escritor Fantasma - Alexandre Desplat

Em O Escritor Fantasma, o compositor francês Alexandre Desplat pareceu assumir algumas das qualidades do diretor Roman Polanski, no último trabalho do polêmico cineasta que teve sua carreira interrompida devido à acusações de abuso sexual contra menores, acusações que o assombram desde a década de 70, quando Polanski fugiu dos EUA, permanecendo foragido desde então. Por isso que eu disse qualidades. Apesar de ser um indivíduo de ética duvidosa, Polanski - que encontra-se em prisão domiciliar há vários meses - continua sendo um diretor de visão. A música é tensa, e ao mesmo divertida, elementos muito utilizados pelo diretor do filme. O Escritor Fantasma, uma espécie de suspense político, recebeu ótimas críticas e a trilha sonora não fica para trás. Desplat compôs um tema baseado em flautas, o que não somente é uma surpresa no gênero do suspense, como cria um ar fantasmagórico, tão apropriado para o filme. Ao mesmo tempo em que Desplat prende a atenção do ouvinte, criando um suspense palpável, ele ao mesmo tempo diverte, preservando a melodia como um todo, o que é raro. Infelizmente, tal qualidade não se extende por toda a obra, o que a impede de receber colocações mais altas no ranking das 10 mais deste ano. Se tivesse, certamente teria sido algo memorável. Mas ainda assim, é um dos trabalhos mais interessantes do ano, sendo capaz de conduzir o filme como poucas trilhas sonoras são capazes de fazer. Com a chegada da temporada de prêmios, este trabalho de Desplat foi colocado de lado, sendo que o francês foi indicado ao Globo de Ouro pelo trabalho em O Discurso do Rei, filme de época que recebeu 7 indicações no total. Ainda é difícil dizer se o trabalho definitivamente é melhor que este, mas com as críticas que o filme de Colin Firth vêm recebendo, faz sentido que Alexandre Desplat tenha sido indicado por ele e não por
O Escritor Fantasma. Desplat já bateu na trave da Academia várias vezes, e a mais evidente delas foi quando compôs provavelmente uma das músicas mais bonitas da década: O Curioso Caso de Benjamin Button. Caso receba uma indicação este ano, seria o terceiro ano consecutivo que ele faz isso, sendo que ano passado, o compositor foi indicado por O Fantástico Senhor Raposo. Tanto a trilha da animação quanto a de O Escritor Fantasma não são tão boas a ponto de ganhar um OSCAR, mas a música do filme de Polanski certamente é uma das mais interessantes e divertidas do ano. Um sopro de renovação dentro de um gênero já saturado.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=RoTUX6ZKke0&feature=related

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras deste ano.



8º: A Origem - Hans Zimmer

Hans Zimmer é um dos compositores mais queridinhos da Academia Norte-Americana, sendo que o alemão já venceu seu OSCAR pelo trabalho em O Rei Leão (vitória, aliás, muito merecida). Desde então, vem acumulando indicações em trabalhos que normalmente são muito parecidos. Sua última indicação foi ano passado, com Sherlock Homes, uma balela que não merecia estar lá. O Cavaleiro das Trevas, produção anteriora feita com seu amigo, James Newton Howard, agradou aos fãs, mas não aos críticos. Gerou polêmica com relação aos créditos da composição da obra, e no fim não foi indicada ao prêmio da Academia. Isso infelizmente faz sentido. A trilha sonora que não possuía sequer um trecho que se assemelhasse ao estilo de Howard, funcionava muito bem no filme (como é a maioria dos casos), mas não como álbum solo. Entretanto, Zimmer é novamente a bola da vez. A Origem, novo filme do cineasta inglês Christopher Nolan, recebeu críticas maravilhosas e uma bilheteria maior ainda, sendo um dos melhores filmes do ano. Também constituiu a terceira parceria do diretor com Zimmer, que criou um conceito interessante para a trilha musical. O compositor apropriou-se da música de Edith Piaf, Non, je ne regrette rien, manipulando-a para criar um tema próprio. O conceito é ótimo, mas a execução é só boa. Como sempre, Zimmer coloca muita pompa e alia com pouco resultado. A contratação do guitarrista Johnny Marr rendeu muita expectativa, mas a conclusão ficou abaixo do esperado. Com nomes desse calibre, o resultado podia ter sido melhor, e os tão desejados elementos provenientes da guitarra acústica, podiam ter sido mais utilizados. Isso já havia acontecido em Anjos e Demônios, quando Zimmer só teve em mãos um dos maiores violinistas do mundo: Joshua Bell. O tema de duas notas de A Origem, é mais uma tentativa do compositor de se desvenciliar dos temas convencionais que podiam ser murmurados na cabeça do espectador, e que, por sinal, tornaram-se lendas. Nesse tipo de filme, essa construção funciona. A música provoca tensão e prende o ouvinte, levando-o a vários estágios emocionais durante a tragetória dos personagens do filme. A mixagem do eletrônico com o orquestrado também funciona brilhantemente bem, mas algo falta na obra como um todo. Provavelmente sua capacidade de provocar as mesmas sensações que ela provoca no filme, mas sozinha num álbum. Ainda assim, foi o suficiente para colocar Zimmer como favorito ao OSCAR (ou pelo menos era, até Trent Reznor aparecer). Zimmer é o compositor dos filmes de grande orçamento, mas assim como a indicação que ele receberá este ano, existem opções melhores.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=adEQLlWjCro

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras deste ano.



9º: O Turista - James Newton Howard

O grande problema de Howard em toda a sua carreira - problema que vêm se salientando nos últimos três anos - é criar ótimas músicas em filmes porcarias. Isso está se tornando mais evidente com o passar dos anos, especialmente após sua última indicação ao OSCAR em 2009, por seu trabalho no drama de guerra Um Ato de Liberdade, sua oitava indicação ao prêmio da Academia, ainda sem vitória. Howard que consistentemente bate na trava, não fez nenhum trabalho expressivo no ano seguinte, e embora em 2010 tenha trabalhado em produções de grande orçamento, os filmes receberam duras críticas e arrecadaram pouco dinheiro. Um claro exemplo disso é O Último Mestre do Ar, do diretor indiano M.Night Shyamalan, que constituiu a sétima colaboração entre o diretor e o compositor. O Turista, o drama/comédia/suspense/etc., estrelado por Johnny Depp e Angelina Jolie, estreou nos EUA e recebeu duras críticas, sendo que provavelmente não irá pagar os custos de sua produção. E como é de costume em sua carreira, Howard foi dispensado de todas as críticas por criar outra bela trilha sonora. Como também é de costume na carreira do compositor de 3 nomes, Newton Howard trabalhou como compositor substituto, após entrar no lugar de Gabriel Yared, que por qualquer motivo, ausentou-se da produção do filme. Assim como o filme, a música tem dificuldade em decidir o que ela é. Drama, comédia, ação. De tudo um pouco. As cenas de perseguição são compostas por elementos eletrônicos com toques de humor, enquanto as cenas mais dramáticas dão lugar às cordas. As cordas são melhores e são necesses momentos que a obra encontra a sua voz. E provavelmente o tema composto aqui vale pelo filme todo, embora a invejável habilidade romântica de Howard não seja suficiente para criar química entre Depp e Jolie. Apesar de ser um grande compositor, especialmente de suspense, misturando elementos eletrônicos e orquestrados como ninguém mais, não é assim que Howard vai parar de bater na trave e fazer o gol. Ah, fazer filmes ruins também não ajuda.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=LKoU15iQy0k&feature=BF&list=PL030D07EF08EAE9A0&index=7

