segunda-feira, 7 de março de 2011

Vida longa ao R...R...Rei



Se o Discurso do Rei merece alguma coisa, é o reconhecimento da capacidade de elevar o espírito do espectador. Mas não muito mais do que isso.


Já é mais ou menos de conhecimento comum que a Academia seja fã das histórias da aristocracia britânica, como já foi visto em tantos outros filmes. O que surpreende é, além da história de superação do rei George VI, a quantidade de admiração que o filme britânico causou nos votantes da entrega do OSCAR, acima de obras naturalmente americanas e não menos interessantes, como A Rede Social e Bravura Indômita.

Afinal, já faz um tempo que um filme inglês não vence o OSCAR de melhor filme. Se bem que, Quem Quer Ser um Milionário é mais inglês do que qualquer outra coisa. Mais do que indiano, com certeza. O Discurso do Rei (The King's Speech, ING/AUS/EUA, 2010) teve uma tragetória interessante para vencer 4 estatuetas, incluindo a de melhor filme.

Suas críticas, apesar de boas, foram incomparáveis às de A Rede Social, filme de David Fincher sobre a criação do facebook e suas repercussões. Na entrega dos Globos de Ouro, ele foi massacrado pelo concorrente, vencendo um prêmio contra quatro da biografia de Mark Zuckerberg.

Mas então alguma coisa aconteceu e os deuses cineastas mudaram seu foco do moderno e eletrizante filme biográfico, para o mais clássico e muito menos eletrizante, mas também biográfico, filme do rei inglês que sofria de gagueira. Estrelado por Colin Firth, este venceu todos os prêmios de melhor ator, que já eram certos desde o começo, mas do momento em que Tom Hooper, o diretor venceu o prêmio do sindicato dos diretores, a coista toda começou a crescer de forma escalonada até a entrega do OSCAR.

Passado às beiras da segunda guerra mundial em 1934, George VI, torna-se rei da inglaterra após a abdicação de seu irmão (interpretado por Guy Pierce) que insistiu até o último momento em se casar com uma mulher divorciada, o que não é permitido pela igreja. Sendo assim, o indesejado reinado caiu nas mãos de George, que sofria de gagueira ao menor sinal de desconforto ou medo.

Em uma época em que o rádio era o principal e mais influente meio de comunicação, esse era um aspecto mais do que problemático para o homem que se encontrava às portas do maior conflito bélico da história da humanidade, e sem saber como se dirigir à nação.

Sendo assim, ele e sua esposa (Helena Bonham Carter num papel muito mais interessante do que qualquer filme de Tim Burton) procuram a ajuda de um especialista pouco ortodoxo, chamado Lionel Logue (Geoffrey Rush). E assim começa um dos relacionamentos mais inusitados e divertidos da história recente. Ou não tão recente assim.

Pelo visto deu certo. A história do rei gago e entrege ao acaso, venceu 4 OSCAR, sendo eles melhor filme, diretor, ator e roteiro original, o que em parte foi uma surpresa, já que na categoria de melhor direção, David Fincher era o favorito por quilômetros.

E de fato O Discurso do Rei é um filme muito bom. Seus diálogos e situações são divertidíssimos e o filme é uma dramédia inteligente que eleva o espírito do espectador. Aliando elementos como figurino e trilha sonora que contrapoem um ambiente opressor criado pela direção de arte e uma fotografia intimista que abusa de ângulos pouco comuns, o filme é, no conjunto da obra, uma experiência cinematográfica mais do que satisfatória.

Pena que não era para tanto.

Dentre 10 indicados ao prêmio de melhor filme, vários dos favoritos eram filmes biográficos. 127 Horas, O Discurso do Rei, O Vencedor e A Rede Social. É menos é claro que se você teve bonecos que ganharam vida, Toy Story é um filme sobre sua vida. Isso mostra que 2011 foi um ano com uma concentração maior de histórias verídicas, sobrepujando as ficcionais, como A Origem. É uma pena que dentre a história do rei gago, do lutador caído, do alpinista preso e do fundador do facebook, O Discurso do Rei, apesar de bom, não tenha sido o melhor de todos, perpetuando a fama de Academia de reacionária e ultrapassada.

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