domingo, 1 de maio de 2011

Todo-Poderoso Thor




Graças a direção de Kenneth Branagh, Thor deixa de ser um filme superficial, para entretenimento de boa qualidade.

É raro ver um filme dos estúdios Marvel ou DC Comics que se destaca de alguma maneira. Aliás, recentemente tem se tornado difícil encontrar qualquer filme de grande orçamento que se destaque de alguma maneira - positiva, diga-se de passagem, pois negativa tem de monte. Alguma coisa sempre escapa, seja no bom ou no mal sentido. Como a profundidade ética/psicológica dos filmes de Christopher Nolan, como A Origem e O Cavaleiro das Trevas, ou o humor patético de Michael Bay em Transformers. Thor (Thor, EUA, 2011) se destaca pelos motivos mais inusitados.

Em termos de narrativa, a obra dirigida pelo inglês Kenneth Branagh, é completamente plana. Branagh é conhecido mais como o galante ator de teatro e cinema britânico, que adaptou, dirigiu e estrelou Hamlet, além de sua aparição divertidíssima em Harry Potter e a Câmara Secreta, como o professor de defesa contra as artes das trevas, Gilderoy Lockhart. Dada a sua filmografia, a babilônica empreitada dos estúdios Marvel parecia completamente fora dos padrões do ator/cineasta. Talvez por esse mesmo motivo que deu certo.

Conhecido pelo seu jeito "Shakesperiano" tanto dentro quanto fora das telas, todos os filmes dirigidos por Branagh parecem sempre um tom acima do adequado. Às vezes isso funciona, como em Hamlet (1996) ou Henrique V (1989). Outras vezes não, como em Frankenstein de Mary Shelley (1994).

Thor (Chris Hemsworth), filho de Odin (Anthony Hopkins), vive no reino mítico de Asgard, visto aqui como um planeta distante (ou coisa do tipo), com tecnologia super avançada que utiliza portais ou pontes, que levam aos reinos secundários, entre eles a Terra. Durante a coroação do jovem e impulsivo prometido ao trono, um grupo de antigos inimigos, os Gigantes de Gelo, adentram aos portões do castelo e tentam roubar uma relíqua preciosa que estava nas mãos dos Asgardianos há muito tempo. Embora seu fracasso fosse previsível, Thor, impulsivo e infantil do jeito que é, viaja ao reino dos gigantes encontrar respostas. No processo, inicia um confronto com o rei Laufey (interpretado maravilhosamente por Colm Feore), e recomeça a guerra que seu pai havia previamente encerrado. Como consequencia, é expulso de seu reino e aterrissa na Terra.

Aqui, no nosso pequeno e pacato planetinha, ele encontra Jane (Natalie Portman), uma astrofísica atrapalhada pela qual ele obviamente se apaixona - e vice-versa. No processo de tentar voltar para casa, ele começa a desvendar segredos por trás da guerra, dos planos de seu irmão, Loki, de usurpar o trono de Odin, e culminamente torna-se um dos defensores do nosso planeta.

Toda vez que a narrativa se passa dentro das fronteiras de Asgard, ou no reino gelado dos Gigantes, o filme é interessantíssimo. Grandes e mirabolantes tramas políticas, aliadas com um elenco muito interessante de coadjuvantes, e um visual belíssimo, mas cafona, fazem com que o espectador fique grudado na poltrona prestando atenção. Entretanto, toda vez que o foco muda para nosso mundo, a trama torna-se chata, besta e desinteressante.

O que é o maior problema de Thor. Infelizmente Branagh não conseguiu conciliar ambas as narrativas de maneira que ambas fossem igualmente instigantes. Ainda que seu principal objetivo fosse criar uma versão repleta de efeitos especiais de Henrique V. Todo o resto funciona. Os diálogos são bons, as atuações são excelentes para um filme desse gênero (especialmente as concentradas entre os muros de Asgard), o visual é ousado, a música é eficaz e a fotografia até se dá ao luxo de abusar de ângulos inusitados, o que pode torná-la interessante ou profundamente irritante.

O que irrita é aquele típico humor bobo dos personagens da Marvel, ou a falta de substância da narrativa e dos personagens "terrenos", interpretados por Portman, Stellan Skarsgard e Kat Dennings. Mesmo assim, é um filme mais do que obrigatório para os fãs do personagem, ou simplesmente aqueles que procuram um pouquinho de diversão descompromissada.

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