As 10 melhores trilhas sonoras do ano

Antes que 2010 acabe, eis uma compilação das 10 melhores trilhas sonoras do ano.

10º: 2019 - O Ano da Extinção - Christopher Gordon

Na décima e última posição em escala crescente nesta postagem, uma escolha incomum. Um filme de ficção-científica que se passa num futuro próximo onde todos - ou quase todos - são vampiros. Isso com certeza é uma mudança drástica em gênero mais que saturado, especialmente com o advento dos vampiros bonzinhos e românticos. 2019 - O Ano da Extinção é o oposto disso. O vampiro é representado aqui como um monstro, feito e nojento. O filme é um dos mais violentos da história recente, ficando atrás somente de produções como Watchmen, por exemplo. A música é composta por Christopher Gordon que impressionou muita gente em seu trabalho no épico naval de Peter Weir, Mestre dos Mares - O Lado mais Distante do Mundo. Neste caso, surpreendeu de novo, criando um tema épico, dark e que lembra os bons tempos da ficção-científica de viagens espaciais, embora não haja nada disso nesta produção. É uma pena que o conjunto geral da obra não se extenda a muito mais do que o tema. No momento em que o filme assume suas características de terror, o tema o faz também e então a melodia vai pro espaço. Entretanto, é eficaz em sustentar os momentos de suspense e horror do filme, sendo que o tema principal é bom o suficiente para dar uma voz singular à obra. E é esse o objetivo das trilhas sonoras de filmes. Dar-lhes dar uma voz. Graças ao tema de Gordon, 2019-O Ano da Extinção encontrou a sua. Por isso fica com a décima posição.

Link com trecho da música: http://www.youtube.com/watch?v=aoHTUa-tBkg

domingo, 19 de dezembro de 2010

Lobo em pele de Chapéuzinho Vermelho


Uma garota de 14 anos marca de encontrar um homem mais velho que conheceu pela internet em um café. À medida que conversam e flertam, fica claro o interesse dele pela jovem e, da mesma forma, as intenções da moça de provocá-lo com seu rosto inocente e atitutes pretensamente maduras. É assim que começa o longa Menina Má.com (Hard Candy, EUA, 2005) de direção do estreante David Slade.
A jovem chamada Hayley (a ótima Ellen Page) é a garota de 14 anos que tenta seduzir o homem mais velho, um fotógrafo trintão chamado Jeff (Patrick Wilson). Inicialmente surge a impressão de que são presa e predador, respectivamente. A jovem Hayley age tão inocentemente que se tem a sensação de que o malvado Jeff a está manipulando para levá-la para sua casa. Mas basta o fotógrafo apagar misteriosamente depois de alguns drinks que a garota preparou para que o espectador perceba que ela não é tão inocente quanto aparentou inicialmente.
Embora a Ellen Page de Menina Má.com esteja longe da atuação brilhante que demonstraria em A Origem, por exemplo, não faz feio. E para uma produção gravada inteiramente em 18 dias, utilizando dois cenários e não mais do que quatro ou cinco atores, a produção de David Slade é mais do que merecedora de atenção e crédito, principalmente por ser baseada em fatos reais ocorridos no Japão (onde meninas procuram homens mais velhos na internet no intuito de os atrairem para armadilhas).
No decorrer dos 100 minutos de filme, notamos o sadismo de Hayley ao tentar arrancar do suposto pedófilo uma confissão. E embora Jeff negue qualquer participação no desaparecimento da adolescente Donna Mauer, Hayley insiste na certeza de que o desconhecido é um pedófilo e que achará provas que o incriminem. As cenas de tensão apenas se multiplicam e mostram o quanto a garota estava pronta para tudo o que podia acontecer quando foi para aquele encontro. Embora imoral, a satisfação que nasce no espectador frente aos atos violentos da garota é inegável, mesmo havendo sempre a possibilidade de o homem em questão ser totalmente inocente.
Apesar de levantar certas discussões totalmente relevantes e atuais sobre os perigos da internet, e embora possua muitos diálogos afiados entre o predador (Hayley) e a presa (Jeff), com um humor ácido e pesado, daquele que faz o espectador rir pela improbabilidade da situação ou pela densa camada emocional que o filme carrega, tais argumentos sobre o assunto nunca são aprofundados ou mesmo discutidos durante o longa. Uma pena. Seria um ponto positivo a mais. E a história deixaria de ser simplesmente algo divertido e sádico como mostra o cartaz do filme: a caçada de um lobo em pele de chapéuzinho vermelho.
"Menina Má.com". Título original: "Hard Candy". Ano: 2005. Nacionalidade: EUA. Diretor: David Slade. Roteiro de: Brian Nelson. Produzido por: Paul Allen, David Higgins, Jody Patton. Estrelando: Ellen Page, Patrick Wilson, Sandra Oh, Jennifer Holmes, Gilbert John. Música de: Harry Esscott, Molly Nyman. Duração: 103 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 8,5/10.

Rumo ao Globo de Ouro

5 filmes foram indicados ao Globo de Ouro, 2011, mas somente um vencerá. Confira abaixo os indicados com análise de qual é o melhor e qual é o favorito ao prêmio.

