quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um conto de redenção



Pode parecer uma ficção científica simplista e bobinha, mas esse não é o verdadeiro cerne do filme A Outra Terra (Another Earth, EUA, 2011). É verdade que o filme gira em torno de um plot sci-fi: os astrônomos descobrem um novo planeta, uma Terra 2, na nossa galáxia. Ao que parece, o planeta estava escondido atrás do Sol, mas agora é visível. E tem mais: este planeta é um planeta espelho da nossa Terra. Isso significa que até certo ponto, tudo que aconteceu no nosso mundo, aconteceu naquele outro também. Há cópias nossas vivendo vidas iguais ou diferentes naquele mundo. Segundo os cientistas, os planetas eram reflexos perfeitos um do outro até o momento em que se avistaram simultaneamente. Neste segundo, então, o efeito espelho foi quebrado e nossas cópias da Terra 2 começaram a diferir em decisões com relação a nós. É ou não é um bom enredo?
Acontece que este enredo na verdade é apenas o pano de fundo deste filme, dirigido pelo estreante Mike Cahill. A história mesmo é focada em Rhoda Williams (a ótima Brit Marling), uma jovem que ama astrofísica e conseguiu entrar no concorridíssimo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em português). Acontece que a moça se distrai da direção quando ouve pelo rádio a notícia sobre a Terra 2 e, ao olhar para o céu em busca do planeta que recentemente se tornou visível, acaba causando um acidente que destrói uma família: tirando a vida de uma mulher grávida e de seu filho de 5 anos, além de deixar o pai e marido, John Burroughs (William Mapother, o Ethan de Lost) em coma por anos. Quando finalmente sai da cadeia após cumprir sua pena, Rhoda se emprega como faxineira no colégio, ao mesmo tempo em que acompanha, fascinada, os primeiros contatos com a Terra 2. Logo descobre que o homem que quase matou, saiu do coma e inicia uma relação com ele, no intuito de se desculpar. Tudo isso ao mesmo tempo em que resolve participar de um concurso que vale uma viagem para a Terra 2.
Embora seja um filme de apenas uma hora e meia de duração e muita coisa aconteça no decorrer da história, não é um filme apressado. Há longos silêncios de contemplação do céu e um clima de introspecção e melancolia permeando toda a segunda parte do longa-metragem.
Quando me propus a assistir a este filme, esperava uma ficção científica fraca e divertida e não essa obra sensível, tocante e cheia de reflexões. A questão de haver um planeta reflexo é mero panorama de fundo pra uma discussão humana muito mais interessante. É uma história sobre redenção, sobre aceitar os erros e aprender a conviver com eles, sobre tentar deixar as coisas certas. E, neste ponto, alcança um êxito poético.
"A Outra Terra". Título original: "Another Earth". Ano: 2011. Nacionalidade: EUA. Diretor: Mike Cahill. Roteiro de: Brit Marling, Mike Cahill. Produzido por: Tyler Brodie, Paul Mezey, Mike Cahill, Brit Marling e Hunter Gray. Estrelando: Brit Marling, William Mapother, Matthew-Lee Erlbach e Meggan Lennon. Música de: Fall On Your Sword. Duração: 92 min. Resenha escrita por: Guilherme R. Aleixo. Nota: 8,5/10.

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