quinta-feira, 17 de julho de 2014

Espionagem é coisa de adultos!




Ele foi usado como alvo de um atirador de facas, foi jogado em um aquário gigante para ser dolorosamente assassinado por uma caravela portuguesa, quase foi dissecado vivo em um laboratório cheio de vilões, quase foi devorado por um tubarão para posteriormente quase ser espremido em um moedor de cana-de-açúcar, teve que sobreviver em uma arena de toureiro, sobreviveu a um acidente de avião, quase foi devorado por um bando de crocodilos famintos, quase se afogou (e congelou) ao cair de carro dentro de um lago congelado, quase foi obrigado a doar todos os seus órgãos numa operação ilegal do mercado negro, esteve sob a mira de uma arma em mais situações do que posso contar, foi baleado, drogado e envenenado, entre outras divertidas aventuras. Ele, leitor, se chama Alex Rider, e ele tem 14 anos.

Protagonista de uma série de nove livros, diversos mini-contos extras, um jogo de video game, uma série de graphic-novels e um filme, Alex Rider é um adolescente arrastado contra sua vontade para o mundo da espionagem quando seu tio, Ian Rider, um agente do MI6 é assassinado durante uma missão. No melhor estilo James Bond (em quem o autor confessadamente se baseou) infanto-juvenil, Alex - ao contrário da expectativa dos leitores - odeia ser espião e tudo o que quer é uma vida calma e normal ao lado dos amigos e da sua tutora americana, Jack Starbright. Seria pedir demais? Aparentemente sim.

Chantageado e obrigado a trabalhar para pessoas que despreza, o jovem acaba descobrindo que, no fim das contas, tem talento para a coisa, mas isso não torna suas missões mais fáceis ou mesmo divertidas. Passando por situações que a maioria de nós só imagina em pesadelos, Alex acaba se envolvendo em intrigas gigantescas e perigos que podem levar o mundo a um colapso, e tudo isso descrito em uma narrativa frenética e bastante adulta (e portanto cheia de violência - sério, muita mesmo). No melhor estilo de espionagem, as histórias do britânico Anthony Horowitz misturam ação, aventura e ficção científica (bem de leve, na verdade), além de reviravoltas de tirar o fôlego. Confira abaixo as sinopses dos livros da séries do jovem espião (com poucos spoilers, prometo!):

Stormbraker (no Brasil, Alex Rider Contra Stormbraker ou Operação Stormbreaker): Por ser o primeiro livro da série, Stormbreaker apresenta aos leitores o mundo da espionagem quando o tio de Alex, Ian Rider, é dado como morto em um suposto acidente de carro. E é então que, no enterro de Ian, Alex é apresentado ao arrepiante presidente do banco Royal & General e chefe do falecido, Alan Blunt. Desconfiado, Alex desobedece a sua melhor amiga e tutora - a jovem americana Jack Starbright - e acaba se metendo onde não deve, descobrindo a realidade: seu tio era um agente do MI6 (Military Intelligence, Section 6), um espião, e foi morto durante uma missão secreta. Agora encrencado com os chefes do MI6, Alan Blunt e seu braço direito, a Sra. Jones, Alex é chantageado a ajudá-los a completar a missão que seu próprio tio não conseguiu. Ou o adolescente os ajuda ou sua tutora e amiga Jack será deportada de volta para os EUA, o que significa ser mandado a um orfanato já que não possui nenhum outro parente vivo. Por ser jovem e despertar pouca desconfiança (pois quem iria imaginar um adolescente de 14 anos trabalhando como espião?), Alex acredita não correr muito perigo e aceita a oferta, topando a missão de se infiltrar na empresa de Herod Sayle - um empresário multimilionário que prometeu doar uma unidade de seu avançado supercomputador Stormbreaker para cada escola da Grã-Bretanha. Alex só percebe o quanto estava errado quando nota algo muito estranho acontecendo envolvendo um perigoso vírus e o envolvimento de um famoso assassino profissional de nome Yassen Gregorovich. Este romance inicial ganhou seis prêmios de literatura infanto-juvenil entre os anos de 2003 e 2005, vendendo mais de nove milhões de cópias ao redor do mundo desde seu lançamento.


