sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Um Banho de Sangue


Dentre tudo o que se pode esperar do filme de Paul Thomas Anderson, o principal é sangue.


Upton Sinclair foi um escritor vencedor do premio Pulitzer, nascido em 1878 em Baltimore, Maryland, nos EUA. Autor de mais de 90 livros dos mais diversos gêneros, Oil!, uma sátira política publicada em 1927 foi adaptada no ano de 2007 pelo diretor Paul Thomas Anderson (Boggie Nights, prazer sem limites e Magnólia) sob o nome de Sangue Negro (There Will Be Blood, EUA, 2007).


Candidato sério ao OSCAR daquele ano, o filme recebeu 8 indicações, vencendo em duas categorias, a de melhor fotografia e melhor ator para Daniel Day Lewis.


Lewis representa Daniel Plainview, um prospector de petróleo no começo do século XXI, mesma época em que o romance foi publicado. Após ser contatado por um jovem rapaz chamado Paul Sunday (interpretado por Paul Dano, o astro de Pequena Miss Sunshine), ele e seu filho, H.W. Plainview (adotado após a morte de seu verdadeiro pai, um dos trabalhadores de Daniel, apresentado no começo do filme) viajam até um pequeno vilarejo na Carolina do Sul, sob a promessa de que há grande quantidade de petróleo debaixo das areias do deserto.


Alguma coisa se esconde embaixo daquelas terras, certamente e não é só petróleo, o sangue negro que corre pelas veias da sociedade capitalista, fazendo moverem-se os motores da terceira revolução industrial, logo no começo do século passado. Alguma coisa mais perversa e incandescida se esconde por debaixo da areia, onde Plainview irá perfurar e chegar a lugares que ele desejaria nunca ter visitado.


No pequeno vilarejo ele se defrontará com Eli, irmão gêmeo de Paul que deu a informação à Plainview sobre a existência de petróleo. Dono de uma pequena paróquia da Igreja da Nova Renascença ele será a força que colidirá de frente com Daniel Plainview. E a partir do primeiro momento em que os dois são colocados frente à frente, estará iniciado um confronto mortal entre espíritos extremamente poderosos e gananciosos.


Plainview e seu filho se estabelecem no vilarejo e começam seu trabalho de prospecção. Ao perfurarem um bolsão de gás que explode, o filho de Daniel é seriamente ferido, perdendo totalmente a audição. Uma coluna de óleo negro jorra em direção ao céu, depois se incendiando em uma espada flamejante gigantesca. É o sinal que Plainview procurava: um oceano de petróleo debaixo de seus pés. E desse momento em diante, ele mergulha num oceano ainda mais perverso: o de sua mente.


Sob as mãos de Paul Thomas Anderson, conhecido por seus trabalhos “pouco comuns” como Boggie Nights e Magnólia, o filme assume um tom de estranheza, incomodativo. Conforme Daniel vai enlouquecendo, caindo nas profundezas mais escuras de sua mente e coração, o filme vai se tornando cada vez mais denso e pesado.


A fotografia vencedora do OSCAR de Robert Elswit possui, em sua maior parte, tons esverdeados, realçando a paisagem inóspita e surreal dos desertos do sul dos Estados Unidos. Sempre em movimento, por vezes mergulha o espectador no universo do filme, por vezes foge de seus personagens principais, criando ângulos estranhos e quadros quebrados onde o protagonista aparece no canto, e nem todas as vezes por inteiro.


A música do guitarrista da banda Radiohead, Johnny Greenwood, assume maior destaque. Ela é um personagem da história, tanto quanto Daniel, seu filho e Eli. Ao som de ritmos diferentes colocados um sobre o outro e violoncelos elétricos que explodem em uma melodia aterrorizante, é a representação dos calabouços da cobiça e vingança no qual Daniel afunda e se aprisiona, além de crescer conforme o embate entre ele e seu inimigo mortal Eli, vai alcançando proporções catastróficas.


Naquele deserto, Plainview irá encontrar não somente a realização de todos as suas ambições, como também a destruição de todos os fundamentos de sua moralidade (se é que houve alguma) e da família que ele mantinha com seu filho. Encontrará um rival e descobrirá o lado mais perverso de sua humanidade (se é que ela existiu).


Sangue Negro é um filme de horror. Embora não apresente uma visão tão dogmática quanto a do romance de Sinclair, é uma clara analogia ao sistema capitalista, que abraçou a filosofia do petróleo como combustível para suas conquistas sobre os outros países, suas guerras e seus sacrifícios. A ganância dos ricos prevalecendo e a miséria dos pobres aumentando. Em sua cobiça, tanto a nação cuja filosofia Plainview defende quanto o próprio Plainview, irão descobrir que durante a jornada, haverá cobiça. Haverá vingança. Haverá sangue.



"Sangue Negro". Título original: "There will be blood". Ano: 2007 Nacionalidade: EUA Dirigido por: Paul Thomas Anderson. Roteiro de: Paul Thomas Anderson - baseado no romance "Oil" de Upton Sinclair. Produzido por: Daniel Lupi, JoAnne Sellar e Paul Thomas Anderson. Estrelando: Daniel Day Lewis, Paul Dano e Ciarán Hinds. Música de: Johnny Greenwood. Duração: 158 min. Resenha escrita por: Roberto F. F. Causo. Nota: 9,0/10


Nenhum comentário:

Postar um comentário