sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Inspire






O filme Inhale, do diretor Baltasar Kormákur, aborda o tráfico ilegal de órgãos assim como graves questões morais de nossa sociedade.

No novo filme do diretor islândes, Baltasar Kormákur, conhecido por A Fraude e outras produções filmadas em seu país natal, pouco conhecidas do público internacional, o ator Dermot Mulroney (o mesmo de O Casamento do Meu Melhor Amigo) é um promotor chamado Paul Stanton que está acusando um homem de tentativa de homicídio, após este suspeitar que seu filho estava sendo assediado sexualmente por um pedófilo previamente condenado. Paralelamente à sua acusação, a filha do casal protagonizado por Mulroney e Diane Kruger, Chloe, está gravemente doente e precisa de um transplante de fígado.
A primeira cena de Inhale (Inhale, EUA/MEX/ISL, 2010) mostra um grave acidente de carro onde um menino de aproximadamente 6 anos de idade foi morto. Imediatamente o espectador pensaria que se trata de uma narrativa espiralada. Que essa cena inicial na verdade se trata do final do filme, e que os órgãos do garoto inevitavelmente iriam para a jovem Chloe. Contudo, essa cena apenas abre o que será o estopim para uma série de conflitos que culminarão em sequências de violência aterradora e dilemas morais ainda mais aterradores.
Incapaz de encontrar um doador compatível com o de sua filha, e vendo o tempo correr mais rápido do que ele pode alcançar, através de um colega, o promotor Stanton descobre uma rede de tráfico ilegal de órgãos no México em busca de um homem conhecido como Doutor Navarro.
As sequências posterioras do filme acompanham a tragetória de Stanton no México, em sua desesperada tentativa de encontrar um doador para sua filha. Em sua jornada, ele descobrirá um grupo de garotos esquecidos que o ajudarão (ainda que de uma forma não muito convencional), um médico que esconde um segredo assustador e um jovem travesti chamado Inez. Juntos, todos mergulharão no mundo do tráfico, do sexo e da violência.
Inhale aguarda distribuição há provavelmente quase um ano e em teoria, deverá estreiar nos Estados Unidos no dia 22/10. Contudo, constantes atrazos na produção e lançamento dão a impressão de que o filme só será lançado em DVD. Já no Brasil, não há qualquer perspectiva de chegada, e tal filme passa completamente desconhecido do público brasileiro.
Kormákur faz uma abordagem bastante seca e direta da violência e do sexo que pulsam pelas ruas abandonadas da Cidade do México. A prostituição e a corrupção policial são mostradas às claras, assim como cenas explícitas de violência e sexo que podem render ao filme uma faixa etária bastante elevada.
Dessa forma, o diretor islandês prende a atenção do espectador conforme a narrativa torna-se cada vez mais frenética, violenta e explícita, enquanto a vida de Chloe vai se esvaindo.
Até um determinado momento, Stanton é um homem dedicado somente ao ato de salvar a vida de sua filha, e fará o que for necessário para que isso aconteça, assim como sua esposa, Diane. Contudo, quando ele descobre a verdadeira natureza do tráfico ilegal de órgãos, ele se vê em um dilema moral extremamente complicado e profundamente difícil. Nesse aspecto, Kormákur faz uma abordagem ainda mais direta e realista dos dilemas morais que um homem da lei como Stanton tem que enfrentar em uma situação como aquela, assim como a real natureza de muitos dilemas morais que abundam em regiões esquecidas e na vida de pessoas abandonadas por um governo local incompetente, despreparado e corrupto.
A fotografia, em tons escuros e cores douradas ressalta um ambiente inóspito, desértico, ainda que com naturalidade. A edição é sóbria, assim como a direção e a atuação dos atores que são discretos mas muito competentes em seus papéis. A música de James Newton Howard não foge à mesma fórmula, mantendo batidas eletrônicas e melodias compostas por violões e guitarras acústicas como já foi visto nas badaladas de Gustavo Santaonalla, com o único objetivo de sustentar o filme.
No fim, nenhum dos elementos citados assim se destaca. Contudo, em conjunto são capazes de prender a atenção do espectador, mergulhando-o nos dramas e dilemas enfrentados por seus protagonistas, com a quantidade certa de ação.
Inhale não é para os fracos e os medrozos. Faz uma abordagem bastante adulta sobre problemas e terrores que assolam as classes inferiores na América Latina, sem esconder sua real natureza. O tráfico de órgãos é uma indústria. Uma indústria que gera uma receita consideravelmente alta, e que, como o tráfico de drogas, se sustenta das vidas humanas. A primeira aventura de Kormákur nos EUA, pode não ter rendido um filme excelente, mas eficaz em mostrar até onde um pai vai para salvar a vida de seu filho, e até quais decisões ele deverá tomar para salvar uma vida.

2 comentários:

  1. nossa kra, muito boa resenha! criticas, fotografia, musica, ambiente.. extremamente excelente. :D
    parabéns

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  2. vc só errou uma coisa, é transplante de pulmão e não de fígado!! kk

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