Point Blanc (no Brasil, Desvendando Point Blanc): Depois de escapar por pouco da morte no primeiro livro, tudo o que Alex quer é que sua vida volte à normalidade. Ir à escola, sair com os amigos e passar a tarde andando de bicicleta. Mas seus planos saem de controle quando o MI6 recorre novamente a seus ‘serviços’. A morte de dois milionários - um general russo extremamente rico e poderoso e um proeminente empresário - desperta a suspeita de Alan Blunt, que descobre como única ligação entre os assassinatos a escola onde os filhos de ambos estudam, a Academia Point Blanc para garotos problemáticos. Portanto, usando sua arma secreta, o espião de que ninguém desconfia por ser apenas um garoto, Blunt envia Alex Rider sob disfarce para o colégio localizado em um castelo nos Alpes Suíços para investigar a estranha ligação entre as mortes suspeitas e a instituição comandada pelo cientista sul-africano Dr. Hugo Grief. E esta é a primeira vez que notamos a ficção científica (digna de James Bond, aliás) utilizada pelo autor, quando o Dr. Grief confessa ter se utilizado de meios escusos para se clonar e, por meio de diversas cirurgias plásticas dolorosas, transformar seus clones em cópias idênticas dos filhos das mais poderosas pessoas do mundo. Seu plano - receber os garotos problemáticos, estudar seus trejeitos e comportamentos para copiá-los, e devolver as cópias aos pais - dava bastante certo até Alex começar a se intrometer no assunto. Como sempre, ao final, Alex descobre o plano e é obrigado a arranjar um jeito de fugir enquanto é perseguido por criminosos que querem matá-lo.



Skeleton Key (no Brasil, A Ilha do Esqueleto): Fazendo um favor a um conhecido no MI6, Alex aceita uma posição de ajudante durante o torneio de tênis de Wimbledon e acaba, sem querer, esbarrando em um esquema para manipular os resultados. Correndo risco de vida, o garoto acaba nocauteando um membro da Tríade chinesa, um grupo de criminiosos organizados que juram matá-lo pela ofensa de atacar um de seus homens. Tendo que deixar o país enquanto o MI6 resolve a situação com a Tríade, Alex é ‘emprestado’ para a CIA para complementar o disfarce de dois agentes americanos que vão se infiltrar em Cuba para investigar um ex-general soviético que parece ter conseguido obter uma bomba nuclear. Enquanto os americanos desprezam a importância de Alex e desenvolvem sua investigação, tudo vai bem, e o garoto pode aproveitar as belas praias e o sol cubano. Mas quando os agente desaparecem no meio da missão, Alex novamente vê sua vida em risco quando tem que lidar com a muito real ameaça nuclear pairando sobre sua cabeça e com a realidade de que pode ser a única chance para salvar milhões de pessoas.


Eagle Strike (nem este e nem os livros posteriores foram traduzidos para o português - a Editora Fundamento está reeditando a série no Brasil, conferirei e aviso aqui em que pé está isso): Enquanto de férias na França com sua amiga Sabina (que conheceu em Wimbledon, no livro anterior), Alex acaba coincidentemente se encontrando com o assassino profissional Yassen Gregorovich (que matou o tio do garoto, Ian Rider, no primeiro livro) e entreouvindo parte de um esquema do criminoso com o famoso pop star Damian Cray. No entanto, quando conta suas descobertas e sua suspeita a respeito de Cray para os chefes do MI6, Alan Blunt e Sra. Jones, Alex é obrigado a ouvir que o artista é uma espécie de santo, que passou a vida lutando contra as drogas e fazendo caridade e bla bla bla. Por sua conta e risco, e sem nenhum suporte da agên cia de inteligência, Alex decide investigar o famoso cantor e acaba se envolvendo em uma complicada trama que consiste em sequestrar o avião do presidente americano, o Força Aérea Um, para poder usar sua sala de controle para lançar um ataque nuclear em larga escala. E, mais uma vez, Alex Rider é a única esperança de evitar uma catástrofe que pode custar milhões de vidas.


Scorpia: Antes de tudo, o nome do livro se refere a um grupo criminoso chamado Scorpia, que é a abreviação para as suas principais atividades: ‘Sabotage, Corruption, Intelligence and Assassination’ (Sabotagem, Corrupção, Inteligência e Assassinato). Seguindo o conselho dado pelo Yassen Gregorovich no final do último livro, Alex começa a procurar sobre a organização criminosa conhecida como Scorpia para descobrir a verdade sobre seu pai - que supostamente teria sido um dos seus melhores agentes. Quando o garoto finalmente encontra o que estava procurando, ele é recrutado por uma das líderes de Scorpia, Julia Rothman, que não apenas lhe fornece informações importantes sobre seu pai, como ainda fornece provas de que ele foi assassinado pelo MI6. E ainda por cima, de que a ordem foi dada por alguém que ele conhece: a segunda em comando na agência britânica, Sra. Jones. Agora agindo sob o comando de Scorpia, Alex recebe sua primeira missão: assassinar sua ex-chefe do MI6 e a mulher que ordenou a execução de seu pai. Enquanto isso, o plano de Scorpia de chantagear o governo britânico pode colocar em risco milhares de crianças no Reino Unido.


