domingo, 30 de janeiro de 2011

O Rei, o gênio, o ladrão, o vingador, o lutador e a zebra

Toda entrega do OSCAR há aqueles filmes que são bons, os não tão bons, os que deviam estar lá, os que não deviam e os esquecidos. E é claro, a zebra.

Chegamos à reta final na entrega do prêmio mais importante do cinema mundial. O maravilhoso, enigmático e cretino, Academy Awards, mais comulmente conhecido como OSCAR.
Existente desde o período jurássico, o OSCAR é raramente conhecido pela sua escolha certeira de atores, atrizes e filmes, na importantíssima premiação.
Vejam casos como os do ano passado, quando um filme de baixíssimo orçamento e de péssimo resultado financeiro, desbarrancou o balado, o visualmente inspirador e o sucesso estarrecedor Avatar, de James Cameron.
Trata-se de Guerra ao Terror, algo semelhante a um filme semi-independente, dirigido por Katherine Bigelow, o filme menos rentável da história do OSCAR. E à parte da primeira vitória de uma mulher na categoria de melhor direção, o que é um marco, aquele foi conhecido como um dos maiores "tiros no pé" na história da Academia.
Sem desmerecer a presença do sexo feminino nessa categoria, mas o que aconteceu com Barbara Streisend e Sophia Copolla, cineastas muito mais competentes e com um cacife muito melhor do que de Bigelow, e que foram esnobadas nessa categoria?
E a lista vai longe. Outro caso ultrajante, foi a vitória de Quem Quer Ser um Milionário, um filme de uma distribuidora americana com um diretor e um roteirista ingleses e falado em inglês, mas filmado na Índia, que desbarrancou o inacreditavelmente bom, O Curioso Caso de Benjamin Button, do cineasta David Fincher, que aliás, concorre à sua segunda marmelada na categoria de melhor diretor.
Então vejamos os casos em que o prêmio foi realmente merecido. Onde os Fracos Não Têm Vez, dos irmãos Joel e Ethan Coen é um caso de um filme MUITO bom, que venceu o OSCAR de melhor filme. Merecido. O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei, épico de Peter Jackson que venceu nada menos que 11 OSCAR. Merecido.
E é mais ou menos isso esta década. O que mais temos? Beleza Americana em 2000? O sexualmente perturbador filme de Sam Mendes tirou O Informante e O Sexto Sentido, filmes muito melhores e muito mais interessantes da jogada. Gladiador em 2001? Se era pra dar o OSCAR de melhor filme, acho que o de melhor diretor não devia ter ido para Steven Soderbergh, cujo Traffic é infinitamente melhor.
Qual mais? Uma Mente Brilhante realmente é muito bom, mas Chicago, Menina de Ouro de Clint Eastwood não são TÃO bons assim. Ainda que Eastwood seja um grande cineasta, sem dúvida. Nem entro em Os Infiltrados, uma das pataxoca mais absurdas da história da Academia. Se quisessem homenagear Martin Scorcese, que o fizessem quando ele realmente merecesse. Que tal Taxi Driver? A Época da Inocência? Touro Indomável? Os Bons Companheiros? Aviador? Bom, enfim.
Com as indicações deste ano, e as premiações do SAG Awards, a história mais ou menos se repete nesta nova década. O Discurso do Rei e Bravura Indômita dominaram as indicações com 1o e 12 respectivamente. Dou um doce pro ano em que os irmãos Coen não forem indicados a Melhor Filme do ano.
A Rede Social, 127 Horas, Cisne Negro, todos sucumbiram às indicações dos gigantes ingleses e americanos de faroeste.
Aliás, este é um ano muito interessante para a Academia. Pela primeira vez em muito tempo, as mais variadas e interessantes histórias foram escolhidas como as indicadas ao grande prêmio.
Este ano, temos uma história sobre um grande rei, um ladrão de sonhos, um vingador do oeste-americano, uma bailarina com distúrbios mentais, um lutador que se reergueu, um alpinista que ficou preso em uma montanha, um casal de lésbicas e as implicações da homossexualidade na vida dos filhos do casal, uma garota em busca da verdade, o destino de um grupo de brinquedos e a genialidade e antiética do criador de uma rede social.
Então, logicamente temos os favoritos, aqueles que estão lá pra encher linguiça, os esquecidos e os que serão esnobados.
O maior esquecido deste ano, provavelmente é A Origem. Christopher Nolan embarcou uma indicação de melhor filme e roteiro original, mas perdeu a de melhor diretor. Oi? Como é que é? Bom, a Academia odeia ficção científica, temos que nos acostumar com isso.
Ocorreu uma mudança de eixo, brutal, do Globo de Ouro para o SAG e consequentemente para o OSCAR. A Rede Social era o favorito, ganhou praticamente todos os filmes dos críticos, mas empacou no SAG e a maior parte dos votantes do OSCAR é composta por atores. Lógico que Bastardos Inglórios ganhou ano passado e perdeu para Guerra ao Terror, mas isso tudo se dirige a uma tremenda marmelada.
O consolo é que O Discurso do Rei, novo favorito e com 12 indicações, aparentemente é um ótimo filme. Pelo menos isso. Contudo, é inegável que a crítica e a inteligência de A Rede Social, deveria ser melhor congratulada.
David Fincher é um dos melhores diretores de Hollywood atualmente, mas por algum motivo, não consegue abraçar as graças da Academia, como outros grandes diretores, tais como os irmãos Coen, Steven Spielberg, Sam Mendes e Clint Eastwood. Mesmo não devendo nada à eles. Seus temas controversos como Clube da Luta e Se7en, são modernos e ousados demais para a Academia, mas seria realmente memorável a história do facebook vencendo o OSCAR de melhor filme.
Talvez por que seja o melhor filme do ano. Um drama americano mais interessante, original e inteligente que o remake western de Bravura Indômita.
Contudo, tudo pode acontecer. Um filme "inglês" ganhou ano passado. Indiano uma ova, mais tudo bem. Será que a Academia dará outro OSCAR para a Inglaterra? Bons tempos de Desejo e Reparação, que merecia vencer e perdeu tudo. É possível que A Rede Social realmente ganha, já que é difícil os irmãos Coen vencerem de novo. A Origem está fora da jogada. Toy Story 3 é uma obra prima, mas vai levar melhor animação.
Enfim, isso será respondido no dia 27 de fevereiro, na madrugada de Domingo para Segunda.
O Discurso do Rei leva? Ou A Rede Social desbanca? Minha aposta é para o rei. Minha torcida é para a biografia de Mark Zuckerberg. Se A Rede Social perder, é marmelada. Mas como já se sabe, dada a academia, não seria a primeira vez.



*As opiniões presentes neste comentário, são únicas e esclusivas de Roberto Fideli, autor do texto. Sintam-se à vontade para discordar e expor suas opiniões. Afinal, gosto é gosto.

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