quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Tesouro dos Homens



Hellboy, O Exército Dourado,
é um mal exemplo de como a fantasia de alta qualidade se distorce sobre o manto comercialista norte-americano, mas possui qualidades que transcendem esses defeitos.

As estatísticas estão contra Guilhermo Del Toro. De sete filmes lançados nos Estados Unidos, 2 esquecíveis, um ousado, um porcaria, um mediano, uma obra prima (O Labirinto do Fauno) e Hellboy 2, O Exército Dourado (Hellboy II: The Golden Army, EUA, 2008). Este último merece um destaque maior.
Muito se esperava do diretor mexicano após o extraordinário sucesso comercial e crítico de sua fantasia adulta, O Labirinto do Fauno, que lhe rendeu a possibilidade de concorrer à estatueta do OSCAR de Melhor Roteiro e Filme Estrangeiro, com 'quase' injustas derrotas para o filme alemão, A Vida dos Outros.
Mas não foi o que aconteceu com a continuação do personagem de histórias em quadrinhos, Hellboy, quem ele havia adaptado já em um filme anterior. Hellboy (Ron Perlman), um demônio vermelho com uma mão de pedra foi incorporado ao nosso mundo pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, ao invés de servir seu propósito e trazer a destruição da humanidade, ele é criado por um professor (John Hurt) e desde então trabalha lado a lado com os humanos livrando nosso mundo dos perigos das criaturas mais fantásticas - e assustadoras - que habitam as entranhas de nossas metrópoles. Nesta sequência, ele e seus companheiros, sua namorada Liz Sherman (Selma Blair) capaz de transmutar-se em fogo, e o fiel companheiro Abe Sapien (Doug Jones) uma criatura aquática azul de aspecto curioso, capaz de ler mentes, devem enfrentar um príncipe do submundo chamado Nuada (Luke Gross) que, enfurecido com a raça humana por ter controlado o mundo acima do seu, decide entrar em guerra. Para tanto, ele desperatá o lendário Exército Dourado, uma compilação de máquinas andróides que uma vez postas em combate, jamais poderão ser detidas.
Com uma trama interessante, efeitos visuais fantásticos e um conceito artístico fora do comum, tudo parecia dar certo para o garoto vermelho. A maquiagem é absolutamente transcendental no cinema norte-americano, cortezia do incrível trabalho já feito em O Labirinto do Fauno. Neste episódio, Del Toro explora mais o conceito fantástico que ele mesmo criou, ousando construir criaturas fora do comum, e de extraordinária beleza, entre elas o próprio príncipe Nuada e sua irmã, Nuala, um Anjo da Morte assustador e um maravilhoso Elemental da Floresta. Todos que se tornaram adversários de um herói pouco merecedor: um vindo diretamente das profundezas do inferno.
A coisa começa a derrapar logo nos aspectos técnicos: a trilha sonora composta por Danny Elfman é tão passável que chega ao ponto de ser ofensiva, tamanho o espaço a ser explorado num filme com o conceito como este.
A partir daí o roteiro de Del Toro perde as rédeas a transforma o que poderia ser uma obra prima numa boba aventura fantástica com um herói pouco carismático e onde todos os protagonistas (sem exceção), tomam TODAS as decisões erradas durante a trama inteira.
Ainda que não necessariamente ruim, Hellboy II, O Exército Dourado, é excessivamente bobo, e deixa a impressão de que foi um tremendo desperdício de talento e perícia técnica que são jogadas fora durante sequências totalmente desnecessárias. A ação, quase constante, também é mal coreografada (ou pelo menos em um nível que lhe permitisse explorar todo o aspecto visual que o filme contém), as piadas ruim, a trilha sonora fraca, os atores principais, Ron Perlman no papel de Hellboy e Selma Blair no papel de Liz, sem o menor carisma ou química, enfim, uma pena. Ainda mais quando comparado ao seu predecessor, o fauno, para quem ele perde em todos os aspectos.
Entretanto, nem tudo são partículas negatívas voando ao redor do talento criativo de Del Toro. Existe uma mensagem mais profunda em Hellboy, que vai além do seu aspecto preservacionista, mais palpável e superficial:
O Príncipe Nuada luta por um motivo. Seu reino foi abandonado e esquecido, e seu povo condenado a viver nas profundezas das cidades que os humanos construiram. Mas não é nas profundezas das metrópoles que as criaturas como elfos, ogros, elementais ou anjos vivem. São nos calabouços das nossas próprias mentes e corações, cujos portões foram fechados à chave pelo chamado amadurecimento. E nesse aspecto o filme transmite muito bem a sua mensagem.



2 comentários:

  1. Tenho muita curiosidade em ver Hellboy II, o Exército Dourado. É uma pena que neste post digam-me que suas sequências de ação são fracas, as piadas são ruins e que não há química entre o casal principal, pois a meu ver, seria isso que seria a base do filme, restando apenas a "moral da história", que aqui foi descrita como sendo muito bem construída e bem clara.
    Lembro-me muito bem de quando assisti O Labirinto do Fauno, não só pelo espetáculo que é o filme por si só, dispensando todos os pormenores para não alongar esse comentário, mas também lembro do filme pois assisti na casa de um amigo junto a mais umas 7 pessoas, e absolutamente ninguém estava interessado no filme. Ou seja, só eu assisti.
    Talvez na minha concepção, Hellboy II seja um pouco melhor do que foi descrito, mas acho difícil pois em se tratando de ação, sou muito observador e percebo quando o filme quer me fazer de idiota. Outro comentário em outro post, e assim seguiremos, até que cessem-se os posts ou cessem-se os blogs

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  2. Não digo para não ver. Só o aspecto visual das criaturas e dos cenários criados já valem o espetáculo. Mas aconselho a se manter a isso, pois não há muita inteligência nele. Entretanto, como eu já disse, existe uma mensagem interessante por trás dele.

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