segunda-feira, 6 de junho de 2011

Qualquer semelhança com Avatar não é mera coincidência




Filmes como Dança com Lobos de Kevin Costner e Avatar de James Cameron, contam a história do confronto do homem com o mais exótico. E consequentemente, da descoberta da própria humanidade.

É bem possível que Dança com Lobos (Dances With Wolfs, EUA, 1990) tenha sido a redenção de Kevin Costner, tanto como ator, quanto como diretor. Em seu primeiro trabalho atrás das telas, ele logo de cara abocanhou 7 OSCAR, incluindo o de Melhor Direção e de Melhor Filme. Numa mistura do enigmático estilo impregnado por Clint Eastwood, com a brutalidade dos irmãos Coen, este é um típico filme de faroeste, onde os soldados americanos devem lutar contra os ferozes e temidos índios da região. Isso, é claro, se não fosse pelo protagonista.
O tenente Dunbar (Costner), começa o filme gravemente ferido no pé. Diante da possibilidade de perdê-lo, e de nunca mais andar normalmente, ele tenta suicídio, numa disparada insana contra um grupo de soldados inimigos durante a Guerra Civil. Sua tentativa fracassa, e ele é dado como herói. Cura-se do ferimento, e é destacado para montar uma guarda perto do território de uma curiosa tribo indígena. Logo ambos os lados começam suas primeiras tentativas de contato, e grande parte do filme narra a tentativa de ambos os lados de descobrirem um ao outro e se comunicarem.
Entretanto, isso obviamente seria mal visto pelo exército, já que os índios são inimigos ferrenhos das forças militares. Dunbar acaba se apaixonando por uma mulher branca que, desde pequena, é criada pelos índios. Isso lhe dá mais um motivo para ficar, e mais um motivo para seus antigos companheiros matarem-no. Logo um confronto se apresenta no horizonte, e o espectador sabe que ele terminará em violência.
Se isso parece com alguma outra coisa que você já viu, é por que parece mesmo. Filmes como Pocahontas da Disney, O Novo Mundo, de Terrence Malick (que aliás, são a mesma história), O Último Samurai de Edward Zwick e Avatar de James Cameron, todos retratam a mesma narrativa. O ocidental, que tem seu contato com uma tribo ou grupo exótico, e através desse contato, acaba se familiarizando, e tornando-se parte da cultura local, o que obviamente não é admitido pelas sociedades coloniais.
A lista que retrata a exploração colonial em países terceiro mundistas é ainda mais extensa, quando se pensamos em títulos como Apocalypse Now, adaptação do livro O Coração das Trevas de Joseph Conrad. Em todas essas histórias, a violência é utilizada como instrumento legal de domínio de um povo sobre outro. O que normalmente termina em barbárea.
Costner abandonada os retratos impressionistas utilizados por Conrad e Francis Ford Copolla em sua adaptação, e faz um retrato duro e cruel do que foi feito com os nativos americanos nos EUA, dos anos 1800. Mas assim como o ancestral mais antigo da literatura, Dunbar, assim como Marlow em O Coração das Trevas, se afasta paulatinamente da sua civilização, mergulhando em uma cultura totalmente nova. Assim como Jake Sully o fez em Avatar, e assim como Nathan Algren o fez em O Último Samurai.
Afinal, a descoberta da humanidade no mais estranho, mais exótico, mais alienígena, é a descoberta da própria humanidade. Tais histórias, mais do que críticas ao colonialismo imperial, são viajens de autodescobrimento.
Onde Costner de destaca, é por retratar a história de Dunbar de uma forma seca e cruel, desprovida de clichês e finais românticos. Sim, desde a primeira cena dos 181 minutos de Dança Com Lobos, sabemos como o filme vai acabar. Entretanto, durante cada um desses minutos, desejamos que por algum milagre divino, a situação mude, e os destinos se dirigam para algum lugar feliz.
Com um elenco que inclui Mary McDonnell e Graham Greene, em possivelmente suas melhores atuações - junto de Costner - Dança com Lobos é uma aventura épica da melhor qualidade, com uma fotografia soberba proporcionada por Dean Selmer e uma música envolvente composta por John Barry.
É uma pena, entretanto, que depois disso, o jovem galã americano tenha mergulhado de cabeça na arrogância e feito seus piores trabalhos - Waterworld, Wyatt Earp e O Mensageiro. Histórias interessantes senão tivessem sido trabalhadas com a megalomania crescente de Costner, na tentativa fracassada de repetir seu feito com esta obra.
Entretanto, ele tem tudo o que se orgulhar aqui. Pois essa é uma história que pode abranger os mais diferentes gêneros possíveis. Do Épico Western, ao Samurai, à Ficção Científica, Fantasia e afins. Afinal, o ato de descobrir o mais exótico, é o ato de descobrir a si mesmo.

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