sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Nova Gênesis de Evangelion


























* Atenção: para melhor compreensão da review, seria interessante ao leitor, procurar assistir a série original e seu longa metragem, The End of Evangelion.

Remake de uma das séries de anime mais importantes de todos os tempos, trancende a refilmagem e torna-se uma obra totalmente nova.


Em 1995, foi produzida pelo estúdio Gainax, a série Neon Gênesis Evangelion, um seriado de animação japonesa (anime), do gênero mecha, que constitui em robôs gigantes pilotados por seres humanos. Aliando ficção-científica com fantasia, uma trama e personagens complexos, referências religiosas, muita ação e sensualidade, a série foi um sucesso de proporções bíblicas, tornando-se indicustivelmente, uma das séries de animação de maior sucesso de todos os tempos.


A sinopse é tão complexa quanto seu desenvolvimento. Na aurora do novo milênio, um objeto desconhecido chocou-se com a Terra na região do círculo polar ártico. Acredita-se que tenha sido um meteoro, cuja explosão derreteu a calota polar, inundando a civilização, em um quase-apocalipse. Tokyo, onde a história se passa, foi destruída, sendo reconstruída outras duas vezes, até a então chamada Tokyo 3.


Quinze anos depois, a humanidade experimentou outro tipo de ameaça: criaturas gigantes de origem desconhecida, denominadas "anjos", todas aparecendo na mesma região de Tokyo 3, na tentativa de invadir as instalações da NERV, instalação governamental criada após o que foi descrito como o "Segundo Impacto". Para combater tais criaturas, robôs gigantes denominados Evangelions, foram desenvolvidos e são pilotados por 3 crianças de 14 anos, duas moças e um rapaz. São eles Rei Ayanami, Asuka Langley e o protagonista Ikari Shinji, cujo pai é o líder das operações da NERV.


A série acompanha a vida de Shinji, na casa de sua supervisora, Misato, uma jovem capitã, bonita, atraente e dada numa cerveja. Há todo um desenvolvimento entre os relacionamentos de Shinji e sua superiora, assim como suas colegas de combate, Rei e Asuka. Uma gama de novos personagens aparecem e um desenvolvimento incrivelmente complexo da trama ocorre, mostrando os segredos por trás da NERV, do pai de Shinji e do Segundo Impacto.


Entretanto, o aclamado seriado Mecha teve um sério problema de conclusão, principalmente por parte de seu criador Hideaki Anno. Subsequentemente, houveram outros dois filmes, incluindo o The End of Evangelion, que procurou proporcionar um final definitivo à série. Não foi satisfatório, e recentemente, um projeto de 4 novos filmes do Evangelion começou, com o nome de Rebuild of Evangelion.


Os dois primeiros filmes da nova série já receberam lançamento nos EUA e recentemente no Brasil. O primeiro, Evangelion 1.11 You Are (Not) Alone já está disponível em DVD no Brasil, enquanto o segundo, Evangelion 2.22 You Can (Not) Advance, aguarda lançamento que deverá ocorrer em Março.


O primeiro filme da série de remakes, acompanha os seis primeiros episódios da série original, sem muitas alterações. Apresenta as personagens principais (sendo que Asuka só será introduzida no segundo filme), o início do relacionamento entre Shinji e Misato e Shinji com Rei, e o início de sua pilotagem do EVA (Evangelion).


Uma das características mais impressionantes, tanto da série, quanto dos novos filmes, é seus personagens. Shinji é o oposto do herói dos mangás (quadrinhos japoneses). É um menino magrinho e franzinho, inseguro e com péssima auto-estima. Pilota o EVA para fazer seu pai orgulhoso, o que não dá muito certo. Rei Ayanami é uma misteriosa menina de cabelos azuis e olhos vermelhos, quieta e reprimida, encontrando dificuldades de se relacionar com outras pessoas, assim como todos os pilotos.


No fundo, é um bando de jovens complexados pilotando robôs gigantes de combate. Asuka é alemã, e compensa sua insegurança aliada com um trauma familiar grave, com uma personalidade arrogante e incisiva. No entanto, todos terão um desenvolvimento, mesmo que tardio, de suas personalidades e entrarão em conflitos no decorrer da série, entre eles e entre si mesmos.


A maior diferença do primeiro longa é seu final, que difere da transição do 6º para o 7º episódio da série original. Há então um gancho para o segundo longa metragem que, ao contrário do primeiro, é quase que inteiramente diferente da série na qual foi baseado.


Há também, uma melhora considerável no design dos robôs e principalmente dos anjos. Embora sejam essencialmente parecidos com os originais, diferem em aspectos interessantes, tendo um desenvolvimento muito mais bacana para quem é fã da série. Os longas são visualmente espetaculares, ricos em cores com uma animação digna de um filme dos estúdios Ghibli (do diretor de A Viagem de Shihiro), proporcionando muita ação, muito humor e muita sensualidade.
Dividos em durações que variam de 100 a 110 minutos, ocorre uma grande condensação dos 26 episódios da série original, sendo que muito - e eu digo, MUITO - é deixado de fora, especialmente no primeiro longa.


