sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os filmes do Oscar


Conforme a premiação se aproxima, fazemos uma análise breve dos nove indicados à categoria principal da noite.

Vale lembrar que as opiniões descritas abaixo são exclusivas da pessoa que as escreveu e não refletem o pensamento ou opinião do blog Cinéfilos e Etc.


#9: A Hora mais Escura (Zero Dark Thirty): O mais fraco dos nove concorrentes, também foi o mais bem resenhado filme dos EUA no ano passado. Depois de levar o Oscar por Guerra ao Terror, Katheryn Bigelow narra a história da morte de Bin Laden do ponto de vista da agente da CIA que o perseguiu. O filme carece de uma boa condução, culpa de uma diretora que se mostrou incapaz de dar ritmo e fluidez ao roteiro de Mark Boal que não é tão bom assim. A câmera chacoalhando não ajuda e a edição é bagunçada. Mas a atuação de Jessica Chastain no papel de Maia é ótima, e a trilha sonora de Alexandre Desplat ajuda a criar o clima de suspense que Bigelow não cria. Veredito: o patriotismo falou mais alto. O filme poderia ter sido melhor, se ao menos fosse por um diretor que não se ergue acima do medíocre. Nota: 7,5

#8: Os Miseráveis (Les Miserábles): A adaptação do clássico de Victor Hugo foi dirigida por Tom Hooper (O Discurso do Rei) e tem de tudo: ótimas canções, atuações lindas de Hugh Jackman e Anne Hathaway e até Russell Crowe que consegue demonstrar algumas nuances, quando ele não está cantando ou... cantando. Os cenários, figurinos, tudo contribuí para a imersão no universo de Paris do século XIX. No entanto, a maquiagem é uma droga (ninguém envelhece) e o filme é longo (2h 37), cansativo e tem picos de engajamento. Isso significa que, ora ele é emocionante, ora ridículo. Essa inconsistência é perigosa, mas Hooper consegue manter o nível mais ou menos estável. Na corda bamba, mas estável. Ele é melodramático, é claro, mas é só olhar o título para entender que o filme não é uma comédia. Mas também não é lá um grande filme. Nota: 8,0

#7: Django Livre (Django Unchained): Quentin Tarantino finalmente conseguiu fazer um Spaghetti Western e o resultado foi Django, uma das fanfarronadas mais inteligentes e originais dos últimos 30 anos. Com um elenco de astros com grandes atuações, uma trilha sonora espetacular e uma fotografia profunda e repleta de contraste de Robert Richardson, Django é um banquete para os olhos e ouvidos dos apaixonados por cinema. No entanto, o filme escorrega feio no final depois de um primeiro clímax incrível. E, para uma obra que trata de assuntos como vingança, reconciliação racial, racismo, amor e redenção, o filme parece estranhamente sem emoção. Ele possui uma alma, sim, perturbada e esquizofrênica como deve ser a de Tarantino. Mas seus problemas – especialmente os últimos 20 minutos – impedem-no de ser a grande obra prima (possivelmente a maior da carreira do diretor) que deveria ter sido. Nota: 8,5

#6: O Lado bom da Vida (Silver Linings Playbook): Dirigido por David O. Russell, o filme narra as trapalhadas de um casal improvável formado pelo bipolar Bradley Cooper e pela deprimida Jennifer Lawrence. Juntos, os dois encontram forças para superar seus traumas e dificuldades, mas não sem umas boas risadas antes. Russell é um diretor de atores sem igual e extrai de todo o elenco performances memoráveis que renderam QUATRO indicações ao Oscar, em todas as categorias (Ator, Ator Coadjuvante, Atriz e Atriz Coadjuvante). Seu estilo hiper-naturalista cansa um pouco, e ele não tira o pé do acelerador em nenhum momento das duas horas de filme. Às vezes, tudo o que você quer é que ele te deixe respirar um pouco. Mesmo assim, O Lado bom da Vida é um filme humano e caloroso, qualidades raras em Hollywood ultimamente. Isso o torna especial. Russell faz você rir até que doa. Nota: 8,5

 #5: Lincoln (Lincoln): Steven Spielberg continua um garoto e é bom saber disso. É esse seu olhar maravilhado que conquista plateias desde a década de 70, e, embora ele tenha alguns tropeços nos últimos anos, essa chama juvenil se mostra presente até hoje. Mesmo que seu novo filme, Lincoln seja uma obra particularmente adulta e política – um tema que o diretor não está acostumado a conduzir. Apesar de se tratar de uma história americana, ela é um tema universal, e Spielberg a conduz com segurança e maturidade. Especialmente na direção dos atores, Daniel Day Lewis e Tommy Lee Jones, o segundo em uma das melhores atuações da carreira. Lincoln também tem cara de Spielberg, com aquele trabalho técnico de fotografia e edição, aliados à trilha sonora de John Williams que tornam seus filmes o que eles são: grandes filmes. E este é um grande filme. Nota: 9,0