Melhor filme

- Cisne Negro.
O diretor Darren Aronofsky é considerado um dos mais importantes e conceituados diretores contemporâneos em Hollywood. Seus filmes normalmente contém uma carga alta de situações sociais complexas, sexo, drogas e outras coisas. Ano passado ele indicou Micky Rourke ao OSCAR de melhor ator, com seu filme O Lutador. Este ano ele lançou o drama psicológico Cisne Negro com Natalie Portman, Vincent Cassel e Mila Kunis (a Jackie da série That 7o's show). O filme é centrado na personagem de Portman, uma bailarina, e o confronto com sua rival, Mila Kunis. Ambicioso como sempre, Aronofsky criou uma das obras mais controversas e interessantes do ano. O filme recebeu 4 indicações ao Globo de Ouro, uma de melhor diretor. Portman e Kunis receberam indicações nas categorias de atriz e atriz coadjuvante, o que, para os fãs da série de comédia sobre os garotos dos anos 70, é muito interessante. O filme ainda não estreou no Brasil, portanto não é avaliado. Infelizmente, com os gigantes A Origem e A Rede Social, o cisne navega em águas turbulentas.

- O Vencedor.
Desde Touro Indomável de Martin Scorcese, estrelando Robert DeNiro, que um filme sobre pugilismo não recebia tamanha atenção do público e críticos. David O. Russell também nunca foi conhecido por fazer filmes que agradassem os membros da Academia, mas O Vencedor, com Mark Whaldberg surpreendeu a muitos. O filme estreou bem, recebeu ótimas críticas e emplacou 6 indicações ao Globo de Ouro. A obra narra a tragetória de Micky Ward, lutador e seu irmão que o treinou, durante a campanha esportiva nos anos 80. Baseado em uma história real, o filme deverá receber a maior parte de seus prêmios por parte de Bale, que mudou fisicamente de uma forma impressionante e tem a chance de conseguir sua primeira indicação ao OSCAR, assim como o Globo de Ouro foi sua primeira. Contudo, como filme ou direção, O Vencedor deverá ser nocauteado.

- A Origem.
A Origem, a nova superprodução do diretor Christopher Nolan, confirmou sua condição de renovar o gênero dos filmes de grande orçamento, com um roteiro complexo, inteligente e intrigante, repleto de ação e detalhes minuciosos, como é característico de Nolan. A trama fala de um ladrão que precisa invadir a mente de um indivíduo para plantar uma ideia num futuro não muito distante. Após ser esnobado pela Academia com O Cavaleiro das Trevas, Nolan parece ter definitivamente emplacado sua obra prima na cabeça dos críticos e conquistou suas primeiras indicações ao Globo de Ouro, e provavelmente ao OSCAR. O filme é impressionante, com imagens belíssimas e um conceito interessantíssimo. Contudo, Nolan falhou ao ousar mais o conceito visual dos sonhos. Podia ter criado (com a ideia que ele mesmo teve) muito mais do que criou. Ainda assim, o filme é um dos favoritos.

- O Discurso do Rei.
Drama inglês dirigido por Tom Hooper com Colin Firth, O Discurso do Rei recebeu maciça repercussão crítica durante sua campanha de estréia e é o filme com o maior número de indicações ao Globo de Ouro: 7. É o tipo de filme que tem cara e vencedor de OSCAR, e corre na frente de filmes como Cisne Negro e O Vencedor. O filme acompanha a tragetória do rei George VI, sua ascenção ao trono e o discurso que o fez merecedor dele. Firth tem sérias chances de ganhar seu primeiro grande prêmio, e o filme é um dos favoritos ao Globo de Ouro, mas não deve levar. O filme ainda não estreou no Brasil.

- A Rede Social.
Filme que narra a história da criação da rede social Facebook e seus fundadores, A Rede Social é, definitivamente, o favorito a todos os prêmios dessa temporada. Dirigido brilhantemente por David Fincher e com um roteiro ainda mais brilhante de Aaron Sorkin, a obra vêm recebendo todas as atenções das críticas e também lidera em quantidade de prêmios e indicações. O filme vale isso, mas não agradará a todos do público, devido à enorme quantia de diálogos que conduzem o filme, ao contrário de obras como A Origem, repletas de ação. David Fincher provou ser um dos diretores mais talentosos de Hollywood, mas sofreu grandes injustiças anteriormente, como em O Curioso Caso de Benjamin Button e Zodíaco, o qual devia ao menos ter recebido indicações. Isso significa que pode dar zica dia 16 de Janeiro. Caso isso aconteça, Nolan é o candidato mais provável ao prêmio de melhor direção. Mas a história do facebook leva melhor filme com certeza.

Lista de indicados e quem deverá vencer:

Melhor filme - Drama
- Cisne Negro
- O Vencedor
- A Origem
- O Discurso do Rei
- A Rede Social

Quem ganha: A Rede Social
___________________________________________________________________
Melhor filme - Comédia ou Musical
- Alice no país das maravilhas
- Burlesque
- Minhas mães e meu pai
- Red - Aposentados e perigosos
- O Turista

Quem ganha: Minhas mães e meu pai
___________________________________________________________________
Melhor ator - drama
- Jesse Einsenberg (A Rede Social)
- Colin Firth (O Discurso do Rei)
- James Franco (127 Horas)
- Ryan Gosling (Blue Valentine)
- Mark Whaldberg (O Vencedor)

Quem ganha: Colin Firth - O Discurso do Rei
___________________________________________________________________
Melhor ator - comédia ou musical
- Johnny Depp (Alice no país das maravilhas)
- Johnny Depp (O Turista)
- Paul Giamatti (Minha versão para o amor)
- Jake Gyllenhall (O Amor e outras drogas)
- Kevin Spacey (Casino Jackey)

Quem ganha: Johnny Depp - tanto faz
___________________________________________________________________
Melhor atriz - drama
- Halle Barry (Frankie e Alice)
- Nicole Kidman (Rabbit Hole)
- Jennifer Lawrence (Inverno da Alma)
- Natalie Portman (Cisne Negro)
- Michelle Williams (Blue Valentine)

Quem ganha: Michelle Williams - Blue Valentine
___________________________________________________________________
Melhor atriz - comédia ou musical
- Annete Bening (Minhas mães e meu pai)
- Anne Hathaway (O Amor e outras drogas)
- Angelina Jolie (O Turista)
- Juliane Moore (Minhas mães e meu pai)
- Emma Stone (A Mentira)

Quem ganha: Annete Bening - Minhas mães e meu pai
___________________________________________________________________
Melhor ator coadjuvante
- Christian Bale (O Vencedor)
- Michael Douglas (Wall Street o dinheiro nunca dorme)
- Andrew Garfield (A Rede Social)
- Jeremy Renner (Atração Perigosa)
- Geoffrey Rush (O Discurso do Rei)

