terça-feira, 9 de novembro de 2010

Império das Sombras





Do diretor Martin Campbell, e estrelando Mel Gibson, O Fim da Escuridão, é uma obra surpreendente, da autoridade de um homem só.




Em O Fim da Escuridão (Edge of Darkness, EUA, 2010), baseado numa série da BBC de mesmo nome, Thomas Craven é um veterano policial de Boston, com mais anos de serviço do que ele gostaria de contar. Os primeiros quinze minutos do filme mostram a visita da filha de Craven, Emma, interpretada pela graciosa atriz Bojana Novakovic. Tudo aparenta ser uma simples visita de rotina por parte da garota que quer visitar seu pai, mas o fato é que Emma esconde um segredo tenebroso.


Nesses breve 15 minutos de filme, Martin Campbell (o mesmo de Limite Vertical e 007 Casino Royale), é de fazer o espectador se apaixonar quase que imediatamente por ambos os personagens. Emma e seu pai são de um carisma impressionante e, numa relação que não chega a ser desenvolvida durante o filme, esbanja ternura.


Contudo, tudo muda quando Emma leva um tiro de espingarda na porta de sua casa. Após se sentir mal, ela pede para o pai levá-la ao pronto-socorro, mas não há tempo. Emma é baleada na porta de sua casa no que parece ter sido um atentado contra seu pai. A cena é brutal, extremamente violenta e repentina e marca o telespectador durante todos os 100 minutos seguintes do filme até a sua conclusão.


Campbell então usa um recurso interessante para demonstrar a dor da perda do personagem interpretado por Mel Gibson. Este, numa tentativa de descobrir o assassino de sua filha, ainda conversa com ela em diálogos que perturbadores, e lembranças de Emma quando criança, o que cria um impacto ainda maior no espectador, devido à doçura da menina que a interpreta quando jovem, além de sua incrível semelhança com a atriz madura.


Durante a sua investigação, Thomas descobre coisas assustadoras, que envolvem companhias de pesquisa de defesa norte-americanas, onde Emma trabalhava, incluindo intrigas políticas que são aterrorizantes, mas pouco surpreendentes.


Abordado por um indivíduo enigmático chamado Jedburg, interpretado brilhantemente por Ray Winstone (A Lenda de Beowulf), Craven descobre um aliado improvável. A relação dos dois é um dos poucos pontos de humor do filme, com direito a diálogos afiados, cortesia dos roteiristas William Monaham (o mesmo de Os Infiltrados e Rede de Mentiras ) e Andrew Bovell.


O filme tem tudo para ser uma catástrofe. Um diretor que sabe usar elementos de ação, mas que é inconstante, possuindo em sua maioria obras regulares, como A Máscara do Zorro e Limite Vertical, um roteirista que, embora explore as origens da cidade de Boston muito bem, tende a cair no exagero, como em Os Infiltrados e um ator que passou considerável tempo longe das telas e conhecido por sua imaturidade e inclinação à bebida.


Contudo, o resultado é surpreendente. No filme, abundam qualidades, que vão desde o roteiro bem feito, uma direção sóbria, atuações que operam na margem da surpresa, um trabalho de trilha sonora excelente por Howard Shore e uma construção de personagens e laços de relacionamento que não seriam esperados em um filme cuja premissa é sobre intrigas políticas.


Nenhum dos elementos da trama de O Fim da Escuridão é surpreendente. Todos os elementos que envolvem mentiras, hipocrisia e corrupção, provavelmente existem em uma escala ainda maior. O que surpreende na história, são os laços entre os personagens, ligados por fios muito distintos e diferentes entre si, mas que, de uma meneira ou de outra, lutam por um objetivo em comum: a busca por um pouco de luz.



Um comentário:

  1. A cena em que Emma é baleada é tão súbita e chocante que todo mundo ficou pasmo, mesmo eu que já sabia mais ou menos o que ia acontecer por ter lido esta resenha. É um bom retorno para o Mel Gibson. Vale a pena conferir.

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