terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Amor

Obra-prima do diretor Michael Haneke, Amor é o melhor filme do ano

Georges e Anne são um casal octogenário que mora em um apartamento elegante na França. Os dois foram professores de música durante a maior parte de suas vidas e possuem uma filha que também trabalha na área musical e que mora na Inglaterra com seu marido. É mais ou menos isso que sabemos sobre o casal, além do amor que eles possuem um pelo outro.
Na cena de abertura, bombeiros abrem a porta do apartamento à força, para descobrir o corpo de Anne no quarto envolto em pétalas de flores decadentes. Seu corpo estivera lá por muito tempo e não sabemos onde seu marido está. A cena corta para uma apresentação musical na qual nunca vemos o palco. Um piano começa a tocar e em meio ao público que assiste, está o casal. É a primeira vez que vemos os dois juntos.
O diretor austríaco Michael Haneke está acostumado a fazer filmes que tratam sobre violência. É um trabalho sujo, mas alguém tem que fazê-lo. Os 20 e tantos anos de carreira no cinema renderam filmes enigmáticos como Caché e perturbadores como Violência Gratuita e A Fita Branca. Também renderam duas Palmas de Ouro. Uma por A Fita Branca e a outra por Amor.
Haneke é inteligente, cruel e manipulativo. Com ele as coisas nunca são tão simples. Nós nunca vemos o piano que está sendo tocado, seu olhar é focado para algo mais objetivo. Juntos, Anne e Georges são a definição da integridade e da dignidade. Ambos os atores, Jean-Louis Trintignant e Emmanuele Riva estão com mais de 80 anos (Trintignant tem 82 e Riva 85) e foram incumbidos com os papéis mais corajosos de suas carreiras.
A dignidade desaparece quando Anne tem um derrame. Caberá a seu marido, Georges, cuidar da esposa que sucumbe à doença da era moderna, enquanto seu corpo e sua mente vão lentamente se deteriorando até que os maiores traços de sua personalidade desaparecem debaixo de lençóis e edredons de uma cama.
Trintignant e Riva foram dois astros do cinema francês na época de sua juventude. Os traços da beleza galântica desapareceram com a idade, mas a experiência e o amor pela profissão permaneceram. E são colocados à prova neste filme, com toda a força de um trem em alta velocidade.
O papel de Haneke não é chocar. Deixe isso em seu devido lugar com Violência Gratuita. O que temos, no entanto, é um relato profundo e sincero sobre a união de um casal que passa por dificuldades do mundo contemporâneo. Esse tipo de beleza e poesia é algo raro na filmografia do diretor, mas o resultado não é menos emocionante. Ou perturbador.
Amor é uma montanha-russa de emoções. Quieto, belo e devastador. O que sobra no fim é uma realização súbita e indubitável de que o futuro da vida de qualquer pessoa pode terminar com os bombeiros arrombando a porta. Não há como negar. Estamos aqui só de passagem. 
Por Roberto Fideli.

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