sábado, 5 de fevereiro de 2011

O tubarão e o pato





Filme estrelado por Mark Wahlberg e Chrisitan Bale narra a trajetória do lutador Micky Ward com incrível humanidade e realismo.



Um dos 10 indicados ao OSCAR 2011, O Vencedor (The Fighter, EUA, 2010) vai de um festival de improbabilidades, começando pelos seus dois protagonistas, a um dos melhores filmes do ano, em um dos melhores anos da história recente.

Micky Ward (Mark Wahlberg) tem uma carreira medíocre como pugilista proficional, ministrado pela sua mãe (Melissa Leo) e treinado pelo seu irmão, Dicky Eklund (Christian Bale), um ex-lutador que tornou-se viciado em crack.

É quando ele perde uma luta transmitida pela ESPN, que Micky decide dar um novo rumo à sua vida e sua carreira, desistindo de lutar e começando um relacionamento como uma barman, Charlene Fleming (interpretada por Amy Adams).

Depois de algum tempo sem lutar, Micky começa a treinar novamente, mas sem a tutela do irmão, Dicky que foi preso pela 27ª vez, por roubo, tráfico e agressão a um policial.

Após vencer sua primeira luta em muito tempo, Micky entra em conflito com a família, após o retorno do irmão da prisão, ao mesmo tempo tendo uma levantada meteórica, no maior estilo Rocky Ballboa ou neste caso, James J. Braddock, cujo retorno virou o filme dirigido por Ron Howard, A Luta Pela Esperança.

Com tantos filmes clássicos do gênero, O Vencedor precisaria de algo a mais para ficar no mesmo patamar, com um dos grandes filmes sobre pugilismo.

Guiado por um diretor acostumado com comédias, David O. Russell assumiu o comando de um projeto que possúia tudo para dar errado, mas deu certo.

A começar pelo protagonista Mark Wahlberg, o pato que se transformou em tubarão dentro de Hollywood. Nascido em Boston, o ator de 39 anos nunca foi um ator digno de muito crédito, passando de filmes ruins em filmes ruins e sendo condecorado com uma indicação ao "Framboesa de Ouro" de pior ator por seus trabalhos em Fim dos Tempos e Max Payne. Sua única indicação ao OSCAR foi pelo trabalho meramente impressionante em Os Infiltrados de Martin Scorcese, no qual engordou 16kg, para interpretar um policial em Boston.

Entretanto, quando voltou-se para a produção, sua carreira pareceu deslanchar e pouco a pouco ele tornou-se um tubarão dentro de Hollywood. Produziu séries de sucesso como Entourage e Em Terapia e este ano ganhou o Globo de Ouro de Melhor Série Dramática, por Boardwalk Empire, juntamente de seu colega-diretor, Martin Scorcese.

Por trás das câmeras e na frente delas, em O Vencedor, Wahlberg, agora ator/produtor, encontrou um dos melhores - senão o melhor - papéis de sua carreira, interpretando o lutador que se reergueu das cinzas. Contudo, acabou sendo engolido por um festival de atuações espetaculares, que começam com seu amigo, Christian Bale, que aceitou só aceitou o convite graças a Walhberg.

Bale começou como grande promessa mirim, no drama de guerra Império do Sol, dirigido por Steven Spielberg em 1987, mas durante muito tempo, não vingou. Sua arrancada começou após o destaque crítico de Psicopata Americano em 2000. Sua chance de ouro então apareceu quando Christopher Nolan o escalou para ser o novo Batman, em Batman Begins e O Cavaleiro nas Trevas, sucesso estrondoso de bilheteria e crítica por todo o mundo.

Ele imediatamente tornou-se o queridinho de Hollywood para estrelar grandes produções, assumindo o papel de John Connor em O Exterminador do Futuro - A Salvação e colocando-se no patamar de Russel Crowe, no violento Western, Os Indomáveis.

De pato para tubarão, Bale despencou novamente para pato, após desferir uma quantidade recorde de obscenidades que pararam no Youtube, nos sets de filmagem de Exterminador do Futuro. Sua chance de retornar aconteceu quando o convite para interpretar Dicky Eklund, irmão de Micky Ward apareceu.

E Bale estraçalhou o tubarão Wahlberg, com uma interpretação fora do comum, e comparável à de Heath Ledger como o coringa de Cavaleiro das Trevas (no qual Bale também atua). Conquistou sua primeira indicação ao OSCAR e possivelmente sua primeira vitória também. Mas o mérito não é somente dele.

David O. Russel foi primoroso em uma direção humana e delicada, que retrata os momentos mais íntimos da família de Micky, colocando seus atores em papéis espetaculares e desempenhos incríveis. Entretanto, sua visão do protagonista é a de um personagem sem personalidade, ou pelo menos alguém que é engolido em todos os aspectos pelos outros atores como Christian Bale, Melissa Leo e Amy Adams, e também pelos seus respectivos personagens.


No fim, O Vencedor cai no mesmo problema visto em A Origem. Apesar de ambos os filmes serem ótimos, acabam sendo infiéis às suas propostas, neste caso, a de mostrar a história de superação de Micky Ward. Há constantemente um embate entre personalidades muito fortes. Seja da mãe ou do irmão de Micky com sua namorada, ou da mãe de Micky e seu irmão, ou de Micky com o seu irmão. EContudo, em todas as ocasiões, o personagem interpretado por Mark Wahlberg desaparece na sombra de seus conterrâneos.

Entretanto, apesar de seus problemas, o filme ainda assim é um dos melhores do ano. Instigante, envolvente e emocionante, mesmo que o sentimento não seja relacionado ao seu personagem principal, visto como inseguro, imaturo e incapaz. Mas pela destreza de seus roteiristas e um desempenho espetacular dos atores coadjuvantes, o filme conquistou merecidamente um lugar de destaque como um dos melhores filmes de 2010 e do gênero do boxe.

Contudo, quem foi derrotado foi o tubarão Wahlberg. E quem venceu foi o pato Bale.

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