sábado, 18 de dezembro de 2010

Melhor a versão 1.0





Tron - O Legado inova nos efeitos especiais e no conceito artístico, mas falha incrivelmente em criar algo a mais que isso...

Tron - uma odisséia eletrônica (Tron, EUA, 1982) estreou no começo dos anos 80 como uma revolução similar ao AVATAR de James Cameron. Foi o primeiro filme da história do cinema a introduzir o conceito visual da computação gráfica, utilizada abundantemente (talvez até demais) na produção cinematográfica atual.
No épico eletrônico dirigido por Steven Lisberger, um hacker chamado Kevin Flynn (interpretado por Jeff Bridges), é literalmente abduzido para dentro de um programa de computador, onde sua única chance de escapatória é participar de uma série de jogos violentos e ajudar um heróico programa de segurança, Tron, interpretado pelo protagonista da série Babylon 5, Bruce Boxleitner. Lá, Flynn torna-se Clu, partindo em uma empreitada pelo mundo eletrônico para voltar para casa.
O filme, apesar de seu inovador conceito visual/artístico, passou um sentimento de incompreensão ao público, que não entendeu as complexididades tecnológicas e computacionais apresentadas pela obra há quase três décadas. O filme que não passava de uma hora e meia de duração era complicado e cansativo, mas seu legado permaneceu.
Com um orçamento aumentado em 173 milhões de dólares (o primeiro filme custou 17 milhões e o segundo impressionantes 200), Tron - O Legado (Tron: Legacy, EUA, 2010) estreou esta sexta-feira nos cinemas de todo mundo com a missão - ou não - de desbancar seu antecessor. Se esse foi o caso, falhou miseravelmente.
No segundo filme mais de vinte anos se passaram. Flynn retornou, casou-se, teve um filho chamado Sam. Ampliou sua corporação, que agora se tornou a maior e mais importante empresa de eletrônica do mundo. Tudo corria bem até uma descoberta por parte de Flynn, que prometia revolucionar os conceitos de ciência, medicina, religião, enfim, tudo. Tal descoberta foi sucedida por seu desaparecimento, e é aí que a história realmente começa.
Seu filho, Sam, (Garret Hedlund) agora crescido, esbanja rebeldia quando surge a possibilidade de seu pai ainda estar vivo no pequeno prédio de fliperamas que estava abandonado há mais de vinte anos. Ele parte então, numa tentativa de reencontrar o homem que sumiu de sua vida, mergulhando na realidade virtual, A Grade.
O conceito visual de Tron foi totalmente remodelado e beira o extraordinário, com cenários incríveis e efeitos especiais "quase" de primeira linha. Sam viaja pela Grade, encontrando mais inimigos do que aliados, enfrentando lutas de discos, motos e outras coisas, encontra uma moça chamada Quorra (Olivia Wilde) que o ajuda a encontrar seu pai, O Criador.
Os efeitos especiais que demoraram 68 semanas para serem criados, transportam (com uma ajudinha do fabuloso diretor de fotografia, Claudio Miranda) o espectador para dentro do universo criado por Flynn de maneira excepcional. Em contrapartida, falham de maneira épica ao retratar Jeff Bridges 28 anos mais jovem como Clu 2.0, programa que auxiliaria na construção da Grade juntamente de Tron, mas que por fim se voltou contra ambos e a agora governa aquele universo tiranicamente. O resultado é canhestro e artificial, e nada comparado ao que foi visto em O Curioso caso de Benjamin Button.
O roteiro pífio, cria uma sucessão de clichês e personagens desinteressantes, cujo talento dos atores é explorado raramente pelo diretor extreante, Joseph Kosisnki. Os pontos fortes ficam a cargo do ótimo ator inglês, Michael Sheen, dos efeitos visuais, direção de arte, figurinos e maquiagem e da espetacular trilha sonora composta pelo grupo Daft Punk. Toda eletrônica, a música compõe um cenário que se sobrepõe perfeitamente à tecnologia esbanjada na produção.
E é mais ou menos isso. Em raras ocasiões uma narrativa foi tão mal executada quanto em Tron. O suficiente para ofender os fãs de ficção-científica ou simplesmente qualquer um com Q.I. alto o suficiente para entender o que está tentando ser criado aqui. E isso infelizmente só serve para corroborar a fama da Walt Disney de caça-níqueis, incapaz de criar algo de conteúdo. Entretanto, Tron - O Legado certamente se sairá bem nas bilheterias. Mas o primeiro filme ainda é melhor.

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