Quem ganha: Christian Bale - O Vencedor
___________________________________________________________________
Melhor atriz coadjuvante
- Amy Adams (O Vencedor)
- Helena Bonhan-Carter (O Discurso do Rei)
- Mila Kunis (Cisne Negro)
- Melissa Leo (O Vencedor)
- Jacki Weaver (Reino Animal)

Quem ganha: Melissa Leo - O Vencedor
___________________________________________________________________
Melhor diretor
- Darren Aronofsky (Cisne Negro)
- David Fincher (A Rede Social)
- Tom Hooper (O Discurso do Rei)
- Christopher Nolan (A Origem)
- David O. Russell (O Vencedor)

Quem ganha: David Fincher - A Rede Social
___________________________________________________________________
Melhor roteiro
- Danny Boyle e Simon Beafoy (127 Horas)
- Christopher Nolan (A Origem)
- Stuart Blumberg e Lisa Cholodenko (Minhas mães e meu pai)
- David Seidler (O Discurso do Rei)
- Aaron Sorkin (A Rede Social)

Quem ganha: Aaron Sorkin - A Rede Social
___________________________________________________________________
Melhor canção original
- Burlesque "Bound to you"
- Burlesque "You haven't see the last of me"
- Country Song "Coming Home"
- As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada "There's a place for us"
- Enrolados "I See The Light"

Quem ganha: Burlesque - tanto faz
___________________________________________________________________
Melhor trilha sonora original
- A.R. Rahman (127 Horas)
- Danny Elfman (Alice no país das maravilhas)
- Hans Zimmer (A Origem)
- Alexandre Desplat (O Discurso do Rei)
- Trent Reznor e Aticuss Ross (A Rede Social)

Quem ganha: Trent Reznor e Aticuss Ross - A Rede Social
___________________________________________________________________
Melhor filme de animação
- Meu malvado favorito
- Como treinar o seu dragão
- O Mágico
- Enrolados
- Toy Story 3

Quem ganha: Toy Story 3


Pra ser sincero: Estou torcendo para A Rede Social em todas as categorias, especialmente melhor diretor para David Fincher, já está na hora. Queria que Como Treinar o Seu Dragão desbancasse Toy Story, mas isso não vai acontecer. Me emputece (MUITO) ver Denny Elfman e Hans Zimmer indicados ao Globo de Ouro e James Newton Howard e John Powell não.

Será que eu estou certo nas minhas apostas? Dia 16 de janeiro iremos descobrir!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Tempos estranhos







Novo filme do diretor David Fincher, A Rede Social, conta a história dos fundadores da rede social, Facebook e como ela afetou nossa geração.






Nós vivemos em tempos estranhos. Tempos em que a sociedade vive não mais no mundo real, mas sim numa rede interligada de computadores, dispositivo inventado na década de 40 e que até poucas décadas atrás era tão desconhecido quanto a rede no qual ele opera. A internet.


Estes são tempos de mudanças. Mudanças que se salientaram na década de 80 e que tendem a continuar aumentendo em uma escala crescente de velocidade. O capitalismo derrotou o socialismo e a moeda corrente mudou do dinheiro para a informação. Vivemo numa era da informação em que velocidade comumente é mais importante do que conteúdo. Vivemos numa era em que as fronteiras entre as pessoas não são mais delimitadas por muros que dividem cidades, mas por telas de computadores.


É nesse mundo que nasce A Rede Social (The Social Network, EUA, 2010) a nova empreitada cinematográfica do diretor David Fincher, um dos poucos diretores autorais da atualidade e do roteirista Aaron Sorkin, um dos melhores roteiristas de Hollywood, conhecido por seus diálogos no estilo metralhadora, repletos de humor, nuances e ironias.


Dois alunos da universidade de Harvard, Mark Zuckenberg (interpretado por Jesse Einsenberg) e o brasileiro Eduardo Saverin (o brilhante Andrew Garfield), tiveram, no outono de 2003, a brilhante ideia de criar uma rede social que compartilhasse fotos, vídeos e informações e permitisse o acesso das pessoas de acordo com a permissão concedida a elas. Numa época em que a inclusão social significava tudo, aquela era certamente uma revolução.


Entretanto, o que começou somente como uma rede que englobaria os estudantes de Harvard, cresceu, expandindo-se para mais de 100 universidades e tornando-se então a maior rede social do mundo, com 500 milhões de usuários em todo o mundo, e um capital de 25 bilhões de dólares. E a partir do momento em que o Facebook atingiu seu primeiro milhão de usuários, começaram também as intrigas, as polêmicas e as traições.


O filme abre com a cena em que Zuckenberg rompe com sua namorada (provavelmente a única pessoa de caráter de todo o filme), Erika Albright (Rooney Mara) em uma abertura que levou 99 tomadas para ser feita. Na sequência o jovem gênio cria um aplicativo que compara os rostos das alunas da faculdade e então, a cena corta para o processo judicial que o rapaz está enfrentando. As acusações são feitas pelo seu melhor amigo, Saverin e pelos irmãos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss (interpretados por Armie Hamer e Josh Pence com um recurso semelhante ao Curioso caso de Benjamin Button, no qual o rosto de Hamer foi transferido para o corpo de Pence com notável perfeição), e Divya Narendra (Max Minghella) que o acusam de roubo de propriedade intelectual.


O estilo minimalista de Fincher é levado ao extremo aqui, especialmente com um roteiro afiado como o de Sorkin. No filme, a ação ocorre nos diálogos, quase como no filme do diretor Akira Kurosawa, Rashomon, em que vários personagens contam a história de pontos de vista diferentes. A edição, frenética, salienta as diferentes versões dos personagens em um ritmo alucinante.


A fotografia aprofunda os tons dourados e verdes da obra, que no geral é bem sombria. A música, composta por Trent Reznor - da banda Nine Inch Nails - e Aticuss Ross, assemelha-se a uma peça de terror, marcadas por elementos eletrônicos, pianos e sintetizadores. Ela conduz o filme de maneira eficaz, sendo uma das trilhas mais interessantes do ano.


Como é de costume nos filmes de Fincher, o elenco é afiadíssimo e ninguém está fora do papel, ou inferior aos colegas. Logicamente, um ou outro se destaca, e nesse caso Andrew Garfield que interpreta o brasileiro Saverin e Justin Timberlake que interpreta o criador do Napster (aplicativo que disponibilizava músicas gratuitamente na web), Sean Parker, são os que provêm as atuações mais surpreendentes, com Garfield roubando a cena.