 #4: Argo (Argo): Quem diria que Ben Affleck iria se tornar um diretor tão bom? Melhor que como ator, com certeza, pois o único ponto fraco de Argo é a atuação apagada de seu ator principal. O filme conta a história de como a CIA retirou seis cidadãos americanos que tiveram que se esconder na casa de um embaixador canadense durante uma revolução no Irã na década de 70. O filme é suspense que também trata dos bastidores de Hollywood com um humor e cinismo inusitados. Affleck disfarça a si mesmo e aos membros do Consulado dos EUA de cineastas canadenses, o que, por mais absurdo que possa parecer, dá certo. E é absurdo, sim. Daí Affleck mostra uma maestria cinematográfica impressionante, ao lidar com a comédia hollywoodiana com um thriller de tirar o fôlego quando a coisa “fica séria”. Ele tem bem o formato do Oscar e é bem provável que leve a estatueta de Melhor Filme. Mas não seria uma injustiça: ao contrário do que pode parecer à princípio, Argo é um ótimo filme. Nota: 9,0

#3: As Aventuras de Pi (Life of Pi): Ang Lee deve ter levantado um certo ceticismo quando decidiu filmar um filme infantil em 3D baseado no livro Best-seller de Yann Martel, As Aventuras de Pi. Sua última incursão ao mundo dos blockbusters resultou no não sucedido (mas não necessariamente ruim) Hulk em 2003. Desta vez, Lee demonstra um uso incrível da tecnologia, aplicando o uso do 3D de forma poética, aliado à fotografia de Claudio Miranda e à música de Mychael Danna. Pi é um garoto que fica preso num bote com um tigre de bengala adulto depois que o navio deles naufraga. É difícil imaginar que seria possível tirar-se algo de tamanha profundidade e simbolismo como Lee conseguiu, mas ele conseguiu. Pi é um daqueles filmes como Hugo Cabret e Benjamin Button que usam a tecnologia para expressar poesia. E no fim, te faz questionar se a história que foi contada é real ou não. Não importa, na verdade, pois o filme é real, minuto por minuto, quadro a quadro. E é um dos melhores filmes do ano. Nota: 9,5

#2: Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild): Nacido em Nova York, o diretor Benh Zeitlin uma vez teve a ideia de filmar este filme como uma poesia que parece com Duro de Matar. Missão cumprida. Com um elenco de atores desconhecidos e a jovem de nome quase impronunciável, de apenas nove anos, Quvenzhané Wallis, Zeitlin fez uma obra curta, mas memorável. Wallis, a mais jovem indicada ao Oscar da história, é uma força da natureza em miniatura e o filme é uma espécie de milagre: algo que não deveria existir na máquina coorporativa do cinema capitalista, mas existe. Ainda bem, pois ele é único e inesquecível. Não é fantasia, no entanto, mas sim realismo mágico, conforme observamos o mundo pelo olhar da pequena e feroz Hushpuppy, em todas as suas cores, luzes, temores e espetáculos. Em uma das cenas, ela orgulhosamente proclama ao seu pai: “Eu sou o cara”. Com certeza. E seu fascinante filme não é para se deixar passar. Nota: 10,0

#1: Amor (Amour): Alemão, Michael Haneke moldou sua carreira filmando filmes sobre violência. Não se deixe enganar pelo título: Amor não é diferente. Aliás, é muito possivelmente seu filme mais violento. Mas também é sua obra prima. Não esperamos esse tipo de profundidade de Haneke, que está mais interessado na provocação do que na contemplação da vida e da morte – e de tudo o que há entre – nesta narrativa de um casal octogenário que tem sua vida mudada quando a mulher tem um derrame. Interpretando Anne, a atriz de 85 anos, Emmanuelle Riva tem a atuação mais espetacular da década, se despindo do glamour dos anos em que filmou Hiroshima Mon Amour, enquanto Georges, interpretado por Jean-Louis Trintignant não fica atrás. É em seus olhos que o significado da degradação física e mental de Anne atinge o espectador em seu núcleo. E em seu ato final que o filme provoca e perturba. Amor é como O Velho e o Mar de Ernest Hemingway. Ele é despido que qualquer firula, atendo-se ao mais puro, objetivo e simples. E é nessa simplicidade, nada simples, que Haneke faz um retrato da existência humana em sua totalidade e fragilidade. Ele pretende chacoalhar sua alma. E consegue. Nota: 10,0

 Texto e análise de Roberto Fideli.

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