quarta-feira, 13 de julho de 2011

O tempo que nos é dado





Woody Allen retorna à boa forma com Meia Noite em Paris, com um elenco espetacular e uma das melhores histórias de sua carreira.

Woody Allen é certamente um dos melhores e mais respeitados diretores e roteiristas da história de Hollywood. Já venceu 3 OSCAR (dois por Noivo neurótico, noiva nervosa e um por Hannah e Suas Irmãs nos anos de 1978 e 1986 respecitvamente). Sua inigualável criatividade e capacidade de escrever/filmar filmes com uma velocidade impressionante, lhe renderam milhões de fãs devotados ao redor do mundo.
O diretor nascido no Brooklyn em 1935, sempre se revelou melhor nas comédias do que em filmes dramáticos: Match Point e O Sonho de Cassandra, embora relativamente bons (ou ao menos detentores de seu fan club), decerto não estão nem perto de seus melhores trabalhos. Os mais recentes, aliás, mostram uma tremenda queda de qualidade de sua produção.
Com Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, EUA, 2011), ele parece ter retornado à boa forma. Com um elenco estupendo - aliás como de costume -, composto por Owen Wilson, Rachel McAdams, Adryan Brody, Kathy Bates, Michael Sheen e outros.
Wilson, recuperado dos recentes casos de tentativa de suicídio e internação por uso de drogas, faz uma mímica perfeita do próprio Woody Allen, interpretado Gil Pender, um jovem roteirista de Hollywood que está em Paris com sua noiva Inez (McAdams), enquanto os pais dela estão viajando a negócios. Ele trabalha em seu primeiro romance e é um verdadeiro bisonho que possui a noção romântica e nostálgica de uma Paris dos anos 20 na chuva, como o local ideal pra se viver.
Lá eles encontram o fantástico e não menos irritante Paul (Michael Sheen), um sujeito incrivelmente culto e antigo amigo de Inez, que os leva por um tour nas principais galerias e museus franceses, Versalles e por aí vai. Durante um desses passeios, ele se enche e deixa a noiva nas mãos de Paul, saindo para voltar ao hotel a pé na Paris noturna. No meio do caminho, obviamente se perde, e acaba se sentando aos pés de uma pequena igreja de uma ruazinha escura. Quando bate meia noite, um carro antigo passa por ele e os passageiros o convidam para entrar: mal sabe Gil, que ele acaba de cruzar um portal justamente para a Paris dos anos 20, que ele tanto sonhava, dando-lhe a oportunidade de conhecer seus maiores ídolos, F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Salvador Dalí, Pablo Picasso, Gertrude Stein e por aí vai.
O que a princípio torna-se um tremendo choque, logo revela ser a oportunidade de Gil, de conhecer as pessoas que ele mais admira, e a possibilidade de melhorar seu romance e de admitir seus erros.
Esse é, provavelmente, uma das histórias mais agradáveis e inventivas de Allen em muito tempo. A direção é divertida como de costume, e atuação de Owen Wilson, uma surpresa. Entretanto, a fotografia do Iraniano Darius Khondji merece uma mensão especial: durante o tempo em que Gil passa em sua época, ela é relativamente simples e bastante clara. Entretanto, toda vez que ele dá um pulo para o passado, ela se torna escura e envolvente com detalhes em dourado. Quase noir.


Até certo ponto do filme, Allen dá a impressão de estar indo numa direção totalmente errada. Mas próximo do final, a grande lição surge: de que não existem tempos melhores, mais belos ou mais especiais do que aquele em que estamos vivendo. Cada geração possui seus Hemingways, seus Fitzgeralds, seus Dalís, seus gênios e seus criadores, que inevitavelmente vêem sua época como uma era monocromática e sem imaginação, criando a doce ilusão de que um tempo longínquo pode ser melhor.


No fim, talvez seja melhor sermos felizes com e no o tempo que nos foi dado. Não adianta olhar para as estações passadas esperando pelo seu retorno, pois elas seguem sempre em frente, cada uma com suas nuances, anomalias e qualidades. E nem sempre os mais sábios conseguem enxergar os dois lados.

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