quinta-feira, 17 de julho de 2014

História sobre dragões




Algum tempo após terminar de ler o último livro publicado das Crônicas do Gelo e Fogo, A Dança dos Dragões, pude voltar aos Sete Reinos de Westeros - dessa vez para acompanhar personagens desconhecidos, e em uma época diferente (cerca de 100 anos antes de A Guerra dos Tronos) - e devo dizer: havia me esquecido de o quão fluida e detalhista é a narrativa de George R. R. Martin. Combinando três contos que se passam no mesmo universo, mas em uma época diferente, O Cavaleiro dos Sete Reinos conta o início da história de Dunk, um cavaleiro andante, e seu escudeiro Egg. Vale lembrar ainda que é por meio dessas narrativas extras que podemos notar o quão complexo é o universo das Crônicas, com suas lendas e histórias lendárias e reis antigos e guerras violentas. Confira abaixo um resumo dos acontecimentos de cada um dos contos que compõe O Cavaleiro dos Sete Reinos:


O Cavaleiro Andante: por ser o primeiro conto da série, apresenta aos leitores Dunk, um jovem alto de pouco mais de 16 anos que era escudeiro de um cavaleiro andante, Sor Arlan de Centarbor, até que o pobre e velho cavaleiro morreu de uma gripe. Juntando todos os pertences de seu antigo mestre, Dunk se encaminha então ao torneio na Campina de Vaufreixo para competir e tentar ganhar algum ouro. No caminho, no entanto, encontra um garoto careca de 10 anos em uma estalagem e o menino, chamado de Egg, pede para ser seu escudeiro, mas Dunk nega (posteriormente vemos que o menino o segue até Vaufreixo e, sem escolha, o jovem cavaleiro o aceita como seu escudeiro).


Enquanto Dunk se esforça para ser aceito no torneio (uma vez que é preciso ser um cavaleiro e não há nenhuma testemunha que comprove a sua cavalaria), acaba conhecendo o Príncipe Baelor ‘Quebra-Lança’ Targaryen, a Mão do Rei e o herdeiro do Trono de Ferro, e seu irmão Príncipe Maekar, e com uma pequena ajuda deles, Dunk acaba sendo aceito nas justas (batalhas sobre cavalos com lanças - o cavaleiro a ser derrubado primeiro, perde) sob o nome de Sor Duncan, o Alto.


Todos os planos de Dunk desandam, é claro, quando decide interferir e defender uma moça que era atacada, e acaba acertando seu atacante algumas vezes. O problema é que o atacante da moça era o Príncipe Aerion ‘Chamaviva’ Targaryen, filho do Príncipe Maekar. No mesmo momento, Dunk quase é espancado até a morte, sendo salvo pelo seu escudeiro Egg - que revela ser irmão de Aerion e o filho mais novo de Príncipe Maekar, Aegon.


Correndo o risco de ser condenado por atacar um membro da família real, e perder uma mão e um pé por isso, Dunk recorre a julgamento por combate. No entanto, Príncipe Aerion recorre a uma antiga lei e invoca um julgamento de sete, isto é, uma batalha com sete cavaleiros de cada lado, e o último cavaleiro a cair tem sua causa justificada. Dunk então convence alguns cavaleiros que conheceu a lhe ajudarem, Egg convence ainda alguns outros e, na hora da batalha, um de seus lutadores desiste, deixando seu grupo com apenas seis guerreiros (o que configura que sua causa não é justa, pelas leis antigas). Para completar o grupo, junta-se à causa de Dunk o próprio Príncipe Baelor. Após uma sangrenta batalha, Dunk consegue que Aerion se renda, acabando com o julgamento e o inocentando, mas o Príncipe Baelor Quebra-Lança morre devido a ferimentos causados durante a luta. Quando Dunk finalmente parte de Vaufreixo, leva com ele seu escudeiro Egg, que recebeu a permissão de seu pai para seguir o cavaleiro andante e aprender com ele sobre a cavalaria.


A Espada Juramentada: depois de escapar por pouco da morte no primeiro conto, voltamos a ver Dunk e Egg viajando por Westeros, aproximadamente um ano após o fim do conto anterior. Nessa história Dunk trabalha como espada juramentada para um pequeno senhor, fazendo trabalhos relativamente fáceis. Entretanto, o interessante é a contextualização política feita durante a narrativa, contando a história da Rebelião Blackfyre, que aconteceu 15 ou 16 anos antes e que dividiu os Setes Reinos entre aqueles que apoiavam o legítimo rei, Daeron Targaryen (chamado de Dragão Vermelho, devido ao símbolo da Casa Targaryen - um dragão vermelho de três cabeças sobre fundo negro) e aqueles que apoiavam o pretendente, Daemon Blackfyre (chamado de Dragão Negro, pois como um filho bastardo do rei Aegon, o Indigno, inverteu as cores do símbolo da Casa Targaryen - usando um dragão negro de três cabeças sobre fundo vermelho). Conta a lenda que o Rei Aegon IV, o Indigno, presenteou a lendária espada de aço valiriano portada por todos os reis Targaryen - e nomeada Blackfyre - a seu bastardo (Daemon) ao invés de dá-la a seu filho legítimo (Daeron), o que levou vários grandes lordes a apoiarem a reinvindicação do bastardo, assumindo que o desejo do rei era que seu bastardo assumisse o Trono de Ferro, uma vez que a lendária espada é vista por muitos como um símbolo da monarquia. A Rebelião Blackfyre terminou na Batalha do Campo do Capim Vermelho, onde calcula-se que cerca de dez mil guerreiros morreram, incluindo o pretendente ao trono, Daemon Blackfyre.