Com as mudanças drásticas no visual do desenho, um choque acontece. Uma das características mais interessantes em Evangelion, era o seu início bem humorado e talvez até excessivamente simplista, o que pode irritar um espectador desavisado, e seu desenvolvimento posterior, tornando-o sério, carregado e sombrio. O que não acontece em nenhum dos longas, tanto pela parte visual, quanto pelo desenvolvimento do roteiro.


Ainda que a primeira metade (principalemente) do primeiro filme seja puro pastiche, enquanto a segunda apresenta novas situações, o segundo longa é absolutamente diferente da série original em quase todos os aspectos, com a apresentação de novos personagens, troca de situações e outras coisas que é melhor não falar.


Graças a isso, Rebuild of Evangelion deixa de ser somente uma refilmagem ou mesmo um reboot de Neon Genesis Evangelion, e passa a ser algo totalmente novo. Uma obra única, quase totalmente à parte de seu predecessor.


Isso é bom? Em partes. De fato, o espectador que assistir aos filmes sem ter visto a série, se verá a parte da trama original, e a entenderá - ou não. Entretanto, não estará assistindo Neon Genesis Evangelion, mas sim uma obra diferente que só apresenta os mesmos personagens. Para quem já viu a série, isso é incrivelmente interessante, pois há uma completa mudança de foco dos longas para o seriado, especialmente no segundo filme.


Rebuild of Evangelion é melhor do que Neon Genesis Evangelion? Essa é uma pergunta simples e totalmente válida. E a resposta é igualmente simples. Não. Tanto pelo seu tamanho reduzido - o que significa um desenvolvimento menor do que uma série de 26 episódios - quanto por características presentes somente na série, e que a tornaram única.


As personalidades de Shinji, Asuka e Rei estão diferentes, o que talvez proporcione mais calor entre eles. Entretanto, seus relacionamentos só se mostraram realmente fortes e bem explorados, justamente pela ausência desse calor, mostrado na série. Há toda uma trajetória para que isso aconteça, e nos filmes não há espaço para isso, a menos que cada um tenha pelo menos 2h 30.


Evangelion é complicado e carece de compreensão para a maioria dos espectadores. Aliando discussões filosóficas, momentos de mergulho na mente dos personagens, e muito tecno-baba. Então, é bem possível que o espectador fique confuso. Assim como na série. Entretanto, no que a série falhou, o filme é capaz de mudar, especialmente com dois outros filmes em andamento para serem lançados simultaneamente em 2012.


Onde o espectador não entendeu o final de Evangelion (aliás, para quem viu o longa, assista cinco vezes e quem sabe você entenderá), Rebuild tem a chance de mudar, principalmente por que apresentará um final totalmente novo.


Para aquele que procurar um anime realista, esqueça, é melhor assistir a série e filmes de Patlabor. Evangelion mostra robôs gigantes lutando contra monstros enormes, em cidades (desabitadas, ainda bem). Tem violência, conteúdo de nudez e tensão sexual, aliados com uma trama complexa e inteligente e muita, muita ação. Ambos os filmes (especialmente o segundo), são envolventes e instigantes, qualidade que tem se tornado cada vez mais rara ultimamente. Entretanto, embora a nova gênesis da série de anime mais ousada de todos os tempos seja mais do que satisfatória, Neon Genesis Evangelion é apenas um e jamais poderá ser superado.

2 comentários:

  1. A série animada "Neon Genesis Evangelion" recebeu o prêmio de Melhor Anime do Ano (1995, 1996 e 1997) fato inédito, único e histórico, pois nenhuma série havia alcançado a marca de 3 anos consecutivos. E em junho de 2007, foi considerado Melhor Anime da História, o que não é uma marca qualquer, se considerarmos o número de produções desse tipo produzidos no oriente. Não vi estes filmes a que você se referiu, mas despertou minha curiosidade. O anime é extremamente complexo, tem muitas reviravoltas psicológicas que chegam a dar nó na cabeça dos mais ávidos e atentos, mas a história básica é divertida pela sua plausibilidade. Não me refiro à parte dos EVAs e ANGELs, mas às relações criadas entre as crianças e adultos e entre as crianças e elas mesmas. Os conflitos são tipicamente adolescentes e ilustram bem o desenvolvimento e a maturidade dos personagens. É uma série que indiscutivelmente vale a pena ser vista (me refiro ao anime). Quanto ao filme, não posso dizer, mas é uma pena que tenham que cortar tantas coisas para possibilitar um longa, pois grande parte da graça de Evangelion é não entender nem a metade da história e ter que rever de novo e de novo.

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  2. Acho que se pode dizer que os filmes são tão incompreensíveis quanto a série, mas é difícil afirmar com certeza, já que os últimos dois ainda não estrearam. De um certo ponto de vista, olhando-se atentamente, tanto a série quanto sua conclusão fazem bastante sentido, e são muito inteligentes. Entretanto, às vezes é necessário assistir mais do que uma vez só. Quanto aos longas, minha sensação foi de que eles são muito bons, mas não tão bons quanto a série, ainda que o trabalho de "edição" da história tenha ficado rasoavelmente bom.

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