quinta-feira, 3 de julho de 2014

A distopia da escolhas



Todo mundo que costuma ir ao cinema já deve ter notado a recente moda, derivada de séries de livros infanto-juvenis, de longa-metragens de temática distópica que têm invadido nossas salas de cinema, como a saga Jogos Vorazes, Divergente e, em um futuro próximo, a saga Maze Runner. Jogos Vorazes e Em Chamas são ótimos filmes, e todo mundo já os conhece, e Maze Runner ainda está para estrear, logo vamos focar em Divergente, que estreou não tem muito tempo aqui no Brasil.


Creio que a primeira coisa que tenho a dizer sobre o filme é: é extremamente fiel ao livro em que se baseou. Que adaptação incrível! E em termos de bilheteria, o longa-metragem arrecadou mais de 145 milhões de dólares só nos EUA durante as oito semanas em que ficou em cartaz (sendo cerca de 56 milhões só no final de semana de estréia).


Para quem não conhece a história, Divergente conta a história de um futuro distópico em que a sociedade se dividiu em cinco facções como uma forma de manter a paz e dividir as funções da comunidade: a Erudição (os cientistas, professores e estudiosos que prezam pela inteligência em seus membros), a Amizade (os produtores e fazendeiros, prezam pela paz), a Franqueza (legisladores e juízes, que prezam pela sinceridade), a Audácia (os soldados e guardas que protegem a população e prezam pela coragem acima de tudo) e a Abnegação (os políticos e governantes, prezam pelo altruísmo).


É nesse mundo que conhecemos Beatrice Prior (Shailene Woodley), uma garota nascida na Abnegação, mas que não tem certeza de se encaixar em seu padrão de vida despojado de posses e altruísta. É por isso que ela aguarda ansiosa pelo Teste de Aptidão que lhe dirá com qual facção tem mais entrosamento. Só que o que acontece é que seu teste tem um resultado inconclusivo, significando que tem a capacidade de se adaptar em mais de uma facção. Pessoas como Beatrice são raras e perigosas (pois põem em risco o sistema de facções) e são chamadas de Divergentes. Posteriormente, há a Cerimônia de Escolha em que os jovens devem escolher as facções a que jurarão lealdade para o resto de suas vidas. E lá, ao lado de seu irmão Caleb (Ansel Elgort), Beatrice toma sua decisão: escolhe a facção Audácia, abandonando os pais e tudo que conhecera. É lá que, sob o nome de Tris, conhece o instrutor Quatro (Theo James), por quem começa a se apaixonar ainda que ele a trate incrivelmente mal, e descobre planos que envolvem não só o assassinato de Divergentes como também um golpe de estado que pode destruir todo o sistema de facções, além de causar uma guerra.


O filme é uma adaptação incrivelmente fiel ao livro em que foi baseado, o que significa que não só os fãs da saga literária foram um pouco mimados como também aqueles que foram ao cinema sem nunca ter ouvido falar da história puderam conferir um bom longa-metragem de ação. E, embora isso tenha causado uma acalorada discussão entre eu e meus amigos, eu, ao contrário deles, não acho que o fio condutor da saga seja mais do mesmo e tenha sido feito para atrair e agradar aos adolescentes. Creio eu que o conflito criado remonta a uma questão básica da humanidade: “tentar descobrir onde se encaixa e o motivo disso”. O que fazer então quando há mais de uma opção ou quando nenhuma delas parece perfeita? A questão da escolha sobrepondo-se às características naturais é corriqueira (aparecendo até em Harry Potter, por exemplo, quando Harry opta pela Grifinória ainda que tenha talento para a casa rival) e faz parte da natureza humana no que se refere às decisões e consequências destas. E Tris mostra bem isso, quando escolhe a facção da luta, da batalha.


O fato é que este início da saga Divergente traz muitas promessas. Algumas serão cumpridas ao longo dos próximos livros e filmes, outras não. Surpreendente será, isso eu garanto. Entretanto, se vai agradar ou não, ou melhor, se vai reconstruir um dos mais interessantes questionamentos da natureza humana, se vai se fazer presente dentre as melhores histórias distópicas lançadas nos últimos anos, isso cabe aos leitores, e espectadores, julgarem.


"Divergente". Título original: "Divergent". Ano: 2014. Nacionalidade: EUA. Diretor: Neil Burger. Roteiro de: Evan Daugherty e Vanessa Taylor. Produzido por: Lucy Fisher, John J. Kelly, Michael Paseornek, Pouya Shahbazian, Rachel Shane, Barry H. Waldman e Douglas Wick. Estrelando: Shailene Woodley, Theo James, Ashley Judd, Jai Courtney, Ray Stevenson, Zoë Kravitz, Miles Teller, Tony Goldwyn e Ansel Elgort. Música de: Junkie XL. Duração: 139 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 8/10.

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