Em muitos aspectos, Zuckenberg se assemelha ao perfil de um psicopata. É um indivíduo inseguro, não-atrante e pobre, mas ao mesmo tempo genial. Daí, surge a necessidade de se provar, necessidade que evoluiu para um comportamento ganancioso, inconsequente e destrutivo, onde o único objetivo era a criação - e evolução - do facebook, sendo que ele passaria por cima de qualquer um para alcançar seus objetivos.


É esse o perfil de magnata empresarial que é capaz de criar conceitos revolucionários as custas dos outros, que a sociedade, em especial a norte-americana tende a endeusar. E tal perfil não escapa às críticas de Fincher e Sorkin.


O que também não escapa às críticas dos realizadores do melhor filme do ano, é a sociedade cujas relações tem estreitado-se em conceitos de tempo e espaço, mas que no fim tornaram-se mais distantes, superficiais, que, com o advento da internet, gerou situações repletas de ganância e traição.


A Rede Social pegou muitos de surpresa. Transformou, graças à genialidade de seus realizadores, no melhor e mais comentado filme deste ano. Um filme que retrata as ambiguidades das relações humanas, mais próximas e distantes ao mesmo tempo, do que jamais foram. Relações que transcendem as questões éticas e morais. E ao mesmo tempo, fala do Facebook, a maior rede social do planeta, e Mark Zuckenberg, o bilionário mais jovem de todos os tempos.


Podem esperar A Rede Social no topo dos candidatos ao OSCAR no ano que vem. O filme já recebeu 6 indicações ao Globo de Ouro, venceu uma dúzia de prêmios e foi indicado a outra. É um clássico moderno que define uma geração que vive na cibercultura. Agora analisemos essa situação friamente: o filme sobre a história do Facebook, sendo indicado ao OSCAR de melhor filme. Certamente esses são tempos estranhos.



Melhor a versão 1.0





Tron - O Legado inova nos efeitos especiais e no conceito artístico, mas falha incrivelmente em criar algo a mais que isso...

Tron - uma odisséia eletrônica (Tron, EUA, 1982) estreou no começo dos anos 80 como uma revolução similar ao AVATAR de James Cameron. Foi o primeiro filme da história do cinema a introduzir o conceito visual da computação gráfica, utilizada abundantemente (talvez até demais) na produção cinematográfica atual.
No épico eletrônico dirigido por Steven Lisberger, um hacker chamado Kevin Flynn (interpretado por Jeff Bridges), é literalmente abduzido para dentro de um programa de computador, onde sua única chance de escapatória é participar de uma série de jogos violentos e ajudar um heróico programa de segurança, Tron, interpretado pelo protagonista da série Babylon 5, Bruce Boxleitner. Lá, Flynn torna-se Clu, partindo em uma empreitada pelo mundo eletrônico para voltar para casa.
O filme, apesar de seu inovador conceito visual/artístico, passou um sentimento de incompreensão ao público, que não entendeu as complexididades tecnológicas e computacionais apresentadas pela obra há quase três décadas. O filme que não passava de uma hora e meia de duração era complicado e cansativo, mas seu legado permaneceu.
Com um orçamento aumentado em 173 milhões de dólares (o primeiro filme custou 17 milhões e o segundo impressionantes 200), Tron - O Legado (Tron: Legacy, EUA, 2010) estreou esta sexta-feira nos cinemas de todo mundo com a missão - ou não - de desbancar seu antecessor. Se esse foi o caso, falhou miseravelmente.
No segundo filme mais de vinte anos se passaram. Flynn retornou, casou-se, teve um filho chamado Sam. Ampliou sua corporação, que agora se tornou a maior e mais importante empresa de eletrônica do mundo. Tudo corria bem até uma descoberta por parte de Flynn, que prometia revolucionar os conceitos de ciência, medicina, religião, enfim, tudo. Tal descoberta foi sucedida por seu desaparecimento, e é aí que a história realmente começa.
Seu filho, Sam, (Garret Hedlund) agora crescido, esbanja rebeldia quando surge a possibilidade de seu pai ainda estar vivo no pequeno prédio de fliperamas que estava abandonado há mais de vinte anos. Ele parte então, numa tentativa de reencontrar o homem que sumiu de sua vida, mergulhando na realidade virtual, A Grade.
O conceito visual de Tron foi totalmente remodelado e beira o extraordinário, com cenários incríveis e efeitos especiais "quase" de primeira linha. Sam viaja pela Grade, encontrando mais inimigos do que aliados, enfrentando lutas de discos, motos e outras coisas, encontra uma moça chamada Quorra (Olivia Wilde) que o ajuda a encontrar seu pai, O Criador.
Os efeitos especiais que demoraram 68 semanas para serem criados, transportam (com uma ajudinha do fabuloso diretor de fotografia, Claudio Miranda) o espectador para dentro do universo criado por Flynn de maneira excepcional. Em contrapartida, falham de maneira épica ao retratar Jeff Bridges 28 anos mais jovem como Clu 2.0, programa que auxiliaria na construção da Grade juntamente de Tron, mas que por fim se voltou contra ambos e a agora governa aquele universo tiranicamente. O resultado é canhestro e artificial, e nada comparado ao que foi visto em O Curioso caso de Benjamin Button.
O roteiro pífio, cria uma sucessão de clichês e personagens desinteressantes, cujo talento dos atores é explorado raramente pelo diretor extreante, Joseph Kosisnki. Os pontos fortes ficam a cargo do ótimo ator inglês, Michael Sheen, dos efeitos visuais, direção de arte, figurinos e maquiagem e da espetacular trilha sonora composta pelo grupo Daft Punk. Toda eletrônica, a música compõe um cenário que se sobrepõe perfeitamente à tecnologia esbanjada na produção.
E é mais ou menos isso. Em raras ocasiões uma narrativa foi tão mal executada quanto em Tron. O suficiente para ofender os fãs de ficção-científica ou simplesmente qualquer um com Q.I. alto o suficiente para entender o que está tentando ser criado aqui. E isso infelizmente só serve para corroborar a fama da Walt Disney de caça-níqueis, incapaz de criar algo de conteúdo. Entretanto, Tron - O Legado certamente se sairá bem nas bilheterias. Mas o primeiro filme ainda é melhor.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Começo do Fim

