terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ausência de Sentido

Vampiros que se Mordam, é mais uma das sátiras idiotas de Hollywood, a um elemento da cultura pop contemporânea, que consegue ser mais idiota ainda.

A Saga Crepúsculo é um fenômeno recente da cultura pop adolescente que se iniciou através da literatura, quando o primeiro livro, justamente chamado Crepúsculo publicado em 2005. Desde então, a série já rendeu mais três livros e cinco filmes (o último ainda não estreou nem nos EUA, nem no Brasil), rendendo sabe-se lá quantos milhões de dólares em livros vendidos, camisetas, bonecos, cd's e ingressos.
Tamanho sucesso reergueu os vampiros ao status dos personagens mais interessantes (ou pelo menos mais comerciais e demandados), tanto na literatura quanto no cinema. São centenas de títulos, que vão desde Diários de um Vampiro e True Blood. O apelo ao personagem faz sentido. A procura por um indivíduo obscuro, à margem da sociedade é no mínimo intrigante.
Entretanto, o que intriga ainda mais - e não faz nenhum sentido - é a qualidade GROTESCA da maioria desses títulos, seja de acordo com os padrões literários, quanto cinematográficos. Personagens absurdamente artificais e situações incrivelmente absurdas, principalmente no caso de Crepúsculo, colocam os vampiros como os mais interessantes - e burros, personagens da literatura e do cinema contemporâneo.
A progressão do personagem do vampiro de monstro, para romântico e posteriormente boiola, foi uma coisa gradativa. Primeiramente, na obra de Bram Stoker, o vampiro em um monstro semelhante a um demônio, e depois tornou-se romântico com Entrevista com o Vampiro de Ann Rice. E agora, a obra de Stephanie Meyer aniquilou de todas as maneiras possíveis, o personagem, apresentando-o como um indivíduo que brilha no sol, tem mais de cem anos mas é virgem e com mentalidade adolescente, e por aí vai.
É nesse contexto de total degradação dos padrões de inteligência da cultura pop adolescente, que surgem as paródias. As paródias são o gênero cinematográfico mais porcaria, absurdo e desrespeitoso do cinema norte-americano. O que não impede seu sucesso, claro. Depois de uma espera agonizante, finalmente foi lançada uma paródia de Crepúsculo - e seus companheiros de jornada. Os Vampiros que se Mordam (Vampires Suck, EUA, 2010), decidiu por um fim à baboseira, com mais baboseira.
É a técnica de apagar o fogo com gasolina, mas nesse caso funciona. Não apenas o filme procura satirizar os livros e filmes da Stephanie Meyer e companhia, como qualquer outro elemento da cultura adolescente que faz tanto sucesso, explorando títulos que vão desde Os Diários de um Vampiro até Querido John.
Esse tipo de desconstrução de discurso requer inteligência. Se bem que nesse caso, inteligência não é muito necessária, já que a desconstrução já está presente no próprio discurso. O que não faz sentido. Como qualquer paródia, a melhor parte de Os Vampiros que se Mordam está no começo. Aquela parte onde é feita a introdução dos personagens e do universo, com uma precisão incrível. Mas conforme as piadas vão se acumulando, ao invés de complementarem umas as outras, elas acabam se sobrepondo e se esgotando.
É lógico que a obra dirigida por Jason Friedberg e Aaron Seltzer, não tem pé nem cabeça, e o humor vem do absurdo e da comédia estilo pastelão. Mas isso não impede a apreciação do filme como um todo, nem momentos de intensa gargalhada.
A melhor parte no entanto, reside nos atores. Especialmente em Jenn Proske, que interpreta Bella Swam. Observa-se desde o princípio, que a atriz canadense fez um estudo detalhado dos maneirismos de Kristen Stewart (com aquela expressão de perpétua enfastiada) com precisão hilariante.
Os Vampiros que se Mordam chega a ser inacreditavelmente absurdo. Mas talvez o absurdo esteja em como essa franquia conseguiu fazer tanto sucesso, com suas limitações tão evidentes de conteúdo ou inteligência. Isso sim não faz o menor sentido...

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