quarta-feira, 9 de março de 2011

127 Horas para o Renascimento



A diferença entre 127 Horas e o trabalho anterior de Danny Boyle, Quem Quer ser um Milionário?, é que o longa protagonizado por James Franco é um grande filme.


Se o diretor inglês Danny Boyle pisou na bola feio com Quem Quer Ser um Milionário, pelo qual ganhou o injusto reconhecimento ao fazer uma versão suja, miserável, pretenciosa e exagerada de Cidade de Deus (que aliás não venceu nenhuma de suas 4 indicações ao OSCAR, incluindo de melhor diretor), em 127 Horas (127 Hours, EUA, 2010), ele acertou na mosca.

O título auto-explicativo narra a tentativa de sobrevivência de Aaron Ralston (soberbamente interpretado por James Franco), em seu verídico acidente ao escalar uma fenda nos canyons americanos em Utah. Durante uma de suas aventuras, Aaron escorrega e seu braço direito fica preso debaixo de uma pedra de peso incalculado, levando-o a medidas desesperadas para sobreviver.

Desde o primeiro frame da empreitada de Boyle, sabemos que Aaron é um indivíduo aventureiro e naturalmente inconsequente. Ao preparar sua mala de viajens, ele esquece itens que poderiam ser fundamentais para sua sobrevivência nos cinco dias que permaneceu preso em uma fenda com uma pedra enorme prendendo seu braço. Entre eles um canivete suíço e posteriormente uma garrafa de gatorate, que viria a calhar quando a água de sua garrafa começou a se esgotar.

Para criar o ambiente claustrofóbico e introspectivo de Aaron, que gravou em sua câmera de vídeo, pensamentos que depois foram revelados aos seus parentes e amigos, Boyle abusou das características intimistas ainda mais do que quando filmou Quem Quer Ser um Milionário, pelo qual venceu o OSCAR de Melhor Filme e Diretor.

A começar pela fotografia que, em muitos momentos, utiliza ângulos próximos do rosto do protagonista e cores fortes que dão vida ao deserto de pedras americano. Algumas características da direção do inglês não são menos irritantes do que em seu trabalho anterior, como a fragmentação de imagens e a música excessivamente "hippie", e barulhenta. Mas até isso ajuda de alguma forma ao espectador entrar no consciente e no subconsciente de Aaron enquanto ele conversa com a câmera.

Após fracassadas tentativas de se desprender, Aaron começa a viajar pelos labirintos e desertos de sua mente, relembrando os momentos com sua família (com a qual ele conversa dentro da fenda), sua antiga namorada que ele visita em sonho, de duas garotas que ele encontrou no começo de sua aventura, e nos eventos que, desde seu nascimento, culminaram naquele momento.

127 Horas é uma história sobre sobrevivência. Ainda que o diretor procure fugir do ambiente claustrofóbico da caverna, a tensão vai aumentando conforme a água do reservatório de Aaron se esgota. Ainda assim, ambos, Boyle e Franco, foram capazes de aliar os momentos de tensão com humor e humanismo, característica que, embora amplamente explorada no vira-lata indiano, falhou miseravelmente e que torna-se fundamental no deserto americano.

E além da perspectiva da morte de Aaron, ou da opção que ele escolhe para salvar sua vida, o espectador se depara com um personagem incrivelmente humano e increvelmente forte (motivo, alías, para ele ter ficado preso na fenda e sem ter avisado ninguém aonde ia). E para uma angústia maior ainda, o que o espírito humano é capaz de resistir para sobreviver.

127 Horas é um filme infinitamente melhor que o trabalho vencedor de 8 OSCAR em 2008, Quem Quer Ser um Milionário, com um desempenho soberbo de James Franco, comparável ao vencedor do OSCAR de Melhor Ator, Colin Firth.

Se Aaron, em sua jornada de uma vida inteira, aguardou cada segundo, cada sopro de ar para confrontar aquela rocha no dia 26 de Abril de 2003, não foi para ele encontrar sua morte. Pois o destino de uma pessoa não pode ser medido em minutos ou horas, em eventos que duram segundos, nem nos momentos mais íntimos, secretos e felizes de sua vida. É medido pela força necessária para se sobreviver. Força que Aaron carregou consigo durante cinco dias, rumo ao seu renascimento.

2 comentários:

  1. Estou desesperada para ver este filme.

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  2. É muito bom, mas extremamente intenso. Teve gente no cinema que olhou pro outro lado...

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