sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Perfeição Enlouquecedora da Rainha dos Cisnes

"Cisne Negro" leva o espectador a uma viagem sem volta ao subconsciente alucinado de uma bailarina em busca da perfeição



Do diretor de "O Lutador", o novo filme de Darren Aronofsky, Cisne Negro (Black Swan, 2010, EUA), conta a história de Nina Sayers (a sempre talentosa Natalie Portman, que, sem dúvidas, merece o OSCAR, além de já ter ganhado o Globo de Ouro e o prêmio do SAG - Sindicato dos Atores - por este trabalho), uma bailarina que almeja a posição principal da obra O Lago dos Cisnes - a Rainha dos Cisnes, um papel que consiste na interpretação do Cisne Branco e do Cisne Negro pela mesma bailarina -, de Tchaikovsky, que está sendo refeita pela companhia de balé de que participa. Esforçada ao extremo, Nina não vê dificuldade no papel de Cisne Branco, pois possui muitas das características que definem a personagem, como sua doçura, timidez e inocência virginal; por outro lado, o papel de Cisne Negro parece ser o grande desafio para a bailarina, pois o papel é caracterizado pela sensualidade, sedução e rebeldia. Classicamente, ambos os papéis são feitos pela mesma bailarina pelo fato de que os personagens são gêmeos opostos e aí é que se encontra o primeiro empecilho para a jovem.

Reprimida pela mãe (Barbara Hershey), uma ex-bailarina frustrada que a trata como criança, sempre vigiando seus passos e sufocando-a em um mundo de infantilidade e controle, Nina começa a sentir a pressão do papel para o qual foi escolhida. Para piorar a situação, surge entre ela e Lilly (a estonteantemente fascinante e talentosa Mila Kunis) uma rivalidade sensualizada, típica de oponentes que se sentem atraídos um pelo outro, mas que são rivais por algum motivo. E essa é a questão: Lilly está sendo cogitada pelo diretor - Thomas Leroy (Vincent Cassel, que também está ótimo) - para assumir o papel de Nina caso ela não consiga se dominar e libertar o Cisne Negro que dorme dentro dela devido à repressão com que conviveu a vida toda.

À medida que os minutos vão passando e a tensão vai crescendo no espectador e na personagem de Portman, simplesmente por não saber o que é real e o que pode ser produto de sua mente, o longa fica a cada minuto mais próximo do fim, que é construído com e pela a apresentação de estreia de O Lago dos Cisnes. Por fim, chega a conclusão real da história, que o espectador já sabia, seria inesperado, eletrizante e genial. E é.

Vale notar que durante todo o longa, Aronofsky optou por mostrar mais dos que apenas a parte glamurosa do balé; optou por mostrar também as dificuldades enfrentadas pelas artistas: as unhas quebradas, o trabalho contínuo e repetitivo e a dedicação total àquilo que será apresentado talvez apenas uma porção de vezes para pouquíssimos interessados. Indubitavelmente é um trabalho belíssimo, mas que não é apreciado hoje e Aronofsky consegue mostrar isso ao som de Tchaikovsky. Vale a pena comentar também a participação ínfima, embora interessante, de Winona Ryder como Beth, a ex-bailarina principal da companhia de Nina, que tem que se aposentar devido a sua idade avançada (40 e poucos anos , se não me engano). É interessante perceber a obsessão de Nina em ser perfeita em todos os aspectos, mesmo que para isso tenha que ser outra pessoa, o que ela tenta fazer copiando Beth, a quem considera extremamente talentosa. O que ela não percebe é que ela mesma é assim: talentosa, dedicada, poderosa, imponente. Uma verdadeira rainha. Ela era a Rainha dos Cisnes o tempo todo e não sabia.

"Cisne Negro". Título original: "Black Swan". Ano: 2010. Nacionalidade: EUA. Diretor Darren Aronofsky. Roteiro de: Andres Heinz, John J. Mclaughlin, Mark Heyman. Produzido por: Arnold Messer, Brian Oliver, Mike Medavoy, Scott Franklin. Estrelando: natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder. Música de: Clint Mansell. Duração: 107 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,0/10.

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