terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Vil Vingança Vermelha


Baseado na grafic novel homônima, V de Vingança é envolvente e inteligente





"Remember, remeber the fifth of November". Essa é uma das frases iniciais do excelente V de Vingança (V for Vendetta, EUA, 2006) dirigido pelo pouco conhecido James McTeigue e com participação especial na produção por parte dos irmãos Wachowski (da trilogia Matrix). Baseado na grafic novel de mesmo nome escrita por Alan Moore (autor de outra história recém-adaptada para as telonas: Watchman) e ilustrada por David Lloyd, o longa consegue ser uma adaptação e, ao mesmo tempo, uma obra-prima.

Como o primeiro filme de 2011, resolvi escolher este que é um dos meus favoritos. Por vários motivos, simplesmente não me canso de ver este filme, acho-o belo e genial e sombrio e criativo e denso e tocante. Simples assim. E vamos à história: o enredo se passa na década de 2020 em uma Inglaterra ditatorial comandada por uma versão moderna e futurista do Grande Irmão, o chanceler Adam Sutler (interpretado por John Hurt, que está muito bem no papel de ditador) e seus seguidores que se afiliaram ao Partido. É basicamente a mesma história que já conhecemos da Alemanha nazista, quando o Partido Nacional-Socialista - o NAZI - comandava o império alemão sob o comando do führer Adolf Hitler. Sem falar é claro nas semelhanças de ideologias em ambos os chefes de estado: ambos deram início à perseguição de judeus, homossexuais e todos que eram diferentes. Vale também ressaltar o quão parecidos são os nomes de Adam Sutler e Adolf Hitler.

Já aquela primeira frase "Remember, remember the fifth of November" se refere a um poema encontrado embaixo do Parlamento inglês em 5 de novembro de 1606 quando um terrorista católico chamado Guy Fawkes foi preso colocando inúmeros barris de pólvora que seriam explodidos durante uma sessão naquele dia, o que mataria todos os representantes do governo protestante. É neste terrorista que o herói deste filme se baseia, mas chegaremos até isso daqui a pouco.

Uma das belezas desta história é que Alan Moore se baseou na história relativamente recente do nazismo para criar um futuro possível. Possível e horrível. E neste mundo ditatorial em que o Partido controla a imprensa e os Homens-Dedo (uma versão moderna e britânica da Gestapo) amedrontam a população com sua batidas e prisões, que inevitavelmente levam a desaparecimentos, é que surge um terrorista que se autodenomina V (Hugo Weaving, que embora não tire a máscara em nenhum momento está excepcional no filme). Usando preto o tempo todo, uma peruca, chapéu e uma máscara de Guy Fawkes, além de muitas, muitas facas, V surge para chocar e reunir uma população inerte que permite que seu governo se imponha por meio da violência e medo. E é por isso que V faz o mesmo: explode logo nas primeiras cenas um dos clássicos edifícios ingleses numa simbólica destruição do Estado e seus representantes. Sua intenção claramente é despertar a população para o fato de que eles é que têm o poder e que sua inércia é que mantêm a todos prisioneiros do regime.

Ao contrário de outros heróis de filmes de ação, V é um personagem profundo e ricamente construído. Culto, inteligente e estudado, cita Shakespeare e escuta Tchaikovisk por meio de alto-falantes enquanto explode as coisas. Além do mais, sua relação com Evey (Natalie Portman, que também está muito bem) é bonita mesmo que nunca tenham se olhado cara-a-cara. Não vou me aprofundar mais ainda na história. Há explosões, tiroteios, traições e principalmente intriga política. É um filme ideológico disfarçado de triller de ação. Minha intenção com esta resenha era despertar o interesse de alguns que não haviam visto o filme e espero ter conseguido isso. Vejam, pois vale a pena, e muito.

Por fim, acrescento apenas a participação de outros grandes astros como John Hurt no papel de Adam Sutler (vale lembrar que é o segundo filme sobre regimes ditatoriais de que ele participa. O outro foi 1984, em que ele estava no papel principal, como inimigo do Grande Irmão); Stephen Rea como um investigador honesto que tenta deter V; e Stephen Fry como um divertido apresentador/diretor de TV.

Por fim,[2] quero ressaltar os incríveis diálogos capazes de arrepiar a qualquer um. Frases realmente memoráveis dos mais diversos personagens, mas principalmente de V, como a frase a seguir: "O povo não deve temer seu governo. O governo deve temer seu povo". No início, V era apenas um anti-herói que queria se vingar, mas antes de concluir sua vendetta, ele se torna o herói que estava destinado a ser.

"V de Vingança". Título original: "V for Vendetta". Ano: 2006. Nacionalidade: EUA. Diretor: James McTeigue. Roteiro de: Alan Moore, Andy Wachowski, Lana Wachowski. Produzido por: Andy Wachowski, Lana Wachowski, Grant Hill, Lorne Orleans, Joel Silver, Charlie Woebcken. Estrelando: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, John Hurt, Stephen Fry. Música de: Dario Marianelli. Duração: 132 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 9,5/10.


Segue o trailer abaixo para os interessados:

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