É inevitável resenhar sobre isto. Como fã da série (dos livros, acima de tudo, apesar de gostar dos filmes), me sinto na obrigação de fazer uma resenha sobre Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 1, EUA, 2010). Mas acima de tudo, quero deixar registrado que minha visão e opiniões a respeito deste filme podem ser consideradas ligeiramente parciais. A história criada por J.K. Rowling fez parte da minha infância e adolescência e não tenho a pretensão de me considerar totalmente imparcial a respeito do assunto. Vale ressaltar que o texto a seguir irá conter informações específicas sobre a trama do filme (spoilers). Se pretende ver o filme e quer se surpreender, não leia.
É de se esperar que um filme que começa com a cena de uma garota apagando-se da vida e memórias de seus próprios pais para protegê-los de uma guerra, e termina com uma cena de morte, seja um bom filme, no mínimo. E é. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1, dirigido pelo experiente David Yates, pode ser considerado o melhor filme da série Harry Potter até o presente momento, ainda mais após o desastre que foi seu predecessor, Harry Potter e o Enigma do Príncipe.
Por meio de atuações excepcionais de todo o elenco, incluindo os jovens que cresceram frente às câmeras para tornar a série de filmes uma realidade, um roteiro rápido e dinâmico com cenas de ação, drama e comédia e uma direção focada em seus pontos fortes, além de uma boa trilha sonora e efeitos especiais bem construídos, o filme mostra o potencial de toda uma equipe de artistas de ponta, jovens atores inclusos, assim como seus mestres.
A trama se desenvolve ao redor de Harry Potter (dã). Após a morte de seu mentor, Dumbledore, no filme anterior, o mundo mágico finalmente é obrigado a aceitar a verdade: o poderoso Lorde Voldemort retornou. E trouxe com ele uma guerra que ameaça a todos, bruxos e trouxas (pessoas sem poderes mágicos). A cena inicial é dividida na visão dos personagens principais: Harry, Rony e Hermione - Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson, respectivamente - e logo em seguida indo para uma cena em que Voldemort - o inacreditavelmente bom Ralph Fiennes que mostra todo o seu talento na pele do psicótico bruxo sem nariz - se reúne com seus seguidores. De início vale destacar o bom trabalho de Emma Watson em toda a produção: está mais linda do que nunca e mostra a que veio já na primeira cena de que participa. Vale também destacar as participações pequenas, mas extraordinárias de Alan Rickman como Severo Snape e de Jason Isaacs como Lúcio Malfoy. Estes grandes atores são quase figurantes, mas ainda assim deliciam o espectador despertando os sentimentos certos por seus personagens.
A história se desenvolve na busca de Harry e seus amigos pelas chamadas Horcruxes (pedaços da alma de Voldemort que têm que ser destruídos para que o mesmo possa ser derrotado); na fuga contínua dos três amigos, visto que estão sendo caçados por todo mundo agora que Voldemort assumiu o Ministério da Magia; e na busca do próprio Voldemort por um objeto que só é revelado e obtido ao final do longa-metragem. À medida que ataques são realizados e personagens começam a tombar em batalha, percebe-se logo que o clima deste filme é diferente: mais sombrio, rápido, sentimental. Diferencia-se dos anteriores que mostravam uma história de aventura pueril do início da adolescência e passa a mostrar os perigos da maturidade. Harry e seus amigos já não são mais crianças e isso fica totalmente explícito.
Apesar de haver ação em boa parte do filme, assim como romance e comédia (muitas e muitas cenas engraçadas), a cena que se destaca mesmo é a invasão de Harry, Rony e Hermione ao Ministério da Magia com a aparência de outras pessoas (vale conferir a atuação dos três atores mais velhos durante esta cena), em busca de uma das Horcruxes. A cena que ocorre em seguida é tensa e rápida e o espectador quase se sente sendo perseguido junto a eles.
Ao final, torna-se claro o motivo de a história de um livro ter sido dividida em dois filmes. É claro que a história já é rápida e corrida, o que agrava o sentimento de perseguição constante, mas ao se propor a fazer apenas um filme, David Yates iria apenas desagradar aos fãs e estragar o desfecho da história. Não havia solução: teriam mesmo que ser dois filmes. E tal decisão se provou certa. Sobrou tempo nas mais de duas horas da produção para inserir piadas e ótimos efeitos visuais que se encaixaram com perfeição à trama, incluindo a belíssima história das Relíquias da Morte, feita com maestria inteiramente em efeitos gráficos.
Apesar de ter lido todos os livros da série (mais de uma vez), não gostei do livro final. Não achei o desfecho de J. K. Rowling digno de uma série tão boa e, talvez por isso fui ao cinema sem esperar nada. Foi uma surpresa agradável. É dificíl criar um filme incrível de um livro ruim, mas Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 chega perto. Bem perto. Vale pelas ótimas atuações, cenários, boas cenas de ação, diálogos afiados, roteiro bem conduzido e pela boa trilha sonora. Este é o sétimo filme feito a partir dos livros de Harry Potter e é, até agora, o melhor. Vale a pena conferir, principalmente porque, como diz o cartaz de estréia, é o começo do fim.
"Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1". Título original: "Harry Potter and the Deathly Hallows - Part 1". Ano: 2010. Nacionalidade: EUA. Diretor: David Yates. Roteiro de: Steve Kloves. Produzido por: David Barron, David Heyman. Estrelando: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Ralph Fiennes, Alan Rickman, Bonnie Wright, Tom Felton, Helena Bonham Carter, Jason Isaacs. Música de: Alexandre Desplat. Duração: 146 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,5/10.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Alguma coisa se perdeu no caminho


Filme que retrata combate sangrento no Vietnã, cai em contradição óbvia: como justificar o injusficável?

1965. 400 soldados norte-americanos são emboscados por tropas inimigas no total de 4 mil homens no Vale da Morte durante a guerra do Vietnã. O tenente-coronel Hal Moore encontra-se preso numa emboscada inimiga, com a vida de seus homens em suas mãos, no que foi considerado o combate mais violento da guerra do Vietnã desde a invasão norte-americana ao pequeno país comunista.


Essa é a história contada pelo diretor Randall Wallace no filme Fomos Heróis (We Were Soldiers, EUA, 2002), estrelando Mel Gibson no papel do tenente-coronel Hal Moore, Sam Elliot, no papel do sargento-major Basil Plumley, Greg Kinnear interpretando o major Bruce Crandall e Barry Pepper (que já fez filmes de guerra como O Resgate do Soldado Ryan e A Conquista da Honra) no papel do fotojornalista Joe Galloway que testemunhou o combate (ou boa parte dele), no dia 15 de novembro de 1965.


Acostumado a escrever roteiros de filmes de guerra, como o grande sucesso dirigido por Mel Gibson em 1995, Coração Valente, e o fracasso crítico Pearl Harbor de 2001, Wallace assumiu as rédeas da direção pela segunda vez em um grande projeto (o outro tinha sido O Homem na Máscara de Ferro de 1998), com Fomos Heróis, desta vez tendo no papel principal o ator/diretor Mel Gibson, que rendeu ao seu roteiro de Coração Valente, o OSCAR de melhor filme.


