sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Para ver com um olho só

Filme dos irmãos Coen chega badalado em com 10 Indicações ao OSCAR, mas possui mais nomes importantes do que qualidade propriamente dita.


Não é recente que os irmãos Joel e Ethan Coen são considerados a maior dupla de diretores da atualidade. Com 3 vitórias ao OSCAR de 2008, por Onde os Fracos não têm Vez, nas categorias de Melhor filme, direção e roteiro adaptado, ambos chegaram com grande festa e badalação, com o remake do clássico de John Wayne, Bravura Indômita (True Grit, EUA, 2010).

Baseado no romance homônimo de Charles Portis e no filme de 1969, dirigido por Henry Hathaway e estreloando John Wayne (que recebeu o OSCAR de melhor ator pelo papel de Reuben "Rooster" Cogburn), a nova refilmagem do clássico faroeste é estrelada por ninguém menos que o ganhador do prêmio da Academia no ano passo, Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Brolin e a revelação adolescente Hailee Steinfield de somente 14 anos de idade.

A história gira em torno da menina Mattie Ross (Steinfield) que procura vingança pelo homem que matou seu pai. O homem em questão é Tom Chaney (Brolin), fugitivo e no fundo da lista dos menos procurados pela lei. Ela então decide contratar os esforços de "Rooster Cogburn", um federal bêbado e acabado (Bridges) que relutantemente aceita o dinheiro da menina para partir em caçada de Chaney, ao lado de um Texas Ranger chamado LaBeouf (Damon), que está na caça do criminoso há vários meses, devido ao assassinato de um deputado no Texas.

É de se esperar que com a quantidade de nomes importantes que o filme possui, especialmente o de seus diretores, que Bravura Indômita seja um dos filmes mais espetaculares do ano, já que é o segundo em número de indicações ao prêmio mais importante do cinema, atrás somente de O Discurso do Rei que possui 12 indicações, contra 10 do épico faroeste.

Entretanto, ao contrário de todas as espectativas, a travessia de Mattie e Cogburn não é metade do calibre de outros filmes dos irmãos Coen, como Fargo ou Onde os Fracos Não Têm Vez, ambos clássicos filmes sobre as atrocidades americanas.

Certamente os desempenhos são espetaculares, a começar por Jeff Bridges que providencia um papel constantemente hilário, mas cujo personagem também é extremamente poderoso e emblemático. O show fica a parte de Hailee Steinfield de 14 anos, no papel de Mattie, demonstrando extrema coragem e segurança em um papel difícil. Da mesma forma, Matt Damon e Josh Brolin estão ótimos em seus respectivos papéis.

Curiosamente, a aparição mais marcante do filme é a do ator Barry Pepper (de O Resgate do Soldado Ryan e A Conquista da Honra), como o líder da gangue de Chaney, Ned Pepper (papel que foi interpretado por Robert Duvall em '69). Isso tudo aliado a um ótimo trabalho de maquiagem, fotografia e figurino.

Então, o que há de errado em Bravura Indômita? Já que ele possui ótimas atuações, uma direção segura, um roteiro repleto de bons diálogos, um trabalho de maquiagem, figurino e fotografia impressionantes? Difícil de responder. Mas de alguma forma, o tom da obra fica um pouco fora do que deveria ter sido. A trilha sonora composta por Carter Burwell é tão onipresente como irritante, fora do conjunto e incapaz de transmitir alguma sensação, seja ela apreensão ou drama, nas cenas mais intensas de ação e violência.

Se há uma diferença muito grande entre as duas versões do filme, é quantidade de violência apresentada. Certamente a obra dos irmãos Coen é mais gráfica em termos de violência, com sequências de ação rápidas e intensas. Ela é mais uma forma de mostrar a violência como ato cotidiano e necessário daqueles que viviam em tempos difíceis no oeste americano do final do século XIV.

Entretanto, embora o filme seja impactante pela sua violência (ainda que nada comparado a outros filmes do gênero), ele peca na ausência de impacto emocional, seja ele bom ou ruim. Um final apático e a aparante falta de desenvolvimento de situações que poderiam ter sido melhor exploradas, tornam Bravura Indômita um dos mais fracos candidatos ao OSCAR de melhor filme deste ano. O que é uma tremenda decepção, dada a qualidade técnica e potencial já conhecidos pelos irmãos Coen, juntamente de um elenco espetacular.

Dessa forma, filmes como A Rede Social, O Vencedor e A Origem são muito melhor desenvolvidos em aspectos importantes de um filme dessa categoria: sua capacidade de ser marcante. Bravura Indômita não é um filme ruim, contudo. É cheio de humor, sendo muito divertido e entusiasmante em alguns momentos. Entretanto, não é o melhor filme dos irmãos Coen, não é o melhor filme dos indicados ao OSCAR e não é o melhor filme do ano. Fora isso, é diversão garantida para aqueles que não se importam com um pouquinho de sangue e tiros. Mas não deixa passar a impressão de que podia ser melhor.

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