quinta-feira, 12 de maio de 2011

A Última Fantasia




É hora de subverter histórias infantis, como Chapeuzinho Vermelho. Para tanto, não há opção melhor do que a animação Jin Roh - A Esquadra do Lobo.

É difícil de entender a mania de Hollywood de adaptar histórias infantis para um contexto mais adulto, como aconteceu com Chapeuzinho Vermelho em A Garota da Capa Vermelha (2011), ou mesmo com Alice no País das Maravilhas, na nova adaptação do diretor Tim Burton. Afinal, a maioria dessas histórias que surgiram em algum lugar da França no século XVIII, já são subversivas o suficiente - e com o passar dos anos foram mascaradas e açucaradas.

Chapeuzinho Vermelho por exemplo, acaba com canibalismo, pedofilia e inevitavelmente com a morte da própria Chapeuzinho. Daí, temos a animação Jin Roh - A Esquadra do Lobo (Jin Rô, JAP, 1999), do diretor Hiroyuki Okiura e do produtor Mamoru Oshii (de O Fantasma do Futuro, e Patlabor).
Em um universo alternativo, a Alemanha ganhou a Segunda Guerra Mundial, e assumiu controle político do Japão. Dez anos após o conflito, um membro de uma divisão anti-terrorismo chamada CAPO (que existiu de verdade durante a década de 40), chamado Fuse, fica traumatizado após uma garota terrorista detonar uma bomba - e ela mesma - na sua frente, enquanto Fuse foi incapaz de atirar nela a tempo.

Com isso, o jovem oficial começa a rastrear a irmã da garota, a qual ele também descobre que faz parte da organização terrorista que usa meninas como bombas, chamdas de 'chapeuzinhos vermelhos'. E no processo de procurá-la, e encontrá-la, ele obviamente acaba se apaixonando por ela.

Oshii encadeou uma profunda trama política, com um aspecto psicológico profundo e logicamente, a história de Chapeuzinho Vermelho. A relação aqui é clara. Fuse é um monstro confinado no corpo de um homem, e esse conflito o corrói durante toda a trama. E no processo de auto-descobrimento, Fuse ainda precisa proteger a garota pela qual ele se apaixonou, de uma trama política perigosíssima.

Com uma extraordinária parte técnica, Jin-Roh, em sua época, foi um dos animes mais caros já produzidos. E a parte interessante nisso, é justamente a dualidade existente entre o criador Mamoru Oshii, e o diretor Hiroyuki Okiura: Oshii é um dos maiores intusiastas da inserção da tecnologia nas animações japonesas, o que faz com que seus trabalhos tenham grandes componentes digitais. Já Okiura é completamente averso ao uso de computadores, o que faz Jin-Roh ficar com cara de desenho. O que numa era em que as animações digitais reinam, é um sopro de ar fresco. O filme quase foi indicado ao OSCAR de Melhor Animação, em 2001, mas como já havia sido lançado em DVD no Japão, foi desqualificado.

A animação é fluida, repleta de detalhes e com sequencias de tirar o fôlego. Aliada com a música de Hajime Mizoguchi, Jin-Roh é uma obra completa. Entretanto, sua complexa trama política, recheada de discussões filosóficas, podem confundir o espectador, e as fortíssimas cenas de violência tornam o filme uma obra exclusiva para aqueles de estômago forte.

A Esquadra do Lobo não representa a dualidade entre o bem e o mal. Procura entender o mal e desmascará-lo. A dualidade ocorre entre o homem e a fera. Com imagens marcantes e uma trama inteligente, homem e fera lutam dentro do coração de cada homem, até o final da última fantasia.

Um comentário:

  1. Finalmente pude ver este filme de que você tanto falou. E me surpreendeu! A trama política realmente é meio confusa às vezes e bem complexa, claro. Mas achei genial a narração paralela entre a história da Chapéuzinho Vermelho e o desenrolar da trama. Ficou muito bom e deu dicas do único final plausível para como a trama iria terminar. As cenas de ação são um banho de sangue, brutais e violentas ao extremo, da forma como deveria ser realmente visto o contexto de guerra que permeia a história do começo ao fim. O personagem principal é talvez o personagem que menos fala durante todo o filme, fazendo o estilo sério-e-caladão. As citações envolvendo lobos são excelentes. Em suma, filme ótimo, e realmente muito bonito de ser visto: extremamente detalhado, em traço de anime. Aprovadíssimo!

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