No filme de guerra do Vietnã, um foco interessante é abordado, e que não é normalmente mostrado em outros filmes do gênero: o outro lado das trincheiras. Desde o começo do filme, o espectador é apresentado às famílias dos soldados que estão sendo enviados ao Vietnã, assim como as famílias e comandantes dos soldados vietnamitas, cujo destaque, embora significativamente menor, é interessante.


Esse é um recurso clássico e eficaz para o espectador “apaixonar-se” pelos personagens cujas trajetórias está acompanhando, e nesse sentido o filme cumpre o seu papel.


Contudo, o verdadeiro (ou quase verdadeiro) olhar da história reside na visão do fotojornalista Joe Galloway que viaja ao Vietnã, integrando-se ao pelotão de soldados do coronel Moore, acompanhando a brutalidade do combate sofrido naquele dia, além de criar uma relação de amizade com o personagem de Mel Gibson.


O filme não deixa de despejar recursos para afetar o espectador emocionalmente. Seja nas atuações intensas de Mel Gibson e Berry Pepper (que valem o filme), na apresentação das famílias dos personagens e a trajetória das esposas que começam a receber as cartas informando a morte de seus maridos, ou dos discursos fraternais do comandante vietnamita, aos seus soldados, de uma forma bem parecida com a de Hal More. A música, do compositor Nick Glennie-Smith, é um festival de cordas e acordes profundos e melancólicos, especialmente no terço final do filme.


Contudo, o elemento mais dissonante de toda a obra, é justamente a caracterização do combate. A violência (este é um dos filmes de guerra mais graficamente violentos desde O Resgate do Soldado Ryan) e a brutalidade do combate que resultou na morte de quase 2 mil soldados vietnamitas, acaba criando uma contradição palpável: enquanto tenta equilibrar ambos os lados ao apresentar as famílias das duas nações envolvidas, na tentativa de “humanização” dos personagens “inimigos”, o filme ao mesmo tempo procura ser totalmente pró-americano, ao procurar encontrar a justificativa ou compreensão dos acontecimentos que levaram àquela guerra, e àquele combate. Contudo, ao término, o filme simplesmente falha em todos os aspectos.


Fomos Heróis, tampouco consegue ser equilibrado, quanto pró-americano. Procura justificar o injustificável. Procura entender o inteligível. Procura encontrar uma razão para tamanha dor e violência. A razão das lembranças que ficaram aprisionadas na memória de Hal Moore e Joe Galloway pelo resto de suas vidas (o que inspirou ambos a escreverem o livro no qual o filme foi baseado). Algo se perde durante os 138 minutos da obra. Provavelmente a mesma coisa que os jovens soldados levaram para o vale em 1965, e que permanece lá até hoje.


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tiroteiros e um Vaso Chinês, de Luc Besson


Li em algum lugar que Luc Besson é o mais hollywoodiano dos cineastas franceses, e como tal, não decepciona. Dupla Implacável (From Paris With Love, FRA, 2010) é dirigido por Pierre Morel e como os outros filmes do gênero é cheio de tiroteios, perseguições e uma velocidade nos cortes de cena e nas cenas que eleva a adrenalina de qualquer um. E os pontos positivos quase que acabam aí.
A história começa com James Reece - o nada mau Jonathan Rhys Meyers - o assistente pessoal do embaixador dos EUA na Franca, que sonha se tornar um agente secreto um dia. Para conseguir chegar lá, faz alguns trabalhos sem importância (como trocar a placa de um carro que será usado em missão) para agentes de verdade sob ordens de uma voz ao telefone, voz essa que lhe manda pegar um agente que ficou preso na alfândega, e é neste momento que conhecemos Charlie Wax - John Travolta que assume bem o papel - o melhor agente, e ao mesmo tempo mais imoral e alheio às regras, que o governo do Tio Sam pôde produzir.
A trilha sonora com músicas francesas é boa, mas não leva o espectador à Paris. Parece simplesmente música francesa em um filme que se passa em L.A. ou Nova Iorque. Se essa era a idéia, acertou em cheio. Travolta agrada inicialmente por sua conduta sou rebelde, mas depois de um tempo fica enjoativo. Meyers, apesar de ser, teoricamente, um dos protagonistas, não se destaca até o final (literalmente as últimas cenas).
O roteiro não é nada mal. Tiroteios à vontade, com direitos a explosões e pancadaria. A primeira parada da dupla é em um restaurante chinês que serve de fachada para tráfico de cocaína. Nesse restaurante, Wax inicia um tiroteio e acaba derrubando todos os empregados chineses que portam sub-metralhadoras sem qualquer dificuldade, como se fossem pinos de boliche. Fácil e rápido. Em compensação uma das melhores cenas do filme é quando Wax atira no forro do restaurante e a cocaína armazenada simplesmente começa a cair em várias cachoeiras de pó branco, que Reece "coleta" como evidência em um vaso chinês que servia de decoração e ficou milagrosamente intacto depois da chuva de balas que furou cada parede do restaurante.
De traficantes de cocaína chineses para terroristas árabes não há ligação, certo? Errado! Luc Besson cria essa incrível ligação, apenas se esquece de mostrar no filme. Ao que parece, os terroristas eram o alvo de Wax e Reece desde o começo, então os traficantes chineses não passaram de diversão? Eles foram usados? Não se sabe. O que é mostrado é que Wax queria a cocaína coletada no vaso chinês para jogá-la no chão de um prédio no subúrbio para espantar os traficantezinhos do local e conseguir chegar até os terroristas. Dizer o que disso? Wax é bom, muito bom.
Agora que marcamos os terroristas como os verdadeiros vilões da história, descobrimos que pretendem explodir uma comissão americana que vem ao país para uma reunião de cúpula. Aqui há mais algumas perseguições, armas de grande porte, incluindo uma bazooka que Wax achou no carro de um dos agentes da embaixada, e o mais importante: há uma grande reviravolta, que na verdade já era meio esperada.
Dupla Implacável não é o melhor filme de Luc Besson, nem de Pierre Morel e nem de John Travolta. Não é um filme que adicione algo diferenciado a quem quer que seja. É o tipo de filme que diverte e apenas isso. Serve para passar o tempo em uma tarde de tédio, principalmente para os apreciadores de vasos chineses.
"Dupla Implacável". Título original: "From Paris With Love". Ano: 2010. Nacionalidade: França. Diretor: Pierre Morel. Roteiro de: Luc Besson, Adi Hasak. Produzido por: Luc Besson, India Osborne. Estrelando: John Travolta, Jonathan Rhys-Meyers, Kasia Smutniak, Richard Durden, Amber Rose Revah, Yin Bing, Eric Gordon. Música de: David Buckley. Duração: 92 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 7,0/10.

