domingo, 5 de junho de 2011

A vitória da Escuridão


Tudo parecia lindo e gracioso na nova adaptação para o cinema, dos quadrinhos da Marvel, X-Men. Até passados os primeiros cinco minutos.

Depois das duas últimas adaptações de um dos mais famosos - e melhores - histórias e quadrinhos de todos os tempos, os maiores fãs da série X-Men, pareciam que respirariam aliviados com a nova adaptação feita pelos estúdios Marvel, X-Men Primeira Classe (X-Men First Class, EUA, 2011), do diretor de Kick-Ass, Matthew Vaughn.
Tudo começa nos campos de concentração da Polônia, quando um garoto descobre poderes capazes de controlar metais, quando sua família é enviada para o campo de concentração. Parecido com a abertura do primeiro filme? Pois bem, a nova adaptação dos quadrinhos começa exatamente com a mesma cena do primeiro filme, até em termos de trilha sonora. O então jovem Erik Lehnsherr passa a se tornar uma experiência científica, nas mãos de uma espécie de "Médico-Monstro", interpretado por Kevin Bacon, que depois se revela o inimigo principal da turma dos X-Men, Sebastian Shaw.
O que o novo filme procura fazer, é simplesmente mostrar a origem de alguns dos personagens principais da saga, como o professor Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender). Não é muito tempo depois da CIA descobrir a existência dos mutantes, com uma ajuda do próprio Xavier, que seu destino e o de Erik se cruzam, formando uma aliança para deter Sebastian Shaw, também um mutante, de iniciar a Terceira - e nuclear - Guerra Mundial, iniciando a Crise dos Mísseis de Cuba.
Eram poucas as coisas que podiam dar errado nesta super-produção. Um elenco fantástico, que inclui também Oliver Platt e Jennifer Lawrence (no papel de Mística), e 2 horas e 12 minutos para desenvolver uma boa história e os personagens.
Não foi o que aconteceu. Pois como qualquer super-produção que se preocupa mais em gastar seu babilônico orçamento em efeitos visuais do que num roteirista ou diretor decentes, X-Men Primeira Classe começa a declinar vertiginosamente ao término da primeira cena, que aliás, foi dirigida por Brian Singer.
Os efeitos especiais que esbanjam as telas são irrealistas e mal utilizados. Difícil de entender é a nova moda dos produtores de criarem explosões geradas por computador, tornando-as falsas e plastificadas, enquanto as indústrias de maquetes vão à falência.
Durante mais de duas horas de filme, o tempo é desperdiçado em constantes mal-coreografadas e mal-filmadas cenas de ação, do que no desenvolvimento dos próprios personagens, da história, ou mesmo dos péssimos usos de fotografia e edição, que impedem a contemplação de uma direção de arte expressiva.
A trilha sonora por Henry Jackman vai totalmente contra as obrigações de qualquer compositor de músicas para cinema. Tanto a trilha deste filme não o conduz, como não o eleva, sustentando-se na repetição constante de um tema musical pouco expressivo, que torna-se irritante depois de algum tempo.
O roteiro procura ser mais inteligente, mas acaba criando um grupo de personagens desinteressantes sem empatia ou química entre si, cujos dilemas de solidão, abandono e preconceito social, transmutam-se em algo raso e monocromático. A direção de Vaughn então, tampouco consegue extrair o melhor de seu maravilhoso elenco, como não consegue transpor os poucos momentos de profundidade que o roteiro lhe permite.
Fato é que estes novos X-Men, são tão inumanos quanto os protagonistas humanos, que aliás, morrem de maneira dispensável, como água pingando da torneira durante o filme inteiro. O que Brian Singer e Christopher Nolan conseguiram fazer em suas adaptações dos X-Men e do Batman, foi tornar seus personagens humanos. Quando eles são desprovidos de humanidade, suas tristezas, conquistas ou dilemas tornam-se não apenas desinteressantes, como pouco importantes.
O novo X-Men é um filme frio, que, embora esteja predestinado a fazer mais sucesso do que a outra adaptação da Marvel, Thor, carece de simpatia ou charme como seu companheiro nórdico esbanja. E se em relação às suas duas adaptações anterioras, X-Men o Confronto Final e X-Men Origens: Wolverine, Primeira Classe seja claramente uma evolução, ser comparado a obras tão ridiculamente asquerosas, não é sinal de elogio.
O filme sequer tem a decência de prestar atenção a detalhes óbvios e conhecidos de qualquer fã da série, criando relações interpessoais inexistentes nas histórias originais, e assim como o grande George Lucas fez com sua obra prima, Star Wars, criando situações inconsistentes com os próprios filmes da série.
Como a maioria das prequências que estão sendo lançadas no cinema, X-Men Primeira Classe, termina em tristeza. George Lucas o fez, ao narrar a trajetória de corrupção de Anakin Skywalker, para seu superego, Darth Vader. Aqui, o mesmo acontece, só que desta vez com Erik Lehnsherr e seu superego, Magneto. Afinal, quando se é abandonado e odiado pela sociedade, ceder para o lado da escuridão fica muito mais fácil.

Um comentário:

  1. Não concordo com tudo o que você disse. Mas, por outro lado, os personagens, em sua maioria, realmente estavam superficiais e a trilha só estava lá pra não deixar um silêncio durante o filme inteiro, pq não ajudou em nada. Mas também tiveram cenas muito boas, como a participação de Hugh Jackman, as atuações de McAvoy e Fassbender, além, é claro, do ótimo Kevin Bacon. Achei que os atores jovens tinham mais a dar e não foram minimamente aproveitados. Não achei os efeitos exagerados ou falsos, ainda mais para esse tipo de filme, mas concordo que exageraram nos efeitos ao invés de aprofundar a história. Mas é aquela velha história: diversão descompromissada sempre vai bem.

    ResponderExcluir