Enquanto tudo isso é contado em trechos e depoimentos ao longo da narrativa, vemos Dunk trabalhando para Sor Eustace, e se deparando com um dilema quando a Viúva Vermelha, vizinha de Sor Eustace e muito mais rica, cria uma barragem no rio próximo durante uma seca, impedindo que a água chegue à terras do velho lorde. O conflito apenas aumenta quando Sor Bennis, outra espada juramentada ao velho lorde, corta o rosto de um dos súditos da mulher. Logo, à beira de se envolver em uma batalha que não tem chance de vencer, Dunk tenta negociar com a senhora de alto nascimento que tem a fama de envenenar os próprios maridos (é viúva quatro vezes). E, embora a narrativa desenvolva um conflito interessante, a mim ao menos, ficou clara a impressão de que o verdadeiro conteúdo da história é a traição e a complexidade que há ao redor dos Targaryen: a família real (que, por acaso, também é a família de Egg).


O Cavaleiro Misterioso: o conto final é provavelmente o mais interessante deste livro. Dunk e Egg ainda estão viajando e o cavaleiro decide participar de um torneio feito para homenagear um casamento. A esperança de Dunk é vencer uma ou duas justas para conseguir algum ouro e poderem viajar sem preocupações financeiras até Winterfell, onde Lorde Stark reúne cavaleiros para expulsar os homens de ferro que andam saqueando as vilas costeiras. Mas é claro que, com a sorte de Dunk, as coisas não saem como ele esperava.


Seguindo para o castelo de Alvasparedes, Dunk e Egg acabam encontrando outros cavaleiros andantes que se dirigem para o torneio, conhecendo assim: Sor Kyle, o Gato do Pântano Nebuloso, Sor Glendon Flowers e Sor Maynard Plumm, além do simpático e misterioso Sor John, o Violinista. E embora a companhia dos cavaleiros não seja ruim, ao chegar à festa, Dunk não só subestima seu oponente nas justas (sendo derrotado) como tropeça em uma conspiração e uma possível rebelião - a Segunda Rebelião Blackfyre.


Desesperado pela vida de Egg estar em risco (por ele ser um Targaryen em meio a inúmeros lordes rebeldes), Dunk dá um jeito de o garoto fugir, enquanto ganha tempo distraindo Daemon II Blackfyre que decidira iniciar uma segunda guerra sob o estandarte do dragão negro. A situação se acalma quando Egg dá o alarme e o exército real chega ao castelo, sendo liderado pela Mão do rei, Lorde Corvo de Sangue, levando a Segunda Rebelião Blackfyre a se extinguir antes mesmo de ter chance de começar.



Mas creio que o interessante mesmo dos contos de Dunk e Egg é a profundidade com que podemos conhecer a Casa Targaryen. Enquanto nas Crônicas do Gelo e Fogo só temos a chance de conhecê-los por meio de Viserys e Daenerys nas Cidades Livres, aqui podemos ver a dinastia que reinou nos Sete Reinos por milhares de anos, que dominou os dragões e que fez com que os maiores lordes se ajoelhassem aos seus pés. E, ao mesmo tempo em que sabemos que não importa que Egg esteja longe na linha de sucessão, um dia ele reinará (sob o nome de Aegon V, o Improvável), podemos ainda conhecer seu irmão mais velho Aemon, que está na Cidadela treinando para ser um Meistre e que, quando chegar a hora, se despedirá do irmão a quem apelidou de Egg e se dirigirá para a Muralha, onde ainda estará quando Ned Stark morrer em A Guerra dos Tronos.


Esse pequenos elos de ligação entre a época de Dunk e Egg e a época das Crônicas é que nos fazem perceber o quão rico é o universo de Gorge R. R. Martin e nos fazem ter ainda mais vontade de acompanhar as aventuras do cavaleiro andante Sor Duncan, o Alto, e seu escudeiro, Egg.


George R. R. Martin, O Cavaleiro dos Sete Reinos (Knight of Seven Kingdoms), Editora Leya, Tradução de Márcia Blasques, 416 pgs., R$ 43,00

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