O Melhor Amigo do Homem. Mesmo!


Você deve estar pensando: "Ah, não! Não acredito que ele vai resenhar um filme de cachorro!". Acontece que este filme é tudo, menos um simples filme de cachorro. Sempre ao seu Lado (Hachiko: A Dog's Story, EUA, 2009) - regravação do japonês Hachicko Monogatari de 1987, que nunca chegou ao Brasil - é um drama sobre companheirismo, amizade e lealdade que superam os limites entre as espécies.

Ao contrário dos filmes Sessão da Tarde, em que os cães jogam basquete, hóquei ou futebol (e são melhores que a maioria dos humanos) este é um drama que realmente emociona e consegue levar lágrimas ao olhos. Do diretor Lasse Hallström (de Chocolate, Regras da Vida e O Vigarista do Ano, este último também estrelado por Richard Gere), Sempre ao seu Lado é um filme família que vem com uma lição de moral belíssima. A história se inicia com a chegada do professor Parker Wilson, interpretado por um inspirado Richard Gere, que encontra um filhote na estação de trem quando chega de uma viagem. Sem opção, Parker acaba levando o pequeno akita para casa até que se ache seu verdadeiro dono. Nesse meio tempo, o professor acaba se apegando ao pequeno Hachiko (pronuncia-se Hachi no filme, então usarei essa forma abreviada durante esta resenha) o que desagrada, ao menos inicialmente, sua esposa, interpretada por Joan Allen.

Em certo ponto do filme aparece Cary Hiroyuki Tagawa numa brilhante embora curta performance, como o professor Ken, amigo de Parker, que explica o significado do nome de Hachi e fala um pouco sobre os akitas, uma raça puramente japonesa que remonta 5000 anos no passado, no que parece ser o primeiro contato do ser humano com cães domesticados. Tudo vai bem na vida de Parker: ele vai todos os dias até a estação de trem para ir até o trabalho e Hachi o acompanha na ida até a estação e está lá na hora de seu retorno. Isso ocorre por anos, sem que o cão deixe de ir um único dia sequer, faça chuva, sol ou neve. Até que o professor acaba sofrendo um ataque no meio de uma aula e morre. E Hachi está lá naquela noite, esperando, quando Parker não volta para casa. O ápice do drama é quando ao final do filme, a esposa de Parker volta à cidade após dez anos para visitar sua sepultura e acaba encontrando o fiel parceiro de seu marido, agora velho e solitário, ainda esperando por ele no mesmo lugar.

Sempre ao seu Lado é um filme belamente construído, principalmente por ser baseado em uma história real, ocorrida no Japão na década de 1920 com um professor universitário japonês e seu cão, também akita. A história ficou famosa no país inteiro e o Hachiko original até ganhou uma estátua de bronze em tamanho real no local onde costumava esperar seu dono, na frente da Estação Shibuya.

O filme de Hachi não é perfeito, tem alguns probleminhas de direção bem notáveis, mas a história em si, emociona. Não tem como não ficar com lágrimas nos olhos ao ver o pobre Hachi esperando ansiosamente pelo retorno de seu melhor amigo, em especial na cena em que a viúva senta-se ao seu lado para lhe fazer companhia. Este não é um filme de cachorro. Para àqueles que gostam desses animais, Hachi é um bônus; para quem não gosta, é apenas um detalhe.
"Sempre ao seu Lado". Título original: "Hachiko: A Dog's Story". Ano: 2009. Nacionalidade: EUA. Diretor: Lasse Hallström. Roteiro de: Stephen P. Lindsey. Produzido por: Richard Gere, Bill Johnson, Vicki Shigekuni Wong. Estrelando: Richard Gere, Joan Allen, Sarah Roemer, Jason Alexander, Erick Avari, Davenia McFadden, Cary-Hiroyuki Tagawa. Música de: Jan A. P. Kaczmarek. Duração: 93 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,0/10.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A Colher do Mal


Dirigido pelo iniciante Richard Gale, O Assassino Extremamente Lento com a Arma Extremamente Ineficiente (The Horribly Slow Murderer with the Extremely Inefficient Weapon, EUA, 2008) não passa de um curta metragem pouco conhecido no mundo real, mas bastante famoso no mundo virtual. A história se passa com um perito da polícia chamado Jack Cucchiaio, interpretado por Paul Clemens, que sem nenhum motivo aparente começa a ser perseguido por um homem, que estranhamente pretende matá-lo com uma colher. Sim, você não leu errado: uma COLHER!
Perseguido durante 12 anos, através de 5 continentes, Jack simplesmente não consegue se livrar do que ele descobre ser um demônio imparável que o golpeia incessantemente com uma maldita colher. O Ginosaji - nome do imparável demônio armado com uma colher, que significa literalmente "Silver Spoon" em japonês (ou similar língua asiática) - é interpretado pelo brilhante Brian Rohan que não possui uma única fala nos 10 minutos do curta. E nem precisa. Seu personagem é totalmente assustador e excepcionalmente perturbador sem fazer nada mais do que perseguir uma pessoa incansavelmente com uma colher e espancá-lo até a morte com ela.
O filme, que eu saiba, só está disponível no Youtube e em inglês. São 10 minutos bem gastos. O Assassino Extremamente Lento com a Arma Extremamente Ineficiente é um clássico da tragicomédia trash, conseguindo juntar em 10 rápidos minutos os grandes clichês dos filmes de terror. A continuação chamada Spoon Vs. Spoon (Idem, EUA, 2010) também é ótima para aqueles que necessitam de algumas risadas a mais em sua vida. O filme, em um inglês simples e compreensível, é indispensável para fãs de sátiras e de filmes trash de terror. Se você assisti-lo uma vez, irá voltar a vê-lo again and again and again and again and again.
"O Assassino Terrivelmente Lento com a Arma Extremamente Ineficiente". Título original: "The Horribly Slow Murderer with the Extremely Inefficient Weapon". Ano: 2008. Nacionalidade: EUA. Diretor: Richard Gale. Roteiro de: Richard Gale. Produzido por: Richard Gale. Estrelando: Paul Clemens, Brian Rohan, Fay Kato, Melissa Paladino. Música de: Richard Gale. Duração: 10 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 8,5/10.