Ark Angel: Depois do final surpreendente (e do qual não falarei) de Scorpia, Alex ainda está no hospital, se recuperando. É então que, claro, com a sua sorte, algo vai dar errado. E dá. No meio da noite quatro homens encapuzados aparecem no hospital para sequestrar o garoto do quarto ao lado, Paul, filho do bilhonário russo Nikolei Drevin. Após dar um jeito nos criminosos, Alex acaba conquistando a amizade e simpatia tanto de pai quanto do filho, descobrindo que o empresário é responsável pelo mega-empreendimento chamado de Ark Angel - um revolucionário hotel, construído fora de órbita, em pleno espaço sideral. Enquanto viajava com os dois russos, Alex é contatado pela CIA, que o informa sobre atividades ilegais do empresário russo e pede que investigue seus planos. Quando enfim chegam ao destino final de sua viagem, Alex descobre o plano de Nikolei: o russo planeja destruir Ark Angel com uma bomba, pois o investimento está lhe custando sua fortuna e possui um alto seguro. O problema, é claro, são os destroços do enorme hotel espacial, que cairão sobre o Pentágono, na capital dos Estados Unidos, destruindo todas as evidências de seus crimes e, claro, matando dezenas de milhares de pessoas no processo. O plano, obviamente, envolve enviar Alex à Ark Angel para impedir que a bomba seja detonada.


Snakehead: De volta à Terra, o módulo onde Alex escapou de Ark Angel pousa no oceano próximo à Austrália. Quando finalmente chega ao continente, o rapaz é recrutado pelo ASIS (Serviço de Inteligência Secreto Australiano), onde conhece pela primeira vez o seu padrinho, um agente secreto australiano e o melhor amigo de seu pai, um homem chamado Ash (Anthony Sean Howell). Ao mesmo tempo, Scorpia retorna à cena com um plano para eliminar todos os membros de uma conferência organizada por famosos para discutir como acabar com a pobreza no mundo. Alex então é enviado à Tailândia com Ash para investigar uma rede asiática especializada em tráfico de pessoas (conhecida como Snakehead). Se passando por refugiados afegãos que querem chegar à Austrália, são levados para um navio onde são separados e presos em containers com várias outras pessoas. Alex se utiliza de um dos explosivos que o MI6 havia lhe dado e consegue fugir, descobrindo o plano de Scorpia: explodiar uma bomba em um determinado ponto do oceano, causando uma tsunami que não só iria aniquilar a conferência com as oito celebridades (já que esta seria em uma pequena ilha), mas também chegaria à costa da Austrália, causando dezenas de milhares de mortes. Ainda que Alex consiga escapar do navio, Ash é usado como barganha e o garoto é obrigado a se entregar. Novamente capturado, Alex é enviado pelo membro de Scorpia, Winston Yu, a um hospital secreto onde seria doador em uma operação ilegal de transplante de órgãos. Conseguindo fugir novamente, e por pouco, Alex contata a agência britânica e a australiana e corre contra o tempo para impedir o plano de Yu.

Crocodile Tears: Enquanto Alex passa o Ano Novo com a família de sua amiga Sabina na Escócia, um acidente acontece em uma usina nuclear da Índia, causando um desastre gigantesco. E o desastre seria ainda pior, não fosse pela reação tão rápida de uma instituição de caridade chamada First Aid. Na Escócia, Alex acaba conhecendo o poderoso empresário que criou a caridade, Desmond McCain. Ao voltar para casa, no entanto, Alex acredita que está livre do MI6, ao menos até que um jornalista aparece em sua porta querendo publicar suas experiências no mundo da espionagem. É então que o garoto aceita uma última missão para a agência de inteligência, desde que, em troca, eles se livrem do jornalista. Sua nova missão consiste em conseguir informações sobre plantas geneticamente modificadas durante um passeio escolar a uma empresa privada. Enquanto está obtendo a informação, Alex presencia uma conversa entre o cientista-chefe da empresa e McCain e, enquanto foge da empresa é reconhecido. McCain então procura um pouco e encontra o jornalista, obtendo toda a história e investigação que o repórter havia feito sobre Alex. Sabendo exatamente quem éAlex e para quem ele trabalha, McCain o sequestra e o envia para o Quênia, contando que sua caridade na verdade é um esquema para roubar governos e o público, uma vez que ‘ajuda’ em desastres que ela mesma criou. O plano é usar a engenharia genética para causar uma mutação nas safras de trigo de toda a África, fazendo com que as plantas passem a produzir um poderoso veneno. Em poucos meses, First Aid encontraria a solução do problema, coletaria e o pagamento e sumiria do mapa, enquanto metade da população da África estaria morta. Como sempre, Alex é o único perto o suficiente para conseguir impedir o plano, contando com a ajuda de um agente da inteligência indiano, pois uma vez que o gene comece a mudar as plantações, não há volta.

