sábado, 24 de novembro de 2012

Contos de Mestre





Acho extremamente complicado resenhar coletâneas de contos, no entanto, cá estou eu. A parte mais dificil, creio eu, é a própria dificuldade que encontro ao ler um livro feito de contos: quando a história finalmente engrena, ela acaba; e voltamos àquela sensação de frio no estômago/preguiça de começar uma história nova por talvez não ser tão boa quanto a anterior. Isso também gera um certo cansaço mental de ter que se acomodar a toda uma nova gama de personagens, situações, universos. Mas quando temos a agradável surpresa de ler um conto melhor do que o outro, tudo isso meio que cai por terra, para de importar, é esquecido.
A coletânea a que me refiro foi montada com contos do Joe Hill (o filho do Stephen King e autor de A Estrada da Noite) e se chama Fantasmas do Século XX. Segundo o Wikipédia, essa mesma coletânea ganhou grandes prêmios como Prêmio Bram Stoker de Melhor Coleção de Ficção, o Prêmio Britânico de Fantasia (British Fantasy Award) por Melhor Coleção e o Prêmio do Guia Internacional de Horror (International Horror Guild Award) na categoria Melhor Coleção. E devo dizer: cada prêmio é muito merecido! Se tem algo que eu - como fã incondicional do Stephen King - posso dizer, é o seguinte: talento para a escrita deve ser hereditário.
Mas ao contrário do rumo que seu pai tende a dar à suas histórias, Hill não se prende unicamente no terror, no bizarro, no sobrenatural ou nos banhos de sangue e inúmeros cadáveres. Não. Hill sabe fazer tudo isso, mas também sabe ser sensível, leve, divertido, tocante.
Reunindo 15 ótimos contos, que variam da fantasia ao terror homicida, Hill mostrou a que veio e não decepcionou. Óbvio que não vou comentar todos os contos, então optei por alguns que mais me marcaram durante a leitura para comentar brevemente, tentando não dar spoilers. And here we go: um dos contos iniciais do livro é o Pop Art - um conto de fantasia delicioso de ser lido. Caracterizado por ser leve, delicado e sensível, o texto pode ser comparado a um dos protagonistas da história, Art, que tem uma rara doença e, por isso, é um boneco inflável. Sim, você leu certo, caro leitor, um boneco inflável vivo que simplesmente irá esvaziar até a morte caso seja furado. A sensibilidade de Pop Art é tal, que me senti observando uma obra de arte em um museu: as curvas que o texto cria, as voltas, a superficie. É quase como se nós, leitores, pudéssemos ver aquilo acontecendo, sendo criado em um universo onde muitas coisas são possíveis. A sensação que tive ao término era que acabava de acordar de um incrível sonho. Me sentia leve, como se pudesse simplesmente voar.
O conto A capa, por outro lado, mostra o quão psicótico Hill pode ser. Me provou que ele é, de fato, filho de seu pai. Conta a história de um menino que um dia descobre que a capa que usa para brincar tem o poder de fazê-lo flutuar no ar. E tem um dos finais mais surpreendentes da coletânea, tanto que meu queixo caiu ao terminar, tamanho o meu choque.
Creio, no entanto, que o conto que realmente explicita ao leitor o quão bom Hill é e o quão incrível ele ainda vai ser é o conto A máscara do meu pai. Este é o conto mais macabro, assustador, poético, bizarro, tocante e sem sentido que li em muito tempo. Conta a história de um menino de 13 anos que é levado pelos pais a um chalé no meio da floresta, pois uma corretora está indo avaliar os bens deixados pelo avô recém-falecido. Como um típico adolescente, Jack preferia estar passando um tempo com os amigos, mas não teve escolha. A mãe, para distraí-lo, o envolve em uma brincadeira sobre estarem sendo perseguidos por alguém que quer especificamente capturá-lo. Acostumado às brincadeiras da mãe, Jack não lhe dá ouvidos até que chegam ao chalé. Um chalé totalmente decorado por máscaras de todos os tipos e modelos e que, segundo a mãe, são o único jeito de protegê-los de quem os persegue. Não sei o motivo, mas este foi o conto que achei mais belo e estarrecedor no livro. Creio que seja porque, visualmente, a ideia das máscaras foi a mais bela e delineada para mim. E o final? U-A-U-!
Hill já faz um sucesso moderado lá pelos States, embora só esteja chegando ao Brasil recentemente. Mas marquem minhas palavras: este autor (nem-tão-novato-assim) vai ser grande. Provavelmente vai ganhar o título de Mestre de alguma coisa, assim como o pai. Ele tem o dom das palavras e sabe usá-lo para deixar a nós, leitores, de queixo caído e cara de bobos. E, muitas vezes, isso é tudo que se pode querer.

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