quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Do outro lado



Nova produção de Clint Eastwood fala sobre o mundo além da vida, mas esse tipo de filme enfrenta preconceitos e descrenças ao redor do mundo.




Clint Eastwood, ator e diretor estado-uniense entra em 2011 para completar seu 81º aniversário. Nascido em São Francisco na Califórnia em 31 de Maio de 1930, ele ficou conhecido por seus papéis nos filmes de faroeste dirigidos por Sérgio Leone, como "O Bom o Mal e o Feio" e "Por uns Dólares a Mais" e também por papéis fortes como os de Dirty Harry em "Magnum 44".


Sua carreira invejável, contudo, pode ser conhecida também por seu amplo papel como diretor. 4 vezes ganhador do OSCAR, duas por melhor diretor e duas por melhor filme, Eastwood é conhecido por dirigir grandes filmes como "Menina de Ouro", "Gran Torino" e "Os Imperdoáveis". Com raras exceções (Cowbóis do Espaço, por exemplo), os filmes do veterano diretor são conhecidos por sua temática pesada, repleto de elementos de violência, abuso infantil e etc. É uma das marcas registradas do diretor, finais nada felizes, como pode ser visto brutalmente em "Sobre Meninos e Lobos" e "Menina de Ouro".


Entretanto, recentemente ele abordou temas diferenciados, compondo uma trajetória interessante como cineasta. Seus filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, contaram ambos os lados da invasão que aconteceu no pacífico à uma ilha pertencente ao Império japonês.


Contudo, não foi até "Além da Vida" (Hereafter, EUA, 2010) que Eastwood mudou COMPLETAMENTE de estilo de filmagem, abordagem de tema e tudo o mais que o caracteriza como um dos principais cineastas contemporâneos.


O filme narra simultaneamente três narrativas paralelas. A de um vidente que se aposentou, interpretado por Matt Damon, a de uma jornalista francesa que sobreviveu à um tsunami, interpretada por Cécile De France e um garoto cujo irmão gêmeo morreu atropelado recentemente, ambos interpretados por Frankie e George McLaren.


Com roteiro nas mãos de Peter Morgan (conhecido pelo seu trabalho em "A Rainha" e "Frost/Nixon"), o filme acompanha a vida de pessoas que possuíam ou possúem um contato íntimo com a morte, que tiveram uma perda recente e que desde então tentam seguir com suas vidas.


Com um ótimo elenco multi-continental o filme conta também com a belíssima presença de Bryce Dallas Howard, que, querendo ou não, acaba tendo um contato com algo do passado que ela preferiria esquecer, através do personagem de Damon.


O roteiro é interessante ao fundir as três linhas narrativas sem pretenção, e construir uma série de detalhes que compõem os personagens de uma forma diferente. A fotografia utiliza ângulos próximos ao rosto dos atores e a escuridão em determinados momentos, o que curiosamente estabelece uma relação intimista entre o público e os personagens.


O ponto fraco infelizmente fica à cargo do próprio Clint Eastwood, mas desta vez atuando como compositor da trilha sonora. Como é costumeiro em seus filmes, Eastwood é quem compõe as músicas para seus filmes e nesse aspecto ele deixa à desejar. Seus temas necessitavam de músicas mais marcantes e que conduzissem melhor a trama e a emoção que fica nas mãos de sua direção brilhante e do ótimo trabalho de todos os atores envolvidos, especialmente os irmãos McLaren.


É curioso pensar que Eastwood, ao chegar numa idade avançada, deseje realizar um projeto que fale justamente sobre a mortalidade e o que há além dela. Infelizmente trabalhos assim caem na incompreensão, especialmente por parte do público norte-americano, composto majoritariamente por judeus e protestantes. Nada contra as religiões, obviamente e o filme tem o cuidado de não ser dogmático ou pretencioso à ponto de estabelecer um novo ponto de vista à respeito desse assunto, mas o tema de espiritismo raramente agrada às audiências de lá.


É o caso de produções amplamente fantásticas e que falam de espiritualidade, como O Último Mestre do Ar de M. Night Shymalan e até mesmo O Curioso Caso de Benjamin Button, do diretor David Fincher. É uma fantasia que escapa a compreensão do público e consequentemente, fracassando crítica e financeiramente.


É triste dizer que a terceira produção de Eastwood com Steven Spielberg (que foi fundamental para a composição da cena de abertura) não se pagou nos EUA. Contudo, é provável que faça mais sucesso em países latino-americanos, onde tal tema é abordado mais corriqueiramente.


E ele merece. É um filme simples e delicado, que rompe com o gênero do sobrenatural, não apresentando suspense ou horror, mas sim um drama com a sensibilidade que somente Eastwood pode trazer. E que trata de uma forma reconfortante e calorosa a pergunta que mais assusta o ser humano. O que há dentro de seu coração, e o que há do outro lado.







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