Scorpia Rising: No último livro da série, vemos o último plano de Scorpia, sob controle do novo membro do grupo - Abdul-Aziz Al-Rashim, conhecido como Razim - ser posto em prática. O plano consiste em chantagear o governo britânico para que, em troca, o governo ceda a famosa Elgin Marbles (uma obra de arte grega, em posse dos ingleses) de volta para a Grécia. É isso que Scorpia foi contratada para fazer. E seu trunfo é um arquivo com todas as informações conhecidas sobre Alex Rider. Razim planeja para que Alex seja enviado em uma nova missão, onde Scorpia irá fazer com que leve a culpa por um atentado e, consequentemente, fazer parecer que tudo ocorreu conforme ordens do governo inglês. E tudo viria a público caso a arte não fosse devolvida à Grécia. Para tanto, Scorpia ajuda um prisioneiro a escapar de uma prisão secreta para tomar parte em seu plano. Seu nome é Julius Grief e ele é fisicamente idêntico a Alex Rider (ele é um dos clones do Dr. Grief que apareceu em Point Blanc e seria aquele que tomaria o lugar de Alex). De volta a Londres, a escola de Alex é atacada por um atirador de elite, errando Alex por pouco e acertando um de seus amigos no braço. Com medo de que a vida do garoto ainda esteja em risco, Alan Blunt do MI6 o tira do país e o envia ao Colégio Internacional do Cairo para investigar o novo chefe da segurança, Erik Gunter, que pode ter alguma conexão com Scorpia. Diferente das outras missões em que o garoto esteve, dessa vez a guardião e melhor amiga de Alex, Jack Starbright, exige ir junto do garoto para poder ficar de olho nele. Enquanto investigava Gunter, Alex acaba sendo sequestrado e ‘interrogado’ por agentes da CIA que acreditavam que ele era um assassino enviado para matar a secretária de estado americana, que está vindo ao Cairo para fazer um discurso anti-britânico. Decidido a abandonar a missão e sair do Cairo com Jack, Alex é sequestrado por Julius e Gunter e obrigado a deixar suas digitais no rifle que será usado para o assassinato da secretária de estado. Correndo contra o tempo uma última vez, Alex dá um jeito de escapar e garante que o plano de Scorpia não dará certo, que Scorpia está acabada e que o MI6 nunca mais volte a usá-lo.

Roussian Roulette: Embora este tenha sido o último livro relacionado a Alex Rider lançado por Horowitz (em 2013), ele na verdade é um prequel, isto é, ele se passa antes de todos os outros e não é focado em Alex. Seu protagonista na verdade é o assassino profissional Yassen Gregorovitch e como ele chegou a ser o homem que Alex conheceu.

Lembrando ainda que, embora contando por cima a ideia de um espião adolescente seja risível e ridícula sim (e por isso é ficção), e que o público alvo da série são os jovens, a série Alex Rider não é um série de livros para crianças. Ainda que de início pareça leve e inocente, o clima vai se tornando mais denso e pesado com o decorrer dos livros e a violência vai aumentando da mesma forma. Creio que a série seja classificada erroneamente como infanto-juvenil por falta de classificação melhor, mas o ideal era que fosse literatura juvenil/adulta. Recomendo ainda que as crianças com menos de 11 ou 12 anos passem longe dessa série de livros simplesmente pelo seu conteúdo muitas vezes carregado e exacerbadamente sangrento. Ainda que faça parte da narrativa e seja uma ferramenta de construção física e psicológica natural, interessante e essencial para a personalidade de Alex, e portanto de forma alguma é violência gratuita, deve-se atentar para o fato de, como nos filmes de hoje, a violência corre solta e desregrada (a exemplificar, em Scorpia Rising, Razim é um especialista em tortura e decide criar uma unidade de medida para a dor e, para tanto, mede a a dor torturando seus prisioneiros). 


Fica o aviso a todos: embora não hajam cenas tão explícitas, as poucas mostradas nos livros são para um propósito narrativo claro, levando Alex do inocente garoto de 14 anos em Stormbreaker a um adulto experiente de 15 ao final de Scorpia Rising. Fica a dica e boa leitura!

Anthony Horowitz, Alex Rider Contra Stormbraker / Operação Stormbreaker (Stormbraker), Desvendando Point Blanc (Point Blanc), A Ilha do Esqueleto (Skeleton Key), Eagle Strike, Scorpia, Ark Angel, Snakehead, Crocodile Tears, Scorpia Rising e Roussian Roulette; Tradução (brasileira): Mônica Rodrigues da Costa e Gabriela Romeu; Editora Publifolha / Fundamento (Brasil), Walker Books (Reino Unido), Puffin (EUA, CAN) e Philomel (EUA), R$ 24,00.

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