sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um aloprado à beira de um ataque de nervos



Filme dirigido por Martin Scorcese e estrelado por Leonardo DiCaprio, é, infelizmente, um dos filmes que não devem ser assistidos duas vezes.




Baseado em um romance de Dennis Lehane, Ilha do Medo (Shutter Island, EUA, 2010) foi adaptado para os cinemas pelo consagrado diretor Martin Scorcese, com um elenco de peso que incluia Leonardo Di Caprio, Mark Ruffallo, Ben Kingsley, Michelle Williams e Max Von Sydow.


Em 1954, um oficial federal chamado Ted Danniels (DiCaprio) é enviado até Shutter Island para investigar o misterioso desaparecimento de uma mulher chamada Rachel. O lugar é uma instituição psiquiátrica de segurança máxima que fica em uma Ilha no estilo de uma história de Alexandre Dumas, responsável pelo tratamento dos criminosos insandecidos mais violentos e rejeitdaos pela sociedade e outros sistemas carcerários.


Juntamente de seu parceiro, Chuck Aule, Teddy irá desvendar segredos obscuros em Shutter Island, que envolvem mais do que a irresponsabilidade dos médicos e seguranças que deixaram a fugitiva em questão escapar, mas a possibilidade de experimentos científicos com os prisioneiros, e outras coisinhas sórdidas.


O diretor do local, John Cowley, interpretado por Ben Kingsley, é desde cara o tipo de sujeito que não deixará dois oficiais federais estragar, seja lá qual for o objetivo que ele está tentando alcançar. E durante toda a "peregrinação" pelha ilha do medo, Teddy e Chuck irão de deparar com uma série de mentirosos e seguranças psicopatas, que estão escondendo um segredo profundo e assustador dentro do hospital.


Ainda que possúa uma premissa muito interessante e fiel ao livro de Lehane, responsável por trabalhos como Sobre Meninos e Lobos (adaptado por Clint Eastwood), o filme que começa muito bem, proporcionando um clima tenso e atmosférico, vai descarrilhando rumo ao final.


Mas nada comparado ao que acontece nos últimos trinta minutos da obra.


Já é de longa data a mania de Hollywood de criar filmes com reviravoltas "inteligentes" no final. M. Night Shyamalan fez isso em O Sexto Sentido e deu certo. Abusou muito nos filmes posteriores e deu errado. Tony Gilroy usou e abusou disso em Duplicidade e funcionou também, mas Martin Scorcese, embora seja um diretor talentoso e conceituado, não é nem M. Night Shyamalan nem Tony Gilroy. E muito menos Alfred Hitchcock, ou seja lá que mais ele se inspirou para fazer o filme.


O que é uma pena. Durante grande parte do filme, ele parece seguir por uma trajetória muito promissora, mas depois desencana numa reviravolta que pode surpreender os mais desatentos, mas desapontar - e muito - aqueles que prestaram mais atenção em certos aspectos fundamentais do filme.


E ainda que funcione de alguma forma em ambos os casos, torna o filme impossível de ser assistido uma segunda vez, sem que as improbabilidades tornem-se palpáveis e as incoerências insuportáveis.


Isso não é culpa inteiramente de Scorcese. Aliás, mérito dele por tentar criar algo diferente do gênero do gangsterismo, o qual ele está acostumado. Tanto Lehane quando o cineasta, falharam em aproveitar ao máximo o que uma trama "mais simples" podia oferecer, voltando-se para a reviravolta. O problema de tal recurso, é que ele tende a criar o "efeito rebobina", no qual o espectador (se for do tipo observador), irá procurar ao longo da memória, todos os detalhes da trama que poderiam ter entregue o final mas não entregaram (ou entregaram).


A direção de Scorcese é falha, e é incapaz de manter o espectador na ponta da cadeira, criando um clima de medo e suspense. Desde o começo do filme, é óbvio que o personagem de Di Caprio está derrapando entre os limites da lucidez e da insanidade e conforme o filme passa, ele se torna mais um aloprado à beira de um ataque de nervos, do que um oficial federal que seria chamado para uma instituição repleta de loucos. Só não sabemos por que ele está assim. Uma direção mais sóbria e uma atuação menos intensa por parte do ator principal, poderiam ter feito a diferença na hora de criar o impacto indesejado.


Mas não em costurar os furos do roteiro/livro, que é quase uma peneira de impossibilidades. Entretanto, o livro possui um clima muito mais ágil e bem humorado, que faltou ao filme, por opção do cineasta ou da roteirista Laeta Kalogridis, que providenciou o roteiro. Estes elementos poderiam ter criado um clima ainda mais envolvente, que só é providenciado pelo ótimo trabalho de produção e pelo soberbo trabalho de fotografia de Robert Richardson.


O elenco ainda é bem aproveitado, com boas atuações de Kinglsey, Ruffallo, Von Sydow e Michelle Williams, como a falecida esposa de Teddy, que aparece em flashbacks. Outras participações, como as de Elias Koteas e Jackie Earl Haley tornam Ilha do Medo uma das obras com o melhor elenco dos últimos anos.


Ao cineasta Martin Scorcese sempre faltou sutileza, algo necessário para um filme de suspense, cuja trama vai se desenrolando até o final - ou não. Ao roteiro e ao livro, faltaram consistências que permitissem o resultado final, ser plausível.


Ilha do Medo ainda é um filme envolvente que mantém o espectador relativamente preso numa trama que parece ser bem elaborada, mas não é. É divertimento descompromissado para quem só quer se sentir angustiado durante duas horas e pouco. Mas para quem quer algo mais inteligente, existem opções melhores. Para quem gostou da primeira vez, melhor não ver a segunda.

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